Responsável pelo carro-chefe do clube, Gustavo Noronha esmiuça primeiros meses de trabalho com "onipresente" Anderson Barros (da queda na Copa do Brasil ao título carioca) e os planos para futuro
Em 6 de fevereiro de 2018, uma "bomba atômica" foi detonada no planejamento alvinegro para a temporada. Esta foi a analogia usada por Gustavo Noronha, vice de futebol do Botafogo, para tratar a eliminação precoce da equipe na primeira fase da Copa do Brasil, diante da Aparecidense.
Dentro da sala onde recolheu os cacos da explosão ao lado de Anderson Barros, em seu escritório de advocacia no Centro do Rio de Janeiro, Noronha recebeu o GloboEsporte.com na última terça-feira para uma rara entrevista. Tanto ele, que passou de diretor jurídico a vice de futebol em dezembro, quanto o gerente de futebol que substituiu Antônio Lopes preferem evitar as câmeras e microfones.
Sala onde foi discutida a primeira crise do novo departamento de futebol (Foto: GloboEsporte.com)
Em quase duas horas de bate-papo, falou desde a "bomba atômica" à explosão de alegria no último dia 8, quando o clube conquistou seu 21º título carioca com só quatro meses do novo departamento de futebol. Uma injeção de confiança na diretoria, jogadores e torcida.
Também em pauta, temas como a adaptação à nova função; o trabalho ao lado do "onipresente" Anderson Barros; a primeira crise; a ambição do Botafogo no Campeonato Brasileiro; a busca por reforços "do meio para frente"; a renovação de Carli; os planos para o ídolo Jefferson pós-aposentadoria; a ideia de jogo(s) de despedida para Loco Abreu...
Entre os assuntos, a chegada de Alberto Valentim, fundamental para a conquista do Carioca, e a saída de Felipe Conceição, treinador escolhido em janeiro, também foram abordadas de forma destacada. E ele garante: Valentim não foi uma "indicação" de Cuca.
Entrevista com vice de futebol durou quase duas horas em seu escritório (Foto: Fred Gomes)
Confira a entrevista na íntegra:
GloboEsporte.com: Esse empate com o Palmeiras é um termômetro de que o Brasileiro é possível?
Gustavo Noronha: A partida foi uma grande demonstração de que não entramos no campeonato a passeio. A gente com três ou quatro desfalques, e o jogo foi igual. Em pontos corridos precisamos de elenco e estamos fortalecendo o nosso, com uma espinha dorsal sólida, excelentes valores da base e algumas contratações.
Alguns ajustes nos ponteiros são sempre necessários. Temos as nossas limitações orçamentárias e a nossa margem de erro é muito pequena, mas o trabalho está sendo muito bem feito, liderado por profissionais de ponta em nossa comissão técnica. A gente realmente acredita que pode chegar e vai brigar por isso. Mas, como o Alberto (Valentim, treinador) bem disse em uma entrevista, Brasileiro é jogo a jogo.
Que ajustes nos ponteiros são esses? Contratações por exemplo?
Acho que é tudo. Passa muito pelo encaixe dos atletas na equipe. Muitas vezes você vê elencos em que uma mudança, às vezes de um único atleta, faz uma diferença gigantesca porque encaixou no time. E acredito muito no trabalho de cada um dentro do todo. As coisas não acontecem por acaso.
Essa semana fizemos um vídeo em homenagem à base do clube e enviamos a todos os profissionais por meio do (Manoel) Renha (diretor da base), que faz um grande trabalho. Esse é um fator. Você pega o Gustavo (Bochecha) e vê o quanto ele rendeu ontem (contra o Palmeiras), é um jogador que está em casa. A gente sabe por que não usou, sabe por que vai usar, sabe por que da confiança em usá-lo em um jogo tão importante. A torcida às vezes não sabe.
Por exemplo, você pega os pênaltis contra o Vasco, e, às vezes, as pessoas reputam: "Foi um brilho do momento". Não foi um brilho do momento, o Gatito é extremamente dedicado e estudioso. Estava em amistoso com a seleção paraguaia e ligou para o Flávio (Tenius, preparador de goleiros) para conversar com ele sobre a batida de pênalti do cara dos Estados Unidos. Em um amistoso. Isso faz enorme diferença em um profissional. É uma questão de preparo e postura.
Essas pequenas coisas fazem diferença, e vejo dedicação e empenho em nossos profissionais. Em busca de aperfeiçoamento, respaldados por grandes profissionais e por uma excelente estrutura que montamos, com equipamentos de ponta e tudo o que de mais moderno há no mercado para que se preparem com excelência e em alto rendimento. Eu não acredito em sorte.
A postura do goleiro fez diferença naquele exemplo. É uma posição a menos das 11, é um 1/11 dos nossos problemas resolvidos. Lateral-direito encaixou, a zaga encaixou, e vamos vendo passo a passo a equipe toda. Quando o encaixe acontece, mesmo em um elenco que não foi montado com o maior investimento do Brasil, eu acho que você pode disputar. Acho mesmo, e não é retórica.
