GloboEsporte.com expõe o "Barroquismo", maneira como torcedores se referem carinhosamente ao trabalho do comandante alvinegro nas redes sociais
Fred Gomes/GloboEsporte.com
Quando disse "sim" ao Botafogo e assumiu a maior oportunidade de sua vida, Eduardo Barroca veio de São Paulo, onde dirigia o time sub-20 do Corinthians, preocupado em como convencer seus novos comandados da proposta de fazer um trabalho com protagonismo e coragem. A aceitação foi imediata. Com olho no olho, honestidade e um discurso direto pautado em palavrões e analogias simples de serem assimiladas, atingiu em cheio o elenco alvinegro e conseguiu resultados rápidos.
A energia natural de um jovem de 37 anos associada ao "carioquês" que usa palavrões como vírgula permitiu a Barroca se fazer entendido por seus jogadores. E conquistou a torcida ao prezar por algo que não abre mão de quando se coloca no lugar do espectador: passar emoção a quem o acompanha.
- Desde o primeiro dia de conversa com os jogadores, prometi a eles que não teria filtro para falar do meu sentimento. Seja num processo de cobrança a eles, seja num feedback positivo, eu em nenhum momento me furtaria de falar do meu sentimento. É o meu jeito de tratar os meus filhos, a minha família e os meus jogadores. Entendo que comunicação não é o que a gente fala, é o que o outro recebe. E a forma como o outro recebe. Não adianta eu falar uma coisa do meu jeito se o outro não está sendo bem-sucedido naquilo que quero passar de mensagem.
"Tento ser o mais direto e objetivo. Se precisar falar palavrão, gíria ou dar uma porrada, eu não vou me furtar disso para ter o meu objetivo de comunicar o que eu quero atingido".
Se não abre mão da comunicação facilitada que adquiriu em Del Castilho, bairro do subúrbio carioca onde foi criado e mora até hoje, Barroca é sistemático em seu trabalho. Dedica-se a ele de 12 a 14 horas por dia. Ao tratar do desenvolvimento tático alvinegro, elenca quesitos a serem melhorados. Na parte física, também faz separações a fim de se atingir o ápice coletivo e individual.
O "Barroquismo", como torcedores se referem carinhosamente ao trabalho de Eduardo Barroca nas redes sociais, está exposto abaixo. Leia tudo a seguir:
PERSONALIDADE
Antes de chegar ao Botafogo, qual você pensou que seria seu maior desafio e qual acredita que está sendo?
Do meu caminho de São Paulo pra cá antes de ter a primeira conversa com os jogadores, meu maior pensamento era como conseguir mobilizar o grupo de jogadores e fazer com que eles acreditassem naquele sentimento que eu tinha, que é o de confiança e de que eu tinha a grande oportunidade da minha vida. De como conseguir transferir isso para os jovens, que já tinham uma expectativa da minha chegada por a gente já ter trabalhado junto. E conseguir passar essa mensagem para os jogadores com quem não tinha trabalhado.
Mas fui surpreendido por uma aceitação, profissionalismo e dedicação muito grandes. Com um inconformismo muito grande do que tinham vivido antes da minha chegada, num primeiro momento de ano inadequado para o Botafogo e para o nível de profissionais que se têm aqui.Então isso me facilitou muito, porque tive 10 dias antes do meu primeiro jogo, contra o São Paulo, para treinar. E consegui ver tudo isso claramente na prática.
Eduardo Barroca trata Botafogo como maior oportunidade da sua vida — Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com
Como você lidou com o controle do vestiário, visto que há muitos atletas experientes?
Acho que qualquer profissional respeita o outro não pela idade e sim pela forma. Em nenhum momento precisei fazer intervenção individual, porque peguei um grupo com uma educação de trabalho muito boa, deixada pelo Zé Ricardo. Na prática, tudo aquilo que eu propunha, eles sempre fizeram com muito profissionalismo. Acabei tendo que gastar energia para tirar o máximo deles.
Desde a preleção contra o Bahia, você adotou discursos inflamados, aos palavrões. Tem a ver com a vontade de encorajar o elenco?
