Décimo jogador que mais vestiu a camisa alvinegra, goleiro relembra passagens marcantes de sua trajetória antes de chegar à marca, nesta terça, diante do Oeste
- A meta são 500 jogos. É uma coisa pessoal - revelou o goleiro que, caso atinja o objetivo, ficará atrás apenas de Nilton Santos e Garrincha. Jefferson, 32 anos, tem contrato até o fim de 2017.
A história de Jefferson no Botafogo começou em 2003, o primeiro jogo ocorreu em 20 de setembro daquele ano, no empate por 2 a 2 com o São Raimundo-AM, mas a idolatria demorou a chegar. Até porque o ciclo foi interrompido em 2005, quando o Cruzeiro vendeu o goleiro para o Trabzonspor, da Turquia. Em 2009, na hora de voltar ao Brasil, a prioridade foi do Botafogo, mesmo com o time virtualmente rebaixado. Ao lado de Jobson, Jefferson foi peça fundamental para evitar a queda naquele ano. O status de ídolo, no entanto, veio somente no ano seguinte. Especificamente, na decisão do Campeonato Carioca, contra o Flamengo.
- Foi o jogo que realmente carimbou minha identidade com o Botafogo. Foi quando veio o reconhecimento. Ganhamos do Flamengo, e eu defendi um pênalti do Adriano. Aquele lance foi muito importante para a minha carreira. Até hoje eu saio na rua, as pessoas lembram desse lance e me agradecem. É a minha defesa inesquecível, que mudou meu patamar no Botafogo.
Em quase uma hora de entrevista, na sala de troféus de General Severiano, Jefferson recordou os momentos bons e ruins mais marcantes de seus 399 jogos pelo Botafogo.
BOTAFOGO
Representa minha segunda casa, minha família, minha história, meu sonho. Eu me entreguei totalmente ao Botafogo. Eu não sei se teria esse reconhecimento em outro clube no Brasil. É uma coisa que eu vou guardar para sempre.
400 JOGOS
Está chegando. A minha meta no Botafogo é disputar 500 jogos. Não para passar ninguém. Cada um teve sua história aqui, cada goleiro teve sua história aqui, como o Manga e o Wagner. Só fiquei sabendo depois que, se completar 500 jogos, só ficarei atrás de Nilton Santos e Garrincha. Mas não tenho essa vaidade. É claro que isso é importante para um jogador. Depois que a gente para, o que fica é o reconhecimento dos torcedores e a nossa história no clube. Mas a meta de 500 jogos é uma coisa pessoal. Depois a gente vê o que acontece.
PRIMEIRA IMPRESSÃO
Quando cheguei na primeira vez ao Botafogo (2003), cheguei para buscar meu espaço. Até porque eu estava com 20 anos e ainda não tinha me afirmado na equipe principal do Cruzeiro. Antes fui emprestado ao América-SP e depois vim para o Botafogo. Cheguei com todo gás, querendo fazer história, dar o meu melhor. Fiquei um ano sem jogar aqui, mas foi bom para amadurecer, adquirir experiência. Conseguimos subir para a Série A e fui campeão mundial sub-20 naquele ano, o que me deu um pouco mais de moral. Em 2004, ganhei a titularidade no Botafogo, mas fui negociado com o futebol turco em 2005. Meu passe, na época, ainda era do Cruzeiro. Senti muita falta do Botafogo, mas deixei claro que, quando voltasse para o Brasil, a prioridade seria total do Botafogo. Foram quatro anos na Turquia, mas eu não tinha nenhum outro clube em mente para quando eu voltasse. Cumpri meu contrato na Turquia até 2009. Quando retornei ao Brasil, não pensei duas vezes e acertei com o Botafogo, que é um clube que me identifiquei muito. O principal é isso. Essa identificação. Isso é o que faz um atleta ter uma carreira de sucesso. E eu me identifiquei muito com o Botafogo.
RETORNO EM 2009
Quando voltei em 2009, a situação do Botafogo era muito difícil. O clube estava brigando para não cair. Muita gente falou que eu era maluco, mas nunca liguei para isso. Eu queria jogar no Botafogo. Não tinha isso de só querer jogar a Série A. Eu já tinha muita identificação com o clube. Mas só fiz um contrato de quatro meses. As pessoas não me acompanhavam na Turquia. Havia a dúvida como eu estava. Não me incomodei e fiz um contrato curto. E, graças a Deus, no momento em que eu cheguei, o Botafogo conseguiu fazer uma sequência boa e renovaram meu contrato por mais um ano. Conseguimos escapar em 2009 e começamos 2010 muito bem.