Aí vejo: "Ah, parece que bebeu, é sonhador, parece que vive no mundo da lua". Primeiro que não vejo o fato de ser sonhador como uma crítica, pois quem não sonha, não realiza. Segundo, não vejo a gente sonhando sem fundamento. Acho de fato que aplicando em cada uma das posições o profissionalismo como deve ser, você vai conseguir melhorar. E, sendo orgânica, essa melhoria vira uma progressão geométrica. Resolve uma questão e passa a ter uma a menos à frente.
Noronha substituiu Cacá Azeredo como vice de futebol (Foto: Gustavo Rotstein)
Na transição de diretor jurídico para vice de futebol, sua rotina mudou muito? Mulher e filha reclamam bastante?
Mudou pouco minha rotina, porque a vinda do Anderson (Barros) foi muito importante. Com a minha personalidade, eu não conseguiria tocar o departamento se não tivesse um executivo à frente. Nas mínimas questões que precisamos resolver, desde se vai concentrar ou não, ou se a premiação vai ser paga da maneira A ou B... Ele resolve tudo.
Claro que ele conversa comigo, me alerta quando a gente precisa ou não tomar alguma decisão, quando precisamos ou não envolver a diretoria como um todo no processo. A questão disciplinar está muito bem resolvida, e são mínimos os problemas. O grupo é espetacular, de atletas profissionais e muito comprometidos.
Tanto o Anderson quanto o Alberto têm liderança importante sobre o elenco, e os profissionais têm consciência de seus papéis. Isso tem me tirado encargos do dia a dia. O que mais mudou para mim foi o peso da responsabilidade mesmo. Isso eu sinto sim, e o desgaste é muito mais emocional e afeta de algum modo a vida pessoal e profissional. Isso não tem jeito.
Meus sócios são amigos, sabem da importância do Botafogo para mim, e talvez tenham paciência maior do que deveriam ter. A família também, talvez com paciência um pouco menor (risos).
Normal, pois ela fica mais sacrificada, pelo grau de stress, agenda de final de semana... Só nessas finais do estadual foram ao menos duas viagens interrompidas, uma delas agendada há um ano, e me despenquei para ver o jogo. Mas as coisas estão indo bem, muito em função da competência e da personalidade do Anderson.
E como tem sido lidar com uma maior responsabilidade? O "WhatsApp" passou a tocar mais?
A responsabilidade muda, e o acho que o peso do todo também. Você passa a se sentir mais cobrado pelas decisões, embora a gente tenha no Botafogo um regime mais colegiado. As decisões não são minhas, e em última análise as decisões são do presidente, que é quem tem a caneta, embora ele nos ouça muito. A relação com o Nelson (Mufarrej, presidente) é de confiança mútua.
A diretoria participa muito das decisões estratégicas, e eu tenho uma premissa muito clara que é respeitar os profissionais que contratamos. Aqui no meu escritório, por exemplo, tenho mais de 50 advogados na unidade do Rio de Janeiro, todos muito competentes. Se eu mudar o tempo todo o que eles decidem no dia a dia da função de cada um, tem algo errado, porque estão aqui conosco justamente pela confiança que temos na capacidade técnica de cada um.
Ligações e "WhatsApp" aumentaram em nova função no clube (Foto: Vitor Silva / SSpress / Botafogo)
No Botafogo é a mesma coisa. Então, respeito muito os processos. Se eu tenho um gerente de futebol em quem confio e há uma decisão que compete a ele, sob o prisma técnico eu preciso ouvi-lo e cuidar para que a parte técnica da sua decisão prevaleça, até porque ele estudou e se preparou a vida inteira para tomar aquela decisão.
Posso, com bom senso, discordar de alguma premissa, de algo mais no planejamento. Ofertar um outro ponto de vista para ser ponderado e levado em consideração, mas não posso desqualificar a posição técnica. E isso vale para o treinador, para todo o departamento técnico. Tem dirigente que discorda até do tratamento médico sem ter diploma de medicina (risos). Aí as coisas não podem dar certo.
Tenho que confiar nos especialistas da área, porque a gente estudou muito antes de contratar o Anderson, o Valentim, e todos os outros profissionais. Nossa comissão técnica é espetacular. Realmente são profissionais de ponta. Preparador de goleiros, pessoal da análise, preparação física, fisiologia, fisioterapia, departamento médico, massagistas... São tantos bons profissionais para fazer a coisa funcionar. São super dedicados, super responsáveis.
Há uma ciência naquilo que fazem, e isso eu respeito muito. Eu não vou influenciar no trabalho de um fisiologista, por exemplo. E isso também no futebol. Claro que você pode dar uma opinião por ser torcedor e achar que conhece alguma coisa de futebol. Mas sei dos meus limites e o primeiro deles é o respeito aos nossos profissionais e ao preparo de suas carreiras para a tomada técnica de decisões. Às vezes você vai estar certo, e em outras, não.
Recentemente eu queria trazer um jogador, e o Valentim disse: "Não, pelo amor de Deus, esse não". Para mim, joga muito, mas só estou vendo a parte do talento. Aí o cara faz uma cagada, entrega a rapadura (risos)... Ele (Valentim) ficou na dele, mas eu disse: "Viu aquele cara? Você estava certo".
