Com o apelido de Professor, holandês do Botafogo pede mais lealdade e honestidade dos brasileiros em campo e fala sobre sua paixão pela música
Aos 36 anos, Seedorf sempre foi conhecido em sua carreira por ser um jogador educado ao extremo em campo e ganhou o apelido de Professor. Fora dele, exibe o mesmo perfil. Com sorriso fácil e cumprimento simples e cordial a quem sabe respeitá-lo, o holandês conquistou rapidamente seu espaço em um novo país, onde desembarcou como ídolo, com recepção de gala no Aeroporto Internacional Tom Jobim.
- Cada um vive a sua maneira. A minha disponibilidade tem a ver com a educalçao da pessoa. Se estou jantando, peço para esperar. Geralmente, entendem e atendo sempre que possível. É uma pequena ação para fazer feliz uma pessoa. Ela gosta do que vocês está fazendo e quer um pouco de atenção - disse Seedorf.
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Seedorf avisa: 'Dependemos de outros times, mas vamos correr atrás'
Essa preocupação com a educação fora de campo adentra os gramados do país. Nesses quase quatro meses, Seedorf identificou a preocupação do brasileiro em ludibriar os árbitros como um problema a ser corrigido. A lealdade entre os jogadores, segundo ele, é importante para manter o profissionalismo do jogo.
- O futebol tem uma importância enorme socialmente falando e os jogadores precisam ser mais leais. Ser malandro parece um pouco demais. É importante que haja solidaeridade, que sejam honestos. A Uefa combate isso há uns cinco, seis anos. Entro em campo para fazer o meu melhor e com o pensamento de que quem se sair melhor vai vencer. Um precisa do outro. Se jogar no chão para o árbitro entender mal a jogada é um malandragem e não respeito isso. Complica a vida da arbitragem, que já trabalha em um nível de velocidade extremo. Transmitimos coisas para as crianças e ganhar fazendo as coisas de forma correta é melhor. Não precisa de malandragem para ganhar. É uma coisa habitual de vários jogadores que pode ser atacada para passar valores positivos - comentou Seedorf.
Seedorf avisa: 'Dependemos de outros times, mas vamos correr atrás'
Essa preocupação com a educação fora de campo adentra os gramados do país. Nesses quase quatro meses, Seedorf identificou a preocupação do brasileiro em ludibriar os árbitros como um problema a ser corrigido. A lealdade entre os jogadores, segundo ele, é importante para manter o profissionalismo do jogo.
- O futebol tem uma importância enorme socialmente falando e os jogadores precisam ser mais leais. Ser malandro parece um pouco demais. É importante que haja solidaeridade, que sejam honestos. A Uefa combate isso há uns cinco, seis anos. Entro em campo para fazer o meu melhor e com o pensamento de que quem se sair melhor vai vencer. Um precisa do outro. Se jogar no chão para o árbitro entender mal a jogada é um malandragem e não respeito isso. Complica a vida da arbitragem, que já trabalha em um nível de velocidade extremo. Transmitimos coisas para as crianças e ganhar fazendo as coisas de forma correta é melhor. Não precisa de malandragem para ganhar. É uma coisa habitual de vários jogadores que pode ser atacada para passar valores positivos - comentou Seedorf.
Seedorf entra no combate contra a malandragem no futebol (Foto: Thales Soares / Globoesporte.com) |
- Todo mundo gosta de dizer que os jovens são o futuro. Ter uma educação boa e praticar esporte são duas coisas muito importantes para o crescimento de uma criança. Sei da minha posição e o que minha palavra representa, assim como a atitude do Ronaldo de aceitar seus problemas e trabalhar para melhorar por causa de sua saída. Saber falar não às drogas é importante. Há jogadores que chegaram pelo talento e não tiveram uma base. Depois dos 40 anos, vão fazer o quê?. Esta é minha filosofia de vida que quero passar para os outro direta ou indiretamente com atividades sociais, falando em escolas, empresas, que chamam para palestras e tem valores muito parecidos com o do esporte. Não adianta ganhar uma Copa. Ela sozinha não tem significado. Quero colocar valores dentro dela, o trabalho duro, o suor, a disciplina, o comprometimento dos jogadores. Mostra que isso não vem de graça, mas de um desempenho convertido em uma realidade atravás de um trabalho - explicou Seedorf.
