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sábado, 10 de agosto de 2019

Mufarrej passa a limpo asfixia financeira e crise política no Botafogo: "A gente apaga o incêndio como pode"


Presidente admite que seguirá recorrendo a pessoas físicas, fala sobre racha no Mais Botafogo, erros e acertos, como Eduardo Barroca e Anderson Barros



Fred Gomes


A vida dos homens que comandam o Botafogo tem sido um contraponto ao nome do Glorioso. Ciente do quadro de asfixia financeira, com uma dívida avaliada em mais de R$ 700 milhões, o presidente Nelson Mufarrej afirma "apagar incêndios como pode" a cada dia.


Criticado pelos maus resultados e sobretudo pelos cofres combalidos, Mufarrej recebeu a reportagem do GloboEsporte.com no Gabinete da Presidência, em General Severiano, e falou dos principais temas discutidos pela torcida: erros, acertos, busca por recursos junto a ilustres botafoguenses e o racha político personificado pela saída de três pessoas do grupo Mais Botafogo, que o conduziu à cadeira de mandatário do Glorioso.


O assunto de maior interesse dos botafoguenses também foi abordado à exaustão: a entrada dos irmãos Moreira Salles e de outros investidores no futebol do Botafogo. Mas isso você vai ler na segunda-feira, às 12h, aqui no GloboEsporte.com.


A conversa sobre o que o alvinegro pode esperar para o restante de 2019 e a autoavaliação de Mufarrej sobre o que já passou desde janeiro de 2020 está abaixo.


Confira:


Nesses 20 meses, qual foi o grande erro da sua administração, já que o quadro era bem menos grave quando o senhor era vice-presidente Geral e Carlos Eduardo Pereira era o presidente, no mandato anterior?

É difícil você mensurar o erro, até porque, na situação do Botafogo, é preciso gerar receita, e as receitas não têm sido geradas da maneira que a gente espera. Os ativos, negociação de jogadores... Você vê que nessa abertura da janela poucos jogadores foram negociados. Pode ser que no fechamento da janela 100 jogadores sejam negociados, por exemplo. É muito difícil mensurar. Isso eu deixo mais para as pessoas analisarem minha performance no Botafogo.


Tenho consciência plena de que estou fazendo um trabalho dentro do que foi apresentado em termos de receitas, e o problema maior disso tudo são as ações na Vara Cível. Elas estão vindo uma atrás da outra.




Nelson Mufarrej, Botafogo — Foto: Fred Gomes


Hoje a gente tem a rede social, ela anda numa ligeireza muito grande. Você não sai sem o seu celular, tem o computador em casa. E o juizado passou a ter essas facilidades de julgamento de processo. Se fosse há cinco anos, essa quantidade de processos que estariam correndo na justiça cível não estariam tendo resultados. Hoje há resultados maiores. Isso vem de ações passadas. Temos ações de 1995, 2000. São ações que vêm sendo agilizadas.


Isso também pesa. Em 2018, veio. Em 2019, está vindo, e a gente vai apagando o incêndio como pode.


Que soluções o senhor e seus pares têm buscado para amenizar o clima muito ruim com os funcionários e time por conta dos constantes atrasos?Pessoas físicas, por exemplo.


Pessoas físicas mesmo, como o grande benemérito Carlos Augusto Montenegro e também o benemérito Claudio Good. Eles vêm ajudando, e isso é feito um jogo. Entra um dinheiro, e você liquida aquilo de uma maneira. É difícil de explicar. Quando eles emprestam dinheiro, é um fundo, um fundo pequeno, mas trata-se de um empréstimo que você tem que pagar. Mesmo sendo uma taxa pequena, mas é preciso um retorno. A pessoa não pode chegar e falar "toma, Botafogo".


A gente vem fazendo uma engenharia. E eles vêm ajudando a construí-la. Lógico que cada vez se torna mais difícil, porque, quanto mais penhoras tivermos, pior essa engenharia vai se tornando. Por isso temos uma grande preocupação em relação a esses cinco meses que faltam. Seriam seis, porque ainda não pagamos o mês de julho.


E a gente está procurando, trabalhando para isso, falando com um ou outro para tentar chegar até lá. E temos certeza que vamos chegar.


É um jogo: débito e crédito.


Vão continuar buscando ajuda a essas pessoas físicas em 2019, até porque não há outras receitas atualmente, não?

Vamos, mas temos (outros recursos), que é a venda de jogadores. Se eu vender o jogador X por R$ 50 milhões, está resolvido. Resolvido que digo não é tranquilo, mas me ajuda demais porque aí tenho como honrar os compromissos todos.



