Com vitória sobre o São Paulo, time evita pior turno desde que o Brasileirão é disputado com 20 equipes; técnico ganha elementos positivos para levar em conta no início do trabalho
Se Marcelo Chamusca assistiu aos jogos passados ou leu as análises sobre as partidas, na noite da última segunda-feira teve a chance de refazer sua avaliação sobre o futebol do Botafogo. Em sua primeira vez no Estádio Nilton Santos como técnico do time, ainda que não tenha ficado à beira do campo, ele viu um grupo que fez valer a superioridade numérica e dominou o São Paulo na vitória por 1 a 0.
Os três pontos fizeram o Botafogo se livrar de ser o dono do pior turno do Brasileirão desde 2006, quando a competição passou a ser disputada com 20 equipes. O América-RN fez sete pontos no segundo turno em 2007, com uma vitória e quatro empates, mesmo desempenho do Avaí, em 2019. O clube alvinegro igualou a pontuação, com duas vitórias e um empate em 18 rodadas.
É verdade que o Botafogo encontrou um São Paulo em uma das suas piores atuações no campeonato, mas isso não desmerece a sua postura. Há muito tempo, o time não dominava um adversário como o fez na 37ª rodada.
A partida tem um lance que precisa ser considerado na análise do novo comandante: o São Paulo perdeu Reinaldo, expulso, aos 28 minutos do primeiro tempo. Com um jogador a mais, o Botafogo conseguiu criar elementos positivos para Chamusca levar em conta no início de seu trabalho.
Jogo vertical
Esse elemento foi o grande diferencial do Botafogo, que abandonou os passes laterais e para trás e acelerou o jogo no Nilton Santos. Aconteceu mais de uma vez: os jogadores receberam a bola no campo de ataque, viraram o corpo e olharam pra frente. O time teve mais atitude do que em boa parte do campeonato.
Não à toa, terminou a partida com 19 finalizações contra apenas nove do São Paulo. O Botafogo não teve medo de arriscar e foi agudo quase o jogo todo. O time ainda soube explorar bem as bolas longas. Uma delas foi responsável pelo momento decisivo: Warley foi lançado e ganhou de Reinaldo, que acabou expulso.
Warley foi o melhor em campo em Botafogo x São Paulo — Foto: Vitor Silva/Botafogo
Uso das pontas
A verticalização do jogo passou pelo melhor uso das laterais. Comandado por Lucio Flavio à beira do campo, o time explorou bem as pontas do campo, com Enio e Warley em noite de bom desempenho. O segundo foi fundamental para a vitória do Botafogo.
Desde a expulsão de Reinaldo, Warley cresceu no jogo e foi soberano pela direita. Terminou a partida com três finalizações, quatro desarmes e o cruzamento que culminou no gol da vitória. Todo o jogo ofensivo passou a ser construído pelo lado do atacante.
Botafogo não fazia um jogo de boa utilização das pontas há muito tempo na temporada. Desde que perdeu Luis Henrique - vendido para o Olympique de Marselha -, o time não conseguiu encontrar um substituto à altura. Explorar os lados do campo foi um pedido do auxiliar Lucio Flavio.
- Minha conversa foi para evitar o jogo por dentro e trabalhar em cima dos homens de velocidade, Warley e Enio. Foram muito importantes - destacou o interino após o jogo.
Melhores momentos: Botafogo 1 x 0 São Paulo, pela 37ª rodada do Brasileirão
Centroavante decisivo
O mérito de Lucio Flavio não está apenas na escalação de Warley e Enio como titulares. O auxiliar técnico mudou o resultado com a alteração feita no intervalo. Com Rafael Navarro em noite apagada, Matheus Babi entrou para garantir a vitória aos 12 minutos do segundo tempo.
O centroavante pode ser um nome importante para o elenco em 2021. Apesar das bobeadas fora de campo na temporada, o jogador já mostrou ser útil e decisivo. Babi pode facilitar o jogo de Chamusca, que gosta de escalar um homem de referência. O jovem faz bem o pivô, sai da área, tem habilidade com as duas pernas e é um bom cabeceador.
Se focar nas quatro linhas, Babi tem tudo para crescer e ganhar espaço. Mas tudo depende da sua permanência no clube. O atacante recebeu sondagens e é um dos atletas que podem deixar o Botafogo em caso de boa proposta.
Garotos
Em sua apresentação, Chamusca disse querer contar com "jovens que podem ser competitivos". Diante do São Paulo, ele teve a chance de ver alguns garotos mostrarem serviço para serem aproveitados na próxima temporada. O zagueiro Sousa, o volante Kayque e o atacante Enio se destacaram e têm espaço no elenco.
Kayque foi bem em Botafogo x São Paulo — Foto: Vitor Silva/Botafogo
O goleiro Diego Loureiro defendeu pênalti que garantiu o resultado positivo. Essa é uma posição carente no clube, que tem Gatito Fernandez e Diego Cavalieri machucados e Saulo em fim de contrato. Na frente, Matheus Nascimento e Rafael Navarro já provaram em jogos passados que merecem atenção. O atacante de 16 anos é, inclusive, a grande aposta da base do Botafogo
Mas são muitos os desafios...
Mas a vitória sobre o São Paulo não pode esconder os problemas que o clube enfrentou ao longo da temporada. O Botafogo faz sua pior campanha na história dos pontos corridos e precisa encontrar regularidade e, acima de tudo, padrão de jogo com Chamusca.
Para isso, o técnico quer ajudar a montar um "elenco competitivo e equilibrado" de acordo com sua experiência na Série B e também com suas convicções. O planejamento de 2020 ainda reflete no time mesmo três rodadas após a confirmação do rebaixamento.
Diante do São Paulo, o Botafogo não tinha zagueiros e nem um meia de criação no banco de reservas. O técnico terá que arregaçar as mangas e "fiscalizar" a diretoria na busca por reforços. Hoje, o time é carente em todas as posições.
Uma das características do trabalho de Chamusca como treinador é a defesa sólida. O Botafogo não sofreu defensivamente contra o São Paulo, mas não se deixe enganar: o time passou um turno inteiro levando gols até a derrota por 2 a 0 para o Goiás na rodada passada.
O jogo pelas laterais, bem explorado na última segunda, é outro ponto forte do novo comandante. Para intensificar os lados do campo, Chamusca precisa de bons laterais - o calcanhar de Aquiles do Botafogo em 2020 - e pontas velozes e habilidosos. O cruzamento é uma arma ofensiva do técnico.
Bruno Nazário não conseguiu se firmar como armador do Botafogo — Foto: André Durão/ge
Ao lado das laterais, outra grande deficiência que precisa ser compensada por Chamusca está no meio de campo. O Botafogo passou a temporada toda com dificuldades de construção de jogo, muito porque Bruno Nazario não entregou o esperado e, no banco de reservas, não havia opções. Cesinha começou a ganhar espaço nas últimas rodadas, mas ainda não mostrou se pode ser o homem da articulação, alguém que costuma ser muito útil no esquema do treinador.
Chamusca ainda terá mais uma chance de ver o time em ação antes de assumir de vez o comando do elenco: o Botafogo volta a campo na próxima quinta, às 21h30, contra o Ceará, na Arena Castelão. Enquanto isso, o técnico faz papel de dirigente e se junta ao diretor de futebol Eduardo Freeland para definir a reformulação do grupo para a temporada 2021.
Fonte: GE/Por Emanuelle Ribeiro — Rio de Janeiro
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