Mas os palpiteiros e corneteiros aumentaram?
Por incrível que pareça, nem tanto. Temos o grupo político "Mais Botafogo", que é atuante, e muitos conselheiros do clube, entre outros amigos, opinam, tentam ajudar. Isso é bom. Mas é sempre de um modo mais apaixonado, e por isso, por vezes, temos que fazer certas ressalvas e contextualizar.
Se você ficar ouvindo tudo e se preocupar com algumas reações mais exacerbadas, você se estressa e acaba não resolvendo os problemas. Tem que separar a crítica embasada de cabeça fria daquele desabafo do torcedor no meio do jogo. Se você cair nas emoções nesses momentos, você erra.
Já vimos algumas fórmulas por aí: demissões em vestiário, jogador às vezes afastado por mau momento ou dia ruim... E hoje com as redes sociais o risco de contaminação é muito maior. O pior é que muitas vezes a pessoa que escreve uma coisa talvez não escrevesse daquela maneira no dia seguinte. Falou com a emoção. E a razão para a tomada das decisões? Esse filtro cabe à diretoria.
E a transição de Antônio Lopes para Anderson Barros como gerente de futebol, como foi? Eles têm estilos bem diferentes...
O Lopes foi muito importante, ajudou a montar muito do departamento de futebol do Botafogo que temos hoje, que segue com uma estrutura muito parecida com a desenhada por ele. O Anderson é um craque na gestão executiva do departamento, que incluiu, por certo, o próprio reconhecimento da ótima estrutura deixada pelo Lopes.
Se você pegar a nossa preparação física, a nossa equipe de inteligência, os profissionais são praticamente os mesmos. Alguns com muitos anos de casa, o que é uma alegria para o Botafogo. A equipe estava montada e tem muito mérito do Lopes.
Defina o Anderson Barros.
Com uma palavra? Onipresente.
Mas amplie mais sua análise, por favor.
Ele se preocupa com o todo. Muitas vezes com algumas coisas que não estariam no "job description" dele. E isso é bom. Ele olha o clima, o ambiente, o momento, a preparação. Acredito muito que você consegue grandes coisas atentando aos pequenos detalhes. Anderson é um cara dedicado, muito sério e competente. Conhece o mercado, é "workaholic", trabalha para caramba. Em muitos momentos sou provocado por ele: "Gustavo, olha para isso aqui".
Anderson Barros durante conversa com Carli antes de treino: gerente acompanha tudo (Foto: Felippe Costa)
Ele exige da diretoria muitas vezes condições de trabalho para os atletas e nos pressiona por isso, o que é justo. Mas muitas vezes faz a função contrária quando identifica que a gente precisa cobrar dos atletas. No fundo, toda relação profissional é uma via de mão dupla. Você precisa dar as condições de trabalho e cobrar os resultados. E as condições de trabalho que damos aos nossos profissionais é excelente, de ponta. Quem não está acostumado com o dia a dia e eventualmente vai a um treino se impressiona com a organização e estrutura que temos no Botafogo.
Um exemplo legal da postura do Anderson foi o nosso retorno na derrota da Copa do Brasil. Tínhamos uma reunião marcada e ele viria direto para conversar conosco. Tínhamos questões para resolver, como a do Felipe (Conceição, ex-técnico) e a semifinal da Taça Guanabara.
Quando ele chegou, tivemos aquela confusão toda: pedrada no ônibus, briga... Ele me ligou: "Gustavo, precisamos adiar a reunião. Não tenho a menor condição de deixar meus atletas sozinhos. Eu preciso ir com eles até o estádio porque sou o comandante do barco aqui".
Eu disse: "Está certo, vai, e a gente te espera aqui. Está certíssimo, é hora de estar junto". Acho que isso os atletas sentem muito. Posturas assim reafirmam a liderança. Não é o cara que "ganhou, ganhou, perdeu, perdeu, eu pego a minha mochilinha e vou jantar com a família". O cara está nos momentos bons e ruins. E está de fato liderando o processo.
Falando na Copa do Brasil, como foi lidar com a crise da eliminação com apenas dois meses de trabalho?
A questão da Aparecidense foi como uma bomba atômica. Ninguém esperava aquele resultado. O regulamento que mudou, e já aconteceram várias vezes casos de um revés na primeira partida ser revertido na segunda. Não poderia ter acontecido, mas aconteceu.
Foi difícil a gestão desse momento porque descontinuou o trabalho de um profissional valoroso, que é o Felipe. É um cara estudioso, que não foi escolhido à toa. Enxergamos nele todo um potencial para se desenvolver, assim como a aposta no Jair (Ventura) foi consciente. Estamos torcendo por ele no Macaé. É um cara que merece muito, mas criou-se uma situação insustentável.
