Clube aposta em novos equipamentos e tecnologia para reforçar departamento de fisiologia
Se engana quem pensa que os números no futebol estão reduzidos àqueles que vimos nos scouts durante as transmissões: posse de bola, passes e finalizações, dribles, entre outros. Junto com a equipe de análise de desempenho - que é a responsável por mapear estes índices a que estamos mais familiarizados -, há outros profissionais que são amigos das planilhas: os fisiologistas.
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Nas mãos dos fisiologistas, estão dados importantes relacionados à saúde dos atletas e a eles cabe a missão de potencializar a performance, o que inclui, por exemplo, prevenir lesões. Para isso, há um rigoroso acompanhamento que visa quantificar o nível de desgaste físico de cada jogador do grupo.
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Esse monitoramento é feito por diversos tipos de tecnologia e equipamentos. E, desde a instituição da SAF, o Botafogo começou a investir na área. Foram adquiridos mais de 100 dispositivos de GPS, que ajudam a medir distância percorrida, além de frequencímetros, que monitoram a frequência cardíaca, e um aparelho de termografia, que distingue a temperatura de diferentes partes do corpo, o que permite identificar inflamações, por exemplo.
Exame CK no Botafogo — Foto: Vitor Silva/BFR
Também foi adquirido um novo aparelho de CK, cuja função é medir a creatina quinase, uma enzima que, dependendo do nível, indica que o atleta tem propensão a sofrer uma lesão. O mesmo equipamento pode realizar o exame de PCR (apesar do nome, em nada tem a ver com o teste que detecta a Covid-19), que detecta o nível de desgaste físico, muscular e o processo inflamatório.
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Fora as novas tecnologias e equipamentos - que também compõe a recém inaugurada academia do Espaço Lonier, CT do Botafogo -, a equipe da fisiologia dobrou: passou de três para seis fisiologistas. Dois profissionais - Dailson Paulucio, coordenador da área, e o assistente, Julio Monteiro - atendem a equipe principal. Um terceiro, Thiago Marquez, cuida do Time B (ou sub-23, como é tratado durante o Brasileirão de Aspirantes). Nas categorias de base, Julia Castellano fica no sub-20, e Douglas Cabral se divide entre o sub-17 e sub-15. Por último, Gabriel Rodrigues, é responsável pelo time feminino.
A cabeça por trás dos avanços
Discreto e concentrado, Dailson Paulucio atravessa um dos campos do Espaço Lonier apressadamente em direção a um dos membros da comissão técnica de Luís Castro antes de um dos treinos abertos à imprensa no mês de julho. Depois de alguns minutos de ponderações, o fisiologista de 34 anos faz o caminho inverso com o mesmo passo
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A inquietação não é apenas um traço identificado no andar de Dailson, mas também uma característica de sua personalidade. Por iniciativa própria e depois de horas de estudos independentes pela internet, ele desenvolveu um sistema de monitoramento físico para os atletas alvinegros em 2016. A intenção inicial era digitalizar índices básicos, que antes eram registrados à mão, em fichas. Só que o projeto se tornou mais do que isso.
Fisiologista Dailson Paulucio e Joel Carli, do Botafogo — Foto: Vitor Silva/BFR
A organização dos dados chamou a atenção de profissionais de outras áreas do clube e, com a colaboração de fisioterapeutas, preparadores físicos, nutricionistas, médicos e outros, Dailson foi aprimorando a ferramenta, que está em constante desenvolvimento e cada vez mais completa.
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Hoje, o sistema é abastecido também pelos atletas, que respondem a cada treino como se sentem. O resultado é uma base que mapeia cansaço, dor, qualidade do sono e disposição, por exemplo. A partir das respostas - que podem ser preenchidas em um tablet no clube ou até pelo celular de cada um -, cada departamento pode agir de maneira específica para atender individualmente os atletas.
