Ricardo Rotenberg se mostra otimista em aumentar receitas do clube com parcerias na iniciativa privada e projeta R$ 20 milhões só com a camisa, mas revela preocupação com "rombo de 2014"
Fred Gomes/GloboEsporte.com
Ex-vice de futebol na gestão Bebeto de Freitas, Ricardo Rotenberg mal assumiu a vice-presidência das áreas comercial e de marketing do Botafogo e já viu que terá muito trabalho pela frente. O substituto do exonerado Nelson Sant'Anna no cargo matou no peito a árdua missão de buscar novas fontes de receitas e já foi ao mercado. Em meio à rotina de conversas com empresas, ele arrumou um espaço na agenda e recebeu o GloboEsporte.com no jardim de seu apartamento em Ipanema, na Zona Sul do Rio de Janeiro, para uma entrevista.
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Diante da crise financeira que o clube atravessa, uma de suas primeiras medidas no cargo será elevar o valor do uniforme alvinegro. Para isso, ele aposta em sua rede de contatos e promete preencher todos os espaços para venda com novos patrocinadores, até no meião. Desta forma, projeta chegar a R$ 20 milhões só com a arrecadação da camisa (o contrato atual da "Caixa Econômica Federal", que termina em fevereiro, paga R$ 10 milhões pelo patrocínio master).
Camisa do Botafogo e seus patrocínios fixos em 2018 — Foto: Divulgação
Uniforme do Botafogo em 2018 teve seis patrocinadores fixos: "Caixa Econômica Federal" no master; "Cercred" na barra frontal; "Neto's" na omoplata; "Pega Carga" na barra traseira; "Tim" no número; e "Baterias Baterax" no calção.
Durante 30 minutos de entrevista, Rotenberg explicou a motivação para voltar a ser vice-presidente depois de 10 anos, falou ainda sobre projeto com ídolos, naming rights para o Estádio Nilton Santos, expectativa de ajuda dos Irmãos Moreira Salles... E se mostrou otimista em aumentar as receitas do Botafogo em 2019. Porém, admitiu preocupação ao revelar o rombo do último ano da gestão de Maurício Assumpção, que vem refletindo em penhoras do clube na Justiça.
Confira a entrevista completa:
GloboEsporte.com: O que te levou a aceitar o convite do presidente e voltar a ser dirigente depois de tantos anos?
Rotenberg: – Eu estava acompanhando como assessor do presidente desde o último ano do Carlos Eduardo (Pereira), depois do Nelson (Mufarrej), e procurando colaborar o máximo possível nas reuniões da diretoria, de ideias, palpitando um pouco. Futebol como sempre todo mundo palpita. E aí fui surpreendido pelo convite do Nelson para assumir uma vice-presidência comercial, que é importante no Botafogo, todo mundo reclama há anos que a gente tem dificuldade de receita, de recursos pelo lado da despesa, que temos bastante.
– Eu aceitei de pronto e imediato porque acho que tenho condições de colaborar. Tenho uma vida organizada, que permite dar uma parte do meu tempo gratuitamente como colaborador ao Botafogo. Tenho uma gama de contatos muito grandes, e amigos com contatos grandes. Além de estarmos trabalhando em grupo, eu sou mais um na engrenagem. Botafogo não pode viver só de recursos da TV, da CBF... Temos que buscar parcerias na iniciativa privada e recursos que possam fazer com que o Botafogo fique mais forte, com mais dinheiro para investimento.
Rotenberg, então vice de futebol, na apresentação do zagueiro argentino Ferrero, em 2007 — Foto: Divulgação
Mas como será começar um trabalho comercial tendo receitas penhoradas pela Justiça?
– A perspectiva é muito boa nossa, estamos bastantes otimistas em termos de captação de recursos, mas preocupados pois, de fato, a herança do antecessor do Carlos Eduardo (Pereira) é inacreditável. É importante ressaltar um ponto para a torcida alvinegra: no último ano da gestão do senhor Maurício Assumpção, as dívidas que somam cerca de R$ 100 milhões estão todas caindo esse ano e no ano que vem. Estamos fazendo acordos, uma boa parte é dívida que a gente reconhece, mas não o valor, porque colocam extrapolados.
– São dívidas de jogadores, comissões técnicas, massagistas, preparadores físicos, fornecedores, financiadores privados de empréstimos sem garantias, mas assinados... O que nos atrapalha muito é que estaremos finalizando em 2018, 2019 e em uma parte de 2020, esses R$ 100 milhões que cairão completos para serem pagos por essa gestão. Qualquer jogador que você, torcedor, imagina que jogou no Botafogo naquele ano de 2014, o clube deve alguma coisa. Nos últimos semestres daquela gestão não se pagou nada.
– Hoje metade da nossa receita é para pagar dívidas, a outra metade é para gerir o clube como um todo, inclusive o futebol. Temos que pagar, faz parte dos nossos compromissos, tem outros clubes em situação parecida, mas ao mesmo tempo temos que aumentar a nossa receita. O Ato Trabalhista, em que pagamos R$ 1,9 milhões por mês, isso representa R$ 22 milhões por ano, e ainda temos mais seis anos de Ato Trabalhista. Mas esses jogadores e comissão técnica de 2014 não entraram no Ato (que foi feito antes).
