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quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Marcão revela conversas com René Simões e pode reforçar o Botafogo



Atacante pertence ao Atlético-PR e defendeu o Figueirense no Brasileirão






Goiás x Figueirense - Marcão (Foto:Carlos Costa/LANCE!Press)
Atacante fez cinco gols no Campeonato Brasileiro
 (Foto:Carlos Costa/LANCE!Press)
Com a promessa de melhora da situação financeira após o retorno ao Ato Trabalhista, reforços já podem começar a chegar no Botafogo. E o nome do atacante Marcão, que já trabalhou com René Simões no Atlético-GO, surge na frente.

- O René procurou meu empresário. Eles estão conversando. Não posso falar que está tudo certo porque tem algumas coisas ainda para acontecer. Meu contrato com o Atlético-PR termina em agosto e me pediram para me reapresentar no início do ano. Tenho vontade de defender o Botafogo, mas preciso aguardar a resposta do atual clube. Seria um prazer reencontrar o René - garantiu à Rádio Globo.

O atual clube a que Marcão se refere é o Figueirense, onde disputou o Brasileirão. Ele deu a palavra ao técnico Argel Fucks de que continuaria no Figueira em 2015 caso a diretoria permanecesse após as eleições, o que acabou acontecendo.

Marcão tem 29 anos e é típico jogador de área. Com 1,90m e 89kg, se destaca pelo bom cabeceio. Se acertar, vai ocupar lacuna carente nesta temporada. O único atacante que teve desempenho razoável foi o paraguaio Zeballos, que não segue no clube para a próxima temporada.



- Já trabalhei com o René e ele sabe qual é a minha maneira de jogar e trabalhar. Sempre procuro fazer uma liderança onde estou. Fiz uma boa campanha no Brasileiro. Fico feliz pela procura, vou torcer para que tudo dê certo e eu possa ir para o Botafogo - torce o jogador, que marcou cinco gols em 21 partidas pelo Figueirense.


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Por que caiu? Caiu por quê? Dossiê Botafogo IV: A queda e o buraco


Demissões desastradas, empresa da família, contrato com comissão misteriosa e o rebaixamento à Série B: o melancólico fim de mandato de Maurício Assumpção





Na quarta e última reportagem da série, o GloboEsporte.com conta os últimos capítulos da novela que levaram o Botafogo ao rebaixamento em 2014. A falta de autoridade dos dirigentes, a descoberta das comissões de patrocínio para a empresa da família do presidente Maurício Assumpção, a desestruturação do elenco, a demissão desastrada de jogadores, o estranho contrato de empréstimo, as crises de relacionamento e a mais previsível das quedas à Série B do Campeonato Brasileiro.

1 – Caso Romar

No dia 30 de julho de 2014, o GloboEsporte.com revelou que a Romar Representações, empresa da família do presidente Maurício Assumpção, recebia comissões do principal contrato de patrocínio do clube, o da Viton 44. O presidente admitiu que o contrato existia, mas disse que não recebia nada da empresa.

– Eu, Mauricio Assumpção de Souza Junior, não tenho participação na Romar Representações LTDA e sequer recebi qualquer valor oriundo da empresa.

Maurício disse não ver "conflito ético" no contrato. A revelação pegou mal entre os jogadores e caiu como uma bomba no clube. Uma reunião no Conselho Deliberativo discutiu a possibilidade de impeachment do presidente, mas Carlos Augusto Montenegro disse que a ideia era inviável por causa dos prazos eleitorais.

documentos Botafogo financeiro (Foto: Reprodução)

Foi instalada uma "comissão de crise" para tentar intervir na gestão. Assumpção a ignorou e continuou a tocar negociações do clube, tentando obter recursos das mais diversas formas. No dia 31 de julho, o goleiro Jefferson publicou em seu Instagram um vídeo e brincou.

– Já não estava muito bom, poderia melhorar, mas agora piorou.

Fora de campo, os problemas não paravam. O empresário Eduardo Uram entrou na justiçacontra o Botafogo - executando Chico Fonseca e Assumpção - por causa de um empréstimo ligado à transferência de Rafael Marques.

2 – A visita da saúde

Motivados pelas promessas de pagamento dos cardeais, o time respirou em agosto e conseguiu vitórias importantes. Na Copa do Brasil, após perder em casa para o Ceará, conseguiu uma virada milagrosa nos minutos finais em Fortaleza (relembre no vídeo abaixo). No Brasileiro, derrotou a Chapecoense e o Santos no Maracanã e se afastou do temido Z-4 no fim do primeiro turno. Fez bons jogos contra Atlético-MG e São Paulo, mas foi prejudicado por expulsões infantis (de Dankler e Airton).



