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quinta-feira, 31 de outubro de 2024

A Libertadores agradece: Botafogo na decisão é reparação histórica



Com classificação inédita para a decisão continental, o time de Artur Jorge traz outra dimensão ao histórico orgulho botafoguense.





Peñarol 3 x 1 Botafogo | Melhores Momentos | Semifinal | Taça Libertadores 2024 (https://ge.globo.com/futebol/libertadores/video/penarol-3-x-1-botafogo-melhores-momentos-semifinal-taca-libertadores-2024-13058595.ghtml)



Nos jogos no estádio Nilton Santos, a torcida botafoguense estende uma faixa onde está escrito: "O clube que transformou o Brasil no país do futebol". Na frase poderosa, está expresso obviamente muito do orgulho inflamado que caracteriza a paixão por uma camisa, mas há também várias camadas de verdade.


Além de histórico fornecedor de craques para a Seleção, o clube de General Severiano teve formações antológicas que representaram um certo ideal brasileiro de jogar bola -- e ninguém, é claro, encarnou de forma tão pura a índole nacional dentro de campo como Garrincha. Na última noite, todos os nomes históricos da estrelada trajetória, e mesmo os nem tão históricos assim, de certa forma ajudaram a garantir a inédita classificação para a final da Libertadores.





Peñarol x Botafogo — Foto: Eitan ABRAMOVICH / AFP


O clube que transformou o Brasil no país do futebol disputar uma final de Libertadores é mais do que merecido: é uma reparação histórica. No dia 30 de novembro, vão entrar no campo do Monumental de Núñez também Jefferson, Nilton Santos, Afonsinho, Jairzinho, Maurício, Paulinho Criciúma e Loco Abreu, entre tantos outros que, em épocas de glórias ou vacas magras, se empenharam para manter o Botafogo sempre em pé e altivo, sempre respaldado pela sua própria história. Porque, na ausência de títulos ou mesmo campanhas de destaque, muitas vezes o orgulho se bastava -- e, enquanto se bastava, esse orgulho crescia.


Este Botafogo é outra extensão do orgulho, pois também é a manifestação convicta da ambição por títulos -- a vontade não apenas de fazer história, mas também de remendar a história que Garrincha viveu para costurar. O Botafogo de John, Barboza, Savarino, Almada, Marlon Freitas, Luiz Henrique e Igor Jesus chega à inédita decisão amparado pelos que antes pavimentaram a estrada, mas também pelo melhor futebol do continente, capaz de deixar pelo caminho adversários como Palmeiras e São Paulo em jogos que já se tornaram lendários, a despeito do que possa acontecer daqui a um mês na tarde porteña mais brasileira que a Argentina já presenciou.


De reparações históricas e justiças poéticas é construída essa jornada alvinegra que mira o topo do continente. Apesar da sequência de eventos lamentáveis que culminou na mudança de estádio, estava escrito, desde a época em que o futebol brasileiro foi inventado, que o Botafogo precisava conquistar sua presença na decisão jogando em um templo como o Centenário.


Afinal de contas, o Botafogo que faz história merecia um palco histórico -- e merecia até mesmo sofrer o calor desesperado imposto pelo Peñarol, pois isso também é um capítulo importante da narrativa ancestral da Libertadores. Este time merecia, enfim, um estádio onde cada rachadura no concreto expõe memórias do futebol continental. Uma dessas memórias, a partir de hoje, vai mostrar que, em 30 de outubro de 2024, o time de Artur Jorge colocou o universo nos eixos e classificou o Botafogo para jogar uma final de Copa Libertadores da América.




Por Douglas Ceconello

Jornalista, um dos fundadores do Impedimento.org, dedicado ao futebol sul-americano

ge.globo — Porto Alegre

Análise: Botafogo joga com a cabeça na final e carimba vaga histórica em jogo típico de Libertadores



Peñarol não joga a toalha em jogo para cumprir tabela, pressiona time misto do Botafogo, que segura e fica a 90 minutos do sonhado título inédito






Peñarol 3 x 1 Botafogo | Melhores Momentos | Semifinal | Taça Libertadores 2024



O Botafogo está a 90 minutos de conquistar a América de forma inédita. O Glorioso confirmou a vaga para a final da Comebol Libertadores mesmo perdendo por 3 a 1 para pentacampeão Peñarol na noite da última quarta-feira, no Estádio Centenário, em Montevidéu. A "tranquilidade" de derrota só foi possível graças a vantagem de 5 a 0 no jogo de ida, no Nilton Santos.