– Por isso que é uma negociação à parte, e uma dor de cabeça monstruosa. Além disso, temos acordos pontuais que estamos fazendo: R$ 50 mil de um, R$ 70 mil de outro, R$ 20 mil de mais um... Soma tudo e chega aos R$ 6 milhões por mês. Pagamos mais de R$ 70 milhões de dívidas por ano. Se a gente acordar esses R$ 100 milhões deixados pelo senhor Maurício Assumção, nosso gasto vai pular de R$ 6 milhões para R$ 8,5 milhões por mês, R$ 130 milhões por ano. Isso diminui o que sobra. Então temos que aumentar o bolo para poder voltar ao normal.
E falando dos patrocínios atuais, como fica a situação da Caixa Econômica para 2019?
– A gente está muito satisfeito com a parceria que temos com a Caixa Econômica Federal. Acho que a Caixa poderia ter um valor maior para o Botafogo. O valor do Botafogo no mercado é maior do que ela nos paga, mas está havendo uma mudança de governo agora, a gente não sabe qual vai ser o comportamento da nova direção. Sei que a Caixa está muito satisfeita com o resultado, não é por menos, o Botafogo é maior em termos de exposição da marca da Caixa do que outros clubes que ela paga mais. Vamos também tratar de alternativas, todas elas na iniciativa privada. Se pudermos fazer uma composição, e a Caixa ficar, acho excepcional.
– Quero ressaltar uma coisa importante: o atual presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, é botafoguense e sempre nos ajuda muito. O futuro presidente que vai assumir, Jair Bolsonaro, é botafoguense e já mandou recado para nós de que está à disposição do Botafogo. O prefeito (Marcelo Crivella) ajuda muito o Botafogo, inclusive foi ele que deu o nome de Estádio Nilton Santos pelo decreto. E existem outros botafoguenses... Se alguém tem condições de conseguir patrocínio público, acho que quem tem mais é o Botafogo pelos parceiros alvinegros.
Rotenberg exaltou o fato de o Nilton Santos ser visto da Linha Amarela para patrocínio — Foto: Tatiana Zanatta
Aquele projeto de naming rights com a Caixa para o Estádio Nilton Santos ainda está em discussão?
– Acho que seja mais interessante para a iniciativa privada. Se a Caixa ficar no master, aí a nossa função será arrumar uma outra empresa, outra marca, que não seja concorrente da Caixa obviamente, que possa assumir o naming rights do estádio. E além disso, ela terá a visibilidade da Linha Amarela, nos dois sentidos, para 600 mil veículos por dia. Estamos buscando parceiros fortes para esse naming rights. Se a Caixa Econômica por acaso quiser assumir nessa negociação, que estamos iniciando em janeiro, também será ótimo. Mas não estamos trabalhando só a Caixa, temos outras opções que possam ser tão boas quanto.
E em relação ao uniforme, pretendem ter mais patrocinadores? Você é a favor dos patrocínios pontuais que o clube usou muito nos últimos anos?
– Vamos preencher todo o uniforme com publicidade no ano que vem, 100% preenchido, até no meião. Cada um com seu poder aquisitivo para comprar os espaços, com diversos preços. Acho que quando você usa patrocínio pontual é sinal de que não conseguiu vender tudo. Não vamos precisar usar porque vamos vender todos os nossos espaços, estamos com propostas para todos, inclusive os espaços alternativos eventualmente com a saída da Caixa Econômica.
Com os espaços 100% preenchidos, vocês estimam quanto de receitas com o uniforme?
– É uma boa pergunta. Depende muito do valor master que vamos vender, que representa 60%, 70% do valor total. Mas a gente espera chegar a mais de R$ 20 milhões.
Não só a camisa e o estádio, mas o Botafogo tem outras áreas para serem exploradas comercialmente. Que tipo de estratégias mais abrangentes vocês têm?
– As nossas sedes são espaços altamente privilegiados. Vamos buscar colocar publicidade nelas, o prefeito lançou um decreto que autoriza isso. Existe uma ideia de aproveitar a casa colonial do Botafogo, a sede, para em todo Natal, através de uma parceria, enfeitar, colocar música... Como se fez durante muitos anos no Banco de Boston na Praça Nossa Senhora da Paz. Seria um novo local de venda, onde estaria a marca do Botafogo com a marca comercial.
– Com relação ao fornecedor de camisa, já foi noticiado o que estamos fazendo (renovação com a Topper até o fim de 2019), é um caminho. Existe um projeto que quero levar adiante dos jogadores-embaixadores. Túlio, Loco Abreu, Jefferson... O Loco é um que temos uma dívida, e ele está disposto como atleta e torcedor do Botafogo a negociar e fazer parte de um esforço de marketing do clube. Vamos tratar disso, pois onde esses jogadores chegam, eles atraem muita gente.
Dá para explorar comercialmente o futuro CT também?
