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sexta-feira, 6 de junho de 2014

Chega de saudade, Jobson: "Eu me transferia para o Bota no videogame"


De volta da Arábia Saudita, onde viveu drama e teve sua moradia custeada por fãs e imprensa, atacante torce por volta ao Glorioso


Jobson tem adoração pelo Botafogo. O olho do atacante brilha a cada comentário sobre o Glorioso. O sorriso substituiu a tristeza vivida nos últimos meses na Arábia Saudita, de onde conseguiu sair no fim de maio. Ficou sem receber por muito tempo, algo que o obrigou a pedir ajuda. Quando não tinha mais recursos para bancar sua estada na cidade de Jedá, fãs e imprensa se cotizaram e o patrocinaram. Dirigentes do Ittihad o afastaram por longo tempo alegando que havia se recusado a fazer um exame antidoping. Durante o período de reclusão, o que teria feito o jovem de 26 anos em um lugar onde não tinha amigos e o idioma era indecifrável? "Voltou" ao Alvinegro e jogou. Não aceitou a imposição dos árabes e "se devolveu" ao clube que ama.

- Viciei no Playstation 4, mas eu me transferia (no videogame). Me tirava do Ittihad e me colocava no Botafogo. Não vou mentir (risos). Jogava Campeonato Brasileiro e também jogava com o Real Madrid - revelou, em entrevista ao GloboEsporte.com.

Mesmo enquanto ainda estava na Arábia, Jobson "jogava" pelo Botafogo nos gramados virtuais(Foto: Editoria de arte)
O vínculo de Jobson com o Botafogo se encerra em dezembro de 2015, e muitos tratam como ínfimas as chances de ele voltar a vestir a camisa do clube. Ele discorda disso e pede nova oportunidade, pautando-se na bagagem que garante ter adquirido depois da frustrante experiência no Oriente Médio.

- Estou muito maduro. Não é qualquer jogador que aguenta jogar num país onde não tem nada em relação a tudo. Você poder respeitar a todos e não sair do sério em nenhum momento... Aguentei humilhação, aguentei tudo. Hoje estou de pé, estou vivo e, se eu puder dar a volta por cima vestindo a camisa do Fogão, vou ficar muito feliz. Enxergo que, depois que fui para lá, voltei mais maduro ainda. Aguentei bastante tempo lá naquele lugar. A cabeça já vem totalmente diferente, mais experiente. Eu queria uma nova chance, sim, de poder atuar pelo Botafogo. Se tiver essa chance pode ter certeza que vou dar volta por cima de novo, porque a cabeça é outra.

Confira abaixo a íntegra do bate-papo com Jobson, que durou cerca de 20 minutos.

GloboEsporte.com - Quais foram as maiores dificuldades em Jedá, na Arábia Saudita?

Jobson - Mais complicado foi o teste de paciência. Os árabes te testam para você perder a razão, para você querer dar porrada, ainda mais sabendo do histórico de ser meio nervoso. Então se eu sempre tivesse a experiência que eu peguei lá, eu estaria tranquilamente no Botafogo até hoje sem nenhum problema. Se eu tivesse paciência. Foi muita paciência que eu tive. É você não poder voltar para o seu país sabendo que eles não estão te pagando, com problema na família também. Você pega como lição. Espero manter essa calma sempre agora.

Sorrisos na Arábia Saudita somente no início pelo clube.
 A partir de dezembro, quando mudou a diretoria,
tudo mudou (Reprodução/Instagram)

Se fosse para ter feito besteira, era para fazer nesse país (Arábia). O que fizeram comigo, só com a ajuda de Deus mesmo. Eu sabia que um dia eu sairia do país, eles entenderam também que tenho advogado, que tem pessoas por trás de mim. Então agora é diferente, eu vou ter essa paciência sempre. Tenho certeza que você pensando 10 minutos antes de fazer uma besteira, você não vai fazer.

Você diz que hoje está muito mais calmo. Teria essa paciência toda se tivesse que sentar no banco do Botafogo em caso de nova oportunidade no clube?

Vou esperar, sim. A gente tem que ganhar espaço não porque a torcida gosta de você, mas você tem que trabalhar, lutar por sua posição, respeitando seus amigos e fazendo um grupo. Hoje eu aprendi a ser um jogador do grupo, a aceitar. Antes, eu queria jogar e não tinha história. Hoje, se tiver de sentar no banco, eu vou ter minha paciência e pensar no grupo que uma hora vou jogar. Isso forma um time de campeão.
Tenho certeza que você pensando 10 minutos antes de fazer uma besteira, você não vai fazer".
Jobson

Acha que pode formar um ataque veloz com o Emerson Sheik?

Eu tive acompanhando os jogos do Botafogo, no início não começou tão bem, mas depois o time começou a melhor, mas sempre com o Emerson correndo muito. Tem um time bom e é questão de entrosamento. Se eu chegar aí, espero formar um grande ataque.

Apesar dos erros, o apoio dos botafoguenses ainda é grande. Percebe isso na internet?


Torcida hoje é muito importante para a gente emocionalmente, então fico até feliz. Olho nos blogs do Botafogo que muitos criticam, mas muitos reconhecem o que a gente pode ainda mostrar pelo Botafogo.

E o Botafogo já te deu alguma posição: você terá de se reapresentar ao clube?

Amanhã (sexta-feira), meu advogado (Rodolpho Cézar) entra em contato com o Anibal (Rouxinol) para termos conhecimento da data de apresentação.

O Romário disse em 2012 que apostava em você para a Copa de 2014. Caso não tivesse vacilado, acha que poderia estar na Seleção?

Acredito que sim. Se não tivesse tido esses problemas. Com todo respeito aos grandes jogadores que temos hoje, acho que teria condições. Agora vou torcer para eles ganharem esse hexa. Ainda pretendo jogar em seleção brasileira, mas primeiro tenho que focar bastante. Não é só falar em Seleção, tem que trabalhar. Brasil tem muito jogador bom, é uma das seleções mais difíceis de você ser convocado. Mas não era impossível eu estar jogando, faltou eu ter cabeça antes. O Felipão até tinha me elogiado num Botafogo e Palmeiras, dependia só de mim. Primeiro tenho que me recuperar. Eu pego como motivação a declaração do Romário. Um cara desses que ganhou tudo no futebol me dar uma moral dessas é sinal de que tenho algo para tirar de mim.

Jobson agora já está aliviado depois de muito sofrimento na Arábia Saudita (Foto: Fred Gomes)

Como foi esse fim da passagem pela Arábia Saudita? Quem te ajudou?

Meus últimos dias lá foram pagos com a ajuda de torcedores do clube e da própria imprensa. Foi muito bom. Agradeço aos torcedores do Ittihad, 90% deles sempre esteve a favor de mim. Conheci três torcedores lá, um deles tem carinho especial por brasileiros, sempre acompanhou jogadores do Brasil.

Por Fred Gome sRio de Janeiro