E perdeu para o Inter em Porto Alegre num jogo em que Wallyson desperdiçou dois gols feitos quando a partida estava 0 a 0. A equipe jogava até bem, mas pecava em detalhes. No dia 17 de setembro, vencia e controlava o jogo contra o Bahia quando Ramirez e Sheik foram expulsos no início do segundo tempo. Os baianos, com dois a mais, viraram no finzinho (relembre no vídeo abaixo). O time ainda conseguiu vencer o Goiás no dia 25 por 1 a 0.




3 – Jefferson bate

Quatro dias depois de vencer o Goiás, o Botafogo enfrentou o Grêmio e não jogou bem. Foi dominado e perdeu no Maracanã. A irritação dos jogadores era imensa. A promessa dos cardeais não estava sendo cumprida. Os únicos dirigentes que "apareciam" eram o vice administrativo André Silva e o diretor Wilson Gottardo. No fim da partida, irritado, Jefferson deu entrevista detonando a diretoria.

– Estamos sozinhos. Não tem diretoria, não tem apoio. Estamos só nós, jogadores, a comissão técnica e a torcida.

A declaração era um recado para os "cardeais", mas Maurício Assumpção ficou irritadíssimo. E resolveu voltar a apitar no futebol. Para fazer isso, ele precisaria afastar as lideranças do grupo. Mas o clube jogaria três dias depois contra o Santos pela Copa do Brasil, e ele resolveu esperar.

4 – Edílson, Sheik e o descompromisso

Assumpção ouvia histórias pouco abonadoras sobre Edílson e Sheik. A diretoria acreditava que o lateral-direito estava fingindo continuar lesionado para não jogar. Sheik aparecia mais fora de campo do que dentro. Suas declarações contra a CBF tinham, na avaliação dos cartolas, enfraquecido o clube politicamente.

– Ele quer ser suspenso para ganhar sem trabalhar – comentavam.

Consideravam também que Sheik tinha forçado a expulsão contra o Bahia para não ir de ônibus a Criciúma. E não faltava veneno. Membros da diretoria acreditavam que o jogador só tinha aceitado ir para o Botafogo para reduzir seus gastos com fretamentos de jatinho para ir de São Paulo para Angra.

Após expulsão contra o Bahia, Emerson ataca a CBF para a câmara de televisão (Foto: Getty Images)

5 – A demissão desastrada

O Botafogo perdeu para o Santos por 3 a 2 no dia 1º de outubro, uma quarta-feira. Sheik saiu no primeiro tempo após sofrer uma entrada dura (em falta não marcada). O time correu muito e não jogou mal, mas duas falhas individuais de Gabriel e Jefferson determinaram o resultado. Assumpção achou que tinha chegado a hora de agir. Alegando deficiência técnica, demitiu Bolívar, Julio Cesar, Edílson e Emerson Sheik. Marcelo Mattos também seria mandado embora, mas como sua rescisão seria muito cara (acima de R$ 2 milhões), foi poupado. Mancini colocou seu cargo à disposição. O presidente não aceitou.

– Você não tem culpa, e vou contigo até o fim – disse.

Bolívar estava pagando a conta dos problemas anteriores. Gottardo tinha brigado com Edílson por conta da lesão e do tratamento do lateral. Júlio César era considerado "maria-vai-com-as outras". Assumpção acreditava que o clima ficaria mais respirável sem o quarteto - pois a raiva dos jogadores com a diretoria era canalizada por eles.

- O ambiente estava muito pesado. Nem culpo os caras... foram muitas promessas não cumpridas, coisas que não aconteciam, frustração em cima de frustação. E o Bolívar reclamava sempre. Todo dia. Eles saindo... ficou mais leve - disse um membro da diretoria.

Mais leve - mas não necessariamente melhor. A quebra na liderança fraturou um time já moral e financeiramente estraçalhado e lançou jovens como Dankler, Andreazzi, Matheus Menezes e Murilo na fogueira.

Jefferson seria outro candidato a sair. Mas como ídolo e titular de Dunga, seria impossível dispensá-lo. Era importante, porém, aproveitar a viagem do goleiro com a seleção brasileira para a China naquela semana. Isso impediria alguma revolta do elenco com as demissões. De quinta para sexta-feira, quando o Botafogo se preparava para o crucial confronto direto contra o Vitória, em Salvador, Assumpção agiu. Avisou a Mancini e Gottardo, pedindo que os atletas fossem demitidos.

