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sexta-feira, 27 de abril de 2012

Parceiro de Oswaldo há 45 anos, Luiz Alberto é a voz da razão no Botafogo


Amigo, auxiliar, consultor e confidente do técnico, ex-goleiro do Fla disseca décadas de idas e vindas e se iguala num quesito: bom contador histórias



Às vésperas da decisão da Taça Rio, contra o Vasco, muitos torcedores estão loucos para saber o que se passa pela cabeça do treinador do Botafogo. Pois há apenas uma pessoa que tem todas essas informações. Há 45 anos indo e voltando na vida de Oswaldo de Oliveira, o auxiliar Luiz Alberto é a verdadeira voz da razão das atitudes tomadas no comando técnico do clube. A amizade de infância se estendeu para o futebol, consolidou-se nos bastidores do exterior e teve seu laço mais estreito a partir de 2001, quando a dupla, definitivamente, não se separou mais.
Ex-goleiro do Flamengo, pelo qual foi campeão do mundo em 1981, o confidente do chefe alvinegro é discreto em escala máxima, a ponto de poucos notarem sua presença, sempre mais observadora e com papos ao pé do ouvido com Oswaldo. Luiz "San", apelido que recebeu no Kashima Antlers, do Japão, admite que tem diversas semelhanças com o amigo, porém a maior delas foi facilmente identificada em menos de cinco minutos com a reportagem do GLOBOESPORTE.COM, após um treino no Engenhão: a veia para contar histórias.

seleção 1972 Luiz Alberto (Foto: Arquivo Pessoal)
A imagem perdeu a cor com o tempo, mas é possível ver Luiz Alberto (segundo em pé) e Oswaldo (o primeiro agachado) sem camisa, de cabelos loiros longos. Ele não jogou a partida amadora (Foto: Arquivo Pessoal)
Se deixar, confirma, ambos varam a noite batendo papo sobre futebol com um chopinho gelado na mesa. A memória privilegiada de lado a lado só falha num detalhe: quem é o mais velho?
- Eu tenho 60 anos, mas o Oswaldo (61) é gato, porque ele era mais novo que eu na infância. Ficamos um tempo separados... Temos essa impressão, é estranho (risos) - diverte-se.
Desde o colégio Daltro Santos, em Bangu, quando o atual treinador do Botafogo era um meia-direita de categoria, a aproximação já existia. Luiz Alberto recorda-se de grandes partidas disputadas contra turmas rivais. Mas os caminhos distintos o separaram. Enquanto um firmou-se como profissional na Gávea, o outro estudou e virou preparador físico, espelhando-se no professor Carlos Alberto Parreira, que o orientou na Zona Oeste carioca.

Estamos construindo o caminho para sermos campeões. As equipes começam de trás para frente. Ter um poder defensivo sólido é fundamental, sem abrir mão do trabalho de ataque. No Botafogo, existiu um entendimento rápido disso. O esquema é parecido (com o do Kashima), marcamos sob pressão e temos três meias"
Luiz Alberto

Em 1973, o primeiro reencontro: o Bangu, de Luiz, enfrentaria o Bonsucesso, de Oswaldo. Um longo abraçou e uma promessa: trabalhariam juntos um dia. Na década de 80, ao encerrar precocemente a carreira debaixo das traves, que nunca lhe assegurou um posto de real destaque, o hoje auxiliar também correu atrás de sua graduação completa e foi parar na seleção do Qatar, a convite de Evaristo de Macedo. Lá, bateu de frente novamente com o antigo parceiro.
- Eu o ajudava no clube dele, o Al-Arabi, sempre que dava. E fazíamos muita coisa juntos na cidade, até cozinhávamos. Abríamos um livro de receitas, como os da Ana Maria Braga, e aprendíamos como fazer tudo, na marra. Nunca tivemos um atrito - conta, orgulhoso, Luiz San.

Parceria definitiva

A terceira e derradeira oportunidade surgiu quando Oswaldo de Oliveira, então campeão recente do Mundial de Clubes da Fifa, pelo Corinthians, o trouxe para o Fluminense, em 2001, ainda como preparador de goleiros. Em 2005, se tornaram enfim técnico e auxiliar principal. Além da ligação afetiva por tantas décadas, as características de Luiz Alberto completam o ponderado comandante, que vez por outra não evita seus momentos de perda de controle.
- Luiz é muito, muito calmo e me conhece bem. Nossa confiança e entrosamento um com o outro são enormes. O equilíbrio e a inteligência dele para o futebol fazem com que eu o consulte para tudo, desde substituições, mudanças táticas a avaliações de desempenho. Por exemplo: quando passei o Fellype Gabriel para a lateral esquerda pela primeira vez, ele endossou na hora. Ganhamos o jogo no Japão - destacou Oswaldo, que vive às voltas de improvisar seu versátil meia mais uma vez, justamente na final do turno, que acontece neste domingo.

Luis Alberto auxiliar Oswaldo Botafogo (Foto: André Casado / Globoesporte.com)
Luiz Alberto puxa na memória histórias dos encontros entre os dois (Foto: André Casado/Globoesporte.com)
- Já nasci com isso, sempre fui frio. É algo que se desenvolve ainda mais quando goleiro. Nas piores situações, me mantenho calmo. A frequência cardícada baixa pode ajudar, enxergo o jogo de cima e passo minha visão do adversário no intervalo, já que ele não gosta de ponto no ouvido, e confrontávamos as ideias - detalha Luiz "San", sem negar uma semelhança da invencibilidade do Glorioso na temporada (21 partidas) com a menor que emplacaram na chegada ao Japão.
- Lá foram 13 jogos, se não me engano, e tínhamos de tirar uma diferença de doze pontos para o líder. O time estava bem atrás, em 2007. Fomos campeões e ganhamos respeito. Estamos construindo aqui o caminho para sermos campeões. As equipes começam de trás para frente. Ter um poder defensivo sólido é fundamental, sem abrir mão do trabalho de ataque. No Botafogo, existiu um entendimento rápido disso. O esquema é parecido, marcamos sob pressão. E o Oswaldo trabalha o emocional do jogador como poucos fazem - acredita.

Sem sonho com carreira solo

Luiz Alberto e Oswaldo de Oliveira  (Foto: Arquivo Pessoal)
Antes de uma partida pelo Kashima, Luiz Alberto e
Oswaldo posam para foto (Foto: Arquivo Pessoal)
Na onda atual dos assistentes que seguem carreira solo, Luiz Alberto diz que não vai embarcar. Sua lealdade não deixaria. E também reconhece que não tem o perfil:
- Estou recente nesta função e quero ajudar meu amigo o tempo que eu puder com ele. Sei que posso ser mais útil assim, e ele enxerga qualidades em mim. Isso me basta.
Sem pestanejar, em contrapartida, o treinador parece não abrir mão de sua presença diariamente, com a prancheta de atividades e as novas ideias.
- É meu braço direito e esquerdo - resumiu.

Por André CasadoRio de Janeiro


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