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terça-feira, 16 de novembro de 2021

Como Celtics de Doc Rivers mobilizou recuperação do Botafogo na campanha do acesso à Série A


Episódio de documentário sobre estratégias do treinador campeão da NBA em 2008 inspirou diretoria alvinegra a criar reflexões entre os jogadores e virou filosofia no Nilton Santos em 2021



Em 2008, após 22 anos de espera, o Boston Celtics conquistou seu 17º título da NBA em uma temporada de superação da equipe comandada por Doc Rivers. Mas o que isso tem a ver com o Botafogo? Muita coisa. A estratégia vencedora do treinador americano inspirou um processo de mobilização em General Severiano no momento mais crítico do time nesta temporada. Meses depois o principal objetivo foi alcançado, e o clube está de volta à Série A.


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O episódio sobre Doc Rivers na série documental “The Playbook: estratégias para vencer” despertou o trabalho realizado pelo departamento de psicologia alvinegro nas primeiras semanas da Série B, quando o time oscilava e era pressionado por melhores resultados e performance. Depois de assistir, o diretor de futebol Eduardo Freeland visualizou similaridades entre aquele Celtics e o atual Botafogo e decidiu levar para o Nilton Santos os seguintes pilares trabalhados por Rivers:


1 - Pressão é um privilégio
2 - Não se vitimize
3 - Ubuntu
4 - Termine a corrida




Estratégias de Doc Rivers mobilizaram Botafogo na temporada — Foto: Infoesporte


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Pouco antes da demissão de Marcelo Chamusca, em 13 de julho, o Botafogo vivia uma fase instável na Série B, estava longe do G-4, perto da zona de rebaixamento e não mostrava indícios de evolução. A pressão era absurda. Tanto que torcedores organizaram protestos e chegaram a se reunir com dirigentes e jogadores para cobrar uma mudança de postura do time. Foi perto desse período que os atletas tiveram o primeiro contato com os ensinamentos de Doc Rivers. E levaram pra sequência da temporada.



- Não tenho a menor dúvida que foi muito relevante o impacto que gerou. Conseguimos provocar uma reflexão interna do que a gente poderia fazer, do que a gente controlava e de pegar o protagonismo pra gente. Isso até hoje é lembrado antes e depois dos jogos, ficou marcado - disse Freeland ao ge.


O clube entendeu que o elenco precisava aprender a lidar com a pressão. Mais do que isso, entender que a pressão é um privilégio, pois eles trabalharam para chegar a esse lugar, vestir a camisa de um clube grande, e a pressão é uma consequência do esforço para alcançar o sucesso.


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Outro ponto de virada foi aprender a não se vitimizar e a não transferir a responsabilidade. Não esperar da arbitragem, não se apoiar na qualidade dos gramados ou no desgaste do calendário, mas assumir a responsabilidade e focar no que pode ser controlado. A assimilação foi possível com a liderança do psicólogo Paulo Ribeiro, que considera o projeto em cima do documentário o mais impactante da sua carreira.


- Nada disso teria os frutos que colhemos se não houvesse engajamento. Jogadores, comissão técnica e toda a equipe tiveram engajamento nesse trabalho. As pessoas reproduziram isso no dia a dia. Foi o trabalho mais forte e mais consistente que já fiz - revelou Paulo.


O ponto alto do trabalho é justamente o abraço às ideias. Não só os jogadores que estavam no elenco naquele momento assistiram ao episódio, mas os que se juntaram ao clube depois também foram aconselhados a entenderem o espírito do grupo. Num time em que grande parte dos atletas era desconhecida e via no Botafogo a maior oportunidade da carreira, a vontade de fazer dar certo prevaleceu. Ubuntu virou cultura no Nilton Santos.


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A filosofia africana trata da coletividade, de que nenhum ser humano pode alcançar o sucesso sem ajuda dos outros. A virada do Botafogo na Série B se deu de maneira coletiva. O comprometimento do elenco e as atitudes campeãs dos jogadores, que mesmo no pior momento não jogaram a toalha, são pontos valorizados pela diretoria. A mudança de comportamento foi fundamental.


