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sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Das luvas à cafeteria: Jefferson muda de vida, mas mantém elo forte com o Botafogo



Três anos depois, planos profissionais do goleiro se afastam do futebol após aposentadoria. No lado pessoal, paixão do torcedor alvinegro não deixa idolatria morrer



Você quer tomar um café, entra na loja e, além do pedido, recebe uma conversa simpática com o dono do estabelecimento. Até aí, tudo bem, se no outro lado da conversa não estivesse alguém que é adorado por milhões de pessoas. Isso pode acontecer com quem visita São José do Rio Preto, em São Paulo, terra natal de Jefferson.


Três anos depois da aposentadoria, o ídolo do Botafogo mudou de vida. Pendurou as luvas, deixou o mundo do futebol de lado (pelo menos no âmbito profissional) e mergulhou de cabeça no comércio. O grande xodó é a franquia de cafeterias, mas o ex-goleiro também se arrisca nos investimentos e até como corretor de imóveis lá nos Estados Unidos. Ele conta como está a nova empreitada nesse papo exclusivo com o ge e o Globo Esporte.




Depois do futebol, Jefferson se aventura no mundo dos negócios — Foto: Reprodução/Instagram


- Parei de jogar futebol e fui para um outro ramo completamente diferente, que é estar à frente de um comércio, uma cafeteria. É algo que eu sempre gostei, mas é bem diferente. Eu gosto muito de estar em contato com as pessoas. Fico brincando que tenho meu banquinho lá, sento e converso com os clientes. Ficamos tomando café, batendo papo e falando sobre futebol. Isso é gratificante, vai passando o tempo e você vai fazendo amizades - contou.


- Hoje eu administro minha cafeteria, a Beato Cafeteria. Estamos com uma expansão, fazendo franquias pelo Brasil. Temos uma loja em São Paulo, outra em Birigui, então, se Deus quiser, vamos chegar no Rio de Janeiro também. Junto com minha esposa administramos os nossos imóveis aqui. O nosso dia a dia é dentro da cafeteria, que acabamos revendo sempre os amigos. Hoje eu tenho muito mais tempo para a família, de buscar minhas filhas na escola. Essa é minha rotina - continuou.


Bem diferente da rotina de jogador. Pelo futebol, Jefferson rodou o Brasil e o mundo. Vestiu camisas de clubes brasileiros, estrangeiros e da Seleção. Foi se encontrar de vez no Botafogo, onde fez história e virou ídolo. Um momento da vida que ficou para trás, pelo menos quando o assunto é dinheiro.


Diferentemente de muitos ex-atletas, Jefferson se afastou do mundo da bola. Não quis ser empresário, treinador, dirigente, nem ter outro cargo comum para quem pendura as chuteiras. Mas essa distância só vale para o lado profissional. Porque as lembranças e as amizades permanecem. E o nome do ex-goleiro se confunde com o do Botafogo. Há exatos três anos, o camisa 1 recebeu uma despedida histórica no Nilton Santos, que ele guarda com carinho até hoje.


- Claro que a gente sente falta, saudade, mas encerrou um ciclo para poder começar outro. Sou muito bem resolvido nesse aspecto. Eu estava relembrando o jogo da minha despedida com a minha família. Vamos até colocar esse vídeo que o Botafogo fez na minha despedida, vamos colocar num telão para a gente rever no fim desse mês. Eu estava assistindo a um pedacinho e já fiquei emocionado, comecei a lacrimejar. É uma saudade boa, mas hoje estou feliz com o dia a dia - admite.


Nesses tempos, a relação de Jefferson com o futebol passou a ser de torcedor. Foi assim que ele acompanhou a campanha vitoriosa do clube para voltar à elite do futebol brasileiro. Depois de ser um protagonista da bola, ele conta como vive a experiência do outro lado, como espectador. E até pensa em voltar para o Nilton Santos, mas como sócio de uma nova unidade da cafeteria: "Sim! Tenho vontade, viu?", confessa.


ge: Você sente saudade? A torcida a gente sabe que sim...


Jefferson: Sinto muita falta dos treinamentos, jogos, desse calor e clima dos torcedores acompanhando o Botafogo. Agora com a volta da torcida, a gente começa a sentir desse lado, como é a sensação do torcedor. Até brinco com o pessoal que quando a gente jogava, falávamos: "Não, precisamos ganhar o próximo jogo, não tem nada garantido". Mas hoje que sou torcedor ficava falando que já subimos (risos). Não tenho mais esse discurso de jogador, já estava comemorando o acesso faz tempo.




Relembre a despedida de Jefferson (https://ge.globo.com/video/jefferson-se-despede-do-futebol-em-dia-de-festa-e-homenagem-botafoguense-no-nilton-santos-7190890.ghtml)


Além de comerciante você também virou corretor de imóveis?


Na verdade não sou eu sendo corretor, propriamente. Sempre fui empreendedor. Gosto de empreender, gosto dessa área, de aprender, me envolver e crescer. Não fico muito parado. Houve uma possibilidade de fazer uma parceria com um amigo que é corretor em Orlando. Na minha área do futebol, sempre procuramos investir, não colocar todos os ovos em uma cesta só. Mas também temos uma coisa de insegurança. Muitas vezes as pessoas se aproximam dos jogadores querendo sugar e tirar proveito.


Hoje eu tenho uma imagem, uma credibilidade e me cerco de pessoas de confiança para poder trazer isso para os jogadores que querem investir nos Estados Unidos, seja em imóveis, franquias... Estou com uma parceria com um amigo que é corretor e estamos levando pessoas que querem investir nos Estados Unidos com uma segurança a mais.


