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domingo, 5 de novembro de 2017

Qué passa? Lesão, desempenho e sintonia minam Valencia, em baixa no Botafogo


Por que o meia da seleção chilena não joga no Alvinegro? Questão técnica, tática ou interna, de bastidores? GloboEsporte.com explica situação do gringo em General Severiano





Melhores momentos de Botafogo 1 x 2 Fluminense pela 32ª rodada do Campeonato Brasileiro



Leo Valencia não errou passes, não perdeu um gol feito nem sequer entrou em campo. Ainda assim, a derrota por 2 a 1 no clássico contra o Fluminense (veja os lances no vídeo acima) escancarou o momento ruim do gringo em General Severiano. "Por que um jogador da seleção do Chile não joga no Botafogo?", perguntam-se todos os alvinegros.


Assim como no empate com o Atlético-MG na rodada anterior, o chileno ficou o tempo todo no banco de reservas no último sábado. Nem os gritos da arquibancada convenceram Jair Ventura. O treinador usou suas três substituições para trocar a dupla de ataque para Guilherme e Vinícius Tanque e para improvisar Gilson no meio.



Em silêncio, Valencia foi o primeiro jogador a deixar o estádio após o clássico (Foto: Marcelo Baltar)


Contratado em julho após intensa disputa com o Vasco, o chileno chegou com status de grande contratação. Jogador de seleção, foi o maior investimento do Botafogo na janela do meio do ano e, em tese, seria o substituto de Montillo, recém-aposentando. Mas menos de quatro meses após desembarcar no Rio de Janeiro cercado de expectativa, anda sem prestígio com a comissão técnica.


– Todo jogador chega cercado de expectava. Foi assim com Canales, Lizio, Yaca, Bazallo... Eles não conseguiram render. Pode ser que o Valencia possa vir a render. Torço por isso. Mas se o grupo é enxuto e você não usa, é porque realmente tem. Ninguém aqui está de implicância com o garoto, mas espero uma situação melhor para que ele possa nos ajudar – disse Jair na coletiva pós-clássico.


Mas por que Valencia está com o filme queimado? Seria uma questão técnica, tática ou interna, de bastidores? Na verdade, um pouco de tudo. Abaixo, o GloboEsporte.com explica a situação do chileno, que tem apenas 10 partidas e nenhum gol com a camisa do Botafogo.


QUESTÃO TÁTICA



Jair Ventura e Valencia já conversaram sobre tática nos treinos (Foto: Vitor Silva/SSPress/Botafogo)


O Botafogo não tem uma constelação de jogadores, e muito do sucesso nesse ano é creditado à organização e dedicação dos atletas. No entanto, é consenso na comissão técnica que Valencia ainda não está na mesma sintonia dos demais. Seu empenho nos treinamentos é questionado internamente, e Jair justificou sua ausência no clássico pois não o ajudaria na marcação.


– Tirei o Marcos Vinícius e coloquei o Gilson, como fiz contra o Atlético-MG. Eu não posso colocar o Valencia para fazer a cobertura do lateral. O Fluminense estava tomando conta do jogo, e eu tinha que mexer. Eu precisava de um jogador tático, e o Leo Valencia ainda não tem isso no Botafogo. Precisa melhorar bastante – alarmou o treinador.


Taticamente, Valencia já foi usado tanto como meia quanto como extremo-esquerdo. O próprio Jair chegou a traçar três possíveis e diferentes funções para o gringo, na coletiva de imprensa após ele arrebentar na vitória por 2 a 0 sobre o Flamengo, dois meses atrás:


– Testamos ele de algumas maneiras. Como externo, meia de ligação, com aproximação, e ele fez bem com o Victor e com o Pimpão, depois com o Arnaldo e o Bruno (Silva). Ele é um cara muito físico, forte fisicamente. No final, até pediu para sair. O que ele coreu foi um absurdo. Entrega, garra, determinação. Pode jogar como segundo atacante, externo pela esquerda e centralizado elogiou na época.


