Autor de um gol sobre o Flamengo em sua estreia como titular no profissional, Sassá conta com apoio da família para superar trauma recente
Em casa, Luiz Ricardo Alvez é o Luizinho. Aos oito anos, o futebol lhe deu o primeiro apelido,Sassá, que passou a carregar neste seu início de carreira no Botafogo. Ele gostava de "sassaricar" em campo. A semelhança física com outro atacante, Mario Balotelli, do Manchester City e da seleção italiana, especialmente quando o jovem adotava o estilo moicano, geraram brincadeiras. Surgiu então o "Sassalotelli".
Na última rodada do Brasileiro, sábado, contra o Flamengo, no Engenhão, ele foi titular pela primeira vez e marcou um dos gols do empate em 2 a 2. Apesar de achar graça, Sassá ainda fica meio tímido com o novo apelido. Teme que pensem que a comparação seja por causa do estilo de vida polêmico que o atleta do City leva fora dos gramados.
Balotelli e Sassá, agora já sem o corte moicano (Foto: Editoria de Arte / Globoesporte.com) |
- O pessoal do Botafogo ficava brincando comigo dizendo que eu pareço com ele porque uma época eu estava com o corte moicano. Aí só falavam Sassalotelli, mas não tem nada
disso não (risos). O que eu quero ser parecido com ele é jogar na minha seleção, em um
grande time da Europa. Mas meu jeito é totalmente diferente dele. Acho que sou um
pouco mais bonitinho também (risos). Ele é muito doido, isso não é para mim não. Pior
que agora todo mundo está me chamando assim. De repente eu acostumo - disse a revelação alvinegra, que recebeu até uma ligação do presidente Maurício Assumpção quando houve a confirmação de que seria titular.
Acho que sou um
pouco mais bonitinho também (risos). Ele é muito doido, isso não é para mim não. Pior
que agora todo mundo está me chamando assim. De repente eu acostumo"
Sassá
No clássico com o Flamengo, o pai estava lá no estádio ao lado da família para torcer por Sassá, como costuma fazer sempre. Orgulhoso do desempenho em campo e do comportamento que o filho tem fora dele, Luiz Roberto contou uma conversa que teve com Oswaldo de Oliveira depois do jogo.
- Conversei com o Oswaldo e o com o Fellype Gabriel também. O Luizinho (Sassá) está só começando. Digo a ele que antes de ser um atleta e um profissional brilhante, tem de ser um homem. O Oswaldo me disse que ele ainda não é um jogador, mas que com certeza, em um futuro próximo, será. Mas já se pode dizer que ele é um homem. Isso me deixou muito feliz, é o reflexo de uma boa educação. Chorei no Engenhão. Meu filho é uma realidade. Para a maioria o clássico foi só para cumprir tabela, mas para nossa família foi um marco. Foi um momento ímpar. No meu trabalho só falavam disso - disse o pai de Sassá.
Sempre presente em todos os passos de Sassá neste início de carreira, Márcio, amigo da família e ex-jogador da base do Bota na década de 80, também elogiou a postura do atacante fora de campo.
- É um garoto muito bom, humilde. Digo que tem de agarrar com unhas e dentes, a concorrência é grande. Mas ele tem a cabeça boa, é uma pessoa exemplar. Garoto de ouro, torço muito.
No início deste ano, Sassá levou um duro golpe, uma provação que precisou ser forte para vencer. Sua mãe faleceu em um acidente automobilístico, o que fez o jovem atleta pensar em desistir da bola.
- Conversei com a minha família e decidi voltar a jogar. Segui trabalhando na esperança de uma hora as coisas acontecerem. Treinei no profissional, desci para os juniores para jogar e agora tive as oportunidades com o Oswaldo.
Sassá com seu staff pessoal: pai, irmãs, sobrinha e amigos (Foto: Fred Huber / Globoesporte.com) |
- Gostaria que ela estivesse presente, o sonho dela era vê-lo no time principal e defendendo o Brasil em 2014. Infelizmente ela nos deixou muito cedo, mas temos certeza de que está em um lugar iluminado e está vendo até com mais clareza do que nós. Que todos os gols que ele fizer levante as mãos para o céu para ela.