Por outro lado, se vocês analisarem, a gente não mudou a filosofia com o Valentim. Definimos uma filosofia de um treinador jovem, buscando espaço, estudioso, dedicado, que tenha liderança, responsável, que tivesse trabalhado em base e como auxiliar técnico. E o perfil é muito parecido com o do Felipe, incluído a experiência de ambos como ex-jogadores. Claro que há diferenças de temperamento e liderança, mas nós não mudamos o eixo da filosofia do perfil que buscávamos.
As pressões foram muitas. Falavam: "Ah, vão trazer um novo estagiário". Essa é parte da minha função. Junto com o presidente e com a diretoria, segurar a pressão para que a melhor escolha técnica possa prevalecer. Ali, seria muito confortável para todos buscar um treinador já consagrado, ir em uma bola de segurança. Mas pensamos no melhor para o Botafogo no momento, e não no melhor para a pressão que sofríamos. Mas não é fácil....
O próprio Cuca foi cogitado. Vocês o procuraram, e ele indicou o Valentim. Certo?
Não foi bem assim. Na verdade, o Valentim já estava na nossa lista desde a chegada do Felipe pelo trabalho dele no Palmeiras. A gente apostou no Felipe. Quando descontinuamos o trabalho com o Felipe, o nome do Valentim voltou para a mesa. Mas o Cuca era um clamor da torcida. E é um profissional, além de brilhante, muito identificado com o Botafogo.
Anderson Barros foi quem primeiro sugeriu Valentim ao Botafogo (Foto: Vitor Silva/SSPress/Botafogo)
Fizemos contato com ele para saber como estava, e no primeiro contato ele estava pescando (risos). De fato não estava nos planos dele a vinda para o Rio. Nem chegamos a falar em valores, foi só uma sondagem. Então, o Valentim era o técnico indicado pelo Anderson para o cargo. Não foi o Cuca que indicou o Valentim.
O Anderson resgatou o nome do Valentim e disse: "Olha, Gustavo, fizemos várias pesquisas, há vários nomes". Eu também recebi tantos outros e resolvemos dividir o conceito. Primeiro de um treinador mais medalhão, depois de um treinador que foi medalhão no passado e que está fora do mercado há algum tempo, e por fim os treinadores da nova geração para manter o conceito.
O Anderson falou, e tenho isso muito claro: "De todos esses, pesando a balança para os dois lados, iria no Valentim". Aí o Cuca foi ouvido. Disseram ao Cuca do Valentim, e ele respondeu: "Vai nesse, que é o cara".
O Felipe Conceição foi unanimidade no momento da escolha por ele?
Unanimidade nunca vai existir. Não existiu no Felipe, não existiu no Alberto, não existiu no Ricardo (Gomes), não existiu no Jair. Sempre vai ter alguém mais conservador, que vai querer a bola de segurança; sempre vai ter alguém mais preocupado com as finanças; sempre vai ter alguém que vai achar diferente... Mas foi uma escolha de consenso.
Pedimos a subida do Felipe para ser o segundo auxiliar do Ricardo pelo conceito da formação de um treinador. Se a gente forma jogador, por que não formar um treinador? Hoje os clubes estão muito preocupados com isso. Você vê no Inter, no Flamengo que recentemente aproveitou um treinador da casa e hoje está muito bem no Vasco. O próprio Palmeiras por pouco não manteve o Valentim. Foi uma escolha de consenso. Um consenso possível, não uma unanimidade.
Não bateu muito essa sensação de erro. Pensamos muito e preparamos o Felipe para isso. Desde a época do Ricardo já integrávamos as comissões do profissional e base. Quando o Felipe assumiu, ele nos avisou: "Olha, a gente vai sofrer em uma mudança do estilo, de propôr o jogo".
O Botafogo estava há um tempo jogando no contra-ataque, então é uma mudança de filosofia. Esse sofrer um pouco era esperado. Por isso havia a preocupação de não fazer uma covardia com o cara porque ele avisou. Mas "o sofrer um pouco" não envolvia a eliminação na Copa do Brasil, o que estava muito claro para o Felipe também. É do jogo. Desde o momento um a gente avisou que era normal sofrer um pouco, exceto nesse jogo. E aconteceu justamente nele.
É um pouco do destino. Sou um cara de olhar muito para frente, claro que temos de reconhecer os erros, mas não acho que necessariamente tenhamos errado nessa escolha. Foi uma escolha coerente e que não deu certo muito em função desse jogo. E é da vida. A gente teve a sobriedade de tomar as decisões na hora que tinha que tomar, e as coisas deram certo. O Alberto parecia talhado para assumir o Botafogo. E de fato estava. Mais um escolhido.
Barros e Noronha na apresentação de Felipe Conceição em janeiro (Foto: Vitor Silva/SSPress/Botafogo)
Outra situação que imaginamos ter sido delicada foi a questão disciplinar do Leo Valencia, que reagiu muito mal à substituição na primeira partida da final do Carioca.
Mais uma vez a importância do Anderson, que geriu aquilo muito bem. Eu mal precisei entrar. A gente se falou no dia, primeiro para alinhar o discurso. A ideia era deixar claro e que a gente não concordava com a reação. Mas que também não queríamos transformar em tempestade em copo d'água. Queríamos que ele pudesse dar uma explicação pública e se retratar com os companheiros.
