Com mais de 20 gols pelo Corinthians, volante confia na escolha que fez
ao recuar, admite nervosismo em campo e explica: 'Sei o caminho dos títulos'
A distribuição dos gols do Botafogo em 2012 tem sido pouco democrática.
Dos jogadores de linha considerados titulares, em 20 partidas, cinco não
balançaram as redes. Dois compõem o meio de campo de Oswaldo de Oliveira.
Andrezinho tem batido na trave e sabe que o jejum vai acabar mais cedo ou mais
tarde. O outro mudou definitivamente de característica e jamais ronda a área
adversária. Marcelo Mattos, o homem que fez mais de 20 gols pelo Corinthians,
não sente falta dos holofotes. Prefere se doar ao time. E, de tão convicto,
defende a eficiência do pragmatismo como defesa das atuações pouco empolgantes
do Glorioso, que encara o Bangu, na semifinal da Taça Rio, neste sábado, a
partir das 18h30m, com a pressão do favoritismo.
Em análise da movimentação do camisa 5, é simples notar que ele ocupa o
terço central do campo em 75% do tempo. Girando entre a cobertura dos laterais,
a proteção à zaga e a saída de bola, percorreu 9,5km na partida contra o
Guarani, na última quarta-feira, pela Copa do Brasil.
- Sempre fui primeiro volante, mas em muitas oportunidades fui para a
área tentar o gol de cabeça. E assumi a condição de batedor de pênaltis do
Corinthians, em 2005. Gostava de arriscar meus chutes de longes também. Tudo
isso foi mudando e, no Botafogo, é o Renato que faz essa função de avançar
mais. Evito subir porque temos laterais que apoiam muito. Temos que sempre
quatro atrás, quando estamos atacando. Parte dessa consciência tática partiu de
mim, do que eu vivi no futebol. Não faço questão de aparecer. O importante é a
equipe vencer. Não adianta eu querer partir para o ataque e perdermos. Se todos
cumprirem seus papéis, o artilheiro, o goleiro ou o Marcelo Mattos vão ter o
mesmo título no final - afirmou.
A maneira de ser casa com a nova definição em campo. De fala mansa e
ponderado, o jogador, nascido na pequena Mariópolis, de cinco mil habitantes,
no interior paulista, se acostumou a escutar mais do que falar. Algo que, aos
28 anos, não segue mais ao pé da letra, diante do conhecimento adquirido. Ele
confessa, no entanto, que por vezes extrapola na hora de cobrar dos
companheiros e trata treino como jogo, e jogo como uma verdadeira batalha.
- Tenho essa característica, sim, e, quando não sinto isso, fico até
preocupado. É tudo da vontade de sair vitorioso. Passo do pontos com jogadores
e arbitragem, mas já me controlo com isso e nunca discuti com ninguém mais
fortemente. Quero fazer o melhor, que saia perfeito já no treino. Cobro muito
de mim, principalmente. E acho que todos devem fazer o mesmo e manter o mesmo nível
de esforço. O pessoal fala até que em qualquer treininho eu chego firme, mas
nunca machuquei um companheiro. Se fazem em mim, eu levanto e sigo. É igual ao
jogo. Até minha esposa (Maria Leide) diz que esse exagero de achar que dava
para ter feito mais ou melhor é ruim e pede para eu relaxar - conta Mattos, que
já chegou ao ponto de chorar após uma derrota do Botafogo e de reclamar de
substituição, no calor da partida.
A confiança em seu desempenho para de treinador para treinador. A não
ser Mano Menezes, que o barrou em 2010 e o fez sair do Timão, em todos os
outros casos o volante gozava de prestígio e quase sempre da titularidade. Em
três meses e meio, já conquistou Oswaldo de Oliveira.
- Marcelo é muito especial, realmente não aparece muito e não participa
dos gols. Pode passar despercebido para que não enxerga o jogo como eu tenho
que enxergar, mas tem uma importância grande na equipe. Tenho estimulado que
ele apareça mais no ataque. Mas preza muito a responsabilidade dele. Como
estamos num início de trabalho, acredito que terei respostas positivas em breve
e verei um rendimento ainda mais completo - afirmou.
Exemplo fresco da
Inglaterra
Embora deixe claro que sonha com uma sequência de goleadas, como ensaiou
engrenar o Alvinegro de Caio Júnior, no Brasileiro de 2011, o camisa 5 não
concorda com as críticas quanto à eventual falta de criatividade do time. O
argumento é o cenário do futebol atual, com um exemplo bem fresco e de alto
nível, oriundo da semifinal da Liga dos Campeões.
- Sempre temos espaço para melhorar, mas não perdemos até agora. Então,
algo diferente nossa equipe está fazendo. Torcedor não deixa de estar certo,
paga para ver um espetáculo, sempre tem a esperança renovada e isso não
acontece. Se formos pegar o Barcelona x Chelsea dessa semana (quarta, em
Londres), quem ganhou o jogo? O Chelsea. Deu espetáculo? Eu não vi nenhum.
Marcou, foi obediente e pode tirar o Barcelona e ser campeão desse jeito. Será
que os torcedores lá estão tão tristes? No último Brasileiro, jogamos muito bem
e não fomos nem à Libertadores. Quando apertou, não soubemos nos defender -
rebate.
André Casado/ GE
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