Argentino do Botafogo conta como realizou o sonho de conseguir a camisa do ídolo Batistuta e nega apelido Casigol: 'No meu país, sou Chaco'
O menino aguerrido, criado no povoado de Ibarlucea, determinado a ser alguém na vida ainda está lá, mesmo depois de tantas experiências, viagens, histórias e encontros com grandes ídolos de seu país. Jamais aceitou uma derrota com frieza. Com sangue quente, Germán Herrera tem nas palavras bem escolhidas, mesmo sendo argentino, na firmeza de suas declarações e até nos sonhos realizados várias demonstrações de como consegue suas conquistas.
A maior delas está pendurada em um quadro na sua casa em Rosário. A camisa 9 de Batistuta em seu último jogo pela seleção da Argentina, no empate em 1 a 1 com a Suécia, no dia 12 de junho de 2002, na Copa do Mundo da Coreia do Sul e do Japão. Herrera estava lá. Fazia parte do time "sparring", levado pelo técnico Marcelo Bielsa para trabalhar com o grupo principal.
- Não vi Maradona em seu máximo esplendor. Ele ganhou um Mundial sozinho, é ídolo de um povo. Mas o meu é o Batistuta, pelas características. Sempre o mirei e agradeço por ter cumprido meu sonho de conhecê-lo, treinar com ele e tenho a camisa do último jogo dele pela seleção. Estava meio assim de pedir, mas o cerquei no treino e falei. Fui ao estádio assistir ao jogo, a Argentina foi eliminada e achei que minha camisa já era. Mas na concentração, depois do jantar, ele me entregou. Fiquei emocionado - revelou Herrera.
Herrera: sempre sério e aplicado nos treinos do Botafogo (Foto: Fernando Soutello / AGIF)
Muito antes de ser contratado pelo Botafogo, em janeiro de 2010, o argentino foi atrás de seu sonho. Sem levar desaforo para casa e com uma vontade de vencer que o carregou por todos esses anos. Do time do pequeno povoado, que acabou por falta de dinheiro, partiu para o El Torito, um clube de Rosário, que fica a pouco mais de cinco quilômetros de sua casa, graças a ajuda do amigo Marcelo, seu companheiro na sua terra natal.
- Conversei com meus pais, eles foram lá, fizeram minha inscrição e comecei a treinar. Foram quatro ou cinco anos. Eu me destaquei e o Lelio Grosso, meu técnico da época, disse que me levaria para um teste no Rosário. Eu tinha 13 anos. Passei e fiquei. Comecei na Liga Rosarina, mas no ano seguinte já estava jogando a Liga da AFA.
'Sparring' na Copa do Mundo
Com 15 anos de idade, Herrera foi convocado pela primeira vez para uma seleção nacional. Ele passou dois meses treinando com o time sub-17 da Argentina. Mesmo assim, ainda não acreditava que o sonho de ser jogador se tornaria realidade. De volta ao Rosário, continuou crescendo até ter a chance de conviver com seus ídolos na preparação para a Copa do Mundo de 2002.
- São muitos bons jogadores e não dá para ter certeza do que vai acontecer. Em 2000, fui convocado para a seleção sub-20, com jogadores dois anos mais velho do que eu, que foram campeões mundiais em 2001, com gente como D'Alessandro. Acabei fora daquele grupo, mas estava sendo preparado para alguma coisa. Foi então que entrei nesse sparring da seleção que iria para a Copa do Mundo. Fiz parte de todo o processo, desde as Eliminatórias. Éramos chamados para todas as viagens e nos amistosos antes do Mundial. Ficamos 10 dias na Itália na preparação final e o mês inteiro na Copa - comentou Herrera,
Para aquela garotada foi muito importante. Nós treinamos com monstros como Batistuta, Crespo, Caniggia, Simeone e outros. Era sensacional.
Ajudou muito ver como os caras trabalhavam, um espelho para a gente"
Herrera
Os jovens valores da Argentina eram usados para complementar o treinamento do técnico Marcelo Bielsa. Num período, ele trabalhava a defesa e em outro, o ataque. O sparring entrava como adversário da seleção principal nessas atividades. A experiência transformou a vida de Herrera para sempre.
- A gente chegava uma hora antes do treino e ficava ainda mais uma depois. Para aquela garotada foi muito importante. Nós treinamos com monstros como Batistuta, Crespo, Caniggia, Simeone e outros. Era sensacional. Ajudou muito ver como os caras trabalhavam, um espelho para a gente - contou Herrera.
Chocolate de Cristiano Ronaldo
Só depois da participação indireta na Copa do Mundo de 2002, Herrera começou no profissional do Rosário Central. Com algum destaque, ganhou a chance de disputar o Mundial Sub-20 de 2003, quando a Argentina perdeu para o Brasil, que contava com seus atuais companheiros de clube Jefferson e Andrezinho, na semifinal. Também disputou o Torneio de Toulon no mesmo ano, quando presenciou o surgimento de um dos grandes jogadores do futebol atual.