Você dosa muito a proporção do erro pela reação dos outros. Todos os demais atletas o perdoaram, entenderam o momento de cabeça quente, e ele teve a humildade de se retratar logo na sequência. É um cara querido, isso foi mais fácil. Se o cara toma uma reação dessa e é rechaçado pelo grupo, aí a proporção começa a ficar muito maior. Pelo contrário: claro que imagino que ninguém deve ter gostado de como ele reagiu, mas eles contornaram tudo e facilitaram o processo.
Tanto o Anderson quanto o Alberto chamaram os jogadores individual e coletivamente para falar sobre o clima e o exemplo para dar. Esses caras são espelho para muito meninos. Disciplina, respeito e ordem são coisas que a sociedade brasileira como um todo está precisando, ainda mais no Rio. Nossa sociedade está quase sem rumo, em uma enorme crise de princípios e de valores.
Hoje um menino vai à escola e se acha no direito de desrespeitar o professor. Nossos atletas são referência, espelho para a garotada, precisam ter dimensão de que um gesto pode influenciar. A influência é muito grande sobre crianças, e isso foi conversado com eles. Além da história esportiva e do respeito com a Instituição, eles precisam ter responsabilidade com a dimensão do gesto.
Dois meses depois vem o título carioca. Ser campeão acabou com as dúvidas? Dá certeza de que o trabalho está no caminho certo?
Eu via o trabalho no caminho certo desde antes, embora com esse revés importante. Mas dá tranquilidade, porque talvez mais gente agora confie que estamos no caminho certo. Do nosso foro íntimo, meu, do Anderson, do Alberto, do presidente e da diretoria, estamos vendo como o trabalho está sendo construído. Já existia uma percepção de que o trabalho estava avançando.
Mas era um avanço quase imperceptível aos olhos da torcida. (Título) Dá tranquilidade e aumenta a confiança dos jogadores. Mas não podemos achar que está tudo certo, como não estaria tudo errado se a bola do Carli não tivesse entrado. Precisamos manter os dois pés no chão e seguir trabalhando forte, mantendo um alto nível de concentração e competitividade.
Noronha ao lado de Mufarrej, Carli e a taça na festa do título (Foto: Vitor Silva/SSPress/Botafogo)
Como você e Anderson decidem pela contratação de um jogador? Como é o processo?
O processo como um todo mudou pouco de 2015 para cá. A gente sempre ouve o departamento de análise, e eles preparam relatórios sobre todos os jogadores que vamos tentar contratar. Esse relatório sofreu mudanças pedidas pelo Anderson. Ele pediu para traçar um gráfico comparativo em relação aos atletas que temos no elenco, por exemplo.
Vemos características: fase ofensiva, fase defensiva, um para um... Isso chega em uma média e comparamos com os nossos jogadores. Se o cara está abaixo, não faz sentido nem olhar. Mas claro, há muitos fatores subjetivos na análise, como o comportamento dos atletas, extra-campo etc. Então, procuramos sempre colher todas as informações possíveis. E o fluxo tem um pouco de tudo.
Jogadores que chegam a mim diretamente, indicados por empresários ou por botafoguenses. Temos torcedores do Botafogo por todo o país. Eu recebo e mando para análise. Só se você reparar de cara que é uma cavada absurda, aí não dá. O presidente recebe. Outras diretorias recebem também. Até via ouvidoria do clube chegam sugestões. Olhamos tudo. Por mais que o processo seja profissional, não custa olhar o que chega. É parte do nosso trabalho.
O Anderson, através do departamento de análise, mapeia o mercado, e muitos atletas indicados já são conhecidos e já foram analisados. No momento final das análises, há uma prevalência grande da opinião do treinador. Sei que o torcedor não gosta: "Ah, o treinador vai, e a mala que ele traz fica". Mas como contratar um jogador, comprometer o orçamento, se o treinador não vai escalar?
O Aguirre passou muito por isso. Como você vai contratar um jogador em um processo de mudança de treinador, e se o próximo técnico não vai querer usar? Aí o Alberto falou (Noronha bate na madeira): "Eu quero". Então vamos buscar. Já estava aprovado, já tinha passado por um todo processo, mas faltava esse detalhe. E o Alberto disse: "Quero, ele vai ajudar".
A entrada do Fluminense no negócio pelo Aguirre influenciou o Botafogo a fechar com ele?
Foi uma coincidência de processo. Momento um: o Felipe de saída. Momento dois: o Valentim chegando. Ele precisava de algum tempo para conhecer melhor o elenco. Depois ele disse: "Já posso opinar. Ele vai ajudar, pode trazer". É um processo orgânico, muito profissional, em que cada um exerce uma função e é respeitado. Não tem "penada" de ninguém, nem do presidente, que também respeita muito esse modo profissional de conduzir o tema.
Noronha e Anderson ao lado de Mufarrej em conversa com o elenco (Foto: Vitor Silva/SSPress/Botafogo.)
Vocês têm orçamento para trazer mais alguém?