Nelson Mufarrej, Botafogo — Foto: Fred Gomes


A quatro meses do fim do Brasileiro, já está descartada a possibilidade de o Botafogo ter um patrocínio master?


A gente está correndo atrás, esperando algumas respostas. Semana passada pegamos o Azeite Royal e estamos procurando. Evidentemente que a situação no Brasil não está comportando patrocinadores. Muitos dizem que o time tal conseguiu patrocínio por R$1. Não sei se é R$1, R$ 10 ou R$0,50. Não me interessa, o que interessa é o Botafogo. Às vezes a gente espera. "Poxa, tem o patrocinador A, mas tem o patrocinador B, que pode dar uma melhorada". Então você espera.



O departamento comercial vem trabalhando e está de parabéns principalmente pelo que era antes, mas é difícil. Agora em agosto já começa a prospecção para o ano que vem. Ainda não temos o master, temos que tentar o master para esses cinco meses e que prospectar para o ano que vem.


Como tem sido trabalhar com esse racha no Mais Botafogo após as saídas de seu velho amigo Carlos Eduardo Pereira, Cristiane Machado e Anderson Simões?

Velho amigo não, continua sendo meu amigo, até porque ele não é velho (risos). Prezo muito a amizade do Carlos Eduardo, e a recíproca é verdadeira. São momentos políticos e, às vezes, a pessoa se sente no momento de sair. A gente conversou, e ele achou, por bem e por discordância pessoal, ter saído. É algo pessoal.



Carlos Eduardo Pereira, à esquerda, e Anderson Simões, à direita, deixaram o Mais Botafogo; Simões deixou a VP de Estádios — Foto: Vitor Silva/SSPress/Botafogo


A mesma coisa com o Anderson. Não sei se mais pelo trabalho que ele vem exercendo muito bem na Prefeitura junto a um órgão que supervisiona todas as secretarias. Gosto muito do Anderson. E a Cris continua sendo minha vice-presidente. É um direito que assiste a cada um.


CEP não alegou nada?


Acho mais fácil perguntar a ele. Às vezes o seu ideal dentro da política não se desenvolve da maneira que a pessoa quer, mas é muito pessoal. Eu realmente prezo por ele.


*Na semana em que CEP deixou o Mais Botafogo com uma nota oficial, o GloboEsporte.com tentou entrevista, mas o ex-presidente e atual vice geral afirmou que falaria num momento mais oportuno.


+Vice-presidente geral rompe com grupo que assumiu administração do Botafogo em 2014


+Outro desligamento no Mais Botafogo: VP social diz que foi expulsa do grupo político


Fred Gomes✔@fredgomes1985


Como outros colegas já postaram, além de Carlos Eduardo Pereira e Cristiane Machado, Anderson Simões, VP de estádios, foi mais um a deixar o grupo político “Mais Botafogo”. #gebota


Apesar da saída de CEP, vocês estão sempre juntos nos eventos do clube. A amizade continua intacta?


Por mim, não houve abalo. Inclusive na segunda-feira temos a missa em homenagem ao aniversário do Botafogo e estaremos juntos. E a Cris também.


Concorda que publicação de notícias sobre uma eventual rusga é negativo para o clube? Ainda mais em relação a Anderson e CEP, que sempre colocam a cara, não?

Sempre tem, não vou dizer que não, mas a gente dá seguimento. Os problemas do Botafogo são tão grandes que a gente não tem tempo de ficar pensando nisso.


Temos problemas acontecendo minuto a minuto. Isso vai passando muito rápido. Segunda-feira estávamos na reunião aqui, já estamos na sexta e amanhã (sábado) vou ao treino. Não tem muito que ficar nesse lado para cá ou para lá. A vida segue.


A gente tem que continuar porque quer um Botafogo cada vez mais engrandecido. E que ele saia dessa situação em que está, não é o lugar do Botafogo.


Vocês têm conversas constantes para que essa divisão no Mais Botafogo não seja lesiva ao clube?

A gente tem que deixar todos à vontade. Temos que pensar no engrandecimento do Botafogo. É um detalhe. O Carlos Eduardo sempre está aqui, participa das reuniões e dos eventos. O Anderson não está porque ele saiu da vice-presidência. A Cris não saiu, e ela quem está organizando a missa do aniversário do Botafogo.


Sobre seus 20 meses de presidência, o quanto sua rotina foi afetada?