Essa elasticidade no placar deixou o time com a cabeça já na próxima fase, ao menos foi o que pareceu no duelo desta quarta. Artur Jorge aproveitou para poupar cinco jogadores e entrar em campo com um time misto. O zagueiro Barboza, o volante Gregore, e os atacante Luiz Henrique e Igor Jesus estavam pendurados, e Almada foi poupado.


Os 11 iniciais foram: John; Vitinho, Adryelson, Bastos e Alex Telles; Danilo Barbosa e Marlon Freitas; Savarino, Tchê Tchê e Matheus Martins; Igor Jesus.




Time do Botafogo na partida contra o Peñarol — Foto: Vitor Silva/Botafogo.


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Primeiro tempo de pressa do Peñarol, que ainda acreditava


Apesar de ser goleado na ida, o Peñarol foi empurrado pela torcida como se estivesse com grandes chances de chegar a uma final, e isso teve efeito. O time de Diego Aguirre tinha pressa e incomodou o Botafogo desde o primeiro minuto.




No primeiro min do 1º tempo - Leo Fernández finaliza de primeira, para fora (https://ge.globo.com/futebol/libertadores/video/no-primeiro-min-do-1o-tempo-leo-fernandez-finaliza-de-primeira-para-fora-13058447.ghtml)



Com uma dinâmica veloz, com a bola de um lado para o outro, o time explorou as extremidades, tentou jogar nas costas dos laterais e foi feliz nas investidas. Quase abriu o placar logo no primeiro minuto em chute de Léo Fernandez - esse que, inclusive, parecia se multiplicar em campo, buscando e armando por diferentes espaços.


O Botafogo, que estava com cinco jogadores diferentes do time considerado titular, custava a encaixar as jogadas e tinha dificuldade para segurar a bola. As tentativas eram, na maioria das vezes, nos lançamentos diretos para Tiquinho fazer o pivô, mas o centroavante estava sempre bem marcado.


Pelo lado de Matheus Martins, que jogou pela esquerda, existia um hiato entre ele e Alex Telles, que não conseguiam desenvolver a dinâmica para dar profundidade e fazer o time chegar na área. As boas chegadas alvinegras foram na cobrança de falta do lateral-esquerdo, que passou muito perto, aos 21, e em uma das poucas trocas de passes, que sobrou para Savarino finalizar, aos 28.




Aos 21 min do 1º tempo - Alex Telles cobra a falta, e a bola passa muito perto do gol (https://ge.globo.com/futebol/libertadores/video/aos-21-min-do-1o-tempo-alex-telles-cobra-a-falta-e-a-bola-passa-muito-perto-do-gol-13058515.ghtml)



Aos 30, o Peñarol consegue chegar ao gol na individualidade. Báez recebeu de Léo Fernández na intermediária e arriscou um belo chute de longe, sem chances para o goleiro John. Vitinho foi cortado com facilidade, e deixou espaço para a finalização. Dois minutos depois, os uruguaios quase ampliaram em cabeceio de Pérez, que subiu melhor Bastos na jogada, e a bola beijou a trave.


O Peñarol pressionava e recuava o Botafogo, no embalo da torcida, incansável. Foram15 finalizações no primeiro tempo contra apenas quatro dos cariocas.


Após o apito para o intervalo, o goleiro Aguerre atingiu John por trás, depois de uma reclamação, e foi expulso. O Peñarol jogaria com um a menos no segundo tempo inteiro.