- Levamos um chocolate do Cristiano Ronaldo (o jogo foi 3 a 0 para Portugal, campeão do torneio). Ele pegava a bola no meio do campo e driblava todo mundo. Mas naquela época já dava para ver que era marrento - brincou Herrera.
Herrera marcou um gol no Mundial Sub-20 de 2003 na vitória por 3 a 1 sobre Mali na primeira fase
Apesar dos elogios a Cristiano Ronaldo, a admiração por Messi é ainda maior. Mesmo sendo de lugares próximos, já que o argentino do Barcelona nasceu em Rosário, Herrera não teve o prazer de conhecê-lo ou jogar ao seu lado, mas o trata como um dos maiores jogadores da história do futebol mundial, evitando comparações com os astros do passado.
- Ele está fazendo coisas fora do alcance. E ainda tem a sua forma de ser, muito tranquilo. Muitos o comparam a jogadores de antigamente. Eu respeito, mas, na minha opinião, o futebol era diferente. Não tinha essa marcação, o contato físico. Jogavam com três ou quatro atacantes e ninguém marcava. Claro que existiam jogadores bons, mas sem essa dificuldade que tem hoje. E Messi está fazendo tudo isso agora - explicou.
Ao longo da carreira, Herrera foi comprado pelo San Lorenzo, emprestado ao Grêmio e Real Sociedad, depois vendido ao Gimnasia La Plata e, em seguida, contratado por empréstimo pelo Corinthians antes de ser comprado pelo Grêmio. Tudo isso entre 2004 e 2009. Pular de clube para clube, sempre sendo emprestado, não era de seu agrado. No meio disso tudo, uma transferência mal sucedida para o Qatar, onde acabou passando o Natal de 2005 no aeroporto de Doha.
- Eu iria para o Al-Gharafa. Eles prometeram uma coisa e não cumpriram. O contrato não apareceu e decidi ir embora - contou Herrera.
Em 2010, finalmente chegou ao Botafogo, primeiramente por empréstimo e depois em definitivo. Com contrato até 2013, de bem com a torcida e com visto de permanência no Brasil assegurado até 2020, o argentino não vê motivos para duvidar do seu futuro.
- Eu quero cumprir meu contrato até o fim. Depois, é difícil saber o que vai acontecer. No futebol, não dá para prever nada. Estou feliz aqui e minha família está bem no Rio de Janeiro, o que é mais importante. Na hora em que acabar, a gente vê o que faz - disse Herrera.
Gols contabilizados na cabeça
Com gols em cima de clubes brasileiros em Taças Libertadores (em confrontos com Coritiba e São Paulo, em 2004) e com todos os que marcou em sua carreira contabilizados na cabeça, Herrera nega a existência do apelido Casigol (Quase gol). Na verdade, ele afirma ser conhecido na Argentina como Chaco, nome do estado onde nasceu seu pai, Gustavo.
- Pode perguntar. Eu não nasci lá, mas todos me conhecem por esse apelido desde criança. Essa história de Casigol não existe. Foi coisa de comentários na internet, de torcida. Nunca fui chamado assim em estádio ou por comentaristas. Inventaram isso, começaram a falar e ninguém sabe de onde vem - afirmou Herrera, artilheiro isolado do Campeonato Brasileiro, com três gols, marcados na vitória por 4 a 2 sobre o São Paulo na estreia do Botafogo na competição (veja o vídeo no início da matéria).
Os gols em sua carreira, o argentino sabe de cor. Segundo ele, foram 20 pelo Grêmio, 23 no Corinthians, 12 com o San Lorenzo, 10 com o Rosário Central, um pelo Gimnasia e mais um com a camisa do Real Sociedad, da Espanha. No Botafogo, tem seu recorde: são 50 gols nas contas do clube, mas Herrera reclama dois em disputas de cobranças de pênalti.
- São superimportantes. Podem dar a possibilidade de ganhar ou perder alguma coisa - contestou Herrera, que não tem certeza do número de gols marcados pelas seleções de base da Argentina.
Essa é apenas mais uma marca do estilo de Herrera em campo. Sempre irritadiço e com reclamações seguidas por marcações de faltas, nunca aceita uma derrota. A garra argentina parece ter sua representação típica a serviço do Botafogo.
- Sempre quis ganhar, não gosto de perder. Tenho a mesma forma de ser desde criança. Pode parecer estranho por não ser tão comum aqui. Eu me irrito no jogo com marcações erradas que podem prejudicar o meu time. Isso é dentro de campo. Fora dele, sou muito tranquilo - garantiu Herrera, que será titular mais uma vez no confronto com o Cruzeiro, quinta-feira, no Engenhão, pela terceira rodada do Campeonato Brasileiro.
Por Thales SoaresTeresópolis, RJ
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