Prefeitura convoca entrevista de emergência e explica que cobertura do estádio não oferece condições mínimas de segurança
A entrevista coletiva convocada nesta sexta-feira pela Prefeitura do Rio de Janeiro a respeito da interdição do Engenhão não trouxe boas notícias para o torcedor carioca. De acordo com o engenheiro Sebastião Andrade, o secretário municipal de obras, Alexandre Pinto, e o presidente da RioUrbe, Armando Queiroga, a cobertura do estádio precisará passar por um reforço estrutural imediato, e a obra levará em torno de 18 meses para ser concluída.
- Estamos notificando os consórcios e evocamos as garantias previstas no Código Civil quanto à segurança e à solidez de uma obra de engenharia. É uma tragédia. Já estamos notificando, mas não acredito que já na segunda-feira haja operários nessa obra. O prazo é em torno de 18 meses e começa a partir da notificação imediata ao consórcio, o que será feito hoje (sexta-feira) - afirmou o secretário municipal de obras.
Ele disse que ainda não existe uma previsão para os custos da reforma, mas garantiu que não serão de responsabilidade da prefeitura. E se disse certo de que os consórcios - Delta, Racional e Recoma, na primeira fase, e depois OAS e Odebrecht - acatarão a notificação. Segundo os membros da comissão constituída para analisar a situação do Engenhão, o estádio não oferece condições mínimas de segurança ao público.
Membros da comissão sobre o Engenhão explicam situação do estádio em coletiva (Foto: Raphael Zarko) |
O Botafogo ainda não se pronunciou sobre o assunto. O presidente Maurício Assumpção, assim como no momento da interdição do estádio, foi informado dos detalhes pelas notícias na imprensa.
A entrega do laudo estava prevista para 30 de maio, porém houve uma prorrogação de 15 dias no prazo, por necessidade de mais tempo para completar a avaliação. Andrade disse que houve erro no projeto inicial do estádio, construído para a realização do Pan-Americano de 2007 e alugado ao Botafogo.
Esta comissão entende que o reforço estrutural imediato da cobertura é imprescindível para que possa ser utilizado com os níveis mínimos de segurança exigidos pela legislação vigente"
Sebastião Andrade, engenheiro
- A causa deste comportamento tem a ver com a concepção estrutural. O arco, por exemplo, na situação atual, se movimentou bastante. Isso tudo levou a níveis mais baixos de confiabilidade. A comissão decidiu que não dá para deixar desse jeito, precisa-se recompor estes níveis.
Engenheiro do consórcio do Engenhão, Marcos Vidigal argumentou que não houve tempo, no momento da construção, de estudar o projeto.
- O projeto estava concluído, e as peças, já fabricadas. Só tivemos que montar - afirmou Vidigal, que acrescentou que a Odebrecht só vai se manifestar por nota ou em entrevista coletiva após receber a notificação da prefeitura.
A Delta iniciou a construção do Engenhão em 2003, com custo estimado em R$ 60 milhões, mas alegou falta de condições financeiras e desistiu com menos de um terço das obras. Elas foram concluídas por um consórcio formado por Odebrecht e OAS, que incluiu no contrato cláusulas que o eximem de responsabilidade em caso de problemas estruturais.
Segundo o secretário municipal de obras, não é certo que o Engenhão seja liberado para os treinamentos de seleções para a Copa das Confederações. Ele informou que o Comitê Organizador Local e a prefeitura vão analisar o cenário.
O estádio está fechado desde o dia 26 de março após o poder municipal receber um laudo da empresa alemã SBP, que constatou problemas na cobertura do estádio. A interdição foi cercada por polêmicas e desinformação. Em resposta ao laudo alemão, uma empresa da Inglaterra (RWDI) analisou os dois estudos - da Alemanha e o original da empresa canadense, que fez os cálculos estruturais - e referendou o estudo do Canadá, que apontava até três vezes menos riscos na estrutura que os alemães.
O grande ponto de divergência entre os dois cálculos diz respeito à segurança da estrutura em caso de ventos muito fortes no Rio de Janeiro. Segundo a RWDI, haveria riscos - mas não de colapso - apenas em casos de ventos acima de 115 km/h. O parecer da SBP, no entanto, aponta que já há perigo se os ventos atingirem 63 km/h.
Por Raphael Zarko Rio de Janeiro
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