Desde o primeiro dia de conversa com os jogadores, prometi a eles que não teria filtro para falar do meu sentimento. Seja num processo de cobrança a eles, seja num feedback positivo, eu em nenhum momento me furtaria de falar do meu sentimento.
Meu sentimento hoje é de entusiasmo por dirigir o Botafogo, uma equipe que sempre quis dirigir nesse primeiro momento de transição. Desejei muito estar aqui. Acabo passando para eles esse meu sentimento da oportunidade que estamos tendo dentro do Campeonato Brasileiro. E tendo a possibilidade de fazer algo diferente, estamos em duas frentes. Acredito que o Botafogo pode disputar em cima as duas competições na sua plenitude pelo nível de jogadores tenho aqui com relação a compromisso, entrega, dedicação e competição entre eles.
Você já adotou algumas metáforas que chamaram atenção nesse período à frente do Botafogo. A de comparar a bola a um porrete para falar do gosto pela posse é uma delas. Já falou misturar tudo em um liquidificador para tratar da coragem.
Esse vocabulário peculiar foi pensado como uma maneira de chegar mais facilmente aos atletas?
Não, acho que sou assim. É o meu jeito de tratar os meus filhos, a minha família, os meus jogadores. Entendo que comunicação não é o que a gente fala, é o que o outro recebe. E a forma como o outro recebe. Não adianta eu falar uma coisa do meu jeito se o outro não está sendo bem-sucedido naquilo que quero passar de mensagem.
Tento ser o mais direto e objetivo. Se precisar falar palavrão, gíria ou dar uma porrada, eu não vou me furtar disso para ter o meu objetivo de comunicar o que eu quero atingido.
Você tem influência de treinadores ou familiares para fazer essas preleções inflamadas?
As experiências que eu tive enquanto auxiliar técnico de diversos treinadores com certeza contribuem para isso. Muitas vezes eu era a pessoa que estava do lado de fora olhando a relação do treinador com o jogador. Fui um privilegiado de, muito jovem, trabalhar com treinadores com características muito diferentes.
Essa oportunidade com certeza foi me construindo como um profissional de pensar "quero seguir esse caminho, esse caminho não". Muitas vezes eu vi jogadores não aderirem a um tipo de comunicação e aderir instantaneamente a outro tipo. E a gente vai jogando tudo isso para dentro da nossa mochila.
Hoje tento transferir isso para minha realidade com o objetivo de ser bem-sucedido da forma mais simples possível na comunicação com jogador.
Que tipo de comandos com metáforas e analogias você costuma usar no dia a dia com os jogadores?
O “valeu pela honestidade” é o seguinte: pedi para os jogadores, em qualquer situação de treinamento que há a possibilidade de machucar numa disputa, para que abram mão da disputa e não machuquem o companheiro. Peço para não darem carrinhos em treinamentos. Muitas vezes acontece isso nos treinos, numa bola disputada um deles tem essa leitura. Quando eu falo “valeu pela honestidade” é porque o cara não colocou em risco o companheiro dele, se preocupou. Tenho por hábito também fazer com que os jogadores sejam controladores do treino, não fico apitando, se bater na mão bateu, se a bola sair saiu.
O jogador que tem que fazer do ambiente de treino um local honesto, saudável. Com esse tipo de comando, quando o jogador acusa quando a bola saiu, por exemplo, é uma forma de eu valorizar a honestidade, criar um valor extremamente importante para o trabalho. Isso para mim é muito importante no processo da harmonia interna, gira uma bola de neve positiva, que a gente tira proveito na hora do jogo.
Esse ponto que eu tenho falado de tentar trazer a vantagem para o intervalo é algo que precisa ser valorizado e a gente precisa melhorar. Qualquer equipe que consegue jogar com vantagem vai ser bem-sucedida. Sempre uso esse termo de jogar com vantagem. Com relação à parte física, uma das metas que coloquei é que até o dia 12 de julho, um pouco antes do jogo contra o Cruzeiro, eles têm metas para mim, nada a ver com o preparador físico.
"Fiz uma analogia com relação à perda de gordura e ganho de massa muscular, que eles vão ter alguns potes de margarina para tirar da sacola e vão ter que ganhar algumas peças de picanha (risos). Essa é uma das coisas que tento utilizar para poder acessá-los e atingir nossos objetivos".
