Zagueiro campeão em 1995 vê clube em boas condições de conquistar o Brasileirão
Das muitas coincidências entre 1995 e 2003 no Botafogo, há um zagueiro apelidado de "xerife" pela torcida e sendo marcante para a defesa alvinegra. Há 28 anos, foi Gottardo. Atualmente, é Adryelson. O passado pode imitar o presente na busca do Alvinegro pelo tricampeonato brasileiro.
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Wilson Gottardo fez parte de dois momentos marcantes da história do clube carioca: além do título brasileiro, foi titular no Carioca de 1989, que decretou o fim de um jejum de 21 anos sem conquistas. Em 2023, o ex-defensor vê o Botafogo no caminho certo para retornar ao caminho dos troféus.
- Foi um início de ano um pouco instável, não fez um bom Estadual. Após a vitória contra o São Paulo, lá no início (do Brasileirão), deu uma confiança na maneira de jogar e o grupo também cresceu emocionalmente, o ambiente já aparentava ser bom. E também chegou a efetivar a permanência do Luís Castro. Porque a imprensa já comentava a possível saída. Estou preparado para passar o bastão e cada um tem sua história.
- A minha história no Botafogo é de 400 jogos. Foram sete temporadas, foi uma história muito boa. O que eu fiz ali foi muito além de apenas jogar. Botafogo tinha pouca estrutura, quase nada. Vivi todos os processos no clube, desde quando eu cheguei de 87 a 90, 94 a 96. Minha história eu acredito que seja única, por tudo que vivenciei. Certeza de que passarei o bastão com maior prazer - afirmou, em entrevista ao ge.
Depois de aposentado, Gottardo chegou a ser diretor de futebol do Botafogo em 2014. Com licença de treinador, o ex-zagueiro considerou correta a efetivação de Lúcio Flávio no comando da equipe.
- Lúcio Flávio conhece todo o grupo. Tem um ambiente bom e é respeitado também. Acredito que foi a melhor opção pro Botafogo. Temos aí dois meses pela frente. Eu acho que trazer alguém que não tem o controle do ambiente, da qualidade, da ideia de jogo desses atletas é perder muito tempo. São rodadas preciosas para que o novo treinador venha adequar a sua ideia, seu pensamento. Então, Lúcio Flávio foi uma boa escolha. E acredito também que os jogadores estão bem fechados com ele.
O Alvinegro passou por um momento irregular no Brasileirão, principalmente na reta final da passagem de Bruno Lage - foram quatro rodadas seguidas sem vencer. Hoje, Gottardo acredita que o jogo virou e que a equipe está no caminho para ser campeã nacional.
- Essa instabilidade aconteceu no momento em que outros times estavam em outras duas competições e também sofreram com isso. Não conseguiram queimar essa gordura que o Botafogo criou. Aparentemente (o time) retomou o caminho. Botafogo retomou o caminho e tem condições de manter essa liderança. Eu, há um mês, achava que talvez o Flamengo seria a ameaça maior e depois o Palmeiras. Mas aparentemente os dois hoje perderam o gás na competição. Basicamente só depende do Botafogo mesmo hoje essa conquista.
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Gottardo, Botafogo — Foto: Divulgação
Adryelson na Seleção
Com Adryelson, o Botafogo voltou a ter um zagueiro convocado para a Seleção pela primeira vez desde 2013 - o último havia sido Dória.
- É uma convocação merecida, ele vem jogando bem. Ele e o Marlon Freitas vem se destacando. Foi merecida. Realmente chegou a hora dele. É um zagueiro que tem potencial para melhorar seu jogo de construção. Ele já faz passes que quebram as linhas, mas pode construir ele mesmo conduzindo a bola. Tem qualidade para isso. Talvez seja parte da ideia do jogador que tenha limitado esse jogo, mas ele tem capacidade para isso.
O camisa 34 seria titular no time de 1995? Para Gottardo, em uma resposta bem humorada, o zagueiro da equipe atual ainda não substituiria nem ele nem Gonçalves, seu parceiro de zaga.
- Ele tem condições de ser titular em qualquer clube, qualquer time. Naquele time de 95, eu ainda acredito, humildemente, que ele não poderia substituir nem a mim nem o Gonçalves (risos). Porque a gente tem um estilo de jogo diferente do dele. Mas ele é um grande zagueiro - analisou.
