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sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Montillo repensa aposentadoria e cogita volta em 2018: “Só no Botafogo ou na La U”


Recuperado de lesão na panturrilha, argentino mantém rotina intensa de treinos no Rio 3 meses após deixar o futebol: "Pensando friamente, não era essa a imagem que eu queria deixar no final"






A aposentadoria de Montillo dos gramados aparentemente terá vida curta. O (por enquanto) ex-jogador está feliz, sereno e “com a cabeça boa” após a série de problemas físicos que enfrentou no Botafogo no primeiro semestre, mas não esconde a saudade do futebol. Aos 33, planeja escrever um novo final para sua história no esporte.


- Estou me sentindo muito bem, feliz e forte. Vamos ver o que vai acontecer no ano que vem.


O retorno em 2018 é certo? 
Ainda não. Mas o argentino quer está preparado caso seja essa sua decisão. A rotina no Rio de Janeiro, que inclui academia, personal trainer, aulas de tênis, corrida, treinos na praia e mais recentemente com bola, só dá descanso aos domingos.



Montillo fala sobre aposentadoria e possível volta como jogador


Exatos três meses após anunciar seu adeus ao futebol, Montillo recebeu o GloboEsporte.com em sua casa, nesta sexta-feira. Após evitar entrevistas por um tempo, decidiu que era hora de falar. O retorno ao futebol ainda não está definido, mas parece próximo. Certo apenas é que, caso venha a acontecer, será com a camisa do Botafogo ou da Universidad de Chile.


Como foram esses primeiros meses como aposentado?
Bem, muito tranquilo. A mesma coisa de antes, mas agora com mais tempo para os meus filhos. Estou treinando, mas eu determino os horários, então é mais tranquilo. Estou com a cabeça boa.


Você tem postado muitos vídeos de treinos. Qual a sua rotina?

Estou treinando todos os dias. Treino de segunda a sábado. Só descanso aos domingos. Até brinco com a minha esposa. Estou treinando mais do que quando jogava (risos). Sempre gostei de treinar, não gosto de ficar parado.


A lesão na panturrilha está curada?

Sim, já passou. Está tudo bem. Também fiz uma programação para ganhar força, que eu tinha perdido na época que joguei na China. Lá não tem muitos jogos, então a gente perde um pouquinho. Fizemos um planejamento para recuperar tudo certinho. Estou me sentindo muito bem, feliz e forte. Vamos ver o que vai acontecer no ano que vem.



Montillo treina com bola após anúncio de aposentadoria no Botafogo


Estou seguindo uma programação. Fui à Argentina conversar com pessoas de confiança, que sempre me ajudaram ao longo da carreira. Ninguém acreditava que eu parei de jogar. Fizemos uma série de exames com o pessoal que trabalha na seleção argentina. Todos concordaram que talvez eu não tenha dado o tempo necessário de recuperação entre uma lesão e outra. Foi tipo uma bola de neve que não parou mais. Me tratei primeiro para ficar bem. E depois, se surgir a possibilidade de voltar a jogar no ano que vem, estarei preparado.


Na pressa de jogar acabou precipitando seu retorno após a primeira lesão?
Sim, parece que foi. Eu queria voltar logo para ajudar o Botafogo. Não gosto de ficar machucado. Pode ser uma das causas. Aconteceu, já passou, tomei a minha decisão. Mas todos que gostam de mim querem um outro final para a minha história no futebol. Que não fique esse final ruim que ficou para todos, para o torcedor. Vamos ver o que acontece no ano que vem.


Todos pedem um final diferente da sua história no futebol. Você também quer outro final?
Se eu me sentir à vontade e perceber que estou bem para voltar, acho que seria uma boa. Pensando friamente, não era essa a imagem que eu queria deixar no final. Aconteceu, eu precisava de tempo para me recuperar, e o Botafogo não tinha tempo para esperar. Eu também não queria esperar para tentar jogar os últimos dois meses do ano.



Montillo (Foto: Reprodução / Twitter)


Arrepende-se da decisão?

Não me arrependo. Acho que fiz a coisa correta. Saí do Botafogo, fiz meu planejamento por fora, sem receber salário de ninguém. Contratei profissionais da minha confiança para voltar no ano que vem. A ideia é essa. Se aparecer alguma coisa boa, estarei preparado. E se eu voltar, com certeza, a prioridade é do Botafogo.


E sempre falei da Universidad de Chile. O Botafogo porque sempre me tratou muito bem, tenho que tirar o chapéu para os dirigentes, para o presidente (Carlos Eduardo Pereira) e para o Jair Ventura. Já a Universidad de Chile porque sempre falei que voltaria para encerrar a carreira lá. Se eu voltar, será para um dos dois.