Você é um cara que costuma brincar com o elenco. Concorda que tem esse senso de humor para atingi-los?
Tenho. Sou um cara que levo muito bem minha vida, não abro mão de fazer as coisas porque estou treinador do Botafogo. Não é por isso que vou deixar de levar minha vida com ludicidade, alegria, de fazer as coisas que sempre fiz. A vida é mais do que trabalho, mais do que profissão. Procuro tratar bem as pessoas, brincar com os jogadores, que muitas vezes estão comigo mais tempo do que meus filhos. Tento levar a vida de uma maneira agradável e leve.
Eduardo Barroca diz que tenta levar a vida de forma leve e agradável — Foto: Emanuelle Ribeiro/GloboEsporte.com
Essa conexão do torcedor tem a ver com o futebol apresentado pelo Botafogo, fruto do seu trabalho. Que futebol você assistia quando garoto e o que você assiste hoje e que aplica em seu método de trabalho?
Eu gosto muito de assistir algo que mexa com minha emoção, não só futebol. Gosto de samba pra caramba, gosto de ver shows bons, coisas que mexem comigo. Assisti a Uruguai x Chile e, na hora em que o Cavani fez o gol, a forma como os jogadores comemoraram mexeu com minha emoção. Ver o respeito que os jogadores do Uruguai têm com o seu treinador. Gosto de assistir e viver algo que mexa com minha emoção, e tento levar minha vida dessa forma, passar isso para os meus jogadores, e tento fazer com que o torcedor do Botafogo se sinta com a emoção mexida vendo a equipe jogar.
A gente vai ganhar, empatar e perder, e o que me preocupa muito nesse processo é a forma. A gente precisa entregar uma forma em que a gente tenha respeito do torcedor e de todo o externo, mas que a gente consiga mexer com a emoção. É uma premissa básica da minha linha de pensar a vida.
Nesse período de Botafogo, quais jogos mexeram mais com sua emoção?
O primeiro jogo em casa, contra o Bahia, foi bastante especial. Por ter sido o primeiro jogo em casa, por ter sido uma vitória e por ter sido contra o Bahia, que é um clube pelo qual tenho um carinho muito especial, tenho uma história lá. Antes do jogo eu fui dar um abraço no Roger e me deparei com Paulo Paixão, um profissional que sempre foi uma referência para mim, com quem tive a oportunidade de trabalhar. Começou o hino nacional e cantei o hino ao lado do Paulo Paixão, pensei: “Estou dirigindo o Botafogo, novamente encontrando o Bahia, no Estádio Nilton Santos, onde aconteceu também meu primeiro jogo como treinador, pelo Bahia contra o Flamengo”. Aquilo está marcado na minha cabeça.
Um outro momento também especial foi o gol da vitória contra o CSA. Não sou muito de comemorar gol, não tenho esse hábito, mas quando vi tinham uns oito jogadores em cima de mim. Igor Cássio me deu um tapa na cabeça, que eu ainda vou pegá-lo. Foi extremamente legal depois no vestiário. O futebol nos proporciona esse tipo de sentimento, de emoção, que na beira do campo às vezes não nos permitimos estar envolvidos emocionalmente, eu pelo menos tenho essa preocupação, para estar com a cabeça serena para tomar decisões. Mas tem vezes que não tem como.
Você sempre é o primeiro a chegar e o último a sair nos treinamentos, costuma ficar no gramado após os jogos conversando e orientando reservas... É uma característica sua querer participar de tudo?
Sempre tive por característica ser um cara de muita entrega de tempo ao clube. Fui educado dessa forma, a sempre chegar muito cedo e ir embora muito tarde. Imagina tendo a oportunidade que sempre desejei, em um clube que eu gosto... Tenho trabalhado de 12 a 14 horas dentro do clube, porque a única coisa de que eu não posso me arrepender lá na frente é de ter tido essa oportunidade e não ter me entregado ao máximo. É a oportunidade da minha vida, trabalhei quase 20 anos para tê-la, estou tendo agora e preciso desfrutar com muita entrega, muito trabalho. Estou encarando dessa forma.
