Maurício Assumpção comemora sua vitória na eleição presidencial do Botafogo, em novembro de 2008. Ele deixa o cargo na terça-feira Foto: Alexandre Cassiano/27.11.2008 |
O Botafogo pode sofrer amanhã o segundo rebaixamento à Série B de sua história. Um momento doloroso para seus torcedores. Um dos mais ilustres entre milhões, o humorista Helio de La Peña, a pedido do Jogo Extra, manifesta todo o sofrimento dos alvinegros em uma carta aberta ao presidente Maurício Assumpção, que está de saída do clube, pela porta dos fundos.
Na terça-feira, quando o rebaixamento pode estar consumado, será realizada a eleição presidencial no clube, quando o sucessor de Assumpção será escolhido para administrar um clube afogado em dívidas e sem recursos para investir. Em sua carta, De La Peña faz um resumo da passagem de Assumpção pelo clube, e declara seu amor imortal pelo Botafogo.
“(Des)prezado Presidente
Há seis anos você chegou ao Botafogo sem que soubéssemos direito quem era. Sua imagem, a de alguém que não vinha dos meios futebolísticos, era um bom sinal. Um dentista que poderia dar um trato no sorriso alvinegro. Sua primeira gestão foi elogiada por torcedores e pela imprensa esportiva. O Botafogo começou a despontar como um clube sério. E você, um dirigente que estava pondo a casa em ordem.
Veio o segundo mandato. Eleito unanimemente, teve a chance de escrever seu nome nas páginas mais gloriosas. Contratou Seedorf, uma estrela internacional, e elevou assim a auto estima da torcida. Voltávamos a ter um ídolo e a dar inveja aos rivais. Sabíamos que sozinho ele não poderia resolver a parada. Mas tínhamos um bom elenco ao seu redor e os resultados começaram a aparecer. Infelizmente, o sonho durou pouco.
Perdemos o Engenhão, perdemos receita, a coisa desandou. Aos poucos o time começou a ser desmontado. Vitinho foi o caso exemplar. No final do Brasileirão 2013, víamos Jefferson no gol, Seedorf lá na frente e mais nada. De favoritos, passamos a rezar por uma vaga na Libertadores.
Começamos este ano disputando o mais importante torneio da América do Sul, o que não acontecia havia 17 anos. De que maneira? Com um técnico que nunca comandara a equipe principal e um elenco bem abaixo do que tínhamos seis meses antes – Seedorf voltou para a Europa. O resultado não podia ser outro.
Aliás, 2014 é um ano para se esquecer. O pior desempenho num Campeonato Carioca neste milênio. Dívidas não honradas, jogadores medíocres contratados, salários não pagos, derrotas sucessivas. Até que você resolveu dar um basta na indisciplina. Demitiu quatro titulares e assumiu em público a responsabilidade das consequências do ato. Se mereciam, não vem ao caso. O fato é que o momento foi o mais inadequado possível.
Já não estávamos bem no campeonato e só pioramos. Na verdade, você deu um basta na nossa esperança.
No instante em que escrevo, acumulamos 9 vitórias em 35 jogos! Para escapar da segunda divisão, precisamos de 3 vitórias em 3 jogos! Haja margem de erro... E isso não basta, dependemos de uma milagrosa combinação de outros resultados. O ideal é trocar a comissão técnica por uma comissão de matemáticos e rezadeiras.
Mas a torcida pode dormir tranquila. Você assume a responsabilidade da queda para a série B. O que significa isso? Se alguém vier nos sacanear, mandamos ligar pra você?
Dia 25 de novembro teremos eleições no clube. No dia seguinte alguém assumirá esta cadeira. E você volta para seu consultório de dentista sem responder por nenhum dos atos irresponsáveis. Ficamos nós, torcedores, arrasados após a passagem de um tsunami. Sem time, sem dinheiro, sem estádio, sem série A. Vai ser duro sair deste buraco.
Mas vamos resistir. Vamos juntar nossos cacos, levantar a cabeça e olhar para o futuro. Brigando para que um dia voltemos a ver lá na frente o Botafogo de craques como Garrincha, Nilton Santos, Jairzinho, Paulo Cezar Caju, entre tantos outros.
E ninguém cala...”
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