Sassá chegou ao Botafogo com 15 anos depois de começar no Nova Iguaçu e passar pelo Heliópolis. Sem tempo para tirar a carteira de motorista, ele tem de encarar uma maratona para chegar aos treinos do time de juniores, no Caio Martins, em Niterói. Ele acorda às 5h10m e precisa de três ônibus e bastante tempo para chegar.
Sassá - ainda com o moicano que lhe rendeu o apelido - e noiva Juliana (Foto: arquivo pessoal) |
Quando treina com os profissionais, a situação fica melhor, já que ele ganha a carona do amigo Cidinho.
- Aí vou no conforto, né.
Confira abaixo a entrevista completa com "Sassalotelli":
Como foi que você descobriu que seria titular no clássico com o Flamengo?
- Os três gols (na final da Taça OPG de juniores) me ajudaram muito a conseguir ser titular. Estávamos treinando na véspera (sexta) e, antes do rachão, o Oswaldo disse que ia fazer uma bola parada. Ele chamou o time titular e eu fiquei ali. Aí o Brinner perguntou quem seria o substituto do Elkeson. Ele disse "Sassá". Foi naquela hora que descobri que iria iniciar o clássico. Depois o Oswaldo conversou comigo sobre qual posicionamento ele queria de mim.
Logo no início do jogo o Seedorf te chamou e teve uma conversa. Como foi o apoio dos mais experientes?
- Foi muito bom. O Seedorf está há muito tempo no futebol. Ele me chamou e deu dicas sobre
o posicionamento. Disse que quando ele pegasse na bola ia me procurar, que era para eu
tentar as minhas infiltrações. Ele me passou muita tranquilidade.
Acompanhei a jogada e, quando eu olhei, a bola estava vindo na minha direção. Aí não
tem jeito... (risos). Sem goleiro ainda... coloquei para dentro"
Sassá
Lembra da jogada inteira do gol e da comemoração?
- Foi uma alegria só. Primeiro gol na estreia como titular, e logo contra o Flamengo. Acompanhei a jogada e, quando eu olhei, a bola estava vindo na minha direção. Aí não tem jeito... (risos). Sem goleiro ainda... coloquei para dentro.
Depois da partida, o Oswaldo disse que você tem estrela. Como você recebe estes elogios?
- Foi muito legal receber os elogios do Oswaldo. Atacante tem de ter isso mesmo, um pouco de sorte é bom. Trabalho bastante para que as coisas aconteçam naturalmente.
Dois dias após o jogo com o time profissional você já treinou com os juniores novamente. Como foi a recepção?
- Foi muito boa. Todos me abraçaram, me deram moral.
Ficou mais famoso depois do gol? As pessoas já estão te reconhecendo na rua?
- Aqui em casa não para de chegar gente, toda hora tem alguém querendo tirar foto.
Minha página no Facebook está bombando (risos). Ganhei muitos amigos, tem quase mil
para adicionar.
Tem algum jogador em que você se espelha?
- O Borges. A finalização dele acho muito boa, e chuta com as duas pernas. É matador
mesmo.
Sassá entre os amigos de infância Vinícius e Rafael (Foto: Fred Huber / Globoesporte.com) |
- Ainda não me disseram nada. Na próxima quinta-feira viajo para o Brasileiro sub-20. Depois que vou saber. Espero estar junto com o profissional. Este ano foi muito bom, mas espero que o próximo seja melhor ainda.
O ataque é considerado uma das carências do Botafogo por causa da quantidade pequena de peças. Isso o anima?
- É, espero conseguir uma vaguinha (risos).
Qual a expectativa e a motivação para o Campeonato Brasileiro sub-20?
- Tem alguns garotos com o contrato vencendo agora, estão todos motivados a fazer um
grande campeonato e permanecer no Botafogo.
Por Fred Huber Nova Iguaçu, RJ
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