CAMPO E BOLA
Quais suas impressões desse primeiro momento do seu trabalho?
Até agora são 11 jogos, nove de Campeonato Brasileiro e dois de Sul-Americana. Saio com a sensação de dever cumprido nesse primeiro momento porque a gente enfrentou uma sequência difícil, duas equipes que estão no G-6, uma que está no Z-4... Foi equilibrado, porque dos nove jogos do Campeonato Brasileiro que a gente fez, a gente pegou quatro equipes que estão entre as 10 primeiras e cinco que estão entre 11º e 20º. Então, acho que a gente passou de uma forma adequada nesse primeiro momento, tendo ciência de que a gente ainda tem uma série de coisas a se desenvolver quanto equipe e individualmente.
A gente inicia esse segundo ciclo no jogo contra o Cruzeiro até o jogo contra o Ceará, que é da 10ª rodada até a 19ª. No meio desse segundo ciclo, que vai durar dois meses e 21 dias (porque ele começou na segunda-feira agora dia 24 e vai até o dia 15 de setembro), a gente ainda tem a possibilidade de duas séries eliminatórias de Copa Sul-Americana. Uma com certeza, que são os jogos contra o Atlético-MG e, passando contra o Atlético-MG, a gente teria mais uma série nesse ciclo.
Então a gente teria um ciclo de em menos de três meses, 14 jogos.
Conversei bastante com os jogadores que a gente passou por esse primeiro ciclo com um aproveitamento de quase 56%. A gente tem uma margem de melhora em uma série de pontos em que a gente tem que aproveitar esse tempo que estamos tendo para treinar, desenvolver e ajustar uma série de coisas na nossa equipe para que a gente passe por esse segundo ciclo ainda uma tentativa de crescimento maior ainda em termos de performance e em termos de resultado.
Eduardo Barroca dividiu a temporada do Botafogo em quatro ciclos — Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com
A resposta rápida dos jogadores lhe surpreendeu?
Não me surpreendeu. Me perguntaram recentemente qual tinha sido a minha maior colaboração nesse primeiro momento, e eu não tenho a menor dúvida que foi acreditar em aquilo tudo que eu tenho dentro do Botafogo. Eu sou um cara que acredito muito no Botafogo. Acredito nos jovens, na instituição e nos jogadores referências que temos. Talvez esse meu sentimento tenha irradiado para os jogadores e fez com que eles acreditassem também naquilo que a gente podia fazer dentro da temporada a partir daquele momento.
Continuo acreditando muito e entendo que a gente tem forças daqui de dentro para fazer ajustes naquilo que não andou tão bem e conseguir o crescimento para que a gente leve a nossa temporada com os objetivos alcançados.
Botafogo ainda não empatou, são sete vitórias e quatro derrotas. Isso mostra que o time precisa de equilíbrio, de saber que o empate pode ser interessante em jogos difíceis?
"Acho que essa mensagem que venho passando desde o início pode ter influenciado nisso. Das quatro derrotas que tivemos, duas delas, principalmente Goiás e Grêmio, são jogos que poderíamos ter empatado se tivéssemos uma atitude conservadora".
Mas eu confesso que eu não trocaria esses dois empates pela vitória que tivemos contra o CSA ou pela vitória contra o Fortaleza em um jogo muito difícil.
Eu acabo tendo uma responsabilidade em cima desses pontos que você falou, porque, além do meu discurso, eu tenho tido escolhas durante os jogos sempre com a cabeça de ganhar.
Entendo que esse equilíbrio que você falou em ganhar um ponto em jogos que a gente acabou perdendo é maturação da nossa equipe. Com o tempo e experiências, vamos ajustando isso e crescendo para que essas lições sejam tiradas. Que a gente consiga transformar em resultados esses pequenos detalhes.
Mas não cravo para você que, se eu pudesse voltar atrás, faria algo diferente não. Acho que esse encorajamento que tenho tentado passar aos jogadores tem feito com que a gente cresça em diversas áreas das quais acho que vamos tirar um proveito muito grande na frente.
Você acha possível fazer um ano inteiro bom com o Botafogo diante da impossibilidade de o clube fazer altos investimentos?