E tem muito ex-jogador nos Estados Unidos, não é?

Todos estão morando ali em Orlando. Uns estão nesse ramo de imóveis, outros na área de esporte, outros estão empresariando. Mas tem bastante, como o Rivaldo, o Bosco, que é um amigo dos tempos de Cruzeiro. Hoje ele está lá com uma empresa de jardinagem. Então tem bastante ex-jogador ali nos Estados Unidos enxergando essa possibilidade de um mercado promissor e bom para a família.


Tem dado certo a vida de corretor?

Sim, tem dado muito certo. As pessoas têm nos procurado. Temos a intenção também de abrir uma Beato Cafeteria lá. Vou diversificando bastante coisa. Seja na área de esporte, na área de imóveis... Tudo aquilo que eu acredito que dê resultado e seja bom para mim e para as pessoas também. Claro que não vou entrar em uma coisa que não conheço. Mas se for algo que eu gosto, que é trabalhar com construção, cafeteria, área do esporte, que são áreas que eu gosto e sei onde estou pisando.


O que tem pela frente no mundo dos negócios para o Jefferson empresário?

O próximo passo é focar na expansão da cafeteria. A pandemia atrapalhou bastante, eu gostaria de ter começado a expansão bem antes. Fomos começar basicamente neste ano. Estão aparecendo novos interessados. A minha intenção é expandir e no ano que vem espero estar nos Estados Unidos. Como tenho esse conhecimento todo, minha intenção também é ter uma academia de goleiros nos Estados Unidos. Já tive uma proposta, mas pedi para conhecer o lugar primeiro.


Como viu a campanha do Botafogo nesse ano?


O Botafogo deste ano foi entender a grandeza do clube a partir do segundo turno. Não digo os jogadores, mas acho que todo mundo. Em questão de quem é o Botafogo, de camisa... Até então tinha muita desconfiança, dúvida, um ambiente conturbado... A partir do momento que entrou o nosso treinador, ele ganhou o vestiário, ganhou os jogadores. Ele colocou na cabeça deles a grandeza do clube. Foi nítida a mudança dos jogadores, que entenderam o que era o Botafogo.


Eles começaram a confiar mais e mais. E isso era uma coisa que a gente já tinha lá atrás. Em 2015, a gente tinha essa confiança, a comissão técnica estava montada, não entrava nada ali, todo mundo já estava confiante. O Botafogo conseguiu identificar isso basicamente no meio da competição. Ainda bem.





Camisa 1 comandou o Botafogo na Série B 2015 — Foto: André Durão / GloboEsporte.com



Hoje, o Gatito é o principal goleiro do clube, mas está muito tempo sem jogar. Você também passou por algo assim. Conversou com ele?

O Gatito é muito tranquilo, um cara pé no chão, que está bem, voltando a ter confiança nos treinamentos. Porque isso é muito importante também para depois estar nos jogos. Acho que o mais difícil para ele, hoje, é a ansiedade. Ele está tão ansioso para voltar e ajudar o Botafogo, que talvez essa ansiedade excessiva pode atrapalhar.


Falei para ele ter calma, que ele teria essa ansiedade mesmo. Ele vai ter que se controlar nesse sentido porque ele quer ajudar. Ele estava indo de muleta para os jogos, é essa ansiedade que ele tem de querer ajudar. É algo que ele vai ter que controlar um pouco, mas, no geral, ele está bem confiante. É um cara experiente.


Outro goleiro que é do seu período como jogador é o Diego Loureiro, que foi titular na maior parte da campanha. O que tem a falar dele?

O Diego é um tipo de pessoa que tem as qualidades de um grande goleiro. Não tem como ignorar isso. É um goleiro que tem força, agilidade e técnica também. Talvez fosse o goleiro que tinha mais técnica do nosso grupo. Pra mim é um cara de personalidade muito forte. Ele superou muitos obstáculos que talvez outros goleiros ficariam no meio do caminho. Ele superou um grande obstáculo que foi o falecimento do avô dele, que a gente sempre acompanhou. O avô dele era tudo pra ele, sempre o acompanhou nos treinos e jogos.



Ele conseguiu virar essa chave e conseguiu dar essa volta por cima, o que é difícil. Aí você já tem que substituir grandes goleiros, como foi a questão com o Gatito e o Cavalieri, que são goleiros que tinham um nome no futebol e no próprio Botafogo. Sabemos que goleiros novos sofrem essas críticas. Para mim, ele foi uma das peças fundamentais no acesso do Botafogo. Se você observar tudo que aconteceu em volta dele e achar um goleiro para substituir um dos ídolos do Botafogo...


Agora que a Série B já passou, qual conselho você deixa para o clube?


Não cometer os mesmos erros que cometeram no ano passado e saber que é uma nova oportunidade de se reestruturar. Tanto comissão técnica quanto jogadores. Sabemos que é importante manter o esqueleto desse time que subiu e que merece todo o reconhecimento. Mas é importante ter essa noção que ano que vem é outra realidade, tem que fazer algumas contratações pontuais.


Quando a gente caiu em 2015, no ano seguinte a gente basicamente brigou lá em cima, porque a gente entendeu isso. Botafogo tem tudo para poder decolar. A gente vai estar na torcida para que o Botafogo brigue por título.



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Fonte: GE/Por Davi Barros, Emanuelle Ribeiro e Thayuan Leiras — Rio de Janeiro