Mexe demais. Tenho meu escritório. Não tenho filhos, mas tenho os filhos dela (a esposa, Lúcia), que são como meus filhos. Tenho quatro netos maravilhosos. O pequeninho esteve aqui em julho (moram em São Paulo), não estava bem, e o médico perguntou o time dele. Ele falou que era Botafogo. O pai ficou danado, porque é paulista e são-paulino. Mas aqui ele torce e veste a camisa por mim. É uma família muito gostosa.


Mas eu tenho problema meu de trabalho. Sou perito judicial há anos na área contábil. Tenho uma equipe maravilhosa e que me ajuda muito. Todos os dias eles estão lá, e eu também. Às vezes eu falto e brinco: "Qualquer dia vão trocar a fechadura do escritório".


Fiz um horário, vou de manhã e procurou vir às 16h, 17h para dar expediente aqui no clube. Esse é o lado profissional, mas preciso continuar botar o feijão com arroz em casa, senão minha esposa fica brava comigo.


Lógico que minha esposa sente, mas me dá um apoio muito grande. Ela me vê chegando nervoso, chateado. Mas são coisas naturais, e ela entende perfeitamente.


Está dando para levar e fazer essa coordenação toda. É bom, ela sabe que eu gosto, mas gostaria que o Botafogo estivesse numa condição melhor.


Como é para um botafoguense apaixonado ter de conviver com críticas e ofensas?

Eu sou um torcedor também, eu me critico também. Acho que é um direito do torcedor. A crítica, não sendo agressiva, é normal. O torcedor tem que ter certeza que estamos aqui trabalhando em prol do Botafogo. É muito duro sair de Minas (contra o Atlético-MG, pela Sul-Americana) com a derrota. Deixei de ir ao escritório trabalhar, o pessoal segurou.


Estava lá como chefe de delegação e foi horrível. Enfim, não deu.


Vamos nos focar no Brasileiro, que eu acho mais difícil, é mais longo, mas tenho convivido com os jogadores do Botafogo. São pessoas sérias, dedicadas e que realmente vestem nossa camisa. Não tem nenhum que é mais ou menos.


Tenho certeza que vão nos dar a alegria até o fim de ano não só de permanecer na Série A, mas de nos dar uma colocação muito boa.


Elogios a Anderson Barros

Você tem o gerente de futebol, o Anderson, que a gente vê a cada dia a dedicação que ele tem ao Botafogo. Às pessoas do Botafogo, aos jogadores, aos torcedores, apesar de não aparecer tanto e não gostar de dar entrevista. Garanto que ele agora está no telefone vendo as condições que tem.



Anderson Barros em entrevista coletiva — Foto: Fred Gomes


Impressionado com a dedicação de Eduardo Barroca

Você vê o Barroca, não desmerecendo os outros treinadores, todo eles maravilhosos, mas ele me chama a atenção pela dedicação. É um rapaz que chega às sete da manhã no clube e sai 21h30, 22h. Ele está envolvido com todo mundo, é uma pessoa que se dedica totalmente em fazer o melhor para os torcedores. Com um carinho muito grande. Não é que os outros não tenham carinho, mas a dedicação.


Também por ele ser da casa, não?

Tem isso, mas ele não precisaria chegar às sete da manhã. Ele vai encher o saco, digamos assim, de todo mundo para saber sobre performance, entender por que o fulano rendeu menos. Tem muito treinador que chega na hora do treino e vai embora. Tenho certeza que Deus vai ajudá-lo cada vez mais. Ele gosta muito de ser treinador.



Eduardo Barroca, treino Botafogo — Foto: Fred Gomes / GloboEsporte.com


Foi um grande acerto trazê-lo ao Botafogo? Ele estava numa condição financeira melhor no Corinthians e optou por voltar. E a torcida o aprovou.


A torcida aprovou, mas no início levou um choque de mais uma tentativa, mais uma experiência. A gente explicou à torcida quem é o Barroca, o que ele deixou de legado aqui para nós botafoguenses, mesmo na sub-20. Foi campeão brasileiro, ganhou muito. No Corinthians, ele fez um trabalho. Não sei como o presidente Andrés o deixou sair. O Andrés gosta da gente. E acho que fez muito bem para o Barroca. Tem um caminho muito bom conosco, mesmo na SPE(Sociedade de Propósito Específico, que é o grupo de investidores que entrará no futebol juntamente com os Moreira Salles em 2020 se o projeto for oficialmente aprovado) vai dar bons frutos.


Fonte: GE/Por Fred Gomes — Rio de Janeiro

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