Não, mas vamos trazer (risos). Temos alternativas. Emprestamos o Arnaldo, por exemplo, o que alivia a folha, e estamos trabalhando em parceria com o departamento comercial para que novas receitas viabilizem novas contratações. Há novidades interessantes no programa de sócio-torcedor que podem ajudar nesse processo.
Além dos novos pacotes em si, super atrativos, está saindo do forno um programa de sócio-torcedor para as crianças e adolescentes, em parceria com os Neto’s (os irmãos Felipe Neto e Luccas Neto), que tem tudo pra ser um enorme sucesso, tanto pelos benefícios em si quanto em função do enorme carisma do Felipe e do Luccas.
Chance de chegar algum peso pesado? Jogador para ser capa de jornal? É viável?
Estamos mais preocupados com desempenho do que o nome do atleta. Temos boas alternativas, mas não é nome de peso. Talvez depois do desempenho (seja capa de jornal).
Estamos mapeando o mercado, uma ou outra alternativa, em vista que nosso orçamento é curto. Mas estamos analisando do meio para a frente alguma nova opção.
Podemos dizer que mais um reforço então fecharia o elenco para o Brasileiro?
Difícil falar em fechar elenco. Tanta coisa pode acontecer, como por exemplo: abriu a janela de julho e sai alguém, ou apareceu uma outra oportunidade, ou empresta alguém... Próximo passo é que estamos olhando um jogador do meio para a frente, mas não dá para falar em elenco fechado.
E o foco para esse reforço que falta é o mercado interno ou sul-americano?
Acho que é mais interno. Temos algumas opções aí.
Vocês trouxeram três jogadores do Corinthians por empréstimo: Moisés, Yago e Jean. Há uma parceria entre os clubes?
É boa a relação. Acho que está sendo bom para os dois lados. Eles estão rodando o elenco, têm uma estratégia muito bem definida e muito parecida com a dos clubes europeus, que me agrada: não contratam medalhão, e sim muitos bons jogadores e os emprestam para rodar, ganhar experiência e não ficarem desmotivados.
Tirando os clubes “galácticos”, que podem comprar qualquer um, os europeus de modo geral fazem muito isso. Vêm aqui na América do Sul, liquidam vários bons valores e começam a emprestar. A meu ver é uma estratégia muito inteligente, pois conseguem ter bons jogadores em bom nível, se um não está rendendo podem trocar dentro de casa. É algo que faria se tivesse grana.
E as nossas necessidades hoje estão casando com as deles. O Botafogo é uma oportunidade de jogar a Série A, a Sul-Americana, de estar em evidência, em um grande clube, em um grande centro, com a imprensa falando do cara o tempo todo... Diferente de ser emprestado para outro clube onde o cara vai sumir. Eles valorizam o ativo deles, então é bom para os dois lados.
E esses reforços por empréstimo chegam com opção de compra?
Tem de tudo, alguns com e outros sem.
Noronha na apresentação de Moisés, um dos emprestados pelo Corinthians (Foto: Vitor Silva/SSPress/Botafogo)
A do Aguirre, por exemplo, você citou na apresentação que tem opção de compra. Mas é uma opção de compra viável, por ser em dólar?
Não vou falar o número. É cara, mas é viável.
Aproveitando o tema contratações, tem três nomes que foram especulados recentemente na imprensa: 1) o volante Raul, do Ceará; 2) o meia Bruno Nazário, do Guarani; 3) o meia Rafael Longuine, do Santos. Há alguma negociação com eles?
Nada. Desses aí, o único que foi oferecido de fato foi o primeiro, mas não tem nada. Igual a ele tem mais 20.
Saindo de contratações para vendas. as janelas internacionais fecharam agora em abril, e o Botafogo caminha sem vender jogadores para o exterior já há dois anos. Pela questão do orçamento, aumenta a necessidade de venda na janela de julho?
Temos algumas sondagens, sempre chamo assim o que não está no papel, sobre alguns jogadores nossos. Não quero falar em nomes porque atrapalha a negociação, mas vai ser difícil segurar alguns, eu acho. No meio do ano é possível que a gente tenha uma ou outra perda. Faz parte, e a montagem do elenco leva em consideração essas possibilidades.
Por se tratar de um ídolo, vocês pensam em algo para o Jefferson permanecer no Botafogo mesmo depois da aposentadoria?
Não seria respeitoso conversar sobre esse tipo de coisa com ele nesse momento. Mas claro que o clube está aberto a conversar se ele estiver de fato com intenção de encerrar a carreira, mas quiser protelar um pouco a ida para São José (SP).
É um profissional muito importante, sempre muito bem-vindo, sem dúvida. Identificação ímpar com o clube, a torcida ama o cara... Qualquer intenção de continuar com a gente, respeitando o que couber no planejamento dele, a gente vai considerar e conversar para viabilizar. O Jefferson é um ídolo e o Botafogo trata muito bem dos seus ídolos.