QUESTÃO TÉCNICA






Participação em gols de Valencia no Botafogo


As declarações críticas de Jair contrastam com as frases animadoras dos primeiros treinos do chileno. O técnico chegou a elogiar a qualidade do meia, principalmente de sua habilidade na bola parada. Hoje, o comandante cita a sua famosa meritocracia para justificar a ausência do gringo.


– Em 10 jogos, o Valencia não tem nenhuma assistência e nenhum gol. Ele tem que se ajudar e eu vou ajudar ele no time. Ele vai jogar quem tiver uma condição melhor. Vai ter que trabalhar forte. Meritocracia – analisou o técnico, esquecendo-se da assistência de Valencia para Igor Rabello, na vitória por 2 a 1 sobre o Corinthians no mês passado.


Valencia de fato oscila muito: de atuações de destaque contra Flamengo, Palmeiras e Santos, a outras muito ruins diante de Vitória, Cruzeiro, Ponte Preta... O chileno tem apenas uma assistência, porém, soma cinco participações diretas em gols em suas 10 partidas (veja no vídeo acima):


Deu o passe para Roger chutar, e Pimpão pegou o rebote contra o Palmeiras;
Deu o penúltimo passe para Roger contra o Flamengo;
Deu o penúltimo passe para Leandrinho contra o Grêmio;
Fez o cruzamento para Igor Rabello, e Roger pegou o rebote contra o Flamengo.


QUESTÃO INTERNA


Problema no pé direito na volta da seleção não pegou bem em General Severiano (Foto: Reprodução)


A relação interna começou a azedar ainda durante as eliminatórias da Copa do Mundo de 2018. Convocado para a seleção chilena para os jogos decisivos contra Equador e Brasil, Valencia não entrou em campo, mas treinou normalmente com seus compatriotas e ficou no banco nas duas partidas. Na volta ao Botafogo, no entanto, queixou-se de dores e desfalcou o time por três jogos.


O fato pegou mal internamente. Gatito Fernández, por exemplo, esteve com a seleção paraguaia em Assunção e no dia seguinte enfrentou a Chapecoense. Questionado sobre o episódio e se autorizou a ida do chileno ou se deveria ter ficado no Rio em tratamento, Jair saiu pela tangente:


– Isso é uma situação que não cabe a mim. A minha situação é de campo e bola. Essa é uma situação da diretoria – argumentou.



Chileno ao lado de Lindoso e Luis Ricardo: relação com elenco é boa (Foto: Reprodução)


Se a relação não anda boa com a comissão técnica, o mesmo não se pode dizer do relacionamente com o grupo. Valencia sempre posta fotos e vídeos em suas redes sociais com outros jogadores e está sempre brincando com Marcelo, seu companheiro de quarto.


QUESTÃO FUTURO

Obviamente, Valencia não está confortável com sua situação no clube, onde tem mais três anos de contrato. Após a derrota para o Fluminense, atendeu alguns torcedores rapidamente e foi o primeiro jogador a deixar o Nilton Santos, acompanhado da família. Tímido, ele não comentou nada nos microfones. Até hoje, só falou com a imprensa brasileira em sua apresentação oficial.



Sem jogar, Valencia tem aparecido mais nos passeios com
o filho Leito Jr. (Foto: Reprodução)


A moral com a torcida, no entante, não foi abalada. Valencia ainda não conquistou os alvinegros, mas é visto pelas arquibancadas como um dos poucos com técnica para mudar a partida. No clássico, por exemplo, torcedores gritaram o nome do chileno, enquanto Jair trocava Brenner por Vinícius Tanque. O resultado foi que pela primeira vez o treinador ouviu gritos de "burro".


– A torcida pode pedir, mas eu tenho as minhas convicções. Se eu estiver atrapalhando, eu posso sair. Mas vou fazer o que eu acho. Eu tenho um amigo (Zé Ricardo) que foi fazer o que a torcida pediu pela primeira vez e foi demitido (do Flamengo). Não sou teimoso, mas tenho as minhas convicções. Sempre em prol do grupo e não de uma pessoa – alegou Jair.


Fonte: GE/Por Marcelo Baltar e Thiago Lima, Rio de Janeiro