- Eu não posso afirmar que é o melhor zagueiro (do Botafogo) desde 95. Mas ele com certeza já conseguiu um espaço no coração do torcedor - completou.
Adryelson comemora vitória do Botafogo sobre o Internacional — Foto: Vitor Silva / Botafogo
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Mais declarações de Gottardo
Passagem de Bruno Lage
- O Bruno chegou já com muitas informações. Acredito que pela amizade, o relacionamento com o Luís Castro. E depois teve todo o relatório, feedback do Lucio Flavio e do Caçapa também. Ele chegou em uma situação bem diferente do que qualquer outro treinador do Brasil chegaria. Chegou em um ambiente bom, jogando bem, com uma “infinidade” de relatórios de ideias. conceitos, enfim, como funcionava toda a máquina e engrenagem.
- Máquina bem azeitada, na verdade. Infelizmente, as ideias e o princípio de jogo dele não encaixaram. No meu modo de ver, ele perdeu qualidade de jogo e também a gestão. Ficou a desejar. Isso de fora ne, falando de fora. Porque eu não estou no ambiente e não tenho informação de nenhum atleta para eu estar expondo essa minha ideia.
Bastidores de 1995
- O time do Botafogo já tinha um padrão, uma linha de jogo parecida com os dias de hoje. A equipe jogava mais compacta do que outros na época. Não tão compacta quanto os dias de hoje. Fazia transições até numa velocidade boa, muitas bolas invertidas eram feitas toda hora, de um lado pro outro, pelo meio de campo, pela defesa. Os nossos atacantes já tinham pressão mais forte já na perda da bola também. O exemplo mais claro disso é o Donizete Pantera, incansável, muito bem. A gente tinha um modelo com variações táticas, do 4-3-3 para o 4-4-2.
- Paulo Autuori tinha relação ótima com o grupo. Sabia muito bem como usar os atletas. Ambiente bom. Tínhamos dificuldade financeira, chegamos até a final com quatro meses de salários atrasados. Mas a gente sabia da importância da competição, da necessidade de vencer também. Não tem nada parecido com o que acontece hoje. Bem diferente, totalmente.
- O que o Botafogo fez em 95 foi surreal e acho que ninguém no Brasil teria feito ou alguém fará algo parecido. Botafogo de 95 é um time de personalidade. Você tinha jogadores aguerridos, jogadores bem proativos, personalidade também. Respeito, a hierarquia também bem definida. Nada de atos de indisciplina, estava tudo controlado.
- A gente tinha uma camisa como o Botafogo tem, uma camisa forte. Mas a gente tinha um grupo, não tinha estrutura, mas um grupo. Quando eu me refiro a um grupo eu falo comissão técnica toda e o staff, pessoal de departamento médico, rouparia, da logística. Tinha lá o Baixinho, que fazia o trabalho lá pesado do transporte. Enfim, essa coisa toda. Mínima ne... A gente às vezes ajudava o pessoal que precisava mais. E assim foi. Foi um ano maravilhoso.
Como era aquele grupo e quais os pontos mais fortes do time para chegar àquela conquista?
- Botafogo não teve instabilidade em 1995. A estreia foi fantástica, lá no Barradão, contra o Vitória, jogamos muito bem. Foi uma equipe que se formou duas, três semanas antes da competição, a gente não tinha o campo de treinamento ainda. Treinava num espaço pequeno porque o Caio Martins estava em obra, o gramado em reforma. Estava retornando do empréstimo pro São Paulo. Fui conhecer o elenco ali também perto da competição. Para não dizer que não tivemos instabilidade, foi apenas um jogo que não jogou bem contra o Bragantino. Todos os outros jogos o time jogou bem.
Você conversa com companheiros de 1995 sobre a temporada do time?
Eu converso com alguns sim. Não todos, porque é um pouco mais difícil. E falamos sobre a maneira do time atuar, do momento que o Botafogo hesitou e perdeu alguns pontos preciosos. Da forma que ocorreu. E todos ele, sem exceção, todos torcendo por essa conquista. Todos torcendo pelo Botafogo.
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Fonte: ge/Por Jéssica Maldonado — Rio de Janeiro
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