Presidente afirma que 100% da receita do Botafogo está bloqueada e que a salvação financeira depende do Ato Trabalhista e do Proforte
Depois da demonstração pública de insatisfação dos jogadores com os atrasos de salários, o presidente do Botafogo, Maurício Assumpção, comentou a situação e deu um panorama pessimista a curto prazo para conseguir equacionar as dívidas. De acordo com o mandatário, o clube deve o mês de fevereiro (direito de imagem e CLT) e a premiação da classificação para fase de grupos da Libertadores, mas não terá como pagar se continuar com 100% de sua receita bloqueada.
Assumpção afirmou que entende perfeitamente o ato dos jogadores, mas que não pode fazer qualquer tipo de promessa neste momento. Ele avisou que o problema em breve vai atingir também os outros funcionários do Alvinegro.
- Não vou chamar de greve, mas esse ato dos jogadores é legítimo. Nós entendemos perfeitamente isso. Não é que eu não queira pagar, não tenho como pagar porque 100% das minhas receitas estão bloqueadas. Como que eu pago? A realidade é essa. Não posso prometer nada. Os jogadores entendem, mas estão no direito deles. Hoje são os jogadores, mas daqui a 20 dias serão os aproximadamente 400 funcionários do Botafogo que estarão nesta situação. Não vão receber os seus salários. É uma situação que aconteceu no ano passado, mas tínhamos receitas liberadas. Este ano a situação é muito ruim. Não posso nem prometer que vão receber nem caso se classifiquem. A premiação entra na conta e é bloqueada na hora. É a penhora online.
Diretoria do Botafogo reunida durante o treino do elenco no Engenhão (Foto: Fred Huber) |
Hoje são os jogadores, mas daqui a 20 dias serão os aproximadamente 400 funcionários do Botafogo que estarão nesta situação"
Assumpção
- Se o Ato Trabalhista e o Proforte não saírem, não é só o Botafogo que vai ficar nessa situação não. Tem times que estão sem pagar direito de imagem aos jogadores há um ano. Por que esta ação dos jogadores só aconteceu no Botafogo então? Porque temos um grupo diferenciado, já mostraram isso ano passado. Apesar disso, fomos campeões cariocas. Eles têm responsabilidade. Na quarta talvez não consiga ver o jogo porque vou para Brasília para mais uma reunião para falar a verdade sobre o futebol brasileiro. Ninguém aguenta viver com um passivo desses. Desde o ano passado tenho sido um dos principais defensores do Proforte, ido a reuniões... Disse que os clubes vão enfrentar uma situação financeira muito complicada. Nós temos 100% de nossas receitas bloqueadas, e não existe como uma empresa se reerguer assim. Só gera novas dívidas.
Em reunião do Conselho Deliberativo na última terça-feira, Maurício Assumpção foi muito questionado sobre o aumento da dívida do Botafogo. O presidente tentou explicar os números e negou que o rombo alvinegro tenha passado de R$ 280 milhões para R$ 700 milhões em sua gestão.
- Tenho ouvido isso de forma leviana, o que não é verdade. Provei isso na reunião do Conselho, quando as contas foram aprovadas com mais de 70% das pessoas presentes. A dívida de R$ 280 milhões foi para R$ 370 milhões por causa de atualização monetária. O valor de R$ 700 milhões não é a dívida. Os R$ 235 milhões são obrigações contraídas que temos lastro para pagar. Então, a dívida na verdade é de aproximadamente R$ 496 milhões. A dívida de R$ 120 milhões é o que fizemos nestes cinco anos, mas também não é verdade porque pagamos R$ 96 milhões em dívidas.
Assumpção disse que não teme que este problema financeiro vá prejudicar o rendimento dos jogadores em campo, ainda mais diante da importância da partida contra o Unión Española, quarta-feira, no Maracanã, pela Libertadores. A presença da torcida, que deve comparecer em grande número, aumenta a confiança.
Tem times que estão sem pagar direito de imagem aos jogadores há um ano. Por que esta ação dos jogadores só aconteceu no Botafogo então? Porque temos um grupo diferenciado, já mostraram isso ano passado"
Assumpção
- O comprometimento deles é com a torcida, eles estão convocando para o jogo. Sabem o quanto isso é importante, o quanto precisamos dos torcedores. Temos batido recordes e recordes. Essa história de que a torcida do Botafogo não vai ao estádio acabou, temos levado mais gente do que clubes com torcidas mais numerosas. O comprometimento não é comigo, é com a nossa torcida, com o Botafogo. Por isso que eles são diferenciados.
Outro aspecto abordado pelo presidente foi a busca por reforços diante deste panorama de crise financeira. O clube tenta trazer, por exemplo, os atacantes Emerson Sheik e Fabrício Carvalho e o meia Vitinho. Assumpção garantiu que as tentativas vão continuar.
- A busca por reforços independe desta questão, ela tem mais a ver com o nosso orçamento do futebol. Se tudo que imaginamos que vai acontecer for rápido, o Proforte e o Ato trabalhista... No meio do ano temos jogadores com contrato terminando e que abrirá uma brecha no orçamento.
Treino de domingo cancelado
A paciência dos jogadores acabou depois que a diretoria prometeu quitar os salários antes do jogo desta quarta-feira, contra o Unión Española. No entanto, depois veio o comunicado que não há mais previsão para o pagamento. Em conversas internas, os jogadores sentem-se de certa forma abandonados pela diretoria, que estaria adotando discursos evasivos ao falar sobre o problema. Neste sábado, o grupo protestou antes de começar o treino. O elenco ficou dez minutos sentado antes de a atividade ser iniciada. No domingo, o elenco resolveu não treinar e a atividade foi cancelada.
Por Fred HuberRio de Janeiro
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