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- A fisioterapia pode indicar um tipo de massagem, a nutrição já separa os sachês de suplementação de acordo com as necessidades... É um monitoramento individual para potencializar o desempenho coletivo - ressalta Dailson.
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O pensamento abrangente é algo que Dailson valorizou durante toda sua trajetória, conta. Guiado pela curiosidade e pela vontade de "não querer fazer a mesma coisa todos os dias", o capixaba de Muniz Freire - cidade a quase 200 quilômetros da capital do Espirito Santo, Vitória - é formado em Educação Física e está há 12 anos no Rio de Janeiro. Na cidade, concluiu Mestrado e Doutorado na Universidade Federal do RJ. E foi nos laboratórios da universidade que surgiu a possibilidade de trabalhar no departamento de fisiologia do Botafogo, onde está desde 2016.
Mundo virtual para ajudar no real
Dailson considera que o principal desafio é transmitir a mesma informação para um grupo tão heterogêneo, como é um elenco de jogadores. Para tentar facilitar a comunicação, o fisiologista teve uma ideia: transformar uma tabela de dados em um gráfico idêntico ao apresentado no videogame. Sabendo que muitos jogadores passam horas a fio competindo no Fifa, Dailson viu uma oportunidade para levar uma projeção virtual para o dia a dia dos atletas.
Dailson tentou levar modelo parecido ao do video game para os vestiários — Foto: Reprodução
Outra tentativa que aguçou a curiosidade dos atletas foi o relatório técnico da Copa do Mundo de 2018. Dailson conseguiu importar a base de dados divulgada pela Fifa para a plataforma utilizada pelo Botafogo. A partir daí, comparou índices de estrelas mundiais aos dos alvinegros para facilitar o entendimento do grupo com que trabalha diariamente.
- O Matheus Nascimento, por exemplo. Eu poderia chegar para ele e perguntar: você se espelha em quem? E, a partir da resposta, eu mostraria que, para ser o como o Messi, ele precisaria potencializar "tal" característica. Para o Cristiano Ronaldo, essa outra. Para Neymar, essa aqui... E assim por diante - explicou Dailson enquanto apontava para a tela do computador repleta de números.
Para se ter uma ideia, já há mais de 100 jogadores por posição que passaram pelo Botafogo e deixaram seus dados armazenados no clube. Assim, é possível fazer “recortes” sobre características comuns a jogadores a depender da área do campo em que atuam. Kanu, por exemplo, é o que tem a evolução monitorada por mais tempo, já que fez a base no clube. Há dados do zagueiro desde 2017.
Software
Nos últimos anos, a base de dados do Botafogo se transformou em um sistema completo graças às horas em que Dailson passou em frente ao computador assistindo a vídeos no YouTube sobre o Google Studio, a ferramenta que possibilita a captação e armazenagem de todas as informações. E este trabalho está perto de ganhar um reforço.
O Botafogo encaminha acerto para contar com um software que consegue mapear por vídeo muitos dos índices acompanhados de perto por Dailson e toda a equipe de fisiologia do clube. Já pensou em identificar que um jogador está perto de seu limite muscular pela televisão (ou celular, por exemplo)? Parece avançado demais, mas esta realidade está próxima do Botafogo.
O mesmo programa também pode ser utilizado pela análise de desempenho que, por sua vez, mapeará outro tipo de informação (aqueles que citamos lá no início da reportagem, como passes, movimentações e outros fundamentos). Dailson garante que é uma das tecnologias mais avançadas do mercado e que o acesso ainda não se popularizou. O certo é que os olhos da equipe de Textor estão bem atentos para melhorar a estrutura alvinegra.
- O fato de o Mazzuco (diretor esportivo do Botafogo) ter especialização em Fisiologia nos ajudou muito no processo de compra dos equipamentos, pois ele tem o entendimento da importância deste tipo de monitoramento. E é algo aqui no clube que acaba ajudando muitas áreas - elogiou Dailson.
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Fonte: Por Redação do ge — Rio de Janeiro
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