Sempre olhei com imenso orgulho e admiração a lista dos atletas que mais vezes vestiram a camisa do Botafogo, desde criança. Hoje, tenho o enorme privilégio de trabalhar com um deles. Está no Top 5, atrás apenas de Nilton Santos, Garrincha, Waltencir e Quarentinha. Marca incrível, sobretudo nos dias de hoje. Sendo assim, tendo ele por perto por mais tempo, melhor será, sem dúvida.
Falando em ídolos, há chance de "reatar" com Loco Abreu? De repente fazer um jogo de despedida...
Conversei com ele de a gente sentar para falar do fim de carreira, do processo que ele tem contra o Botafogo, tentar resolver tudo. Sempre é muito melhor um bom acordo do que uma briga eterna. Sou um cara de muito diálogo e de tentar conciliar. Na verdade, ele veio conversar com o Anderson no Chile. Trabalharam juntos, e eu já tinha pedido para o Anderson bater um papo com ele.
Acho que é a hora de sentar com o cara. Eu o conhecia, mas muito pouco. O Anderson veio me apresentá-lo de novo, aí ficamos um tempo conversando. Falei para ele: "Abreu, vamos sentar para conversar quando você tiver um espaço na agenda, e nós tentamos chegar a um acordo".
(Jogo de despedida) É muito prematuro, mas podemos sim. Precisamos sentar para discutir a relação, e aí tudo pode acontecer. Talvez o Carioca do ano que vem seja uma possibilidade. Ficamos de fazer uma reunião perto do jogo de volta, quando ele vier ao Rio.
Ainda dentro do tema "ídolos", o Carli caminha para virar um também. Mas como foi lidar com ele na reserva, com a torcida cobrando sua entrada, e ele sendo um líder do grupo?
Ele é um profissional muito consciente também, isso ajudou. Claro que ninguém gosta de ficar na reserva, mas ele tem uma liderança sobre os demais atletas e se preocupa em exercê-la. Isso é muito bacana. Ele foi nota mil. Você olhava a postura dele em todos os momentos, sempre teve essa preocupação de estar junto com o grupo, ser uma das vozes a levantar o astral.
E ele se preocupa com várias coisas, sempre nos pede algo para acrescentar ao trabalho. Para te dar um exemplo: o almoxarifado ficava em uma salinha sem armário, com o material guardado em contêineres. E na hora de tirar é mais difícil. Ficaria mais fácil se a sala principal de aquecimento tivesse alguns escaninhos (além dos armários dos jogadores em si), que você tira do contêiner, pré-arruma para depois posicionar no armário de cada um. Quem é que pediu isso? O Carli.
Normalmente não é jogador que se preocupa com isso. "Poxa, Gustavo, toda hora os meninos têm que ir lá para tirar"... Essa é a liderança do cara, ele se preocupa com essas coisas. Isso agrega. Acho que ele ajudou muito nesse processo, e o próprio Anderson e o Valentim ajudaram explicando que era uma opção naquele momento. Pela proposta de jogo, de esquema tático, enfim... Ele entendeu. No momento em que o treinador achou que poderia mudar, fez as alterações e deu certo.
O Carli sem dúvida é um jogador que está se convertendo em um ídolo do clube.
Então diretor jurídico, Noronha foi à Argentina buscar o Carli (Foto: Botafogo)
E ele tem uma liberdade com vocês, né? No Chile te deu um abraço saindo do carro...
Eu tenho uma relação boa com ele. Fui buscar o cara lá no aeroporto, levei na concentração, dormiu lá a primeira noite... Compramos uma briga importante na época porque o Quilmes tinha uma ação judicial contra o clube que proibia qualquer transferência internacional. Ele chegou, estava treinando, mas sem condição de jogo, nem visto de trabalho tinha. Naquele momento, o que faz?
Não pode trazer jogador, orçamento curto, tudo dando errado... Chega uma hora em que você fica no limiar de desfazer o negócio porque tudo conspira contra. Aí você precisa de alguém para comprar uma briga, talvez naquele momento eu tenha sido essa pessoa. Falei: "Eu vou resolver".
E a palavra para mim vale muito. De eu ter ido lá, contratado o cara, vou mandá-lo de volta? Mas nem f... Acho que, de alguma maneira, ele sabe disso, e de fato a nossa relação é boa. Eu sempre defendi o lado do Botafogo, ele sempre defendeu o lado dele em contrato, negócio. Aí é do jogo, mas sempre em alto nível.
Falando em negociação, o contrato dele termina no final do ano. Já começaram as conversas para renovar? Pode ser o último contrato dele...
Estamos conversando e vamos chegar a um denominador comum. Por mim, ele fica aí a vida inteira (risos). Pode ficar, renovar, renovar, virar mais ídolo... A gente arruma um lugar para ele e para o Jefferson na comissão técnica (risos).
Mas sério, gosto muito dele. Acho um grande atleta, profissional responsável, dedicado, sério... Jogador que se der para renovar até encerrar a carreira, eu renovaria. Mas, claro, temos as nossas limitações de orçamento e ele sabe disso.
O fato de não terem recebido o CT esse ano atrapalhou muito os planos de vocês?
