Atacante virou estrela em jogos amadores de Salvador, testou a sorte indo sozinho para São Paulo e se emociona ao falar do pai
A vida não deu capítulos fáceis até Júnior Santos aparecer como um dos destaques na campanha de liderança do Botafogo no Brasileirão. O camisa 37 do time de Luís Castro, um dos melhores em campo na vitória sobre o Atlético-MG no último domingo, só virou jogador de futebol aos 23 anos depois de receber um conselho para lá de especial.
Júnior Santos celebra boa atuação em vitória do Botafogo contra o Atlético-MG (https://ge.globo.com/video/junior-santos-celebra-boa-atuacao-em-vitoria-do-botafogo-contra-o-atletico-mg-11600279.ghtml)
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Nascido em Conceição de Jacuípe, na Bahia, Júnior foi para Salvador com 20 anos sozinho para tentar ganhar a vida. Nunca tinha passado pela cabeça virar jogador de futebol, mas o garoto começou a trabalhar como ajudante de pedreiro com um tio. O esporte era uma forma de lazer, mas que também se tornou lucrativa.
- Minha adolescência foi muito conturbada. Algumas coisas acredito que não aconteceram também por culpa minha. Quando se é do interior você não acredita muito que vá virar jogador do futebol, é algo muito distante, fica só ali na TV. Passei por coisas muitas difíceis. Aos 20 anos eu começo a trabalhar de servente, vou para Salvador e começo a jogar amador, ganhando 50 reais nos jogos, fui fazendo meu nome, jogando muito bem e comecei a cobrar para jogar, uns 300 reais por partida. Fui jogar um campeonato chamado Intermunicipal, que é muito conhecido lá (Salvador), e fui muito bem. Primeiro trabalhei como ajudante de pedreiro, jogava aos finais de semana ganhando 300 reais por jogo.
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Aos poucos, Júnior se tornou uma "estrela do futebol amador" e largou o trabalho como pedreiro. A visibilidade dos jogos de várzea é tamanha que o atacante chegou a receber propostas para se profissionalizar, mas preferiu deixar para trás.
- Futebol era um lazer. Nessas ocasiões quando fiquei conhecido recebi duas propostas para jogar profissionalmente. Uma foi pelo Bahia de Feira e outra pelo Fluminense de Feira, mas na época eles só queriam me pagar 800 reais, o salário mínimo da época. No amador eu tirava cerca de 3000 reais por mês. Jogava sábado e domingo e chegou uma hora que meu cachê já estava em 500 reais por jogo e até abandonei a carreira de ajudante de pedreiro, não queria mais bater massa não (risos). Seria 800 reais por três meses e se eu fizesse o contrato profissional não poderia jogar mais o amador, aí não quis ser jogador de futebol.
Júnior Santos comemora vitória do Botafogo diante do Bahia — Foto: Vítor Silva/Botafogo
O que aconteceu para Júnior Santos mudar de ideia? O atacante se aproximou de Deus e, no tempo livre, leu e entendeu mais sobre religião. Daí, aceitou uma convite de um amigo que conheceu nos jogos amadores para ir São Paulo e jogar no Osvaldo Cruz, à época na quarta divisão estadual, e arriscou tudo para tentar o novo sonho de virar jogador.
"Na minha cabeça não acreditava que poderia ser (jogador), até que recebi uma profecia na Igreja que eu rodaria o mundo jogando futebol, acabei me afastando e um dia um cara chegou em um dos jogos amadores e disse "Cara, você joga em que time?", eu respondi que não jogava e ele me disse que eu estava perdendo tempo, que se jogasse eu seria um grande jogador. Aquilo ficou na minha mente e eu tentei. Foi quando surgiu a oportunidade de ir para São Paulo, vendi o pouco que eu tinha, vendi fogão, geladeira, e fui. Graças a Deus deu tudo certo.
"Na minha cabeça não acreditava que poderia ser (jogador), até que recebi uma profecia que rodaria o mundo jogando futebol"
A aventura
Era matar ou morrer. Júnior deixou a família na Bahia e foi sozinho para São Paulo sem ter a certeza do que seria o dia de amanhã.