- Uma das coisas que mais acredito como pilar de gestão: eu quero trazer um bom jogador, mas que seja uma boa pessoa. A qualquer momento no futebol a gente vai viver altos e baixos, vai viver crises, e as boas pessoas vão sair disso mais rápido. O que vai alcançar resultado são os comportamentos. Quando eu cheguei, tentamos mudar isso. Não teve mais atraso, falta, nada que fugisse da curva. Fizemos entender que nossas ações nos aproximam ou afastam do objetivo.



- O Botafogo incluiu na rotina atitudes vencedoras e replicamos esses exemplos. Aconteceu com o Carli contra o Coritiba. Ele foi ao ataque para uma cobrança de escanteio, o Coritiba saiu em contra-ataque, e o próprio Carli, que voltou o campo todo, foi quem cortou o cruzamento. Ele não tinha essa obrigação, se tomássemos o gol não iriam culpá-lo. Essas atitudes construíram uma onda positiva - pontuou Freeland.


A ideia de criar uma identidade para o grupo foi reforçada em reunião de Paulo Ribeiro com os jogadores, em que todos falaram sobre suas vivências. Com pessoas tão distintas vindas de lugares também diferentes, foi importante criar um ponto de encontro entre as histórias.


- Não tem como não misturar individual com o coletivo, você traz a sua jornada emocional. Sorte é o encontro de talento com oportunidade e foi isso que aconteceu aqui. Muitos encontraram oportunidade num grupo aberto, compraram a ideia, tudo se encaixou - afirmou o psicólogo.


A implementação da filosofia começou antes da chegada de Enderson Moreira, que comprou a ideia ao assumir o comando do time, tanto que reproduz as mensagens de Doc Rivers nas preleções e também depois dos jogos. Acreditar que é possível foi fundamental para o Botafogo embalar. Prestes a terminar a corrida, técnico e jogadores já alcançaram o que foi planejado e agora buscam o primeiro lugar da Série B.




Botafogo usou mensagens de Doc Rivers para mobilizar jogadores — Foto: Botafogo



Para fortalecer o espírito do Celtics de 2008, a diretoria distribuiu pistas ao longo da temporada com a intenção de não deixar se apagar a reflexão que o documentário provocou. No Nilton Santos é possível ver quatro painéis no corredor de acesso ao vestiário com as regras de vida do treinador de basquete.


Num primeiro momento, quando a crise agravou, o Botafogo pensou em contratar algum profissional para trabalhar a questão psicológica do elenco. Não foi necessária a intervenção externa. O exemplo de Doc Rivers mobilizou a equipe, e os resultados alcançados por Enderson ajudaram na confiança. A filosofia do técnico americano se junta a um conjunto de fatores que explicam a ascensão do time na temporada.


O sucesso da ação faz a diretoria querer levar o espírito para 2022, principalmente o entendimento de que a pressão é um privilégio, e o privilégio é estar na Série A. Numa temporada em que as receitas ainda serão baixas, o Botafogo vai precisar de criatividade e transpiração para se recolocar no topo do futebol brasileiro.



A Voz da Torcida Botafogo - Pedro Dep: "Eu prometi que voltaríamos. E nós voltamos!" (https://ge.globo.com/futebol/voz-da-torcida/video/a-voz-da-torcida-botafogo-pedro-dep-eu-prometi-que-voltariamos-e-nos-voltamos-10043162.ghtml)


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Fonte: Por Emanuelle Ribeiro — Rio de Janeiro

Expectativa, bronca e festa: torcida do Botafogo extravasa no jogo que garantiu o acesso à Série A


No maior público do clube no ano, humor da arquibancada muda junto com os rumos da partida e deixa ainda mais especial a vitória que garantiu matematicamente a vaga na elite





Melhores momentos: Botafogo 2 x 1 Operário-PR, pela 36ª rodada do Brasileirão Série B



Foram muitas as emoções que o Estádio Nilton Santos presenciou na última segunda-feira, tarde que marcou o retorno do Botafogo à Série A do Campeonato Brasileiro. Em um dia de sol firme, 30ºC, bem com cara de Rio de Janeiro, a torcida encheu as arquibancadas e viveu uma montanha-russa que só o fanatismo por um time de futebol é capaz de proporcionar.