Eu entendo que para se atingir os resultados na temporada o triângulo vital precisa estar bem equilibrado, que é o trabalho da comissão técnica alinhado com os objetivos e o trabalho conjunto da direção. E alinhado com a capacidade de transformar isso em resultados, que é a função dos jogadores.
Entendo que se esse triângulo de comissão técnica, jogadores e direção estiver alinhado, o Botafogo consegue buscar os objetivos na competição.
Fazendo uma analogia um pouco para trás, ganhamos Taça Guanabara, Taça Rio, Carioca e Brasileiro sub-20. Num contexto um pouco diferente, mas também com as mesmas diferenças de investimento.
O Botafogo tem um profissional que lidera o processo da gestão que é o Anderson Barros, em quem todo mundo confia e se identifica. Ele é uma pessoa que lidera de uma forma que todo mundo acredita.
Eduardo Barroca — Foto: André Durão
Coerência nas escolhas e separação do elenco em grupos
A gente, enquanto comissão técnica, tem se dedicado muito para ofertar aos jogadores o processo das escolhas em cima de coerência e critério. Fazer com que o trabalho fale pela nossa boca. Deixar tudo muito claro para que as competições entre os jogadores estejam sempre abertas. Eu acredito demais nos jogadores. Têm jovens jogadores que trabalharam aqui comigo e que eu sei exatamente o que podem dar e no que podem se desenvolver mais.
Têm jogadores aqui eu eu chamaria de base matriz. São jogadores que já estão há algum tempo no clube e que têm uma identificação com a torcida, têm uma liderança. Dão resultado dentro de campo e ajudam pra caramba fora. São a locomotiva do time. A gente tem também os jogadores que eu chamaria de base técnica. São os que vêm com experiência e objetivos de dar o retorno técnico a curto prazo.
Acho que a gente conseguindo uma harmonia nesses três pontos entre os jovens, a base matriz e a base técnica alinhados à direção do clube e ao trabalho da comissão técnica, acho que a gente tem toda a possibilidade de se desenvolver no ano e fazer uma boa temporada.
Se você pudesse pedir à diretoria um jogador para determinada posição, qual seria sua prioridade hoje?
Minha prioridade hoje no Botafogo é ter excelência no trabalho interno, ter a melhor qualidade de trabalho possível. Dar as melhores condições aos jogadores, ter as melhores condições estruturais, ter a plenitude de excelência no desenvolvimento do trabalho, porque eu acredito muito em tudo o que tenho aqui dentro. Entendo que se a gente tiver essa plenitude, tiver uma conexão com o torcedor, conseguir conquistar o torcedor do Botafogo para que ele esteja próximo como tem sido até agora... Nossos resultados em casa são satisfatórios, porque existe uma conexão, o torcedor está jogando junto, está vendo que os jogadores estão se esforçando, e o clube também para dar as melhores condições. Meu foco hoje é 100% em plenitude interna.
Qual são os principais ajustes a serem feitos nesse segundo momento do seu trabalho?
Pensando em parte física, eu divido em duas: a individual do jogador, ou seja aquele cara que está com 13% de gordura e que precisa individualmente chegar a 11,5% antes do jogo com o Cruzeiro. Ou o jogador que precisa aumentar a massa magra dele. Isso é quantitativo. Ou o cara chega ou não chega.
Tem o segundo ponto que é o desenvolvimento físico coletivo. É a capacidade de transformar essa melhora individual em ganho coletivo.
"E uma coisa em lado físico que acho que a gente precisa se desenvolver nesse segundo ciclo é trazer a vantagem para o intervalo e fazer primeiros tempos mais fortes fisicamente. Porque quando o Botafogo bota vantagem nessa minha experiência com eles, a gente ganha os jogos. Não sofremos viradas ainda. Dos 11 jogos, a gente virou dois jogos. Contra o Bahia e contra o CSA".
Isso para mim é um indicativo de que a gente precisa começar os jogos cada vez mais fortes. Isso tem a ver com o lado físico também.
Ajustes a serem feitos taticamente divididos em quatro quesitos
Do lado tático, dividi em quatro partes. A primeira é organizar a nossa pressão e fazê-la por mais tempo. A pressão mais agressiva vai fazer com que a gente tenha a bola mais tempo.