CARIOCA 2010
Muitos torcedores me paravam na rua e falavam: “Pelo amor de Deus, não podemos perder para o Flamengo mais uma vez”. O Botafogo havia perdido os últimos três Cariocas para o Flamengo. Havia uma pressão muito grande. E a final foi justamente contra o Flamengo. Ali foi um jogo especial para mim. Foi o jogo que realmente carimbou minha identidade com o Botafogo. Foi quando veio o reconhecimento. Ganhamos do Flamengo, e eu defendi um pênalti do Adriano, que foi muito importante para a minha carreira. Até hoje eu saio na rua, as pessoas lembram desse lance e me agradecem. É a minha defesa inesquecível, que mudou meu patamar no Botafogo.
DEFESA INESQUECÍVEL
Sou muito frio dentro de campo. Não vejo torcida, não vejo nada. Quando teve o pênalti, me concentrei somente no Adriano. Pela qualidade que ele tinha, tentei desestabilizá-lo um pouco. Fui para o gol, fechei os ouvidos e olhei para ele. Somente para os olhos dele. Eu tinha estudado o Adriano. Eu sabia o ponto forte dele. Esperei o máximo o possível. Sabia que o chute de confiança dele era no meu lado esquerdo. Esperei o máximo que pude e, graças a Deus, deu certo. Fiz uma grande defesa. Foi inesquecível por tudo o que o Botafogo vinha passando nos últimos três anos, perdendo três campeonatos seguidos para o seu maior rival. Aquele jogo trouxe um alívio para todos os torcedores. Entramos em campo sabendo que não poderíamos perder novamente. É um dia que vai ficar marcado para sempre.
POR QUE DECIDIU FICAR EM 2015?
Primeiro porque eu gosto muito do Botafogo. Sou botafoguense declarado. Sei da minha importância dentro do clube, dentro e fora de campo. O ano de 2014 foi muito difícil para o Botafogo. Posso dizer que foi meu pior momento no Botafogo. Principalmente fora de campo, Não senti obrigação, mas sim gratidão por tudo o que o clube fez por mim. Quis ajudar o clube a sair dessa situação e subir para a Série A. Claro que coloquei algumas coisas em risco, como, por exemplo, a seleção brasileira. Mas nunca duvidei do meu potencial, e sabia que jogar a Série B não iria interferir em nada. Fiz de tudo para ajudar o Botafogo. Se Deus quiser vamos subir e depois realizar o grande projeto que começamos nesse ano.
PROPOSTAS
Tive muitas sondagens, mas, infelizmente, muitos clubes quiseram que eu saísse do Botafogo pela porta dos fundos. Coisa que eu não faria de jeito nenhum. Tive a oportunidade de entrar na Justiça contra o clube, mas seria uma traição. Não uma traição com a antiga diretoria, mas uma traição com o clube. A prioridade sempre foi do Botafogo. Oficialmente, tive proposta do Santos. Enalteço a postura do Santos, que fez uma proposta oficial, mas respeitou o Botafogo e o contrato que estava em vigor. O Santos procurou o Botafogo. Essa foi a única proposta oficial do Brasil. Tive outras propostas de fora também.
ARRISCOU PERDER ESPAÇO NA SELEÇÃO?
Sem dúvida. Muita gente me perguntou se eu não estava perdendo dinheiro e prestígio. É claro que a parte financeira conta muito. Não posso ser hipócrita. Até porque jogo pensando nos meus filhos, na minha esposa e na minha família. Mas acho que o jogador precisa entender essa paixão e essa identidade com o clube e com a torcida. Isso pesou muito para mim. Sempre respeitei o Botafogo. Em nenhum momento desrespeitei o clube. Arrisquei. Sabia que poderia dar errado.
MELHOR ANO
A temporada de 2013 foi muito boa. Conseguimos, com um grupo fechado, superar dificuldades e levar o Botafogo à Libertadores, uma competição que o clube não disputava há muito tempo. Era um sonho da torcida. No Brasileiro, fizemos nossa parte, mas dependíamos de outro resultado (a Ponte Preta estava na final da Copa Sul-Americana). Estávamos de férias, mas todos os jogadores acompanharam aquele jogo (Ponte Preta x Lanús). Quando confirmamos a vaga na pré-Libertadores, todo o grupo começou a se ligar, mandar mensagens. Foi um momento maravilhoso. Eu não via a hora de voltar de férias e treinar. Houve uma mobilização enorme dos torcedores. Caravanas de todos os lugares para nossa estreia. Foi um momento histórico. Um momento que vai ficar para sempre na minha memória.