Para o futebol profissional muda pouco porque a gente está muito acostumado com o estádio, que atende bem. Tem um campo anexo e o principal que são muito bons, das mesmas dimensões. Toda a nossa estrutura de musculação, fisioterapia e fisiologia está lá. Para a base é uma perda, pois perdemos nesse processo de integração que o Botafogo está buscando há muito tempo.
Acredito muito nas coisas orgânicas: acho que é melhor fazer bem feito e para sempre, do que fazer um puxadinho e depois ter que tirar. Por isso a demora. Mas o projeto final está excelente e vai ficar tudo espetacular. Mudaremos de patamar neste quesito.
Você e o Anderson Barros estão trabalhando há quatro meses no comando do futebol, mas quase não dão entrevistas. É uma característica de vocês, trabalharem mais no "sapatinho"?
Acho que sim, tanto minha quanto dele. Nossa função é muito mais dar estrutura de trabalho para os profissionais. Ninguém quer ser estrela, a estrela maior é o Botafogo. E a gente transmite muito isso aos nossos atletas, para que se dediquem, um jogue pelo outro, para que tenhamos um grupo de fato, coeso. A mensagem fica contraditória quando você fala de um jeito e age de outro.
Faz parte da construção de todo grupo vencedor que cada um se encaixe no seu papel e saiba se posicionar. Eu me vejo muito mais como um gestor do que outra coisa, e o Anderson também se vê nesse papel, de gerir e liderar o processo. Dar condições e cobrar resultado. A gente pensa muito parecido nesse ponto, somos muito discretos. O trabalho que importa está das portas para dentro.
Fora os protocolos oficiais, procuro não aparecer muito, acho que não ajuda. Quem tem que aparecer são os atletas, eles que carregam os patrocínios no peito, são eles que os torcedores querem ver. A discrição evita a amplificação de crises também, como quando é necessário algum ajuste interno, em questões disciplinares, por exemplo.
Uma coisa importante que vejo é que a marca do clube vem crescendo muito. A gente consegue perceber o reconhecimento do nosso trabalho no mercado. Você vai em qualquer lugar hoje e ninguém fala mal das pessoas, do trabalho que é feito. Pode falar mal de outras coisas, que não temos o melhor time do mundo, que cometemos alguns erros... Ok. Mas no passado ouvia muito isso, que o Botafogo não paga ninguém, que não tem palavra, que fez alguma coisa e não foi legal...
Tudo isso mina a reputação. E a marca está diretamente ligada à seriedade das pessoas, o mercado hoje reputa que a gestão é séria, que as pessoas estão ali para fazer o clube crescer. Eu e Anderson estamos inseridos nesse processo, assim como o Nelson, um cara fora de série; o Carlos Eduardo (Pereira, ex-presidente), que começou tudo no final de 2014; toda a diretoria e os profissionais do clube como um todo. A meu ver, saímos de um ciclo vicioso para entrar em um ciclo virtuoso.
Avesso a entrevistas, ele aparece mais em apresentações de jogadores (Foto: Vitor Silva/SSPress/Botafogo)
Aproveitando que citou o atual e o ex-presidente, para encerrar vamos falar um pouco de política. O clube vem de duas eleições em que o grupo "Mais Botafogo" venceu e bem. Com tudo dando certo, você seria um nome para candidato no próximo pleito em 2021?
Seria um sonho para mim, mas não cabe na minha vida profissional. Nesse momento não dá. Me aposento com 65 anos aqui no escritório. Estou com 41, daqui a uns 15 anos seria mais fácil. Agora seria muito complicado. Pode parecer que não, mas são muitas as atribuições do presidente.
Dizem: "Ah, o cargo de vice de futebol já é tão cobrado quanto". Sob o ponto de vista de pressão e responsabilidade, talvez. Mas de incumbências, não. O Botafogo tem 12 vice-presidências por setor, eu cuido de uma. A mais trabalhosa, talvez, mas é uma. O presidente tem que cuidar das 12. E eu sou um cara mega ligado nas coisas, não vou conseguir ficar sem olhar para as 12.
Hoje mesmo já olho algumas coisas....por exemplo: vi uma entrevista de um jogador do Atlético-MG, e a camisa deles é parecida com a nossa, é Topper e tal. Já mandei aqui para o Caio (do departamento de marketing) mostrando um espaço das golas que estão usando para patrocínio. Achei interessante, porque vai aparecer por mais que feche a câmera.
No meu mundinho lá do futebol já fico dando pitaco em outro lugar, imagina se eu for presidente? (Risos) Não vou conseguir. Só o dia que tiver realmente tempo para fazer bem feito.
Não tenho pretensão nenhuma política. Se as coisas derem certo, e vão dar, porque estamos trabalhando para isso, pretendo continuar ajudando o Botafogo a vida inteira. Senão, vou ser o primeiro a dizer: "P... não deu certo, deixa eu voltar só para a arquibancada, deixa alguém entrar para tentar resolver". Não vou ter nenhuma vaidade. A vaidade, estou convencido, acaba com os clubes. Graças a Deus está dando certo. Tomara que continue.
Fonte: GE/Por Felippe Costa, Fred Gomes e Thiago Lima, Rio de Janeiro
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