Atacante que balançou as redes contra o Ypiranga-RS é cria do Complexo do Chapadão, vendia balas para garantir ajudar em casa e passou dificuldade
Janderson carregou uma história de muito suor em poucos mais de três segundos, intervalo entre o passe que recebeu passe de Matías Segovia até o movimento para fazer um gol contra o Ypiranga-RS. O atacante do Botafogo tem uma trajetória de superação e marcou o primeiro gol como profissional na última quinta-feira, no triunfo por 2 a 0 pela Copa do Brasil no Estádio Nilton Santos.
Botafogo 2 x 0 Ypiranga-RS - Melhores Momentos - 3ª fase da Copa do Brasil
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O atacante de 23 anos foi criado no Complexo do Chapadão, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Assim como a realidade de vários jovens espalhados por comunidades do país, cresceu no meio da dificuldade. A família, humilde financeiramente, chegou a lidar com a fome e não teve boas condições de moradia em certos momentos. Isso o obrigou a começou a trabalhar cedo, ainda quando era adolescente.
Janderson pegava balas, doces e biscoitos e saía andando pelas ruas da cidade para vender. O atacante andava cerca de 30km por dia na tentativa de vender as mercadorias e ajudar com dinheiro em casa.
Janderson vendendo biscoitos pelas ruas do Rio de Janeiro — Foto: Reprodução
- Antes (de ser jogador de futebol) eu era vendedor de doce no Mercadão de Madureira. Pegava a mercadoria em Madureira e ia andando até a Freguesia às vezes. Vim de uma família que tem muita dificuldade, e Graças a Deus nunca precisei fazer nada de errado, sempre fiz o certo e agora é a hora da recompensa - afirmou o atacante após o jogo contra o Ypiranga.
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E o futebol? O esporte sempre esteve presente na vida de Janderson, é claro, mas também com dificuldades. Com os trabalhos sempre à tona, ele não fez base ou participou de escolinhas quando jovem. O máximo foram torneios amadores ou peladas dentro da comunidade.
Foi em uma dessas competições que Janderson chamou a atenção do Angra dos Reis em 2020. O time da Região dos Lagos, à época disputando a segunda divisão do Campeonato Carioca, chamou o jogador para um período de testes e ele foi aprovado. Foi também nessa época que conseguiu empresários, que o posicionaram melhor para o futebol.
Janderson fez 17 jogos pelo Angra e, apesar de só ter feito um gol, foi uma das revelações da Segundona do Carioca em 2020. O atacante chamou a atenção e foi contratado pelo Duque de Caxias, clube de mais tradição que também disputava a divisão de acesso do Estadual, para o ano seguinte.
- É isso mesmo. Tocou num ponto que muitas vezes passa despercebido por muitas pessoas. Não é só o Janderson, as pessoas olham para nós como máquinas. Fundamentalmente no futebol olham para nós como seres que não sentem, que não viveram, que não tem história e que podem ser agredidos a qualquer momento por tudo e por todos. E esquecem que as agressões que nos fazem é uma agressão que nos passam ao lado porque nós passamos por situações na vida que nos agrediram muito mais que essas que nos tentam fazer ao longo da vida, e propriamente no futebol. Ele aguenta porque já aguentou atrás, na sua história, que aguentou ao longo da vida e já nem beliscar estar no estádio, passa para o lado - comentou Luís Castro sobre a história de Janderson.
Janderson — Foto: Reprodução
Fora do Rio
As coisas começaram a andar para Janderson quando ele saiu do Rio de Janeiro pela primeira vez. O atacante foi contratado pelo São José-MA no começo do ano passado. Com status de aposta, ele assumiu protagonismo na equipe, marcando seis gols e dando uma assistência em nove jogos, além de entrar para a seleção do Campeonato Maranhense.
As boas atuações chamaram a atenção do Bahia de Feira de Santana, que estava na Série D e contratou Janderson após a disputa dos estaduais. Foram sete gols em 15 partidas pela equipe baiana e, então, a ligação do Botafogo, que o contratou enquanto ele era o artilheiro da quarta divisão do Campeonato Brasileiro.
Janderson em Botafogo x Ypiranga — Foto: André Durão
Promessa e sub-23
Janderson fechou com o Botafogo em agosto de 2022. Uma das primeiras ações como jogador do clube foi conseguir uma nova casa em Engenho de Dentro, perto do Estádio Nilton Santos, para dar um novo lugar para os pais viverem. Um dos grandes sonhos do atacante é conseguir dar uma casa própria para a família.
O atacante foi contratado para o time B, projeto sub-23 tocado no ano passado no clube. Ele se destacou e chegou a marcar três gols em um amistoso contra o Audax. Janderson foi um dos poucos remanescentes do projeto, praticamente acabado depois do fim do Brasileirão de Aspirantes.
A vinda para o Alvinegro também cumpre uma promessa. Um dos melhores amigos de Janderson era botafoguense e morreu em 2020. Ele prometeu que jogaria no clube um dia para este amigo.
- Muitas vezes é muito pior do que o estádio estar contra nós é uma pessoa que fez parte da nossa história que em determinado momento quase nos ferir e nós conseguirmos continuar. Janderson é mais uma história de vida e eu fico muito feliz por ele por ter feito o gol e é isso que nos marca para a vida. São essas histórias e nós podermos estar nessas histórias desses jogadores e felizmente eu tive a sorte de proporcionar ao Janderson a felicidade que todos as pessoas deveriam viver desde que nascem. Infelizmente a sociedade que temos, que é egoísta, agressiva. Parabéns ao Janderson - completou Luís Castro.
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Fonte: GE/Por Sergio Santana — Rio de Janeiro
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