Então Botafogo e Univesidad de Chile são os únicos clubes que te interessam em um eventual retorno ao futebol?
Sim. Mas ninguém me procurou, não falei com ninguém. É muito cedo ainda para ficar aparecendo. A imprensa sempre me chama, pede entrevistas... Mas sou um cara bem tranquilo. Não gosto de aparecer, não estou jogando, os protagonistas são outros. Agora que o Botafogo saiu da Libertadores, ficou um pouco mais tranquilo, resolvi falar. Mas gosto de ficar na minha tranquilo e atender um ou outro jornalista (risos).


Você não gosta muito de entrevistas, mas nas redes sociais tem interagido bastante com os torcedores.
Sim. Acho que quem me segue é porque gosta de mim. Então eles ficam curiosos, perguntando se vou voltar a jogar. Eu gosto de postar para eles acompanharem um pouco o meu dia a dia, o que faço nos treinos, mostrar a minha vontade de treinar. Acho que isso pode servir de exemplo para outros jogadores. Como pessoa pública, acho legal dar o exemplo. Não sou muito das redes sociais, mas estou melhorando aos poucos (risos).



Montillo treina durante passagem pela Argentina (Foto: Intagram)


Há pressão para voltar a jogar?
Ninguém concordou com o fato de eu ter parado de jogar. Está todo mundo me “enchendo” para voltar, especialmente minha esposa, que está comigo desde os 18 anos. Ela fala muito que eu não deveria parar assim. Estou treinando para ficar pronto. Ainda não sei se vou voltar. Mas não posso chegar a novembro ou dezembro e decidir voltar do nada. Então por isso estou me preparando.


Você teve problema com alguns torcedores nas redes sociais na época de Botafogo. Hoje o pessoal está animado com seu possível retorno.
É difícil agradar todo mundo. Mas sempre tentei ser o mais profissional o possível, sem sacanear ninguém. Com certeza a torcida esperava mais de mim no Botafogo. Eu também esperava mais. Não consegui e decidi sair. Não fiquei atrapalhando e cobrando um salário que eu não considerava justo. Sempre dei o meu máximo.


No Botafogo não deu certo, mas a torcida sabe que dei o meu máximo. A vida às vezes te dá uns socos. Estou tranquilo. Hoje, alguns torcedores pedem para eu voltar. Mas o Botafogo tem uma torcida muito grande, e não sei se esse é o pensamento de todos. Se eu voltar a prioridade é do Botafogo, por respeito ao clube, aos companheiros. Mas ainda estamos no final de setembro. Até janeiro tem muita coisa para rolar.



Montillo em sua casa nesta sexta-feira. Volta ao futebol em 2018 é uma possibilidade real (Foto: Marcelo Baltar)


Em recente entrevista, o presidente Carlos Eduardo Pereira e com o vice-geral e candidato a presidente, Nelson Mufarrej, disseram que as portas estão abertas para o seu retorno.
Temos um relacionamento muito bom. Foi sincero da minha parte, e deles também. Todos foram muito honestos e deixaram as portas abertas para eu voltar ao clube. Não sei o que vai acontecer, mas tenho que estar preparado.


Só tenho elogios para o pessoal do Botafogo. Todos foram muito bons comigo. O presidente, o Gustavo Noronha (diretor jurídico responsável pela negociação com Montillo)... Foi uma situação diferente, não lembro de outro jogador ter feito essa loucura que fiz (risos).


Confira a entrevista em que os dirigentes abrem as portas do Botafogo a Montillo


O Carli falou que vai convencê-lo a voltar.
(risos). Ele não concordou com a minha decisão. Quando decidi parar, ele foi o primeiro a falar comigo: “Cara, você está maluco, não pode fazer isso”. Foi um pensamento egoísta meu. Mas o Carli nunca concordou. Falo sempre com ele, saímos para jantar com o Gatito, temos um bom relacionamento. Moramos próximos, saímos com as famílias. Ele sempre me pressiona para voltar. Ele é muito gente boa.


Tenho acompanhado o Botafogo. Fiquei feliz pelo João Paulo. É um cara nota 10, que está jogando muito bem. Ficou muito feliz mesmo. Talvez, se eu ficasse, ele não teria tantas chances. Ele pegou a camisa 10 e está muito bem. É um menino tranquilo, trabalhador, que sempre está de cara boa, querendo ajudar. É uma pessoa que conheci neste ano, mas gosto muito. Um menino do bem. Fico muito feliz por ele. Meteu um golaço no fim de semana contra o Coritiba.