Júnior Santos em Conceição do Jacuípe — Foto: Arquivo Pessoal
Longe de casa, o jogador deu os primeiros passos como jogador profissional aos 23 anos, sem ter feito categoria de base. A única experiência de Júnior Santos com o jogo antes do Osvaldo Cruz foram os jogos amadores em Salvador e as peladas de rua. A saudade de casa quase foi uma pedra no caminho, mas ele recebeu um conselho do seu pai, José Antonio, que o deixou no rumo certo.
- Fui para (São Paulo) receber bem menos (do que no amador). Eu recebia um cachêzinho de 200 reais quando a gente ganhava os jogos, até porque a situação da Bezinha (4ª divisão do Campeonato Paulista) é muito difícil. Eu pensei até em desistir, as coisas estavam bem difíceis, meus dois filhos estavam na Bahia e eu tinha que mandar dinheiro mas não conseguia. Liguei para o meu pai um dia e disse que ia parar. Para quem é do interior São Paulo e Rio de Janeiro é um mundo, você nunca imaginou sair da roça e vir pra cidade grande. Meu pai disse que se eu voltasse era para nunca mais falar com ele. Eu fiquei e deu tudo certo.
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Júnior foi um dos melhores jogadores da Bezinha de 2017 e acabou conhecendo os atuais empresários. Na virada de temporada, os agentes do atacante conseguiram um teste no Ituano, que estava na primeira divisão do Paulista e na Série D do Brasileirão. Ele passou na avaliação e recebeu um contrato fixo do time de Itu.
Durante os testes, seu José Antonio sofreu um AVC e ficou em situação complicada de saúde. Sem poder sair de São Paulo por conta dos testes, Júnior Santos se emociona ao falar do pai.
- Infelizmente quando eu estava em teste no Ituano meu pai sofreu um AVC e perdeu a memória, ele não chegou a ver meu sucesso, não me viu virando um jogador de futebol. Ano retrasado ele acabou falecendo. Eu queria que ele tivesse visto me tornar jogador (começa a chorar).
- Sempre me emociono quando lembro disso porque foi muito difícil. Sou muito feliz independente do sofrimento que passei, isso me tornou mais forte. Todos nós temos um propósito nessa vida. Independente do sofrimento temos um Deus que está nos vendo.
Depois do Ituano, Júnior fechou com a Ponte Preta ainda em 2018 e marcou nove gols em 38 jogos pela Macaca na Série B. O atacante chamou a atenção do Fortaleza e foi artilheiro e campeão da Copa do Nordeste de 2019, até que foi atuar no futebol japonês no segundo semestre. O atacante retornou ao Brasil no ano passado para atuar pelo Botafogo.
O atacante voltou ao Fortaleza no começo de 2023 após o Alvinegro não ter conseguido chegar a um acordo com o Sanfrecce Hiroshima, do Japão, pela compra do atleta. Sem ser utilizado por Juan Pablo Vojvoda, porém, o Leão negociou o atleta novamente com o time carioca. O camisa 37 é um dos jogadores mais importantes para a equipe de Luís Castro.
- Tenho alguns amigos que dizem que nem parecem que sou o cara que joga futebol. Como virei atleta muito tarde às vezes parece que estou sonhando. Eu não gosto de levar aquilo que eu faço para me exaltar, eu penso que toda a glória tem que ser dada a Deus. Gosto de tratar todo mundo bem, seja um repórter ou qualquer outro, tenha falado bem de mim ou não. Acho que a gente tem que querer ser uma pessoa melhor. Eu procuro ser eu mesmo, alegre, brincalhão, seja em entrevista, jogando, na rua... Claro que passamos por momento difíceis, mas gosto de ser essa pessoa que sou. Não sei se sou humilde, arrogante, empolgado... Sei que eu sou eu.
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Fonte: GE/Por Jéssica Maldonado, Sergio Santana e Sofia Miranda — Rio de Janeiro
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