De personalidade distinta, japonês foi aposta pela memória positiva sobre craque holandês, mas não encontrou as mesmas condições e nem teve a mesma influência nos bastidores
Quando Honda foi apresentado pelo Botafogo, em fevereiro, torcedores, dirigentes e jornalistas fizeram a mesma conexão: com potencial para ser reforço dentro e fora de campo, o japonês poderia ter impacto parecido com o que deixou o holandês Clarence Seedorf, em 2013. A expectativa não foi cumprida, e o meia dá adeus e deixa sensação de que poderia mais.
As comparações com Seedorf foram inevitáveis e feitas até mesmo por dirigentes. A posição em campo e os posicionamentos fora dele eram motivos para acreditar que o Botafogo contratava mais do que um atleta. Na prática, porém, o japonês se mostrou menos impactante do que o ex-comandante nos tempos de Milan.
Honda deixa o Botafogo após nove meses — Foto: André Durão/ge
Perfis diferentes
Primeiro, no campo. Com planos de ser treinador, o que aconteceu em 2014, logo que deixou o Rio, Seedorf mostrava características de comando e liderança já no vestiário do Botafogo. Deu pitaco dos treinos à alimentação dos jogadores, passando por planejamento e atividades do dia a dia do Nilton Santos. O que chegou a incomodar alguns companheiros, mas, no final, foi bem aceito.
Diferente de Honda, que até já foi treinador no Camboja, mas parece ter outras prioridades quando pendurar as chuteiras. De temperamento mais retraído, o japonês não se envolveu em todos os detalhes no mesmo nível. As muitas mudanças na diretoria e no comando técnico do time também não ajudaram.
Reveja os três gols de Honda pelo Botafogo (https://globoesporte.globo.com/video/veja-os-tres-gols-de-honda-pelo-botafogo-9136418.ghtml)
Seedorf pelo Botafogo
81 jogos
24 gols
11 assistências
O japonês até já usou a braçadeira de capitão, mas nunca teve a liderança aceita plenamente por todo o grupo. Algumas atitudes do jogador desagradaram parte dos companheiros, entre elas a ameaça de deixar o clube após a demissão de Ramón Díaz. O camisa 4 se dispôs a ajudar financeira e também tecnicamente, mas tinha uma postura mais passiva. O que não é um defeito, já que ele tinha obrigações apenas como atletas. Mas foi motivo de comparações.
Para completar, Seedorf vinha de 10 temporadas seguidas no Milan, em alto nível e titular com frequência, mesmo com a idade mais avançada, aos 36 anos. Honda chegou ao Bota aos 33, mas teve o melhor momento da carreira no CSKA, de onde saiu em 2013. Depois, passou sem brilho pelo Milan e rodou por México e Austrália. Passou a última temporada na Holanda, onde fez apenas quatro jogos.
Honda pelo Botafogo
27 jogos
3 gols
Nenhuma assistência
PVC comenta saída de Honda do Botafogo: "Quem está fracassando é a diretoria" (https://globoesporte.globo.com/sportv/programas/selecao-sportv/video/pvc-comenta-saida-de-honda-do-botafogo-quem-esta-fracassando-e-a-diretoria-9137886.ghtml)
Cenários diferentes
Além das características individuais, os dois jogadores encontraram terrenos bem diferentes para dar frutos no Botafogo. A instabilidade financeira já estava presente de maneira preocupante no clube de 2012 e 2013.
Em um ano e meio, Seedorf virou referência — Foto: Satiro Sodre/SS Press
Para começar, Seedorf só teve um treinador no período no Botafogo. Oswaldo ficou no clube de 2011 ao fim de 2013. O trabalho de campo era mais seguro e o elenco tinha mais qualidade. Os resultados mostram isso: o Botafogo chegou em 2013 às quartas de final da Copa do Brasil e terminou o ano classificado para a Copa Libertadores da temporada seguinte e levantou a taça do Estadual.
Neste ano, Honda pegou um Botafogo que tentou e não conseguiu se reconstruir. A maior parte do elenco foi reformulada e nada menos que 25 jogadores foram contratados para 2020. Dirigentes tomaram decisões erradas e já fizeram a quinta mudança de técnico. O resultado é o 19º lugar no Campeonato Brasileiro.
Decepções financeiras
Com desempenhos bem diferentes, os dois estrangeiros também têm pontos em comum. A começar pelas saídas, ambas com alguns atritos e antes do fim do contrato assinado. E também pelo pouco retorno financeiro que deram ao clube.
Com ação tímida, almofada foi última tentativa de ganho comercial — Foto: Divulgação/Botafogo
Nesse ponto, a passagem de Seedorf rendeu até mais prejuízo. Com salário alto, o holandês cobrou dívidas de R$ 4 milhões. Honda, por outro lado, aceitou valores mais baixos e deixa o clube com vencimentos em dia.
Tanto com o holandês quanto com o japonês, a exploração comercial e de marketing deixou a desejar. Com Seedorf, o Botafogo não conseguiu grandes ações para alavancar receitas e conseguir mais visibilidade. O mesmo aconteceu com Honda, que foi prejudicado pelo momento da pandemia do novo coronavírus. O clube disponibilizou poucos produtos do japonês, como camisa e almofada personalizadas.
Fonte: Por Emanuelle Ribeiro e Thayuan Leiras — Rio de Janeiro
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