O Camilo também disputava posição contigo. Quando saiu do Botafogo, ele disse que se sentiu mal com a sua aposentadoria pelo fato de ter cobrado o Jair pela questão de posicionamento.
Não tem isso. Foi uma questão dele com o Jair. Ele não gostava de jogar pelos lados. Eu não tinha nada a ver. Sempre que fui escalado pelo Jair em uma posição diferente, eu não falei nada, até porque nunca fiz isso na minha vida.


É claro que nós temos uma ou duas posições preferidas. Foi um problema do Camilo com o Jair. Mas eu nunca tive problema com ele. É um cara muito tranquilo. É claro que são 30 jogadores no elenco, e alguém vai ficar no banco chateado. Mas isso é normal no futebol. Aconteceu, e agora desejo toda a sorte para o Camilo no Inter.


Tem acompanhado futebol na televisão?
Sim, acompanho. Não todos, mas vejo os jogos do Botafogo. Também gosto de assistir futebol argentino. Mas acompanho mais o Botafogo. Tenho muitos amigos no clube e fico torcendo.


Como viu as campanhas do Botafogo na Libertadores e na Copa do Brasil?
Fiquei muito feliz. Acompanhei em silêncio. O Carli sempre me chamava para os jogos. Não sou louco. Não queria ser “pé-frio” para ninguém (risos). Estava dando certo, melhor assim. Ficava em casa torcendo.


Mas sempre acompanhei. O Carli me chamava para ir ao vestiário, mas sou muito supersticioso. Por isso nunca coloquei nada em redes sociais durante os jogos. Infelizmente o Botafogo saiu, mas não merecia. Jogou muito bem. Acho que o Grêmio foi um pouquinho melhor no Rio, mas lá o Botafogo merecia mais. O Grêmio não conseguiu jogar como vinha jogando. O Botafogo é um time muito chato de se enfrentar. Ainda mais fora de casa. Merecia algo a mais.



Carli, Montillo, Gatito. Amigos tentam convencer o meia argetino a voltar ao futebol. De preferência, ao Botafogo (Foto: Divulgação)


Deu vontade de estar em campo?

Com certeza. Dá vontade de ajudar. Os caras que eram meus companheiros há três meses estavam dando a vida dentro de campo. É claro que eu queria estar lá dentro ajudando. Mas eles são os protagonistas agora. Eu fico na minha torcendo de fora.


O projeto do Botafogo é voltar à Libertadores em 2018. Quem sabe com você em campo...(risos). 
Tomara que o Botafogo consiga essa vaga. Acho que vai conseguir. O time é bom, está bem encaixadinho, o Jair está armando bem a equipe. Merece. Teve um ano muito corrido e difícil. Todos estão de parabéns.


E a Universidad de Chile? 
Recentemente você foi ao Chile acompanhar um jogo.
Fomos ao Chile porque meu filho queria ver um jogo da La U. Foi muito lindo, tenho lembranças muito boas. Fui muito feliz lá, meus filhos são chilenos. Sempre falei que voltaria para encerrar a carreira. Por isso que eu falo, se eu voltar, a prioridade também é deles.


Eu não voltaria para outro time que não seja a La U ou o Botafogo. Penso assim. Não quero rodar por outro clube. O Botafogo porque não consegui mostrar tudo o que eu queria. Ficou esse sentimento de que eu poderia ter feito mais. E na La U todos gostam de mim, e eu gosto muito deles.


Teve algum tipo de conversa para o futuro?

Não, fomos apenas assistir ao jogo. Também é cedo. Estamos chegando a outubro. Em novembro ou dezembro a gente conversa com os times.



Há três meses Montillo chorou ao anunciar o adeus ao futebol (Foto: Satiro Sodré/SSPress/Botafogo)


E o Cruzeiro?
Só tenho boas lembranças. Mas saí há muito tempo de lá. Fiquei feliz pelo título da Copa do Brasil porque sou muito amigo do Henrique. Recentemente fui a Belo Horizonte jantar com ele. Um menino muito bom de bola. Fui muito feliz no Cruzeiro. Sai com uma diferença com o presidente (Gilvan Tavares), que ainda está no clube. Mas gosto muito dos funcionários do clube.


Qual é a porcentagem de você voltar a jogar?
Difícil falar. Não falei com nenhum time ainda. Vamos deixar sem porcentagem. Em novembro ou dezembro falamos novamente. Mas estou me sentindo bem, no peso correto. Estou bem. Isso é o melhor, poder treinar sem dor. Não sabia o que era isso há muito tempo. Estou feliz.


Fonte: GE/Por Marcelo Baltar, Rio de Janeiro