JOGO ESPECIAL
Jefferson na sala de troféus do Botafogo, em General Severiano (Foto: Marcelo Baltar) |
FRUSTRAÇÃO NA LIBERTADORES 2014
Foi um jogo (Botafogo 0 x 1 Unión Espanhola) que, eu, particularmente, fiquei muito triste e decepcionado. Não faltou entrega. Mas havia uma expectativa muito grande dentro do grupo e também dos torcedores. Era o jogo que poderia nos dar a classificação. E diante de milhares de pessoas no Maracanã, fomos derrotados pelo Unión Española. Foi um jogo em que saí de campo muito frustrado. Poderíamos ter nos classificado naquele dia. Depois sabíamos que seria muito difícil ganhar do San Lorenzo na Argentina. No Maracanã, vimos o nosso sonho escapar das nossas mãos. Foi muito frustrante. Foi minha derrota mais marcante no Botafogo.
ANSIEDADE ATRAPALHOU?
Sempre acreditamos e agradecemos o apoio dos torcedores que vão ao estádio. Mas sentimos falta de um apoio de 30 mil, 40 mil torcedores no estádio. Mas às vezes, quando a torcida enche o estádio, os jogadores acabam ficando um pouco ansiosos e sentem na obrigação de mostrar um algo a mais para a torcida. Isso acaba atrapalhando. Mas o Botafogo precisa se acostumar a jogar com estádio cheio. Para o jogador, isso é maravilhoso, inesquecível. Quando olhamos as imagens do Maracanã lotado nos jogos da Libertadores, sentimos saudades. Mas também precisamos aprender a conter essa ansiedade quando o Estádio Nilton Santos ou o Maracanã receberem um grande público. Mas aquele foi um momento muito marcante. Arrepiava entrar em campo e ver aquele mosaico, a torcida cantando... Isso é inesquecível. Não sai da minha memória. Tenho as fotos lá em casa e vou montar um quadro. Foi um momento marcante, que jamais vou me esquecer.
PIOR MOMENTO
Houve um contraste muito grande em 2014. Foi um ano em que, fora de campo, praticamente, nada correu bem. Não só eu, mas todos os jogadores sentiram muita tristeza por ver o Botafogo naquela situação. Tentamos dentro de campo, mas sabíamos que as coisas estavam erradas fora de campo. A realidade é que o Botafogo, fora de campo, fez de tudo para cair. Nós tentamos dentro de campo, mas sabíamos que estávamos remando contra a maré. E eu, particularmente, sabia que precisava me concentrar muito. Era ano de Copa do Mundo. Eu não podia deixar os problemas atrapalharem meu rendimento. Tanto que, mesmo rebaixado, fui considerado o melhor goleiro do Campeonato Brasileiro. Isso para mim foi muito importante. Mas as coisas, coletivamente, não aconteceram. Nem na Libertadores, nem na Copa do Mundo e nem no Brasileiro.
SÉRIE B
Esse é um ano atípico e diferente para muitos jogadores, mas principalmente para mim. É o ano que sabemos que temos a obrigação de subir com o Botafogo. Não pensamos nem em título. É claro que queremos ser campeões da Série B, mas nossa maior meta e obrigação é subir o Botafogo o mais rápido o possível. Estamos acostumados a disputar Libertadores, Série A e Copa do Brasil. Na Série B, o ritmo é outro. Respeitamos todos os adversários, mas a realidade é que é outro ritmo. Então precisamos conter essa expectativa. Começamos o ano muito bem, mas perdemos jogadores muito experientes como o Bill, o Marcelo Mattos e o Jobson. Sentimos bastante. Ficamos um período com jogadores de talento, mas muito novos. Não podemos jogar a responsabilidade para cima dele. Oscilamos bastante. Mas a diretoria conseguiu estabilizar a equipe, novamente, a tempo, com a chegada de jogadores experientes, que amadureceram o time. Vamos crescer. A equipe está evoluindo.
FALTA ALGO?
Falta bastante. Primeiro, subir para a Série A. Além disso, quero ganhar um título de grande expressão pelo Botafogo. Um Brasileiro ou uma Copa do Brasil.
Por Diego Moraes e Marcelo BaltarRio de Janeiro/GE
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