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terça-feira, 10 de setembro de 2013

Problema de audição e a paixão pelo Bota: o caminho de Octávio, o Xuxa


Aos 19 anos, jogador supera deficiência auditiva, passa por escolinha de Gonçalves e ouve não do Fla até fazer gol em sua estreia como titular



Aos 50 anos, seu Eugênio é um apaixonado pelo Botafogo. A cozinha em preto e branco, os objetos com o símbolo do clube e, agora, o filho Octávio vestindo a camisa alvinegra número 37. Domingo, essa paixão chegou ao auge com o gol marcado pelo jovem, de 19 anos, que fez o primeiro na vitória por 2 a 1 sobre o Criciúma, em Santa Cantarina, pelo Campeonato Brasileiro, em sua estreia como titular (veja o vídeo).

Mas não foi fácil a realização do feito. Para chegar aos profissionais do Botafogo, Octávio precisou trilhar um longo caminho. Aos cinco anos de idade, a família descobriu que havia um problema de audição. Hoje, seu ouvido esquerdo tem a capacidade apenas de 20%. O direito não foi atingido.

- Acredito que tenha sido pelos antibióticos que precisou tomar quando era bebê. Falei isso com a médica e disse que havia essa possibilidade. Mas isso não é um problema. Ele chegou a usar aparelho, mas causava muita dor de cabeça. O importante é preservar o outro ouvido. Acho que isso até ajudou a ficar mais esperto em campo para compensar esse problema - disse Eliana, mãe do jogador, que ainda tem a filha Rafaella, de 15 anos.

A família trata a determinação como fundamental para o crescimento do jovem, criado na Freguesia, em Jacarepágua, e conhecido como Xuxa na infância. Com o rigor de Eugênio, que acompanha de perto todos os jogos de Octávio no Estado do Rio de Janeiro desde seus seis anos de idade, iniciou na escolinha comandada por Gonçalves, ex-jogador de Botafogo.

Rafaella, Eugênio e Eliana, a família do jovem Octávio, do Botafogo (Foto: Thales soares)
De lá, Octávio foi encaminhado para um teste no Flamengo, onde acabou reprovado aos 13 anos de idade. Com isso, ganhou uma chance no Estácio, que Gonçalves administrava na época. Aos 15 anos, o CFZ o levou, mas sem muitas oportunidades pediu para sair. Voltou ao Estácio e depois da disputa do Carioca juvenil de 2009 o Botafogo o convidou.

- Quando o Botafogo soube do problema de audição foi com o Vicentinho como técnico. Aí, ele disse que passou a entender algumas coisas. Em alguns momentos, pensava que o Octávio estava sendo esnobe, mas na verdade não havia escutado. Com isso, teve mais atenção com a situação - comentou Eugênio.

Octávio com a mãe no desembarque
do Botafogo 
(Foto: Thales Soares)
Rapidamente, Octávio mostrou seu talento. O melhor momento aconteceu quando foi campeão da Spax Cup em 2012, um ano depois de assinar o seu primeiro contrato profissional. Em 2013, renovou o vínculo em março, que agora só termina em dezembro de 2015.

- Ainda não vimos o potencial todo do Octávio. Não digo isso como pai, mas como torcedor do Botafogo. Cobro muito dele. Uma vez, quando era mais novo, até perguntei se atrapalhava e ele pediu para eu pegar mais leve. Na arquibancada, não queira ficar do meu lado. Grito mesmo - disse Eugênio, que ganhou de Octávio a camisa de seu primeiro jogo este ano e outra em homenagem aos seus 50 anos de idade autografada por todo o elenco.

Na vitória por o 3 a 1 sobre o Coritiba, quinta-feira, no Maracanã, a família estava presente. Sentados no meio do campo, eles acompanharam o chamado do técnico Oswaldo de Oliveira para que Octávio entrasse em campo. A emoção foi indescritível.

Medalhas, troféus e camisas: recordações da
carreira de Octávio (Foto: Thales soares)
- Quando o Renan foi expulso, achei que o Oswaldo o colocaria no lugar do Elias, mas não entrou. Depois, chamou de novo e ele substituiu o Hyuri. A gente sofre muito e tenho consciência. Dei nota 6,5 para ele contra o Criciúma, pois sei onde ele pode chegar - afirmou o pai do jogador.

Contra o Coritiba, Octávio teve a chance de enfrentar o ídolo Alex. Eugênio perguntou se ele trocaria camisa com o astro. A resposta foi de quem ainda precisa vencer a timidez para fazer os sonhos se tornarem realidades.

- Ele disse que não pagaria esse mico. O Alex é o número um para o Octávio. Achei engraçado. É vergonha. Às vezes, falo com ele sobre o que está vivendo jogando com o Seedorf e ele não parece se empolgar muito. Mas ele vive futebol. Conhece tudo, sabe todos os jogadores, se espelha no Kaká. Sempre sonhou com isso. Uma vez, estávamos todos dormindo no mesmo quarto e de madrugada ouvi um barulho. Foi ele. Tinha uns 10, 11 anos e deu um chute no armário. Eu só ouvi o seguinte: "Perdi o gol" - brincou Eugênio.

Desta vez, Octávio não errou o alvo, e a realidade foi ainda melhor que o sonho.

Por Thales Soares Rio de Janeiro

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