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domingo, 29 de abril de 2012

El Loco na marca do pênalti



Capitão do Botafogo rebate críticas e pede que sua história seja respeitada


 


Loco Abreu brinca durante treino no Engenhão
Foto: Jorge William / O Globo
Loco Abreu brinca durante treino no EngenhãoJORGE WILLIAM / O GLOBO




RIO — Sabe aquele cricri, o chato que, no íntimo, é um cara legal? É assim que Loco Abreu é visto no Botafogo. Em uma hora de entrevista, deu para perceber que é cheio de manias. Pediu para fechar a porta da sala de imprensa, que os assessores não atrapalhassem a conversa, que o fotógrafo parasse de clicá-lo, e perguntou ao repórter se estava gravando e entendia o “japonês” em que escrevia. Tudo sob o olhar impassível de seu Miguel, o pai.
Loco também gosta de números. Com 62 gols, está a sete do argentino Fischer, El Lobo, o estrangeiro que mais marcou com a camisa do Botafogo. E sonha alcançar Pedro Rocha, com 115, o maior artilheiro uruguaio no futebol brasileiro. Só não sabe se, em outra ocasião, já havia perdido seis dos últimos sete pênaltis que um dia cobrou. Mas lembra que, em 2004, desperdiçou quatro seguidos, como recentemente. Aí, seu técnico no Nacional, o campeão do mundo pelo Grêmio Hugo de León, virou-se e disse: “Olha, vai continuar batendo até acertar”. No fundo, é isso que Sebastián Abreu gostaria de ouvir de Oswaldo de Oliveira.

Bangu, volta triunfal?

“Volta, não! São 12 jogos, dez gols. Se não estivesse fazendo, e aí faço três, é volta. Estou na coartilharia do time no Estadual com o Herrera. A estatística é melhor do que 2010 e 2011. O que acontece é que 12 dias de pré-temporada foi muito pouco para começar com essa responsabilidade de ser o único grande carioca que não estava na Libertadores. Não estava me sentindo com fôlego e força, a sensação era de carregar o corpo e de que, com a sequência, ia estourar. Aí, concordamos que era melhor dar uma parada.”

Mágoa com críticas

 

“Não sou craque. Sou um bom jogador num time que aceita minhas características. Aí, dizem: ‘O Loco Abreu não está em boa fase física e técnica.’ Este tipo de crítica eu aceito e concordo. Não concordo com a crítica que vai além da realidade, cria confusão e atinge, por minha causa, gente que trabalha honesta e profissionalmente (cita os nomes dos fisiologistas e preparadores físicos). É sacanagem. Aí, vem outro e diz que a maior virtude do Loco Abreu é fazer gol de cabeça. Mentira. Tem 75% de pé e 25% de cabeça. Tem que dizer que tiro proveito disso, não que só faço gol de cabeça. O futebol tem uma verdade lamentável: não tem memória. Se um cara tem 15 anos de sucesso, um jogo põe tudo a perder? Não se joga com história, mas tem de haver respeito.”

Homem certo, jogo errado

“Após o jogo com o Boavista, não falei que precisava de um atacante com outro estilo ao meu lado. Disse que a característica do time, naquela partida, não era para mim, mas para outro tipo de centroavante. O jogo foi muito pelo meio, caindo para dentro. Preciso de jogo por fora. Não posso obrigar o time a jogar do meu jeito. Cada um tem que se adaptar ao estilo do Botafogo. A cobrança que fiz era me tirando. Iam me dar uma facada, mas eu mesmo me dei. (risos) É claro que conversei (com Oswaldo) após o jogo, mas sou da Velha Guarda, não vou falar o quê.”

Invencibilidade marota?

“Nosso time joga lindo? Não. Mas é efetivo, o que fez mais gols, sofre média baixa. Tem que deixar o lirismo de lado e falar de efetividade. O Botafogo, como diz nosso hino, não perde para ninguém. A sequência é boa, e a credibilidade, no grupo total. Se continuar assim, o torcedor vai se acostumar a não ver o time perder e começará a gostar do que esta acontecendo. Está invicto não por casualidade, é trabalho, tudo tem o seu porquê.”

Time do quase?

“Há quantos anos o Botafogo não ganha o Brasileiro? Há 16. E quantos títulos tem da Copa do Brasil? Nenhum. Então, não dá para pôr a responsabilidade neste grupo. Tinha muita coisa errada lá de trás. Ganhar titulo de expressão não é magia, é continuidade. Conseguimos romper o jejum em decisões contra o Flamengo, foi um passo importante. A sequência é poder sonhar com esse titulo (nacional). Mas não dá para assumir responsabilidades de 14, 15 anos.”

Outro clube no Brasil?

"Por enquanto, não. Aqui encontrei a felicidade. O clube se encaixa na minha mentalidade, me faz crescer. Temos um contrato até 2014, e aconteceu porque tem sido proveitoso para os dois lados. Agora, posso dizer hoje que minha última competição vai ser pelo Nacional (Uruguai). Depois, vou encerrar a carreira e ser treinador, se possível, começando por lá.”

Benefício da concentração

“Hoje, não tem nenhum. A ideia é acabar, o Oswaldo está adaptando. Ele já tirou aquela loucura de ficar dois dias trancados. O Botafogo está preparado. Não posso falar dos outros, falo de quem eu conheço. Estamos tendo um convívio muito legal, e ninguém escutou que tem gente na rua fazendo merda. Todo mundo sabe da sua vida profissional.”

Pênaltis perdidos

“Aqui tem um treinador. Ele pode chegar e falar: ‘Loco, dá uma relaxada aí, deixa outro bater e depois você volta.’ Vou respeitar a decisão dele, mas vou me lembrar do que um dia me disse o Hugo de León”.

Pressão de ganhar em casa

“Para mim, sabe o que é pressão? É ligar a TV e ver gente na rua consumindo crack, trabalhando o dia inteiro sem ter como dar alimentação e vestimenta para os filhos. Pressão é uma palavra muito forte para o futebol. Mantenho a essência de quando era garoto, não vou para a guerra, vou jogar para me divertir, desfrutar o fato de estar num grande time, ser capitão deste grande time e jogar uma final. Isso é privilégio. Ninguém vai travar, vamos jogar melhor.”

Vasco, o adversário

“É o mesmo time, com o mesmo técnico. Foi campeão da Copa do Brasil, vice brasileiro, finalista da Taça GB, da Taça Rio e tem um elenco rico. Dizem que, em clássicos, isso fica de lado, mas vejo uma vantagem deles, sim. Agora, há situações que podemos aproveitar. Não caímos do céu na final. Também chegamos. Nosso time é muito seguro, a invencibilidade dá tranquilidade, acreditamos muito na nossa forma de jogar.”

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