O segundo ponto é a compactação. Não adianta pressionar sem estar compactado, porque a gente acaba ficando exposto. Esse é um dos pontos positivos do Botafogo nesse primeiro ciclo. É não abrir as costas, tomamos muito poucos gols, isso é um mérito muito de individualidade dos jogadores.
O terceiro ponto é desenvolver nossa construção com mais lógica. Muito se falou da quantidade de posse que o Botafogo teve paralelamente à quantidade de chances criadas. É a gente conseguir ter a bola e transformar o controle em chances de gols.
E o quarto e principal ponto é o desenvolvimento desse terço final. Fazer com que essa construção se torne efetiva com chutes de fora da área, com mais cruzamentos, mais bolas paradas ofensivas e com mais infiltrações, que são os quatro pontos que a gente tem para fazer gol. Tudo que se fala em gol passa por esses quatro pontos.
Dentro dessa preparação, vou dar ênfase grande a isso, porque entendo que se a gente der um salto de qualidade nesse processo de definição, de terço final, a gente vai conseguir transformar isso em resultado.
Quanto é o seu percentual e quanto é do jogador para desenvolver essa melhora?
Aqui no Botafogo estou tendo 100% de aderência aos estímulos. Lógico que parte disso é individualidade do jogador, de transferir o treino para a hora do jogo. Mas tenho por hábito não discutir muito o que não controlo. O que controlo, que é a minha capacidade de dar opções aos jogadores e que é uma responsabilidade minha, eu preciso trabalhar na plenitude e vou canalizar toda minha energia para dar as melhores opções coletivas para que ele tenha claro na sua cabeça e consiga tomar decisões.
Tenho por hábito de esgotar tudo que é responsabilidade, mas não conseguiria te responder em percentual o quanto seria minha e quanto seria individualidade do jogador, mas o torcedor do Botafogo pode ter certeza que vou esgotar tudo que é responsabilidade minha.
Barroca diz que, a princípio, Botafogo mira G-4 do Brasileirão — Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com
O Botafogo luta pelo que no Brasileirão?
A gente fecha esse primeiro ciclo a um ponto do G-4, com cinco pontos de vantagem para o Atlético-PR, que é o primeiro classificado para a Sul-Americana, e com uma distância de sete pontos para a Chapecoense, que é a primeira do Z-4. Abro esse segundo ciclo desafiando os jogadores para que estejamos mais próximos e brigando ainda mais pelo G-4 num primeiro momento, tendo a possibilidade de aumentar a distância para o primeiro classificado para a Sul-Americana e, além dessa distância de pontos, tendo mais equipes ainda entre onde a gente estará e o 12º colocado.
A mesma lógica para o Z-4, tendo uma distância ainda maior. Combinamos que vamos viver ciclo a ciclo. No meio disso, teremos dois jogos eliminatórios na Copa Sul-Americana. O Botafogo nos últimos tempos, por tradição, tem dado um valor muito grande a essas competições, e minha cabeça está alinhada com isso. A gente precisa fazer dois grandes jogos contra o Atlético-MG, uma equipe que está envolvida em três competições. Precisamos nos dedicar muito para ter a possibilidade de ir passando nesses jogos eliminatórios, trazer o torcedor para mais perto ainda e fechar esse ciclo tendo a clareza de por onde vamos seguir na parte final da nossa temporada.
SONHOS DE GAROTO, CONVICÇÃO DE SER TÉCNICO AOS 17 ANOS, REFERÊNCIAS E GOSTO POR LIVROS RELACIONADOS AO FUTEBOL
No Twitter, postaram um drible que você dá em um companheiro de comissão técnica da Seleção em que mostra grande habilidade. Você nunca tentou ser jogador?
Como garoto eu sempre sonhei, mas tive claramente a certeza de que meu caminho não seria esse. Fui um privilegiado de muito jovem ter a certeza daquilo que eu queria. Já entrei na universidade sabendo que eu queria ser treinador de futebol. Fiz meu primeiro curso de treinador com 17 anos, por aí segui e fiz minha formação. Estou bastante feliz com essa caminhada. Pavimentei esse caminho trabalhando em clubes menores, clubes maiores, em base e em profissional, fui auxiliar de treinadores, acompanhei treinadores em clubes e fui auxiliar fixo, passei em seleções de base. Tenho um orgulho muito grande de como pavimentei meu caminho para chegar até aqui, para que eu tenha segurança para cada vez mais desenvolver o trabalho da forma como acredito.