Nessa relação com os brasileiros, o holandês também tem elogios. Depois de conviver com muitos deles em sua longa carreira na Europa, conseguiu traçar um perfil. Com alguns, Seedorf tem um contato mais próximo, mas sempre teve um tratamento de respeito com todos. Ele percebeu nesse tempo um comprometimento entre eles, que serve como exemplo para o crescimento do Brasil como país.
Seedorf autografa camisa levada pelo volante Gabriel (Foto: Thales Soares / Globoesporte.com) |
O discurso sobre o futebol brasileiro também serve para o Botafogo. Seedorf já disse outras vezes que sua motivação para aceitar o convite do clube foi o desafio da mudança e como poderia contribuir em uma situação diferente das que já havia passado em sua carreira, em clubes da elite mundial, como Milan e Real Madrid. Ele acredita no trabalho que vem sendo realizado para conquistas futuras.
- Se o Botafogo tiver coragem, força e tranquilidade para continuar nesse caminho que o clube começou há quatro anos, é uma questão de tempo. Nada é construído em doias dias. Uma casa não é feita em dois dias, principalmente sabendo onde o Botafogo estava antes. Foram muitos trabalhos bem feitos, mas só olham o resultado no campo. O torcedor está certo em ver assim, mas internamente, qualquer clube precisa de um projeto para construir alguma coisa. Se o resultado vem antes, tudo bem, mas você não pode fazer um time forte agora para depois ficar 20 anos sem ganhar porque não construiu uma base - comentou o holandês.
Família, vida e música
Nessa sua nova vida, Seedorf tem sua família, que mantém distante dos holofotes, administra de longe três restaurantes japoneses na Itália e conta com projetos sociais no Suriname, sua terra natal. No Brasil, ainda espera fazer mais e tem na Copa do Mundo de 2014 uma boa oportunidade de investimento no futuro.
- Minha felicidade é quando consigo dar algo a alguém. Não falo em dinheiro, mas uma palavra, uma atitude. A felicidade do outro é a minha. Quem sabe dar sem pedir, vai receber também. Isso não significa que não goste de fazer dinheiro, negócios, mas você pode fazer isso com certos valores. Na vida, não há só o futebol. Apenas 1% chega ao máximo nível. Por isso, as crianças precisam entender como a escola é importante - disse.
A vida no Brasil, segundo o próprio Seedorf, tornou-se mais fácil do que ele mesmo esperava. A adaptação tem sido simples, mas com métodos de trabalho, uma rotina e temperaturas bem diferentes do que estava acostumada em 20 a nos de futebol europeu. Até mesmo no relacionamento entre os membros da comissão técnica, o holandês percebeu diferenças.
Aqui, quando levanto, está sempre sol. Uma qualidade de vida para treinar muito boa. No Brasil, o preparador físico fala mais, tem uma interferência maior, o que na Europa não existe. Lá, ele faz o trabalho dele e vai embora"
Seedorf
- Aqui, quando levanto, está sempre sol. Uma qualidade de vida para treinar muito boa. No Brasil, o preparador físico fala mais, tem uma interferência maior, o que na Europa não existe. Lá, ele faz o trabalho dele e vai embora. No Brasil, todo mundo está sempre presente, na preleção, há uma participação de todos. A comida também. Tem muita - brincou Seedorf.
Sempre sorridente e com tiradas bem humoradas, Seedorf falou sobre seu lado cantor. Fã de Bob Marley, Michael Jackson e soul dos anos 60 e 70, ele chegou a gravar ao lado do irmão Jurgen. No Brasil, citou Ivete Sangalo como a mais popular até agora, mas fez elogios aos estilos em geral.
- Nada que ouvi até agora aqui fez barulho na minha orelha. Algumas têm um ritmo mais interessante, como pagode, samba, bossa nova. Mas a Ivete Sangalo é a que eu mais conheço. Nas festas, toca o tempo todo. Gosto de cantar mesmo, mas de onde vem, não sei. Tenho um irmão também que canta muito bem. Os escravos sempre cantavam para botar o estresse para fora. Talvez tenham limpado a voz para a gente. Acho que todo mundo deveria cantar. Faz bem para a alma - disse Seedorf.
A carreira de jogador está em seus últimos anos, mas o futuro ainda é um mistério para Seedorf. Seu contrato com o Botafogo vai até o dia 30 de junho de 2014. O holandês não gosta de fazer previsões e diz que muita coisa pode mudar de um ano para o outro.
- Vou fazendo coisas que estão no meu caminho. Há três anos não pensava em vir para cá jogar futebol. As coisas mudam - afirmou Seedorf.
Por Kiko Menezes e Thales Soares Rio de Janeiro
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