Em noite de massacre, Botafogo mostra as virtudes do melhor time do Brasil e da América na temporada
Goleada sobre o Peñarol, no que provavelmente foi a maior noite da história do Estádio Nílton Santos até aqui, exibiu em 45 minutos boa parte das qualidades deste time
Botafogo 5 x 0 Peñarol | Melhores momentos | Semifinal | CONMEBOL Libertadores 2024
Caso se confirme a quarta final brasileira nas últimas cinco edições da Libertadores, este Botafogo capaz de atuações encantadoras como a de quarta-feira terá pela frente jogadores como Hulk, Paulinho, Scarpa e Arana. Impossível cravar quem será o campeão.
Mas algo não deverá mudar, de agora até o fim deste 2024, qualquer que seja o desfecho da Libertadores: em seus melhores momentos, o Botafogo produziu as mais bonitas exibições de futebol que o Brasil e a América do Sul viram na atual temporada. A goleada sobre o Peñarol, no que provavelmente foi a maior noite da história do Estádio Nílton Santos até aqui, exibiu em 45 minutos boa parte das virtudes deste time.
Análise: Botafogo reafirma capacidade para conquistar a América
Imprensa uruguaia coloca Botafogo na final: "Vendaval de gols"
É um Botafogo capaz de machucar um adversário de formas distintas, em especial quando joga em seu gramado. O movimento em profundidade de Savarino, após Luiz Henrique encontrar o espaço que se insinuava na entrada da área do Peñarol, mostra um time capaz de abrir defesas fechadas, desmontar retrancas. A partir daí, o que se viu foi a outra versão do Botafogo: se o adversário ousa dar alguns passos adiante, o alvinegro o faz parecer um pugilista contra as cordas, submetido a uma sucessão de golpes que parece sem fim. Dar um mínimo espaço significa lidar com Luiz Henrique, Igor Jesus, Vitinho ou qualquer outro alvinegro correndo às costas dos defensores.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_bc8228b6673f488aa253bbcb03c80ec5/internal_photos/bs/2024/B/V/R2wgPBSBC5cklaAcZs6Q/41.jpg)
Savarino marca o segundo para o Botafogo contra o Peñarol — Foto: André Durão/ge
Ao longo da temporada, outros times experimentaram tal sensação: o Flamengo nos 4 a 1 do Brasileiro ou o São Paulo no primeiro tempo pela Libertadores, quando faltou apenas o gol em uma atuação frenética durante 45 minutos. É marca deste time produzir passagens dos jogos em que só resta ao rival resistir, defender, torcer para o tempo passar.
É curioso que, por 30 minutos, ninguém no Nílton Santos acreditaria que aquele jogo terminaria num 5 a 0. Porque, dentro do que eram as propostas do alvinegro e dos uruguaios, eram os visitantes que davam à partida um roteiro que lhes era mais conveniente. Levavam vantagem no jogo direto para o centroavante Silvera, mantinham o Botafogo longe de sua área e até chegaram a criar a melhor chance até ali, numa infiltração de Perez.
Mas bastou o Botafogo se estabilizar no jogo para que ficasse claro que, embora se tratasse de um exercício de paciência, a partida já sinalizava onde estavam os espaços. Como o time de Artur Jorge constrói suas jogadas com os dois laterais bem adiantados, o Peñarol respondia recuando seus pontas, Darias e Baez: formava-se uma linha defensiva de seis homens. Havia pouco espaço para penetrar, mas o efeito colateral era que a frente da área ficava menos povoada pelos uruguaios. Os volantes Perez e García tinham muito espaço para cobrir. Savarino e Almada começavam a encontrar grandes vazios nas laterais dos volantes do Peñarol.
Faltava algo de calma, de clarividência para explorar tais espaços. Em muitos momentos, era possível ver o argentino ou o venezuelano sinalizando para o time que tinham liberdade, tempo e espaço. Mas o passe não saía. Finalizações de fora da área foram o primeiro recurso do Botafogo.
O segundo tempo trouxe um time mais consciente de como penetrar naquela defesa, com inversões de jogadas e a capacidade de explorar justamente os vazios na entrada da área. Na primeira etapa faltavam também movimentos de penetração, de profundidade, justamente o que Savarino fez quando Luiz Henrique recebeu a bola e deu o passe para o primeiro gol.
Artur Jorge explica o que mudou no Botafogo do primeiro para o segundo tempo (https://ge.globo.com/video/artur-jorge-explica-o-que-mudou-no-botafogo-do-primeiro-para-o-segundo-tempo-13039495.ghtml)
A partir daí, um Peñarol golpeado ameaçou se adiantar e o Botafogo passou a acumular transições rápidas, uma de suas especialidades. Um gol após um escanteio terminou de derrubar o ânimo dos uruguaios, e o jogo virou um monólogo futebolístico. Savarino produzia uma grande atuação, mostrando sua capacidade de leitura de jogo, criação de jogadas e ataque à área. Aos poucos, Igor Jesus mostrou que é um centroavante capaz de criar diversas situações perigosas: pode disputar bolas longas, atuar como pivô, atacar espaços em profundidade. E Luiz Henrique virava um pesadelo para os uruguaios a cada vez que era acionado em velocidade.
Foi dele o passe para Vitinho achar Savarino no terceiro gol. Depois, marcou o quarto, em contragolpe que passou pelo próprio Savarino e por Igor Jesus, este último o autor do quinto gol.
O futebol já produziu grandes aberrações, viradas escandalosas. Mas é difícil achar indícios de que o Botafogo pode ser vítima de um desses episódios. O melhor futebol do Brasil e da América do Sul na temporada segue em busca de dois títulos.
/s2-ge.glbimg.com/Nb6JRvKkqZYD28-0ss9fmbnStz8%3D/0x175%3A560x735/https%3A//i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_bc8228b6673f488aa253bbcb03c80ec5/internal_photos/bs/2021/8/i/5llHl4RaAaeLSgsxIDyg/whatsapp-image-2021-03-05-at-12.26.01.jpeg)
Por Carlos Eduardo Mansur
Jornalista. No futebol, beleza é fundamental