Aos 17 anos eu fiz o curso do Sindicato de Treinadores de Futebol e também entrei na universidade. Já no meu primeiro período me tornei técnico do time da UFRJ, comecei a fazer estágio em clubes, minha vida profissional começou ali. Meu foco sempre foi o lado profissional mesmo.
Você disse em entrevistas anteriores que seu desejo é formar protagonistas e não jogadores reativos. Que tipo de protagonista você vê no futebol?
Quando falo em formar protagonistas, falo em formar jogadores que tenham prazer em jogar futebol. Nessa minha caminhada de base, muitas vezes vi jogadores sendo formados para ganhar jogos, cumprir funções. Na minha cabeça, não consigo ver um talento tolhido em nada. Um cara que tem talento precisa ter da referência maior confiança e estímulo para que ele possa desenvolver aquilo no que ele é bom.
Passaram pelas minhas mãos, por exemplo, muitos jogadores com talento de drible e, na minha cabeça, sempre tive que eu nunca poderia, com base no lado coletivo, tolhir o que esses caras tinham de bom. Penso a vida dessa forma. Se eu tenho numa banda um grande cara na harmonia, eu preciso valorizar o que esse cara tem de bom e criar um ambiente coletivo para que o potencial desse cara sobressaia. Na minha vida esportiva, vi muito jogador talentoso fazer diferença, ganhar jogo sozinho. Lembro que em 2002 ou 2003 eu acho, trabalhava no Madureira e vi o Renato Augusto ganhar um jogo sozinho. Flamengo e Madureira, 4 a 3 para o Flamengo, com quatro gols do Renato Augusto.
O talento dele fez o Flamengo ganhar aquele jogo. Isso me chama muita atenção, e entendo que um treinador não pode perder isso de um jogador. Ele precisa potencializar isso. Fazendo um paralelo para a minha realidade de hoje, na base temos mais controle sobre o jogador, sobre aquilo que queremos, porque falamos e o jogador faz. No futebol profissional, muitas vezes o jogador já tem as características enraizadas e, como treinador, preciso entender que às vezes ele não vai me dar coletivamente 100% do que eu quero, mas ele tem uma característica individual que eu preciso ter prazer em vê-lo usar. Isso é uma arte, abrir mão do coletivo para que o jogador se desenvolva individualmente e entregue outras coisas. Sou muito atento a isso.
Você trabalhou com vários treinadores, tem referências, há algum que tenha te influenciado mais?
Como tive a oportunidade de trabalhar com treinadores muito diferentes, acabo usando um pouco de cada um deles. Várias vezes me pego dando um tipo de comando que eu peguei de alguém lá atrás. Há pouco tempo, pedi em um treinamento que os jogadores não dessem carrinho, para minimizar as chances de lesão em treinos, porque entendo que o Botafogo não pode se permitir isso. Uma ação que vi um dos treinadores com quem trabalhei fazer.
Um comando que eu uso, que é o “bola no pé, bola no pé!”, foi de um outro treinador. O que eu tento realizar antes de cada treinamento é juntar os jogadores e falar aquilo o que eu vou querer deles na atividade... Se eu for rememorar, uso muitas coisas que eu aprendi com esses treinadores com quem tive a oportunidade de trabalhar.
Você tem o hábito de ler livros de outros treinadores? Se interessa por esse tipo de literatura?
Pra caramba. Na universidade, eu li um livro que foi bastante inspirador pra mim: Felipão, a alma do penta. Um livro em que o Felipão fala como ele desenvolveu a lógica do pentacampeonato, e eu tenho bastante interesse por esse tipo de livro, porque dá para fazer uma conexão muito clara com minha realidade. Falo muito aos alunos nas aulas que dou na CBF: “Quem está aqui com interesse em ter aprovação na minha matéria, fique tranquilo pois já estão todos aprovados”.
