
Coincidência ou não, os últimos dois grandes jogadores contratados pelo Botafogo encerraram a carreira no clube. Só que em momentos um tanto quanto inesperados.
Assim como Montillo, frustrado com as seguidas lesões, anunciou sua aposentadoria na última quinta-feira, às vésperas das oitavas de final da Libertadores, há quatro anos era Seedorf que pendurava as chuteiras com o Alvinegro classificado para o maior torneio da América do Sul. Na época, o holandês aceitou convite para virar técnico do Milan, da Itália.
E o Botafogo, como fica nessa história? O clube sofreu demais depois da saída de Seedorf. Não só dentro, como também fora de campo, e acabou rebaixado ao final da temporada de 2014.
Começando agora a vida pós-Montillo, a fase não é das melhores, no entanto, a tendência é que o Alvinegro sobreviva mais tranquilo. Mas por quê? O GloboEsporte.com comparou as duas "eras" em cinco tópicos: reação; time; dependência; finanças e contratações. Confira abaixo:
1) REAÇÃO
Pós-Seedorf: internamente em General Severiano, dirigentes imaginavam que o holandês, que já vinha fazendo testes dirigindo times menores do Rio de Janeiro, não fosse tardar a parar de jogar.
Mas a aposentadoria com o Botafogo de volta à Libertadores depois de 18 anos, e a chance do craque disputar pela primeira vez o principal torneio da América do Sul, pegou a torcida desprevenida. Muitos alvinegros até hoje não aceitam a saída de Seedorf, que foi ser técnico do Milan, mas não durou muito tempo no cargo: apenas seis meses.
Pós-Montillo: diferentemente do holandês, o argentino foi contratado para jogar a Libertadores, mas também pouco conseguiu fazê-lo por causa das cinco lesões em seis meses. Ainda assim, nenhum alvinegro esperava que ele fosse desistir de tentar voltar na fase final do mata-mata, o que o deixa "empatado" com Seedorf em relação à surpresa.
A desvantagem é que o baque emocional de perder a principal estrela agora acontece no meio da temporada, com os campeonatos rolando.


Momentos marcantes de Montillo em seis meses de Botafogo (Foto: Infoesporte)
2) TIME
Pós-Seedorf: a equipe liderada pelo holandês fez um grande ano de 2013, quando foi campeã carioca e liderou por várias rodadas o Brasileiro, terminando em quarto lugar. Porém, foi sofrendo desmanche aos poucos. Rafael Marques, um de seus principais jogadores, também saiu e foi para a China.
O técnico Oswaldo de Oliveira, sem oferta para renovar, também deixou o clube ao fim do contrato. Na reta final de 2014, só Jefferson e Gabriel ficaram em relação ao time que obteve a vaga na Libertadores no ano anterior.
Pós-Montillo: assim como aconteceu com Seedorf, a despedida do argentino acontece com a equipe vivendo bom momento: classificada para as oitavas de final da Libertadores, para as quartas de final da Copa do Brasil e brigando pelo G-6 do Brasileiro.
Mas a vantagem é que, ao que tudo indica, o time atual não vai precisar se reinventar por causa de desmanche. Dos titulares, Gatito quem está na mira do futebol europeu –
o Napoli, da Itália, prepara oferta de R$ 11,5 milhões pelo goleiro –, mas caso ele saia o clube tem Jefferson como peça à altura.
3) DEPENDÊNCIA
Pós-Seedorf: o time que voava em campo em 2013 era sob a batuta do maestro holandês, que chegou a ser eleito o melhor jogador daquele Carioca. No Botafogo, ele herdou a camisa 10 e jogou mais adiantado do que em outros momentos da carreira. E se deu bem.
Tanto que nunca havia feito tantos gols antes por um clube: foram 24 em 81 jogos. Com uma liderança intrínseca, foi peça chave na mescla que deu resultado entre a experiência e a juventude de nomes como Vitinho, Dória e Gabriel por exemplo.
Pós-Montillo: o time que se transformou no exterminador de campeões da Libertadores e passou em primeiro lugar no grupo da morte teve pouco da batuta do argentino. O meia não conseguiu jogar tanto a ponto de criar uma "Montillo-dependência" na equipe.
Pelo contrário, ele não encaixou com Camilo no meio de campo, que rendia melhor com um ou outro. Acabaram se revezando por problemas físicos, mas o gringo teve mais lesões e ficou muito mais tempo fora, por isso o Alvinegro aprendeu a jogar sem ele.


Momentos marcantes de Seedorf em um ano e meio de Botafogo (Foto: Infoesporte)
4) FINANÇAS
Pós-Seedorf: para muitos, o holandês representou um custo que o clube não podia assumir. Seedorf ficou 17 meses em General Severiano ao custo de R$ 18 milhões, o que representa mais de R$ 1 milhão por mês, com 100% da remuneração paga pelo Botafogo – o dinheiro da Puma, na época, servia só como garantia em contrato.
O Alvinegro teve ganhos de imagem e de receita, como o aumento do sócio-torcedor de oito mil para 18 mil pessoas, mas as despesas eram maiores. Aliado ao fechamento do Nilton Santos, então chamado de Engenhão, perdeu grande parte da receita e passou a atrasar salários. Foi o ano em que o time emocionava o seu torcedor, mas se desestruturava fora de campo.
Pós-Montillo: o argentino foi também o maior investimento da atual gestão, mas recebia pouco menos da metade do que ganhava o holandês na época. O meia nunca "pesou" aos cofres do clube a ponto de influenciar na folha e acarretar em atrasos de salário do elenco.
Nos seis meses em que esteve em General Severiano, o clube também não conseguiu explorar muito a imagem do gringo para geração de receitas, embora sua chegada tenha proporcionado papel importante de autoestima, levando à quebra do recorde de sócios-torcedores, atualmente em pouco mais de 32 mil. Montillo representou um gasto de cerca de R$ 2,5 milhões, mas pode ser considerado uma aposta de risco calculado.
5) CONTRATAÇÕES
Pós-Seedorf: o que teoricamente poderia representar um alívio na folha, não se concretizou na prática. O dinheiro economizado pela saída do holandês já estava comprometido com as dívidas com o próprio elenco, com muitos salários atrasados.
Mesmo sem dinheiro, a diretoria da época foi ao mercado para encorpar o time para a Libertadores. Chegaram Jorge Wagner, os argentinos Ferreyra e Bolatti, Wallyson, Junior Cesar, Airton, Rodrigo Souto e os gêmeos laterais Alex e Anderson – todos, sem exceção, estavam na reserva de suas equipes.
Pós-Montillo: o cenário atual não chega a ser muito melhor em termo de elenco – o time mais perdeu do que ganhou jogadores para o segundo semestre com as saídas de Canales, Joel, Sassá e do próprio Montillo.
Ao menos, não aumentou a dívida, que segue parcelada. Só que o suposto alívio na folha salarial também tem parte comprometida com pagamento de débitos. Por isso, a diretoria encontra dificuldade para contratar.
Dirigentes internamente falam em ter "uma bala" e não poder errar, mas a tendência é que cheguem ao menos um meia e um atacante.
A bola da vez é o chileno Leo Valencia, do Palestino.