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domingo, 8 de setembro de 2013

'Vitinho saiu na hora completamente errada', diz presidente do Botafogo


Em entrevista ao 'Esporte Espetacular', Mauricio Assumpção critica os
interesses de quem negociou. Agente afirma que decisão foi do jogador





Revelação do Campeonato Carioca, Vitinho caminhava a passos largos para ganhar este título também no Brasileirão. Mas não deu tempo. As grandes atuações numa ascensão meteórico dentro da competição fizeram o atacante de 19 anos, com apenas um de profissional, trocar o Botafogo pelo CSKA, clube da Rússia que pagou os R$ 32,5 milhões estipulados na multa rescisória (de 10 milhões de euros), numa transferência que pegou muita gente de surpresa e causou revolta na torcida do clube carioca – ele estreou no novo time neste domingo, fazendo um dos gols da vitória por 3 a 0 no amistoso contra o Znamya Truda.

Em entrevista exclusiva ao "Esporte Espetacular", o presidente do Botafogo, Mauricio Assumpção, falou pela primeira vez sobre a saída da joia alvinegra. Não critica a decisão de Vitinho, mas sim de quem se preocupa mais com dinheiro do que com a carreira do jogador.

Mauricio Assunção acredita que
 Vitinho saiu do
Brasil na hora errada
(Foto: Gustavo Miranda / O Globo)
– Os grandes clubes do mundo que hoje são compradores são de magnatas russos ou de pessoas do mundo árabe. Obviamente, quando esse pessoal vem com apetite fica difícil competir. Claro que o interesse é obviamente colocar dinheiro no bolso. São poucos os que têm a visão de olhar a carreira do jogador a médio e longo prazo, porque eles não sabem se o menino vai vingar, uma vez que são talentos muito novos. Portanto, são mal orientados, saem na primeira grande oferta que tiverem, mas depois acabam se arrependendo.
Na minha opinião, saiu na hora completamente errada. O que ele vai se tornar no futuro, tenho alguns receios sobre isso, é esperar para ver."
Maurício Assumpção,
presidente do Botafogo

Apesar de todo o bom futebol que Vitinho apresentou no Botafogo nos últimos três meses, deixando o Alvinegro com 41 partidas, 11 gols e um título estadual, Assumpção diz que não há garantias de que ele vá se tornar, de fato, um grande craque. Mas lamenta a saída.

– O que posso dizer é que lamento muito que ele tenha saído. Na minha opinião, saiu na hora completamente errada. O que ele vai se tornar no futuro, tenho alguns receios sobre isso, é esperar para ver.

Diretor executivo da Traffic – empresa responsável por agenciar Vitinho –, Fernando Gonçalves diz que a decisão final foi do jogador, mas que realmente as condições financeiras e a estrutura chamaram a atenção dele.

– Chegou a hora que ele, com o pai e a esposa, falou "não tem como resistir a isso. É a minha independência". Foi aí que a decisão foi tomada. Foi interessante para nós, uma experiência muito rica, porque a nossa missão era prestar o melhor serviço pra ele, mostrar o mapa das possibilidades. Ele foi amadurecendo a decisão sabendo de todos os riscos que corria, todas as perdas que teria deixando o Brasil, todos os riscos que vai correr lá. Apesar de novo, é um menino muito consciente, tem uma noção clara de todo o processo.

Coordenador técnico da Seleção, Carlos Alberto Parreira tem como base a sua longa experiência internacional para entender como inevitável essas transferências cada vez mais cedo para o exterior. E destaca que a prática é ruim para o futebol brasileiro.

– É uma realidade dura, crua, difícil, mas que não tem como ser contornada. Se o clube negar qualquer tipo de aproximação, eles vão em cima do pai do jogador. Levam o pai, a família para morar na Espanha, Alemanha, Inglaterra para todos trabalhares. Lá eles dão oportunidade pra que o jogador possa jogar futebol. É complicado.

Altas mutas não impedem transferências

Na última janela partiram Neymar (Santos), Bernard (Atlético-MG), Fernando (Grêmio), Wellington Nem (Fluminense) e Vitinho (Botafogo). Para tentar segurar os jogadores no Brasil, os clubes colocam multas rescisórias astronômicas nos contratos de suas revelações quando ainda são adolescentes, mas prática não impede a transferências. Segundo Marcos Motta, advogado especializado em direito esportivo, a Fifa pode reduzir o valor.

– Às vezes vemos os clubes anunciando multas de R$ 150 milhões, até R$ 250 milhões, mas elas são muito mais para agradar ao torcedor. Ou para colocar o clube e o jogador numa manchete de jornal, pois não possuem nenhuma efetividade. Tem sempre que levar em consideração o salário do atleta antes de estipular uma multa que passe a ser absolutamente inaplicável. Vale no papel, mas não na prática, pois em caso de transferência internacional a Fifa tem o poder de diminuir essa multa e autorizar a venda do atleta – explicou o advogado.

Vitinho treina no CSKA (Foto: Reprodução / Site oficial do Cska)
O caso de Vitinho foi emblemático. O CSKA Moscou depositou na conta do Botafogo os R$ 32,5 milhões referentes ao valor da multa, levando a promessa embora. O Alvinegro ainda tentou aumentar o salário do atacante e subir o valor da multa com um novo contrato, mas como a oferta salarial foi alta, não houve negociação com o próprio jogador.

O clube não teve escolha. De acordo com a Lei Pelé, o valor da multa para transferências nacionais tem um limite de até duas mil vezes o salário médio do jogador à época da rescisão. Para transferências internacionais, não há um teto. Os exemplos mais marcantes atualmente são do meia Robert, do Fluminense, com uma multa de R$ 190 milhões, e do atacante Gabigol, do Santos, de R$ 130 milhões. Ambos têm apenas 17 anos.

Por GLOBOESPORTE.COM Rio de Janeiro (RJ)

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