Aos 19 anos, jogador supera deficiência auditiva, passa por escolinha de Gonçalves e ouve não do Fla até fazer gol em sua estreia como titular
Mas não foi fácil a realização do feito. Para chegar aos profissionais do Botafogo, Octávio precisou trilhar um longo caminho. Aos cinco anos de idade, a família descobriu que havia um problema de audição. Hoje, seu ouvido esquerdo tem a capacidade apenas de 20%. O direito não foi atingido.
- Acredito que tenha sido pelos antibióticos que precisou tomar quando era bebê. Falei isso com a médica e disse que havia essa possibilidade. Mas isso não é um problema. Ele chegou a usar aparelho, mas causava muita dor de cabeça. O importante é preservar o outro ouvido. Acho que isso até ajudou a ficar mais esperto em campo para compensar esse problema - disse Eliana, mãe do jogador, que ainda tem a filha Rafaella, de 15 anos.
A família trata a determinação como fundamental para o crescimento do jovem, criado na Freguesia, em Jacarepágua, e conhecido como Xuxa na infância. Com o rigor de Eugênio, que acompanha de perto todos os jogos de Octávio no Estado do Rio de Janeiro desde seus seis anos de idade, iniciou na escolinha comandada por Gonçalves, ex-jogador de Botafogo.
Rafaella, Eugênio e Eliana, a família do jovem Octávio, do Botafogo (Foto: Thales soares) |
- Quando o Botafogo soube do problema de audição foi com o Vicentinho como técnico. Aí, ele disse que passou a entender algumas coisas. Em alguns momentos, pensava que o Octávio estava sendo esnobe, mas na verdade não havia escutado. Com isso, teve mais atenção com a situação - comentou Eugênio.
Octávio com a mãe no desembarque do Botafogo (Foto: Thales Soares) |
- Ainda não vimos o potencial todo do Octávio. Não digo isso como pai, mas como torcedor do Botafogo. Cobro muito dele. Uma vez, quando era mais novo, até perguntei se atrapalhava e ele pediu para eu pegar mais leve. Na arquibancada, não queira ficar do meu lado. Grito mesmo - disse Eugênio, que ganhou de Octávio a camisa de seu primeiro jogo este ano e outra em homenagem aos seus 50 anos de idade autografada por todo o elenco.
Na vitória por o 3 a 1 sobre o Coritiba, quinta-feira, no Maracanã, a família estava presente. Sentados no meio do campo, eles acompanharam o chamado do técnico Oswaldo de Oliveira para que Octávio entrasse em campo. A emoção foi indescritível.
Medalhas, troféus e camisas: recordações da carreira de Octávio (Foto: Thales soares) |
Contra o Coritiba, Octávio teve a chance de enfrentar o ídolo Alex. Eugênio perguntou se ele trocaria camisa com o astro. A resposta foi de quem ainda precisa vencer a timidez para fazer os sonhos se tornarem realidades.
- Ele disse que não pagaria esse mico. O Alex é o número um para o Octávio. Achei engraçado. É vergonha. Às vezes, falo com ele sobre o que está vivendo jogando com o Seedorf e ele não parece se empolgar muito. Mas ele vive futebol. Conhece tudo, sabe todos os jogadores, se espelha no Kaká. Sempre sonhou com isso. Uma vez, estávamos todos dormindo no mesmo quarto e de madrugada ouvi um barulho. Foi ele. Tinha uns 10, 11 anos e deu um chute no armário. Eu só ouvi o seguinte: "Perdi o gol" - brincou Eugênio.
Desta vez, Octávio não errou o alvo, e a realidade foi ainda melhor que o sonho.
Por Thales Soares Rio de Janeiro
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