Gerente de futebol alvinegro enaltece reconstrução do clube e vê vantagem sobre concorrentes: "Acho que meu trabalho é diferente dos gestores que vejo por aí, até pelo fato de ter sido treinador"
Antonio Lopes vê motivos para sorrir: "Meu trabalho é diferente dos gestores que vejo por aí" (Foto: Vitor Silva / SSpress / Botafogo)
Prestes a completar 76 anos, Antônio Lopes tem o pique de um iniciante no Botafogo. Afinal, ele que já parecia ter feito de tudo no futebol, ainda dá os primeiros passos como dirigente.
Lopes teve uma curta carreira como atacante do Olaria, foi preparador físico, treinador vitorioso e coordenador técnico da seleção brasileira pentacampeã em 2002. Em 2013, tornou-se dirigente no Atlético-PR, e em dezembro de 2014 assumiu a gerência de futebol do Botafogo.
Encontrou um clube aos destroços, rebaixado para a Série B, em gravíssima crise financeira. No elenco, apenas oito jogadores. Hoje, ele não é unanimidade. Há quem goste, mas também há críticas por parte de torcedores. Fato é, que dois anos e meio depois de topar o desafio, Antônio Lopes ajudou a recolocar o Botafogo entre os grandes do futebol brasileiro.
Trabalho reconhecido no meio do futebol. Na semana passada, Antônio Lopes foi eleito o segundo melhor executivo do futebol brasileiro em 2016 pela Conferência Nacional do Futebol – CONAFUT. Ele ficou atrás apenas de Alexandre Mattos, um dos responsáveis a levar o Palmeiras ao título brasileiro.
– Hoje o Botafogo paga em dia, não atrasa mesmo. Hoje os jogadores querem vir para o Botafogo pois sabem que o Botafogo paga direitinho. Quando cheguei, em dezembro de 2014, ninguém queria vir. Eu convidava, mas diziam que o Botafogo não pagava ninguém. (...) Estamos fazendo a minha maneira de gerir o futebol do Botafogo. Acho que meu trabalho é um pouco diferente do dos gestores que vejo por aí, até pelo fato de ter sido treinador – argumentou.
Confira outros trechos da entrevista:
GloboEsporte.com: Como é estar entre os três melhores gestores de futebol do país?
Antônio Lopes: Foi ótimo, muito bom para mim. Estou praticamente iniciando nessa nova carreira. É uma carreira que me prepararei. Tenho experiência, estudei, fiz curso de gestão de futebol. Eu já tinha trabalhado como coordenador técnico da seleção brasileira (entre 2000 e 2002), em parte com as mesmas atribuições. Passei também pelo Atlético-PR como gestor por um ano e meio, que foi importante para adquirir mais confiança no exercício da profissão. Eu continuo aprendendo.
O que diferencia o seu trabalho de outros gestores?
Estamos fazendo a minha maneira de gerir o futebol do Botafogo. Acho que meu trabalho é um pouco diferente dos gestores que vejo por aí, até pelo fato de ter sido treinador de futebol. Então também faço o trabalho de coordenação da comissão técnica, coisa que outros gestores não fazem porque nunca foram treinadores de futebol. Alguns até foram jogadores de futebol, mas é totalmente do cargo de técnico, que traz mais conhecimentos compatíveis com a função que agora estou exercendo.
O Luxemburgo disse recentemente que acha que esse cargo tem que ser exercido por treinadores...
Concordo plenamente. Tem muito a ver. Acho que o gerente de futebol que não foi treinador deixa de fazer determinadas coisas. É importante. Vejo que o trabalho de determinados colegas fica muito restrito. Só fica com aquela de ouvir empresários, trabalhar na captação de jogadores, contratar... Essa função tem que ser muito mais ampla. Quem foi treinador leva uma vantagem tremenda para fazer com mais qualidade esse serviço.
Dá para acumular os cargos de diretor e treinador?
Acho isso muito bom. Veja o Paulo Autuori, no Atlético-PR... Ele tem experiência. Não sei se ele tem experiência em gestão. O gestor tem que ter essa competência de administrar futebol. Eu tenho, por exemplo. Quando me formei em direito, cursei por dois anos Administração, mas não cheguei a terminar. Foi na década de 70, quando entrei no futebol. Tenho também muito conhecimento porque administrei delegacia. Fui delegado titular, que tem que ter noção de administração. O gestor precisa disso. Acho que levo uma vantagem sobre os demais por conta disso. Também sou formado em Direito. Isso me ajuda bastante. Modéstia à parte, levo essa vantagem.
Gerente do Botafogo em encontro recente com Paulo Autuori - ao lado também de Flávio Tenius e Jair Ventura (Foto: Marcelo Baltar)
E como funciona a gestão do Botafogo?
O futebol do Botafogo é administrado dessa forma. O Anibal e o André são do Jurídico, temos o Adriano, que é o coordenador de futebol. Está funcionando muito bem. Temos o setor de inteligência, que fica sob o meu comando. Nos oferecem muitos jogadores, e encaminho para eles. Eles analisam, e são cobrados por mim e pela comissão técnica. Também exijo da comissão técnica. Tenho conhecimento. Quando acho que tenho que falar alguma coisa, eu exerço essa função. Assim como a preparação física. Sou formado eu Educação Física. Eu tenho conhecimento e posso cobrar. São coisas que quem não é formado não pode cobrar.
Como treinador, você não devia se envolver tanto nas negociações. Como é o Antônio Lopes negociador?
Temos que ver a situação financeira do Botafogo. O presidente, acertadamente, administra o clube com os pés no chão. Ele o pegou totalmente arrebentado, com uma dívida violenta. Recebemos o clube com os salários de jogadores e funcionários atrasados há oito meses. Tínhamos oito jogadores. O Carlos Eduardo (Pereira) faz uma belíssima gestão, e o Botafogo deu um salto muito grande. Eu vejo orçamento, mas não sou só eu que negocio. O presidente e o Cacá Azeredo (vice de futebol) também participam. Sempre consulto o presidente. Mas hoje há o interesse dos atletas em vir. O clube paga direitinho e está na Libertadores, todo mundo quer, isso facilita.
O Jair Ventura foi uma aposta sua?
Eu dei a minha opinião. Mas quem assumiu tudo foi o próprio presidente. Naquele momento não adiantava nada trazer um treinador de fora. O Ricardo Gomes já tinha começado um trabalho. O Jair, pelo fato de estar presente, conhecia o trabalho e poderia dar sequência. Se vem um outro, começaria do zero. Ia demorar a acertar a equipe. Mas quem é o principal responsável pelo Jair foi o presidente.
Você se sente responsável pela reconstrução do clube?
Credito isso tudo ao presidente. Um cara correto, inteligente e trabalhador. Eu nunca vi um presidente trabalhar tanto. Ele tem antena ligada para tudo e cobra muito de todo mundo, como tem que ser no futebol. Lógico que todo mundo ajudou, mas o principal responsável é ele. Recuperamos o Botafogo no aspecto técnico. Vinha de um oitavo lugar no Carioca e estava na Série B. O presidente conseguiu recuperar o clube. Hoje paga em dia, não atrasa mesmo, os jogadores querem vir para o Botafogo pois sabem que paga direitinho. Quando cheguei, em dezembro de 2014, ninguém queria vir. Eu convidava, mas diziam que o Botafogo não pagava ninguém. A torcida às vezes reclama, mas tem que acender muita vela para o presidente viver muito tempo.
Fonte: Por Cauê Rademaker, Marcelo Baltar e Raphael Zarko, Rio de Janeiro
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