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quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Dos R$ 60 milhões aos 35%: o fim do ciclo do menino de ouro do Botafogo


Com início meteórico, Luís Henrique era a maior joia e ativo do Alvinegro, mas saída conturbada não rende dinheiro de imediato ao clube e chateia os dois lados da relação






O início foi assim: artilheiro da Copa do Brasil Sub-17, sensação nos primeiros jogos no profissional, convocações para as seleções de base e uma multa milionária que o transformou no "menino dos olhos de ouro" do Botafogo. Já o fim... Pouco aproveitado nos jogos, discordância em diversas tentativas de renovação, revolta dos dois lados da corda e uma saída conturbada que não vai render nenhum dinheiro ao Alvinegro, ao menos de imediato.


Na última terça-feira, terminou a relação entre Botafogo e Luís Henrique, de 18 anos e tratado como principal revelação do clube nos últimos tempos. O casamento durou cerca de três anos – metade na base e metade no profissional –, porém intenso e repleto de altos e baixos. Da euforia pelo início meteórico à frustração pelas raras oportunidades em 2016, a sensação é que as duas partes encerram o relacionamento com sentimento de que, juntas, poderiam ter feito muito mais.


Mas... Não fizeram, e os R$ 60 milhões da gorda multa rescisória viraram 35% de uma venda futura. Isso para o clube, que tinha 90% de seus direitos econômicos, não ficar de mãos abanando, já que em maio acabaria o contrato e ele poderia sair de graça. Resta ainda ao Alvinegro uma outra porcentagem de clube formador, que varia até 5% dos valores de todas as transferências da carreira do jogador, que no total fez 39 partidas e sete gols pelo Alvinegro.



OS R$ 60 MILHÕES E O INÍCIO DO IMBRÓGLIO


Luis Henrique fez 14 gols em 10 jogos e tornou-se o maior artilheiro da Copa do Brasil sub-17 (Satiro Sodre/SSPress)

Luís Henrique explodiu no Botafogo com apenas 17 anos e logo mostrou o seu cartão de visitas. Chamou a atenção de todos na Copa do Brasil sub-17, em 2015. Com 14 gols em dez jogos, o atacante tornou-se o maior artilheiro da história da competição e ajudou o time a conquistar o vice-campeonato. Foi o suficiente para começarem os pedidos por uma oportunidade entre os profissionais. E tudo conspirou a favor para seu início avassalador.


Então centroavante titular, Bill havia acabado de rescindir com o Botafogo, a negociação com Rafael Oliveira melou, e o jovem de 17 anos, com apenas quatro treinos entre os profissionais, ganhou sua primeira chance com René Simões. A estreia na vitória por 5 a 0 sobre o Sampaio Corrêa foi avassaladora. Dois gols, um pênalti sofrido e lances plásticos (veja no vídeo acima).

Luís Henrique foi o camisa 9 do Brasil no Mundial
 Sub-17, em 2015 (Foto: Gustavo Rotstein)
Luís Henrique estava nos braços do torcedor. E na cabeça da diretoria. Menos de um mês após a estreia, o Botafogo se resguardou e deu um "upgrade" no contrato do jovem: teve um reajuste salarial, passou a ganhar cerca de R$ 70 mil, e a multa rescisória saltou para R$ 60 milhões. O tempo de contrato, no entanto, não foi alterado por uma razão: se o fizesse àquela altura, teria de rescindir o vínculo e fazer um novo, o que o deixaria sem condições de atuar na rodada seguinte da Série B. A ideia era esperar ele completar 18 anos e oferecer um compromisso mais longo.


O Alvinegro empurrou a situação com a barriga, e aí... O atacante começou a perder espaço. Em outubro de 2015, Luís Henrique foi o principal nome da seleção brasileira no Mundial Sub-17, realizado no Chile. Mas o Brasil caiu nas quartas de final, e na volta ao Botafogo ele passou a ser reserva do recém-contratado uruguaio Álvaro Navarro, que se firmou na posição até ser negociado no início de 2016. Seria a chance de Luís? Era o que todos da diretoria esperavam, mas Ricardo Gomes pouco a pouco foi dando mais oportunidades a Ribamar, outro da base.



DESCONFORTO, CRÍTICAS E ROMPIMENTO


Praticamente sem jogar no Brasileiro, Luís ficava a maior parte do tempo treinando (Foto: Vitor Silva/SSPress/Botafogo)

Se no Campeonato Carioca as chances rarearam, na Série A elas praticamente desapareceram. Luís Henrique disputou só cinco dos 38 jogos do Botafogo no torneio. Em nenhum foi titular ou fez gol. No segundo turno, foi para o fim da fila e ficou atrás de jogadores como Vinícius Tanque, antes fora dos planos do clube. O fato não só incomodou o atacante e as pessoas que cuidam de sua carreira, como atrapalhou a negociação para renovar. O clima azedou, e o presidente Carlos Eduardo Pereira precisou agir para aparar as arestas com a mãe do atleta, Tanara Farinhas.


Só que, a esta altura, já havia uma outra pessoa envolvida: Sávio. O ex-jogador de 42 anos está começando no ramo de empresário e tem na joia do Botafogo o seu primeiro cliente no futebol profissional. E logo surgiu o Atlético-PR. Segundo o agente, Juventus e Roma, da Itália, sondaram a situação do jovem no meio do ano passado, mas a única proposta era do Furacão. O fato de o time rubro-negro utilizar um time de garotos no estadual era visto como ideal.


Só que o Alvinegro recusou a proposta paranaense em setembro, por empréstimo até o final do ano e com 50% dos direitos fixados para compra ao fim do vínculo. Além disso, seria necessário renovar com Luís Henrique antes de emprestá-lo, o que já não iria mais acontecer. Em sua derradeira tentativa, o Botafogo ofereceu um novo vínculo até 2019. No entanto, foi a vez de o jovem não topar. A pessoas próximas, manifestou todo seu descontentamento, principalmente com uma entrevista do presidente ao "Lance!" em que ele diz que o atacante exigia ser titular.

Twitter oficial do Botafogo cutucou Luís Henrique ao anunciar a saída do atacante do Alvinegro (Foto: Reprodução)

Luís Henrique alega que somente queria receber mais oportunidades iguais aos outros e ficou na bronca com a diretoria. Dirigentes, por sua vez, enxergaram nele um certo deslumbramento com a badalação. Internamente criticavam até o fato de o jovem já ter comprado um Camaro como seu primeiro carro, que usava para ir aos treinos. O atacante foi parar também no cinema, interpretando um dos suecos no filme do Pelé lançado recentemente nos Estados Unidos.


A indignação do Botafogo com o desfecho do caso rendeu até uma cutucada via Twitter oficial do clube (veja na imagem acima). Apesar do fim estremecido do casamento, ainda há chance de reconciliação no futuro. No acordo para a liberação imediata de Luís Henrique, sem ele precisar esperar até maio para se transferir, o Alvinegro pediu prioridade caso o atacante não faça mais parte dos planos do Atlético-PR. Resta saber se até lá haveria clima para um eventual retorno.


Fonte: GE/Por Felippe Costa, Marcelo Baltar e Thiago Lima/Rio de Janeiro

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