Durante o intervalo, Aguerre, do Peñarol, é expulso por acertar John na saída do campo (https://ge.globo.com/futebol/libertadores/video/durante-o-intervalo-aguerre-do-penarol-e-expulso-por-acertar-john-na-saida-do-campo-13058548.ghtml)



Artur Jorge corrige time com Almada, e Botafogo passa a sofrer menos



A primeira substituição teve a saída de Matheus Martins, com cartão, para a entrada de Thiago Almada, que havia sido preservado. O reflexo da mudança se viu logo nos primeiros lances, com o meia segurando mais a bola na frente, trocando passes com aproximação dos companheiros, e criando chances mais perigosas.




Aos 42 min do 2º tempo - gol de dentro da área de Thiago Almada do Botafogo contra o Peñarol (https://ge.globo.com/futebol/libertadores/video/aos-42-min-do-2o-tempo-gol-de-dentro-da-area-de-thiago-almada-do-botafogo-contra-o-penarol-13058586.ghtml)


O diferencial do "um contra um" deu mais força pelo lado direito. Com toques rápidos e até dribles, ele ajudava a quebrar a linha defensiva dos uruguaios. Aos 8 minutos, por exemplo, ele recebeu na intermediária, avançou sobre a marcação e deu um passe pelo meio para Tiquinho, que foi parado pelo marcados - o árbitro assinalou penâlti, mas voltou atrás depois da revisão.


O treinador português ainda colocou Mateo Ponte e Eduardo nos lugares de Vitinho e Tchê Tchê, respectivamente. O jogo seguiu lá em cá, mas o dia feliz era do Peñarol, que estava com a pontaria calibrada e fez outro belo gol com Báez.


Amarelado, Bastos foi substituído por Allan, e o time pareceu ter de desconsertado ainda mais, principalmente pela falta de entrosamento e nervosismo para que a partida terminasse logo. Nas arquibancadas, a torcida do Botafogo já dava sinais de apreensão, que Alex Telles sentiu no gramado e pediu para voltarem a cantar.





Artur Jorge em Peñarol x Botafogo — Foto: Vitor Silva/Botafogo


Nessas horas, a experiência conta, e foi o que faltou ao jovem Mateo Ponte, que fez duas duras faltas em um minuto e foi expulso. O Peñarol seguia na pressão, o que obrigou Artur Jorge a colocar o zagueiro Barboza, pendurado, em campo. O jogador tirou Danilo improvisação na zaga e deu mais calma na saída de bola alvinegra.


E foi dos pés dele que saiu o contra-ataque, ao achar lançamento de trivela para Almada. O meia conduz até a área, passa para Marlon se apresentando na segunda trave, o volante só devolve e coroa o camisa 23, que melhor o time no segundo tempo.


Mas, em jogo de mata-mata de Libertadores, uma leve desconcentração pode custar, nesse caso, mais um gol. Os uruguaios se aproveitaram da injeção positiva de ânimo, e ampliaram em jogada que partiu da saída de bola após o gol alvinegro.




Aos 43 min do 2º tempo - gol de dentro da área de Facundo Batista do Peñarol contra o Botafogo (https://ge.globo.com/futebol/libertadores/video/aos-43-min-do-2o-tempo-gol-de-dentro-da-area-de-facundo-batista-do-penarol-contra-o-botafogo-13058585.ghtml)



Aos 43, Pérez pega a defesa do Botafogo dispersa, dá bom passe por cima para Batista, que domina com categoria e marca. O gol trouxe emoção para os minutos finais, mas sem tirar o conforto da vantagem construída sete dias antes.


O Botafogo foi avassalador em um tempo dos quatro contra os uruguaios, e tornou uma virada história impossível.


A quarta-feira no Centenário teve episódios de sobra de jogo decisivo - até os lamentáveis do lado de fora do estádio -, o que tornou o jogo para "cumprir tabela" em 90 minutos típicos de Libertadores. A glória eterna é logo ali.




Artur Jorge comemora ida do Botafogo à final da Libertadores: "Marco histórico" (https://ge.globo.com/video/artur-jorge-comemora-ida-do-botafogo-a-final-da-libertadores-marco-historico-13058622.ghtml)


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Fonte: Por Jéssica Maldonado — Montevidéu