Treinador deixa corporativismo de lado, não se posiciona contra troca de técnicos, critica altos salários no meio e lamenta postura de brasileiros em relação a ex-atletas
Temos que acabar com esse negocio de que só se pode pensar em contratar um treinador depois que o outro já foi embora. Precisamos acabar com essa bobagem. Qualquer empresa faz isso. É uma continuidade. Nós treinadores temos que acabar com essa hipocrisia"
René Simões
René Simões nunca foi um treinador convencional. Ao longo da carreira, adotou métodos e trilhou caminhos, muitas vezes, pouco comuns entre os técnicos brasileiros. No Botafogo desde janeiro, ele vem, de certa forma, inovando com "treinos em sala" e vídeos individualizados para cada jogador. O atleta recebe, via Whatsapp, o que precisa ser corrigido e estudado para a próxima partida. Fora das quatro linhas, no entanto, René também tem demonstrado características quase singulares. Sincero, ele muitas vezes nada contra a corrente e emite opiniões pouco habituais no meio do futebol.
Uma delas, por exemplo, é sobre a constante troca de treinadores nos clubes brasileiros. Nas últimas semanas, algumas equipes demitiram técnico e repuseram imediatamente. Foi o caso de Vanderlei Luxemburgo no Cruzeiro, por exemplo, anunciado poucas horas após a demissão de Marcelo Oliveira. Na "ética do futebol", negociar com um clube que ainda conta com técnico no cargo é mal visto. Na opinião de René Simões, não.
- Costumava dizer que achava antiético e um absurdo um treinador negociar com o clube, enquanto outro estivesse empregado. Aí um amigo me questionou: "Você não tem um restaurante? Você demitiria um chefe de cozinha na sexta à noite e começaria a procurar outro no sábado?". Temos que acabar com esse negócio de que só se pode pensar em contratar um treinador depois que o outro já foi embora. Precisamos acabar com essa bobagem. Qualquer empresa faz isso. É uma continuidade. Nós treinadores temos que acabar com essa hipocrisia. Se alguém não está satisfeito comigo, tem todo o direito de procurar outro. Nunca pedi demissão em nenhum clube. Mas acho que o treinador também tem todo o direito de escutar propostas, mesmo estando empregado - afirmou René.
A folga do Botafogo no fim de semana abriu espaço para René falar sobre outros assuntos (Foto: Vitor Silva / SSPress) |
- A partir do momento em que o treinador perde o vestiário, tem que ser trocado. Não tem o grupo na mão, esqueça. Temos que começar a falar mais a verdade no futebol. Era a hora de tirar o Oswaldo do Palmeiras? Não sei. Só quem está lá pode dizer. A verdade é que os clubes estão contratando no Brasil por um perfil financeiro. Não é levado em conta o currículo ou os métodos.
Treinador critica salários do futebol brasileiro
René falou de tudo um pouco em coletiva (Foto: DANIEL VORLEY /AGIF/ESTADÃO) |
- Logo quando cheguei ao Botafogo, me perguntaram se o meu salário não me incomodava. Afirmar que meu salário é baixo em um país como o Brasil é um absurdo. O que temos que imaginar é que os clubes pagam mais do que deveriam a jogadores e treinadores. Não pode. No Real Madrid, o Ronaldo recebia € 1 milhão por mês. Tudo bem, porque ele atraia patrocínios que justificavam esse valor. Mas o futebol brasileiro precisa rever os salários.
Até sobre uma possível debandada no Botafogo por conta da valorização do elenco, René Simões não se opôs. O treinador torce para que não haja desmanche, mas afirma que essa é uma decisão pessoal de cada jogador.
- Acho que esse é o momento de o grupo se valorizar ainda mais. Acho que temos jogadores que ainda não chegaram aonde podem chegar. Mas essa é uma questão muito individual de cada um.
Sobrou até para a postura dos brasileiros em relação aos ídolos do passado.
- No Brasil, não olhamos para os nossos velhos, para a nossa história. Não damos valor aos nosso ídolos. O Brasil é um pais lamentável, temos muito o que mudar. Tenho que parabenizar o Botafogo por essas atitudes (homenagear ex-jogadores antes de cada partida no Estádio Nilton Santos).
E isso tudo, apenas na coletiva de imprensa de sexta-feira.
Por Marcelo Baltar Rio de Janeiro/GE
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário é sempre bem vindo. Participe com suas opiniões!