Conseguir eliminar o Palmeiras, um adversário infernal, é maior do que a pane no já lendário jogo
Palmeiras 2 x 2 Botafogo | Melhores momentos | Oitavas de final | Libertadores 2024
Ganhar uma Libertadores da América pela primeira vez: está aí um dos maiores prazeres que a humanidade já criou. Se você experimentou essa sensação, talvez olhe para os botafoguenses, vagando insones pelas ruas nesta quinta-feira, cambaleando em um misto de perplexidade e alívio, e sinta até um pouquinho de inveja. Porque pode acontecer com eles.
Uma eternidade (cinco jogos) ainda separa o Botafogo de seu primeiro título de Libertadores. O já lendário empate por 2 a 2 com o Palmeiras, nesta quarta, em São Paulo, não foi uma partida de campeão. Mas foi aquela partida que, em caso de título, será para sempre lembrada. Será aquela partida que fará um torcedor, em mesas de bar, reuniões de família, almoços de trabalho, murmurar: “Foi lá que a gente ganhou” – para outro torcedor anuir: “Foi lá, foi lá”.
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Jogadores do Botafogo comemoram classificação contra o Palmeiras — Foto: Ettore Chiereguini/AGIF
O combo formado pelos dois gols do Palmeiras, pelo gol anulado de Gustavo Gómez e pela bola no travessão de Gabriel Menino pode se tornar, para o botafoguense, aquilo que a chance perdida por Diego Souza, pelo Vasco, se tornou para os corintianos em 2012; ou aquela perna esticada de Victor contra o Tijuana para os atleticanos em 2013; ou, para os colorados, aquela bola, contra a LDU, que bateu na trave, voltou nas costas de Clemer e saiu, em vez de entrar, em 2006. Uma Libertadores sem instantes de pavor não é uma Libertadores. Sobreviver faz parte da diversão.
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Eu havia escrito aqui neste blog, na semana passada, que o Botafogo decidiria contra o Palmeiras se estava pronto para ser campeão. A impressionante reação alviverde no fim da partida, com dois gols feitos, outro anulado com ajuda do VAR e uma bola no travessão no último lance, deixa a impressão de que o Botafogo fraquejou – como havia fraquejado no Brasileirão do ano passado.
Mas conseguir eliminar o time de Abel Ferreira, mesmo que longe de seu melhor momento, me parece um fato mais importante do que o terror vivido nos minutos finais. O Palmeiras é o maior fenômeno de competitividade do futebol brasileiro nos últimos anos. É um inferno enfrentá-lo. Para superá-lo, é preciso ter maturidade, paciência, equilíbrio. Pode ter faltado isso ao Botafogo na reta final da segunda partida, mas não faltou na média do confronto. A classificação foi justa.
Botafogo comemora gol contra o Palmeiras — Foto: Vitor Silva/Botafogo
No Allianz Parque, o Botafogo viveu diferentes ciclos – tão típicos do futebol, o esporte que melhor simula os vaivéns da vida. Começou jogando leve, depois experimentou tempos mais pesados, então renasceu para retomar o controle do duelo, pular na frente do placar, encaminhar a classificação. Jogou bem quando pôde, jogou feio quando foi necessário, fez os gols quando era preciso. Mas parou de jogar contra um adversário que não permite esse luxo. Quase pagou muito caro.
O Botafogo, com um time ainda em formação, tem futebol para ganhar a Libertadores. Não vejo alguém jogando melhor. O caminho até lá é longo: pode ter São Paulo nas quartas de final, Flamengo nas semifinais, River Plate, Atlético-MG ou Fluminense na decisão. Só pedreira.
Mas se conseguir, se experimentar a delícia de ganhar uma Libertadores pela primeira vez, será preciso pagar um tributo ao jogo desta quarta-feira, 21 de agosto de 2024. Porque terá sido lá, na sobrevivência ao terror dos minutos finais, que o título nasceu.
Veja a coletiva de Arthur Jorge e Savarino, do Botafogo, após classificação contra o Palmeiras (https://ge.globo.com/video/veja-a-coletiva-de-arthur-jorge-e-savarino-do-botafogo-apos-classificacao-contra-o-palmeiras-12843438.ghtml)
Por Alexandre Alliatti
Jornalista e escritor – vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura (2023)
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