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segunda-feira, 7 de agosto de 2023

O Botafogo e seu campeonato sem concorrentes








O que vai acontecer quando o Botafogo tropeçar? Terá alguma instabilidade, algum abalo que possa ameaçar a caminhada para o título brasileiro? As perguntas se repetiam a cada vitória alvinegra e, por ora, a resposta que se tem é a que foi fornecida pela 18ª rodada do campeonato: o Botafogo não venceu dois dos seus últimos três jogos e, mesmo assim, a vantagem na liderança aumentou.


O que apenas reforça a sensação de que, além das tantas razões que o time do Botafogo já deu ao torcedor para que confie nele, há outro fator decisivo: a falta de um perseguidor. Não é um decreto sobre o destino do título nacional, é apenas uma fotografia do momento, um recorte das 18 primeiras rodadas – o que, afinal de contas, é quase um turno inteiro. Ao menos por ora, não é realista achar que qualquer um dos demais 19 participantes do Campeonato Brasileiro está envolvido numa corrida direta contra o alvinegro. Por ora, o Botafogo joga um campeonato próprio.





Adryelson em disputa pelo alto em Botafogo x Cruzeiro — Foto: Vítor Silva / Botafogo



A rodada mostrou um dos motivos. Conforme abriu uma vantagem confortável, num calendário como o brasileiro, o alvinegro praticamente induziu os rivais a enxergarem outras prioridades diante de um líder aparentemente inalcançável. Significa dizer que o Botafogo será campeão graças à desistência de alguns rivais? Justamente o oposto. O alvinegro os fez olhar para outros alvos ao conquistar, com seus resultados, um aproveitamento espantoso. E mesmo que Flamengo, Palmeiras, Fluminense ou Grêmio exibissem total concentração em suas partidas, o Botafogo segue somando pontos num ritmo que ninguém parece capaz de acompanhar.


O Flamengo de Sampaoli está longe de ser um time sólido: é capaz de algumas atuações quase constrangedoras no Brasileirão. Ter poupado muitos titulares nos 3 a 0 impostos pelo Cuiabá foi apenas uma das razões da nova derrapada rubro-negra. O Palmeiras, atual campeão, vive realidade idêntica: poupou na derrota para o Fluminense, mas sua rotina de atuações é bem menos consistente do que nas últimas temporadas. O Fluminense, outro integrante do grupo dos 31 pontos, ainda não exibe sua melhor versão. Enquanto isso, o Grêmio, derrotado pelo até então lanterna Vasco em atuação muito ruim, já ficou 14 pontos para trás. Ninguém dá sinais de que terá uma arrancada ameaçadora para o indiscutível líder.


É fato que não se exibiu em Belo Horizonte o melhor Botafogo que já se viu. Foi um time com pouquíssima capacidade de sair de trás, que cedeu ao Cruzeiro grande domínio territorial e terminou o jogo confiando em dois pilares. Um deles é Lucas Perri, o goleiro com mais defesas praticadas na atual edição do Campeonato Brasileiro. O outro é Adryelson, o jogador de linha que tem o maior percentual de duelos aéreos vencidos na área defensiva neste campeonato. Ele é, também, o terceiro que mais fez interceptações no torneio.


Claro que há pontos a observar quando são apresentados números como estes. Não é exatamente bom depender de desempenhos tão eficientes em sua própria área, seja de um goleiro ou de um zagueiro. Ainda mais quando situações como a vivida no domingo, no Mineirão, não são inéditas. O Botafogo já tivera atuações ruins e já vira adversários rondarem demais sua área, como em jogos contra Grêmio, Palmeiras e Cuiabá, por exemplo. E aí, há dois olhares possíveis. É justo enxergar um time capaz de sobreviver às dificuldades naturais de uma caminhada de 38 rodadas. Mas também é importante alertar que não é saudável ser obrigado a resistir com muita frequência. Ocorre que, revisando as vitórias alvinegras, o time coleciona mais partidas em que foi claramente superior do que jogos em que sofreu: Vasco, Fluminense, Fortaleza, Coritiba, Atlético-MG, Corinthians... a lista de times que enfrentaram um excelente Botafogo é ampla. A liderança do time não merece ser questionada, é a melhor equipe do Brasileiro até aqui, e com boa margem. O que se pode ponderar é que a pontuação, esta sim, resulta da soma de competência e de circunstâncias favoráveis em jogos nos quais o time foi dominado, sem falar na capacidade de resistir. Não é pecado dizer que o aproveitamento é um tanto superior ao rendimento - que está longe de ser ruim, diga-se.


Mas o produto final, na matemática alvinegra, é que há uma rodada a menos pela frente, e um ponto a mais de diferença em relação aos adversários: os rivais mais próximos estão 13 pontos atrás . Nenhum deles jogou mais do que o Botafogo, nenhum deles sequer ensaiou uma arrancada. Até aqui, há um Brasileirão bem parelho, que vai do Flamengo para baixo na tabela. Enquanto isso, o Botafogo continua jogando seu campeonato particular, sem concorrentes e, com todos os méritos, favorito destacado ao título.




Por Carlos Eduardo Mansur
Jornalista. No futebol, beleza é fundamental

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