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sábado, 1 de fevereiro de 2020

Salário, metas e impacto da torcida: os bastidores da negociação entre Honda e Botafogo


GloboEsporte.com conversa com pessoas ligadas ao clube e ao jogador para explicar alguns pontos do contrato do japonês com o Alvinegro


Assim que começou o assunto "Honda no Botafogo", a torcida alvinegra entrou em êxtase. Num primeiro momento, o clube encarava apenas como sondagem de empresário, e que não daria em nada. Porém, a notícia da Rádio Globo informando que o meia foi oferecido ao clube fez com que houvesse um interesse real graças à mobilização dos torcedores nas redes sociais.




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A diretoria, observando a movimentação dos botafoguenses, reparou de imediato que não havia apenas a possibilidade de retorno técnico dentro de campo, mas que o marketing e o departamento comercial também seriam impactados. Apesar da falta de consenso inicial no comitê de futebol, a chancela do presidente Nelson Mufarrej - aliada à extrema comoção da torcida - foi o ponto de partida para a negociação.


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Gol de Honda em Japão x Senegal; meia espera voltar à seleção para disputar a Olimpíada — Foto: Mike Hewitt/FIFA/Getty Images


Para um jogador que ganhava cerca de 300 mil dólares no Pachuca e 200 mil euros no Vitesse, não seria simples convencer a aceitar uma proposta por volta de R$ 150 mil. Porém, o Botafogo arriscou e ofereceu o valor, somado a uma participação de cerca de 20% em tudo que o clube vender com o nome do jogador, além de possíveis patrocínios que o atleta traga direta ou indiretamente. Há também um bônus por jogos em que atuar. De qualquer forma, o salário do jogador se enquadra no teto salarial do clube e, para efeitos de comparação, é menos da metade do que Diego Souza ganhava.


Por falar em bônus por número de partidas disputadas, o meia tinha o interesse de incluir no contrato um item em que as partes se comprometeriam a garantir sua participação em 75% dos jogos. A diretoria alvinegra não aceitou, bateu o pé, mas pôs no contrato que o jogador se empenharia a estar em forma, e a comissão técnica, por sua vez, poderia escalá-lo caso se encaixasse nas condições técnicas e físicas. Clube e jogador concordaram.



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Honda com a camisa do Vitesse; jogador receberá menos do que no time holandês, mas isso não é grande questão para ele — Foto: Soccrates Sports/Getty Images


Valentim, inclusive, encara a chegada do japonês de 33 anos como muito positiva. O treinador acredita que ele pode servir de exemplo já que será um dos mais experientes do jovem elenco do Botafogo. Honda, aliás, buscou informações sobre o treinador e o plantel. Todas as partes ouvidas por esta reportagem fizeram questão de ressaltar a vontade do meia em atuar no Brasil, principalmente depois da invasão da torcida em suas redes sociais. O japonês não estava acostumado com uma interação tão calorosa e isso pesou na hora de assinar o contrato.


Mas como negócios são negócios, e as culturas são diferentes, houve um ruído na comunicação entre as partes, e o Botafogo chegou a temer que Honda não viesse. No início da semana, antes de o clube dizer que se acertou com o jogador e ele negar, o camisa 4 recebeu uma proposta de um time da segunda divisão espanhola oferecendo o dobro do salário. Só que, novamente, Keisuke expressou a intenção de jogar pelo Glorioso e aceitou a proposta brasileira, mas não havia assinado nada. Por isso a falha na comunicação.


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Honda com a camisa do Milan; meia vestiu a 10 do clube italiano — Foto: Claudio Villa/Getty Images


É bom ressaltar que Honda quis deixar todos os "pingos nos is" antes de poder dizer: "Eu jogo no Botafogo. Vamos nos ver no Rio de Janeiro". Depois de ultrapassada a barreira do futebol espanhol, as bases se acertaram, mas faltavam detalhes que envolvem os modelos de constituição jurídica, diferentes no Ocidente e Oriente. Enquanto os advogados do Botafogo acreditavam que alguns termos estavam em ordem, os representantes de Honda pediam mais detalhes aqui e ali. O fuso de 12 horas jogava contra e impedia que alterações fossem feitas de um lado e logo aprovadas de outro.


Esses termos jurídicos também envolviam os preparadores físicos que trará. Além disso, ele pediu para que o clube o ajudasse na busca por uma moradia e o uso de carro no Rio de Janeiro. Mas destacou que todos esses pedidos seriam custeados por ele, Keisuke Honda. O Botafogo, inclusive, sugeriu que fosse um carro blindado, dada a questão da segurança pública na cidade, mas essa não era uma preocupação para o jogador.



Keisuke Honda comemora gol do CSKA, onde teve maior destaque na Europa — Foto: Getty Images



Pelo contrato, o mínimo que Honda ficará no Botafogo será até depois dos Jogos Olímpicos em Tóquio. Mais precisamente em 9 de agosto, quando termina a competição. Clube e jogador chegaram a um acordo de criar uma cláusula recíproca que libera tanto um lado quanto o outro de rescindir a partir desse período caso alguma parte esteja insatisfeita. Se isso não acontecer, o vínculo vai até o fim deste ano.


Ainda não há uma data certa para a chegada do meia japonês. No que dependesse dele, embarcaria para o Rio de Janeiro ainda na sexta-feira. Porém, a vontade do Botafogo em organizar uma festa e recepção para o jogador, o convenceu a adiar os planos. Espera-se que Honda chegue ao Brasil até o fim da semana que vem, de preferência entre o jogo contra o Caxias, pela Copa do Brasil, e o clássico diante do Fluminense, na última rodada da fase de grupos da Taça Guanabara.


Fonte: GE/Por André Hernan, Davi Barros e Thayuan Leiras — Rio de Janeiro