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domingo, 14 de junho de 2015

René, o sincero: treinador solta o verbo e pede fim da hipocrisia no futebol


Treinador deixa corporativismo de lado, não se posiciona contra troca de técnicos, critica altos salários no meio e lamenta postura de brasileiros em relação a ex-atletas




Temos que acabar com esse negocio de que só se pode pensar em contratar um treinador depois que o outro já foi embora. Precisamos acabar com essa bobagem. Qualquer empresa faz isso. É uma continuidade. Nós treinadores temos que acabar com essa hipocrisia"
René Simões

René Simões nunca foi um treinador convencional. Ao longo da carreira, adotou métodos e trilhou caminhos, muitas vezes, pouco comuns entre os técnicos brasileiros. No Botafogo desde janeiro, ele vem, de certa forma, inovando com "treinos em sala" e vídeos individualizados para cada jogador. O atleta recebe, via Whatsapp, o que precisa ser corrigido e estudado para a próxima partida. Fora das quatro linhas, no entanto, René também tem demonstrado características quase singulares. Sincero, ele muitas vezes nada contra a corrente e emite opiniões pouco habituais no meio do futebol.

Uma delas, por exemplo, é sobre a constante troca de treinadores nos clubes brasileiros. Nas últimas semanas, algumas equipes demitiram técnico e repuseram imediatamente. Foi o caso de Vanderlei Luxemburgo no Cruzeiro, por exemplo, anunciado poucas horas após a demissão de Marcelo Oliveira. Na "ética do futebol", negociar com um clube que ainda conta com técnico no cargo é mal visto. Na opinião de René Simões, não.

- Costumava dizer que achava antiético e um absurdo um treinador negociar com o clube, enquanto outro estivesse empregado. Aí um amigo me questionou: "Você não tem um restaurante? Você demitiria um chefe de cozinha na sexta à noite e começaria a procurar outro no sábado?". Temos que acabar com esse negócio de que só se pode pensar em contratar um treinador depois que o outro já foi embora. Precisamos acabar com essa bobagem. Qualquer empresa faz isso. É uma continuidade. Nós treinadores temos que acabar com essa hipocrisia. Se alguém não está satisfeito comigo, tem todo o direito de procurar outro. Nunca pedi demissão em nenhum clube. Mas acho que o treinador também tem todo o direito de escutar propostas, mesmo estando empregado - afirmou René.

A folga do Botafogo no fim de semana abriu espaço para René falar sobre outros assuntos (Foto: Vitor Silva / SSPress)
Com o Botafogo de folga no fim de semana, houve espaço para René falar sobre outros assuntos. A onda de treinadores demitidos foi um deles. Sete foram mandados embora nas seis primeiras rodadas da Série A do Campeonato Brasileiro. Nessa caso, René também nada contra a maré, deixa o corporativismo de lado e ressalta que cada clube sabe onde seu calo aperta.

- A partir do momento em que o treinador perde o vestiário, tem que ser trocado. Não tem o grupo na mão, esqueça. Temos que começar a falar mais a verdade no futebol. Era a hora de tirar o Oswaldo do Palmeiras? Não sei. Só quem está lá pode dizer. A verdade é que os clubes estão contratando no Brasil por um perfil financeiro. Não é levado em conta o currículo ou os métodos.

Treinador critica salários do futebol brasileiro

René falou de tudo um pouco em coletiva
(Foto: DANIEL VORLEY /AGIF/ESTADÃO)
O próprio René Simões foi contratado pelo Botafogo por um salário abaixo da média do que recebem os principais treinadores do país. O treinador, no entanto, garante não se incomodar, alega que seus vencimentos não são baixos e critica os altos salários de jogadores e técnicos no futebol brasileiro.

- Logo quando cheguei ao Botafogo, me perguntaram se o meu salário não me incomodava. Afirmar que meu salário é baixo em um país como o Brasil é um absurdo. O que temos que imaginar é que os clubes pagam mais do que deveriam a jogadores e treinadores. Não pode. No Real Madrid, o Ronaldo recebia € 1 milhão por mês. Tudo bem, porque ele atraia patrocínios que justificavam esse valor. Mas o futebol brasileiro precisa rever os salários.

Até sobre uma possível debandada no Botafogo por conta da valorização do elenco, René Simões não se opôs. O treinador torce para que não haja desmanche, mas afirma que essa é uma decisão pessoal de cada jogador.

- Acho que esse é o momento de o grupo se valorizar ainda mais. Acho que temos jogadores que ainda não chegaram aonde podem chegar. Mas essa é uma questão muito individual de cada um.

Sobrou até para a postura dos brasileiros em relação aos ídolos do passado.

- No Brasil, não olhamos para os nossos velhos, para a nossa história. Não damos valor aos nosso ídolos. O Brasil é um pais lamentável, temos muito o que mudar. Tenho que parabenizar o Botafogo por essas atitudes (homenagear ex-jogadores antes de cada partida no Estádio Nilton Santos).

E isso tudo, apenas na coletiva de imprensa de sexta-feira.

Por Marcelo Baltar Rio de Janeiro/GE


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