Com negociação em andamento, diretoria fará contraproposta a grupo interessado em comprar ativos da SAF: "É um investidor estratégico, que conhece e opera futebol", diz CEO Jorge Braga
O Botafogo recebeu oficialmente a primeira proposta de um investidor para compra dos ativos da Sociedade Anônima do Futebol do clube (SAF). A proposta chegou na última segunda-feira à XP Investimentos, representante do clube, e foi levada ao presidente Durcesio Mello e ao CEO Jorge Braga.
O executivo Pedro Mesquita, líder do projeto na XP, diz que ainda não é possível falar em valores, uma vez que a negociação está em andamento.
- Li em alguns sites sobre um valor de R$ 700 milhões. O que existe é uma oferta não vinculante, que está sendo examinada pelo clube e pela XP. E o valor não é esse. É uma oferta de um investidor com credibilidade e experiência no futebol. Cabe ao Botafogo agora analisá-la - diz Mesquita.
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Botafogo recebeu proposta oficial de investidor e fará contraproposta — Foto: Infoesporte
O próximo passo da conversa será uma contraproposta feita pelo Botafogo.
- Temos um acordo de confidencialidade, logo não podemos abrir detalhes. Mas posso dizer que é um investidor estratégico, que conhece e opera futebol. A preocupação primordial é garantir a perpetuidade do Botafogo. Levamos essa primeira oferta ao presidente, que ficou empolgado e vamos fazer uma contraproposta – afirma Jorge Braga.
Ao receber a devolutiva do Botafogo, o investidor pode fazer uma proposta vinculante, que seria, basicamente, o último passo para assinar o contrato e sacramentar a operação. Não existe prazo para que isso aconteça, mas os executivos envolvidos na negociação acreditam que a evolução pode ser rápida se houver acordo.
A lei exige que, após a venda, 20% das receitas da SAF sejam destinadas ao pagamento das dívidas cíveis e trabalhistas do clube, que se aproximam de R$ 1 bilhão. E dá um prazo de seis a dez anos para que todos os débitos sejam quitados. Se ao fim desse período as dívidas não forem pagas, a SAF é solidária - ou seja, se torna devedora.
- As dívidas cíveis e trabalhistas que estão no Regime Centralizado de Execuções somam cerca de R$ 450 milhões. Caso o clube aumente seu faturamento, você torna possível o pagamento. Mas existem outras formas de tratamento para a dívida, que devem ser alinhadas com o investidor – acrescenta Braga.
Jorge Braga, CEO do Botafogo, lidera as negociações com a XP ao lado do presidente Durcesio Mello — Foto: Vitor Silva/Botafogo
Segundo apurou a reportagem, o grupo de investidores que apresentou a proposta pelo Botafogo tem equipes em ligas europeias e quer construir um portfólio de clubes. Mas que garantia o torcedor alvinegro terá de que o time não será transformado numa fábrica de talentos para outros?
- Essas garantias são parte da negociação em andamento. Precisamos de incentivos que assegurem a performance esportiva – completa o CEO.
Turbulência política como pano de fundo
A história da transformação do Botafogo em empresa já teve vários capítulos. O primeiro projeto, liderado pelo economista Laércio Paiva, foi abandonado em novembro de 2020 por não conseguir arrecadar os fundos necessários.
Naquele momento, apoiado pelo ex-presidente Carlos Eduardo Pereira e pelo ex-vice de marketing Ricardo Rotenberg, Gustavo Magalhães entrou em cena trazendo um projeto ligeiramente diferente, o chamado plano B. Em maio de 2021, ele recebeu do clube uma autorização para buscar investidores. Magalhães pediu seis meses de exclusividade, mas o Conselho não aceitou.
Durcesio Mello contratou a XP em outubro deste ano — Foto: Botafogo F.R.
Em outubro, depois da aprovação da lei federal que regulamentou as SAFs, Durcesio Mello e Jorge Braga contrataram a XP Investimentos para buscar investidores para o clube. Com o objetivo de liderar o processo de mudança do futebol brasileiro após a aprovação das SAFs, a XP aceitou trabalhar por taxa de sucesso – ou seja, sem cobrar uma taxa fixa. Em troca, exigiu regime de exclusividade. Isso irritou o grupo de Magalhães. Nos bastidores, começaram a surgir críticas a Jorge Braga e à contratação da XP.
No último sábado, a notícia da venda do Cruzeiro para Ronaldo Fenômeno acirrou os ânimos – com o CEO da XP, José Berenguer, anunciando que o Botafogo seria o próximo clube a ser vendido.
Ainda em novembro, a diretoria alvinegra encaminhou a proposta do grupo de Gustavo Magalhães para a XP, mas ela não prosperou.
- A XP tem todo interesse em trazer a melhor proposta ao Botafogo e precisamos analisar todas as propostas sob a mesma ótica. Somos uma empresa séria, acostumada a fazer negociações sofisticadas com bancos de investimento e M&As (mergers and acquisitions, que em inglês quer dizer fusões e aquisições). Essa proposta, na verdade, era uma autorização para buscar investidores. Não havia garantia de dinheiro. Analisamos e entendemos que não era consistente. Mas seguimos abertos a ouvir proposta de qualquer investidor - diz Mesquita.
Carlos Augusto Montenegro defende o projeto de Gustavo Magalhães — Foto: Vitor Silva/Botafogo
- Não é de hoje que o Botafogo discute a S/A. Em 2019, tivemos o projeto da La Place, liderado pelo Laércio Paiva, que acabou não indo em frente. Depois tivemos o Gustavo Magalhães, que em maio recebeu do conselho sinal verde para trazer investidores. Não avançou. O projeto com a XP é um projeto do Botafogo com conhecimento do Conselho Fiscal e assinaturas do presidente e do vice-presidente geral – diz Jorge Braga.
O ex-presidente Carlos Augusto Montenegro é um dos defensores do projeto de Magalhães, ao lado de Ricardo Rotenberg. Em áudios e mensagens em grupos, Montenegro teceu críticas ao processo em andamento e disse que trabalhou no projeto nos últimos cinco meses. O principal incômodo do grupo é com a exclusividade da XP. Qualquer proposta precisa, legalmente, passar pela empresa.
- Temos que ter cuidado com a pressão da XP e de alguns "botafoguenses" que não querem a SAF. Mas o horizonte é bonito. Estou feliz - escreveu o dirigente em mensagem enviada a grupos de WhatsApp.
O site Fogao.net publicou que Magalhães levou ao clube uma proposta de 100 milhões de euros (quase R$ 700 milhões), que seria de um grupo americano com relações com o beisebol. Esse grupo seria o The Football Co, liderado pelo investidor Peter Grieve, que tem algum histórico no futebol. Foi dono de um clube no Zimbábue até 2017 (o Bantu Rovers), outro em Gibraltar (Europa Point, entre 2017 e 2019) e tentou sem sucesso comprar o Hull City, da segunda divisão inglesa, em 2016.
- Eu li em alguns sites sobre investimento de 100 milhões de euros. Se isso existir, é só trazer que encaminharemos para a XP. O Botafogo tem total interesse em receber todas as propostas – afirma o CEO Jorge Braga.
Fonte: Por Redação do ge — Rio de Janeiro
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