A oscilação de humor foi constante, seguindo o ritmo do próprio jogo, que passou da frustração à alegria em menos de 45 minutos. Seja para a bronca ou para a festa, o barulho persistiu, numa energia que fazia falta há quase dois anos. Esse foi o primeiro jogo em que se permitiu o estádio cheio. Ao todo, 29.990 ingressos foram colocados à disposição, e mais de 25 mil pessoas foram ao Nilton Santos.



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Elenco do Botafogo se empolga com plaquinha da torcida: "Bem-vindo de VoltA" — Foto: Vitor Silva/Botafogo



Conforme a vacinação avança e os números de casos e mortes cai na cidade do Rio, o torcedor viveu um dia ao menos próximo da vida normal. Entorno movimentado, bares cheios, animação que vinha desde os vagões do trem. Um mar de gente se aproximava do estádio, tomava cerveja e comia aquele churrasquinho. O som de Beth Carvalho nas caixa de som era uma prévia do carnaval que a torcida quis antecipar para 15 de novembro.


O sol foi ingrediente para dar ainda mais cor para um dia que já era de otimismo total, sem espaço para um placar que não desse o acesso. O sentimento era tão grande de que tudo daria certo que chegou a intoxicar tanto a torcida quanto os jogadores.


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Ônibus do Botafogo foi recepcionado com muita festa pela torcida — Foto: Vitor Silva/Botafogo




Ao menos essa foi a percepção de quem viu o comportamento geral. Tanto que a apreensão tomou conta do ambiente logo nos primeiros minutos de jogo. A aflição não era sobre o futuro do clube na temporada. Afinal, a confirmação do acesso era questão de tempo. Tinha mais a ver com o receio de que algo pudesse estragar aquela festa que foi escolhida para acontecer no Nilton Santos.


Da apreensão, os alvinegros passaram para a bronca quando não puderam ver cara a cara o time que deu tantas alegrias pela tela da televisão. O Botafogo que embalou na Série B não se fez presente em boa parte do jogo. Mais do que uma atuação ruim, foi nervosa, como se os próprios atletas sentissem o peso da expectativa. Até porque a maioria deles teve a primeira oportunidade de vestir a camisa alvinegra diante de um estádio cheio.


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A Voz da Torcida Botafogo - Pedro Dep: "Eu prometi que voltaríamos. E nós voltamos!" (https://ge.globo.com/futebol/voz-da-torcida/video/a-voz-da-torcida-botafogo-pedro-dep-eu-prometi-que-voltariamos-e-nos-voltamos-10043162.ghtml)



O time chegou a ouvir vaias no meio do segundo tempo, pouco antes de começar a construir a virada. Foi quando os protagonistas que chamaram a responsabilidade em toda a campanha começaram a aparecer. Rafael Navarro, Chay e Enderson Moreira, os nomes do Botafogo na Série B de 2021.


Foi a partir das mudanças do técnico que o Bota passou a reagir no jogo, mais precisamente por dois nomes. Primeiro, Carlinhos entrou quando faltou perna para Hugo e deu outro gás na lateral esquerda. Depois, com Matheus Frizzo, de quem saiu a bola para Navarro marcar o gol da classificação, o 14º do atacante no campeonato. Sobre Chay, ele também foi de altos e baixo, mas ressurgiu ao dar o passe para o gol do 1 a 1. Um lance que exigiu tudo do meia. Ele deixou o campo quase sem conseguir andar logo depois.





Torcedor do Botafogo chora na arquibancada do Nilton Santos após acesso — Foto: André Durão


O lamento com o gol perdido. O susto com a bola adversária que levou perigo. O grito de gol que vem mais forte com a euforia de uma virada. Sons e movimentos que fazem parte do futebol, mas estavam esquecidos em meio aos momentos mais graves da pandemia da Covid-19.


A massa alvinegra acompanhou e reagiu a tudo isso. Houve desabafo, mas também apoio no momento de necessidade. No final, a adrenalina fez a arquibancada extravasar. A vitória não veio com a atuação consistente que o torcedor esperava, mas teve a emoção que, passado o susto, fez o ingresso valer a pena.


Jogadores e torcida do Botafogo comemoram o acesso à Série A de 2022 (https://ge.globo.com/futebol/video/jogadores-e-torcida-do-botafogo-comemoram-o-acesso-a-serie-a-de-2022-10043018.ghtml)


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Fonte: Por Davi Barros e Thayuan Leiras — Rio de Janeiro