– Acho que sim. Time vai treinar lá, então vamos explorar, mas não é algo de grande valor. O que nós podemos fazer, porque lá no CT também terá o futebol amador, que será totalmente integrado ao futebol profissional do Botafogo, é aproveitar a Lei de Incentivo para financiar o CT. Estamos buscando fazer com a Lei de Incentivo do Imposto de Renda e de ICMS. Ali vai ser um espaço fantástico e certamente terá um resultado a curto prazo.
Vice comercial quer montar projeto de embaixadores com ídolos como Loco Abreu e Jefferson — Foto: Divulgação
Você falou de parcerias como jogadores que são ídolos, e o próprio Jefferson já demonstrou vontade em ajudar o Botafogo. Já rascunharam algum projeto para ele?
– Ele encerrou, saiu de férias e ficou de retornar para conversar na virada do ano sobre o que pretende fazer. Mas é isso, temos que explorar o potencial da torcida do Botafogo principalmente fora do Rio de Janeiro. Em toda parte do Brasil vamos explorar, e é bom o Jefferson não ir sozinho. Acho que é interessante se reaproximar do Loco, o Túlio nem se fala, é um "show man"... Podemos pensar em outros como o Dodô, por exemplo. Vi uma gravação dele dizendo que o clube que adora é o Botafogo, e a torcida tem um respeito enorme pelo futebol de qualidade que ele jogava.
– Jogador de seleção brasileira, com a camisa do Botafogo rendimento era fantástico. E tem outros mais velhos, que uma parte não viu jogar, como Jairzinho, Carlos Roberto, Mendonça... Nós valorizamos muito os nossos craques porque tivemos mais que os outros. Não adianta os outros falarem, o único clube que consegue listar craques é o Botafogo. Os outros listam bons jogadores, que se tornaram muito importantes para eles, mas não foram fundamentais no futebol brasileiro, que ganharam Copa do Mundo ou foram decisivos para o Brasil.
Que jogadores nesse elenco vocês vislumbram para serem garotos-propaganda?
– Eu acho que jogadores para serem propaganda, ídolos, têm que construir a história para virarem. O Carli é muito respeitado pela torcida; o próprio João Paulo; sem dúvida o nosso General Igor (Rabello) é um atleta excepcional; o Gatito, que para mim é hoje o candidato mais forte a ídolo do Botafogo. Acho que já é, a gente percebe quando os adversários respeitam muito. E tem um certo carisma pelo tipo dele, o nome associado a gato, tem aqueles memes de gato pulando na bola...
E vocês veem a necessidade de ter um jogador de peso para poder ser explorado mais comercialmente?
– A necessidade de trazer um ou mais jogador de peso é de dar um rendimento maior ao time. Quando você pega um jogador acima da média e junta a esse grupo do Botafogo atual, você cria uma liderança natural. A nossa questão é que o clube hoje não é um investidor, não tem grande capacidade de investimento. O maior potencial é a camisa do Botafogo, o poder de atrair jogadores querendo jogar aqui. Muitos que não tinham grande expressão vieram e cresceram: próprio Gatito, Bruno Silva, João Paulo, o Erik em três meses...
– Quem vem para o Botafogo e joga bem, multiplica o potencial comercial dele. Esse é o grande atrativo do Botafogo, não é o dinheiro que pode oferecer porque nós não temos. Mas é o clube que mais cedeu jogadores para a Seleção em Copas do Mundo; que tem a camisa conhecida no mundo inteiro; que é de uma cidade, junto com São Paulo, do principal centro de futebol do Brasil; que tem estrutura... Isso atrai jogadores e tem dado certo. A estratégia é essa, trazer jogadores que possam se encaixar, mas esta não é minha área. Eu no máximo sou um palpiteiro.
Dirigente recebeu a reportagem do GloboEsporte.com no jardim de seu apartamento — Foto: Fred Gomes
E muito se fala que a salvação financeira do Botafogo são os Irmãos Moreira Salles. Como pode ser essa ajuda deles para o clube?
– Eles se dispuseram a fazer uma auditoria completa, para saber o tamanho do buraco do Botafogo já incluindo essas dívidas recentes da gestão antecessora do Carlos Eduardo (Pereira). E após isso, estudar um modelo que poderia atrair não só eles, como outros investidores, botafoguenses ou não, para dentro do futebol. O modelo a ser criado não poderá ser mudado com a mudança de gestão. Existe uma governança que fará com que as decisões sejam tomadas com rigor muito profissional. O compromisso que eles têm é fazer esse levantamento, no momento é só isso.
– Depois vamos ver o que pode acontecer. Existem outros, em proporções diferentes, que possam não perder o dinheiro, mas a motivação é não ganhar dinheiro. Os que têm chance de entrar nesse projeto não têm interesse de fazer como negócio, mas sim de ajudar o time de coração deles. Que não seja gratuito, o dinheiro tem que retornar, mesmo que retorne para o neto deles. Isso vale para o (Carlos Augusto) Montenegro, os Moreira Salles...
Fonte: GE/Por Fred Gomes e Thiago Lima — Rio de Janeiro
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