Para que se tenha uma ideia do que o Botafogo já realizou neste Brasileiro, há um número imbatível. Se ampliado para todo o campeonato o aproveitamento alvinegro nas 15 rodadas iniciais, o time terminaria a competição com impressionantes 98 pontos. E, neste caso, iria pulverizar, com oito pontos de sobra, o recorde do Flamengo de 2019. A 13ª vitória veio em 90 minutos que sintetizam a caminhada do time até aqui: houve jogos em que o Botafogo dominou, impôs seu estilo; houve outros em que viveu no limite. Aconteceu um pouco de cada coisa diante do Bragantino. E o resultado final foi justo.
Nas últimas quatro rodadas, o time venceu três de seus cinco perseguidores mais diretos. E mais: tem sete vitórias em sete jogos contra os times que, junto com ele, compõem o grupo dos oito primeiros colocados. É uma campanha brutal.
Adryelson e Tiquinho comemoram vitória do Botafogo — Foto: Alexandre Durão / ge
Curiosamente, o Botafogo que fez a sua forma de jogar ser hegemônica apareceu num primeiro tempo que terminou sem gols. Houve algum desconforto no início, porque o Bragantino tinha uma vantagem no centro do campo. Saía de trás com três homens, fazia Lucas Evangelista se mover para o centro como um quarto meio-campista e superava os três homens alvinegros. Por vezes, obrigava um dos zagueiros a deixar a linha ofensiva para compensar a inferioridade, mas ainda assim os eventuais espaços não representaram tantas chances claras aos visitantes. Porque os zagueiros ganhavam duelos e porque o Bragantino não tinha tanta profundidade para infiltrar.
E num duelo de ideias distintas, em que os visitantes valorizavam o fato de ficar mais tempo com a bola, enquanto o Botafogo preferia os ataques rápidos, verticais, claramente os alvinegros foram mais perigosos. A cada roubada de bola geravam a sensação do perigo e, por pelo menos duas vezes, tiveram finalizações claras. Eduardo acertou o travessão e Luís Henrique andou muito perto de abrir o marcador. A proposta do Botafogo prevaleceu num jogo que não pendia tanto para qualquer dos lados. Se fosse obrigatório haver um vencedor no intervalo, seriam os donos da casa. Chama atenção como o time tem movimentos articulados para seus ataques rápidos, como chega com objetividade à área adversária.
O segundo tempo trouxe um Botafogo que lidou com um controle de bola maior do rival, com algumas oportunidades importantes, e que finalizou duas vezes e fez dois gols. E, nos dois lances, contou com erros defensivos do time paulista. Este é o Botafogo que enfrenta circunstâncias que parecem adversas, mas ainda assim sobrevive. Num campeonato de 38 rodadas, ganhar mesmo quando a adversidade se apresenta é um requisito que nenhum pretendente ao título pode rejeitar. No entanto, ver tais situações se repetirem é algo que precisa ser evitado.
E as circunstâncias que cercaram os movimentos iniciais da segunda etapa foram muito favoráveis. Com um minuto de bola rolando, Bruninho ficou de frente para Lucas Perri mas não fez o gol. Instantes depois, do outro lado do campo, o zagueiro Natan e o goleiro Cleiton falharam num lançamento longo de Cuesta. Tche Tche alcançou a bola uma fração de segundo antes que ela cruzasse a linha de fundo e permitiu a Eduardo fazer o 1 a 0.
O gol condicionou o jogo, do ambiente à precipitação do Bragantino nos metros finais. O Botafogo teve os espaços para o contragolpe, nem encaixou tantos. Mas, num deles, Natan voltou a errar uma rebatida e Di Plácido chutou cruzado para sentenciar o jogo. O Bragantino continuou atacando, o Botafogo seguiu protegendo sua área, mas ninguém acreditava mais numa mudança de cenário.
O Botafogo disparou, tem a seu favor o astral, virtudes ao defender a área e a forma como castiga rivais ao jogar em transições rápidas. E tem vencido mesmo quando não se impõe de forma clara. Num calendário exigente como o brasileiro, em que seus perseguidores seguem vivos em copas, é fácil vê-los enxergando atalhos nos mata-matas para alcançarem troféus. Porque, na longa maratona dos pontos corridos, o Botafogo parece distante. E este é outro trunfo alvinegro. A tentação que se apresentará a seus maiores rivais para que apontem prioridades que não sejam o título do Brasileirão.
Por Carlos Eduardo Mansur
Jornalista. No futebol, beleza é fundamental