Ao GloboEsporte.com, Nelson Mufarrej detalha medidas para diminuir prejuízo financeiro, prevê suspensão de contratos de trabalho e cogita reduzir salários de jogadores a partir de junho
Para o presidente do Botafogo, Nelson Mufarrej, as demissões de mais de 40 funcionários que aconteceram nesta semana, apesar de medida impopular, já eram necessárias antes da crise causada pela pandemia do novo coronavírus. Foi o que afirmou o dirigente em entrevista ao GloboEsporte.com.
Mufarrej recebeu e respondeu as dúvidas da reportagem sobre a gestão e as dificuldades financeiras que se agravaram com a pausa forçada no calendário, momento em que campo e bola ficam em segundo plano. A começar pelo corte severo no quadro de funcionários.
- Seria muito conveniente da minha parte empurrar para o clube-empresa ou para o sucessor, já que estou na reta final do mandato. Por responsabilidade como gestor do clube, infelizmente certas medidas precisam ser enfrentadas. A folha salarial dos funcionários já era elevada por acúmulo de diversas gestões. Estava em um patamar de valores de incompatibilidade financeira. A otimização desse quadro era um projeto em desenvolvimento pelo RH há meses e se tornou inadiável com os efeitos perversos da pandemia. Reunimos os gestores das áreas, vice-presidentes e cargos de gerência, que realizaram um estudo técnico criterioso que culminou na saída de profissionais de diversas faixas salariais - disse.
Nelson Mufarrej, presidente do Botafogo — Foto: Vitor Silva/SSPress/Botafogo
O presidente confirmou, ainda, que o clube fará uso da Medida Provisória 936, que traz novas regras sobre redução de jornadas e salários e suspensão de contratos de trabalho no período de calamidade pública.
- Temos muitos profissionais cuja continuidade é de nosso pleno interesse, mas que por diversas razões a produtividade está comprometida em razão dos efeitos da pandemia, com fechamentos das sedes e interrupção de diversas atividades. Por isso a MP é importante e vamos utilizar o mecanismo da suspensão de contratos, mantendo empregos - completou.
Sobre a redução dos salários dos jogadores, a medida pode ser necessária se o cenário de crise persistir para além deste mês. Nelson Mufarrej também respondeu sobre condições para volta aos treinos, andamento do projeto clube-empresa, revisão do orçamento de 2020 e fez elogio à torcida: "É um alento nesses tempos difíceis".
Leia as respostas
Por que o Botafogo ainda não optou pela redução de salários dos jogadores?
O Comitê Executivo de Futebol tem se reunido frequentemente e esse é um assunto de especial atenção. Temos uma relação muito franca com os atletas e eles têm a noção do descomunal esforço que estamos fazendo ao não reduzir os salários pelo menos até maio. Esse assunto foi abordado pelo Vice-Presidente de Futebol Marco Agostini na reapresentação virtual de segunda-feira (04/05). Não temos como precisar até quando vai perdurar essa paralisação, portanto a nossa linha de trabalho é de constante reavaliação sobre essa questão de redução. É um gesto de enorme confiança e eles sabem disso. Pelo menos até maio, sem alterações.
Elenco não se reúne desde o dia 15 de março — Foto: Vitor Silva/Botafogo
Com quais recursos o clube sobrevive nesse momento?
Essencialmente, com os recursos oriundos dos direitos de transmissão. Mas há recebíveis muito importantes, oriundos dos associados, sócio-torcedores, patrocinadores e de contratos de marketing, da área de licenciamento.
Com quais condições o clube se sentiria confortável para voltar a campo?
Não existe hipótese de colocar nossos atletas em campo, seja para treino ou jogo, sem garantia de saúde. Passamos tanto tempo parados para voltar a ter contato presencial nos treinos justamente no pico, no auge das mortes, no momento que o sistema de saúde está ficando asfixiado? Do que adiantou todo esse período parado? Vamos jogar fora? Além de ilógico e de total desconexão com a realidade, é desumano. Estamos há quase dois meses parados. Retornar agora é insano. Aguentamos dois meses. Aguentaremos mais tempo.
Não consigo nem prever para você quando vai retornar, tudo depende da evolução. Vai depender do que autoridades sanitárias vão nos relatar e, principalmente, do que o próprio Botafogo vai decidir. Se nós do Clube acharmos que não há condições, por mais que todos digam o contrário, não forçaremos nada. No momento eu te afirmo: sem chances.
Como essa pandemia está afetando o projeto do clube-empresa? Há conversas com quantos potenciais investidores?
Mesmo com toda essa paralisação, semanalmente as reuniões com a equipe de trabalho que coordena o projeto Botafogo S/A têm sido realizadas. Não temos tempo a perder. Penso que a crise sempre abre janelas de oportunidade, então é importante acompanhar a dinâmica do mercado e direcionar o trabalho considerando esse novo contexto.
Já sabem o tamanho do prejuízo com a pandemia? O orçamento será revisto?
O vice-presidente de finanças Luiz Felipe Novis está em processo de replanejamento do orçamento de 2020 em função desse novo cenário. As áreas impactadas estão municiando com as informações que dispõem. Certamente, ao final do estudo, expectativas de receitas serão reavaliadas.
O balanço de 2019 publicado nos últimos dias aponta déficit de R$ 20 milhões e menos R$ 60 milhões de arrecadação. Como avaliar a última temporada partindo desses números?
Por uma série de fatores, os números não foram alcançados. O momento atual pede especial dedicação de todos para que o Botafogo consiga ter a melhor performance esportiva e, ao mesmo tempo, lidar com seus problemas econômico-financeiros.
Se o cenário é difícil, o engajamento do torcedor é um alento? Os alvinegros não deixaram cair muito o número de sócios-torcedores, por exemplo.
A torcida do Botafogo tem um poder de engajamento incrível e esse apoio com o sócio-torcedor tem sido de fundamental importância. A compreensão com o momento mundial e a mentalidade de cada um de buscar preservar o Clube têm prevalecido. Aproveito para reforçar esse pedido também aos sócios-proprietários, que são outra importante fonte de receita. São entradas que fazem o clube girar, e mais que um alento, como você disse, nesses tempos difíceis.
Fonte: GE/Por Emanuelle Ribeiro e Thayuan Leiras — Rio de Janeiro
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