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sábado, 7 de setembro de 2019

Venda de mando, pressão interna e movimento dos jogadores: vice aborda crise no Botafogo


Pressionado, VP executivo Luís Fernando Santos fala de críticas sobre si, explica motivo de clube tirar jogos do Niltão e não descarta venda de Gatito desde que atenda os anseios da direção



O Botafogo vive mais uma semana difícil em 2019. Para variar, o calcanhar de Aquiles é a asfixia financeira que sufoca funcionários e jogadores. E outra notícia trouxe críticas para a diretoria: a venda do mando de campo do clássico contra o Fluminense, marcado para 6 de outubro e válido pela 23ª rodada do Brasileiro. Já há um acerto para que a partida seja disputada no Mané Garrincha, em Brasília. Só falta assinar.


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Um dos dirigentes que está na mira de conselheiros importantes e de grupos políticos rivais ao "Mais Botafogo" é o vice executivo do clube, Luís Fernando Santos.


Em longa conversa com o GloboEsporte.com, explicou a necessidade de vender mandos, tratou do manifesto dos líderes do elenco e sobre conflitos internos que podem afastar "cardeais" acostumados a apagar incêndios diante das inúmeras dívidas. Também falou da pressão que vem sofrendo. Confira abaixo.



Luís Fernando Santos, vice-presidente executivo do Botafogo — Foto: Reprodução


Venda do mando de Botafogo x Fluminense

- Existe uma proposta, ela foi analisada, mas não está fechada. Um valor bastante significativo, mais de 500 mil reais em receita líquida, substancialmente maior que isso. Estamos precisando desse dinheiro. O ideal seria botar 30 mil botafoguenses com um tíquete médio de 40 reais.



Críticas da torcida por tirar o jogo do Nilton Santos

- Eu entendo a reação da torcida, mas é importante que a torcida também entenda as decisões que a gente toma. Logicamente que existem várias razões para que a torcida decida não ir ao estádio, cada um tem suas motivações para ir ou não. Muitas vezes as razões para não ir superam as razões para ir. Não é nenhuma crítica sobre o torcedor não ir.


- Os jogos do Botafogo não têm se caracterizado por grandes públicos. O torcedor faz a análise dele: preço, classificação, horário, clima, transmissão pela TV... Não temos direito de criticá-lo. Temos o dever de fazer que os fatos que os fazem ir sejam superiores ao que os fazem não ir. Não estamos conseguindo isso. Decidimos baixar os valores do jogo de domingo.


- Não podemos gerar prejuízo quando jogamos no Nilton Santos, até porque qualquer outro lugar que formos jogar é mais caro. Precisamos de renda para pagar a despesa do jogo, não podemos perder dinheiro. É um contexto financeiro também.


Motivação da venda, obviamente, é dinheiro


- Gostaríamos de vender o mando? Não. Poderia até haver uma política para levar jogos para alguma praça ou outra para atender torcedores. Mas a motivação principal tem sido dinheiro. Muitas vezes a torcida simplifica a decisão, mas o processo não é só difícil, como é dolorido. Temos que decidir muitas vezes contra convicções nossas. A presença da torcida no estádio nos daria algumas alternativas. Esportivamente seria importantíssimo.


Protesto dos jogadores

- A situação dos salários é extremamente grave. O próprio presidente já disse que a diretoria entende como legítima a manifestação dos jogadores. Todos temos direito de expressar nossos sentimentos, e eles não foram ofensivos. Temos um grupo de jogadores muito profissional.


- Impressionante a maturidade desses jogadores e a questão como conseguem separar o fator econômico das responsabilidades que eles têm. O atraso sempre prejudica, por mais focado que o jogador esteja, ele tem os compromissos deles para assumir. Imagina você sair para trabalhar sabendo que tem contas atrasadas?


Situação dos funcionários


- Existe um atraso salarial significativo, não basta que o funcionário tenha o vale-refeição e vale-alimentação para trabalhar. O próprio gestor está lidando com isso.


Pressão interna sobre si e acusações sofridas


- A pressão é inerente à minha função, sou vice executivo há quatro anos, sempre existiu. De umas semanas pra cá parece que descobriram que eu existo. Minha vida foi toda sob pressão, nunca desempenhei nenhuma função fácil, não é novidade.


- Machuca quando começam a aparecer leviandades. Podem me chamar de incompetente, de burro, faz parte. O desagradável é quando começam com acusações, começam a fazer ilações que procuram colocar em dúvida a honestidade da pessoa. Isso machuca.


- São 68 anos de idade, de uma vida aberta, limpa. Isso machuca, mas não desanima. Estou bem com a vida, com minha família, com o Botafogo. Não recebo absolutamente nada do Botafogo, não preciso receber, para mim é um prazer que me dei no caminhar para o fim da vida. Eu não deixo passar nada em branco, minha vida foi assim.


"Não vejo minha saída como possibilidade"

- Se eu discordo de um ponto de vista, eu coloco minha opinião, não importa quem esteja do outro lado. Não concordo com nada que vá contra meus preceitos. De 10 dias para cá parece que tem uma campanha (contra). Não vejo minha saída como possibilidade no momento. Existe um pouco de fogo amigo. Se eu saísse da vice-presidência não seria por isso.


Cofres vazios


- Quando a gente tem uma receita definida, a gente dá previsão, mas não temos receitas. Sempre trabalhamos com a possibilidade de pagar no dia seguinte. Estamos tentando, pagamos ontem alguma coisa. Imagem e salários atrasados de junho. Uma parte dos salários de julho dos funcionários que ganham menos também.


- A busca de dinheiro do Botafogo tem algumas limitações que são decorrentes das próprias fontes de receitas que podemos gerar. A gente tem patrocínio, venda de direitos econômicos dos jogadores...


Não nega que vender Gatito é uma possibilidade

- Se chegar uma proposta de compra de qualquer jogador será analisada, o que não queremos é vender Gatito muito abaixo da multa. Sobre o Jonathan, será que nesse momento ele valia isso (vendido por 1 milhão de euros)? Se a gente pudesse não vendê-lo, a gente não venderia. Não pelo valor, que é esse mesmo. Mas não temos o fôlego para esperar até o fim do ano, por exemplo.


Ausência de patrocinadores a três meses do fim do futebol em 2019

- Não conseguimos patrocínio master, isso é fato. Existem negociações que indicam possibilidade de fechamento. Mas é algo que ainda demanda algum tempo, conversas. Vemos que há hoje muitos bancos eletrônicos patrocinando futebol. Tivemos propostas, mas julgamos que não compensava fechar por valores muitíssimos menores do que o último patrocínio que tivemos.


- A gente acha que consegue esse patrocínio até o fim do ano.


Reclamação de grandes beneméritos em relação ao investimento no basquete em detrimento do pouco apoio à base

- Isto me parece um grande mal-entendido, que teve origem numa apresentação do balanço de 2018. Algumas pessoas por não terem entendido, outras entenderam mas usando de má fé, começaram a propagar uma notícia de que o Botafogo tirava dinheiro do futebol para utilizar no vôlei e basquete, o que é uma total inverdade.


- O basquete desde que entrou no NBB (maio de 2018) é patrocinado/bancado através de projeto incentivado - ICMS. Não tem dinheiro do Botafogo nisso. Agora que o vôlei foi para a superliga também dispõe de projeto incentivado.


Fonte: GE/Por Emanuelle Ribeiro — Rio de Janeiro