O que vai fazer o cara ser um bom treinador é a capacidade de transferir algumas coisas daquela aula para a prática. Ali tenho alunos que são técnicos do sub-17, tenho outros que são técnicos de profissional, uns que não estão trabalhando. Realidades diferentes. Então, o profissional que conseguir transferir a aula para a realidade dele... Se eu perguntar para vocês qual a fórmula da equação de segundo grau, provavelmente não vão lembrar. Eu também não lembro, porque estudei aquilo para fazer vestibular, mas não tem transferência nenhuma para a minha realidade hoje.
Passaram pelas minhas mãos, por exemplo, muitos jogadores com talento de drible e, na minha cabeça, sempre tive que eu nunca poderia, com base no lado coletivo, tolhir o que esses caras tinham de bom. Penso a vida dessa forma. Se eu tenho numa banda um grande cara na harmonia, eu preciso valorizar o que esse cara tem de bom e criar um ambiente coletivo para que o potencial desse cara sobressaia. Na minha vida esportiva, vi muito jogador talentoso fazer diferença, ganhar jogo sozinho. Lembro que em 2002 ou 2003 eu acho, trabalhava no Madureira e vi o Renato Augusto ganhar um jogo sozinho. Flamengo e Madureira, 4 a 3 para o Flamengo, com quatro gols do Renato Augusto.
O talento dele fez o Flamengo ganhar aquele jogo. Isso me chama muita atenção, e entendo que um treinador não pode perder isso de um jogador. Ele precisa potencializar isso. Fazendo um paralelo para a minha realidade de hoje, na base temos mais controle sobre o jogador, sobre aquilo que queremos, porque falamos e o jogador faz. No futebol profissional, muitas vezes o jogador já tem as características enraizadas e, como treinador, preciso entender que às vezes ele não vai me dar coletivamente 100% do que eu quero, mas ele tem uma característica individual que eu preciso ter prazer em vê-lo usar. Isso é uma arte, abrir mão do coletivo para que o jogador se desenvolva individualmente e entregue outras coisas. Sou muito atento a isso.
Você trabalhou com vários treinadores, tem referências, há algum que tenha te influenciado mais?
Como tive a oportunidade de trabalhar com treinadores muito diferentes, acabo usando um pouco de cada um deles. Várias vezes me pego dando um tipo de comando que eu peguei de alguém lá atrás. Há pouco tempo, pedi em um treinamento que os jogadores não dessem carrinho, para minimizar as chances de lesão em treinos, porque entendo que o Botafogo não pode se permitir isso. Uma ação que vi um dos treinadores com quem trabalhei fazer.
Um comando que eu uso, que é o “bola no pé, bola no pé!”, foi de um outro treinador. O que eu tento realizar antes de cada treinamento é juntar os jogadores e falar aquilo o que eu vou querer deles na atividade... Se eu for rememorar, uso muitas coisas que eu aprendi com esses treinadores com quem tive a oportunidade de trabalhar.
Você tem o hábito de ler livros de outros treinadores? Se interessa por esse tipo de literatura?
Pra caramba. Na universidade, eu li um livro que foi bastante inspirador pra mim: Felipão, a alma do penta. Um livro em que o Felipão fala como ele desenvolveu a lógica do pentacampeonato, e eu tenho bastante interesse por esse tipo de livro, porque dá para fazer uma conexão muito clara com minha realidade. Falo muito aos alunos nas aulas que dou na CBF: “Quem está aqui com interesse em ter aprovação na minha matéria, fique tranquilo pois já estão todos aprovados”.
O que vai fazer o cara ser um bom treinador é a capacidade de transferir algumas coisas daquela aula para a prática. Ali tenho alunos que são técnicos do sub-17, tenho outros que são técnicos de profissional, uns que não estão trabalhando. Realidades diferentes. Então, o profissional que conseguir transferir a aula para a realidade dele... Se eu perguntar para vocês qual a fórmula da equação de segundo grau, provavelmente não vão lembrar. Eu também não lembro, porque estudei aquilo para fazer vestibular, mas não tem transferência nenhuma para a minha realidade hoje.
Fonte: GE/Por Emanuelle Ribeiro, Fábio Juppa e Fred Gomes — Rio de Janeiro
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