6 – Impacto moral

O modus operandi da demissão deixou o elenco em estado de choque. Um e-mail foi enviado para Emerson Sheik, Bolívar, Julio Cesar e Edílson na madrugada de sexta, dia 3 de outubro. Na manhã seguinte, porém, os quatro foram ao Engenhão treinar. Ao vê-los, Mancini avisou a Wilson Gottardo:

– Eles vieram, Gottardo. Estão aí.

A rouparia não tinha sido avisada das demissões e disponibilizou os uniformes de treino para os atletas. Bolívar, Edílson e Julio Cesar se arrumaram. Gottardo encontrou o trio no departamento médico e disse que eles não deveriam subir para o campo. Os jogadores conversaram entre si e decidiram ir. A preocupação deles era trabalhista: queriam provar que tinham ido treinar para evitar uma eventual "justa causa" do clube.

O gerente achou que eles não subiriam. Quando subiram, o circo se armou. Gottardo quis tirá-los do campo, e houve discussão. Emerson, que chegara atrasado, se juntou ao grupo. Subitamente, uma Kombi entrou em campo para levar embora os demitidos. Os outros jogadores ficaram atônitos. Sem clima algum, Mancini pediu apenas que o grupo corresse com o preparador físico Moraci e fizesse um treino sem responsabilidade.




A decisão, justificada por Assumpção no mesmo dia, em entrevista coletiva, foi um desastre em todas as direções. O elenco, que já era limitado, se enfraqueceu. O time deixou de ter reserva nas duas laterais. Na zaga, teve que apostar em jogadores com pouca ou nenhuma experiência – como Dankler e Matheus Menezes. Pior: financeiramente, a decisão ainda ampliou a dívida do clube, que será obrigado a arcar com as rescisões de Bolívar, Edílson e Júlio César, além de eventuais danos morais.


Ainda pior foi a situação de Emerson. Metade de seus salários de R$ 620 mil era paga pelo Corinthians. A outra metade? Também, mas graças ao que o Botafogo "teria ganho" na negociação de Lodeiro. Ou seja, o clube já havia pago por Sheik até o fim do ano. Poucos dias depois da demissão, Sheik publicou um vídeo irônico no Instagram em que claramente debochava da diretoria (confira abaixo). E no dia 15 de outubro, os quatro concederam uma entrevista coletiva para dar suas versões. Não disseram muita coisa.




7 – Derrotas em sequência

Traumatizado com as demissões, o elenco viajou para Salvador para o confronto direto contra o Vitória. Régis, vindo da Portuguesa, estreou na lateral direita. O Botafogo fez um bom primeiro tempo, desperdiçou chances e perdeu o jogo na segunda etapa em duas falhas de Dankler, o substituto de Bolívar.

– O presidente disse que Bolívar era lento e falhava, mas era ele quem fazia o sistema defensivo funcionar – comentaria Mancini.

– Ele rebaixou o Botafogo com essas demissões – disse depois Montenegro.

– O Maurício fez isso para poder voltar a frequentar o futebol. Com os caras lá, ele não tinha condições de ir – diz um diretor.

Com a saída dos demitidos, Maurício Assumpção voltou a comparecer aos treinos. Mas não aos jogos.

Após demitir Sheik, Bolívar, Edilson e Julio Cesar, Assumpção voltou a aparecer nos treinos (Foto: Agência Estado)
8 – Jefferson x Gottardo

Outro desentendimento ocorreu antes da partida de volta contra o Santos pela Copa do Brasil. Jefferson e Gottardo se falaram pelo WhatsApp quando o goleiro estava na China, e o camisa 1 não entendeu que o diretor queria que ele jogasse a partida contra o time paulista em São Paulo. Jefferson jamais disputou partidas quando, na Seleção, viajou no dia de volta. Sempre disse que goleiro "precisa de reflexo" e não se sentia confortável. Ao desembarcar no Rio, foi para o clube treinar e recebeu mensagem de Gottardo dizendo que ele deveria estar em São Paulo. Jefferson disse que não tinha entendido.

Gottardo disse a Mancini que Jefferson tinha faltado. O técnico deu entrevista antes do jogo ao SporTV dizendo que o goleiro deveria estar ali. Logo após o jogo, porém, falou com Jefferson e disse que tinha sido informado erradamente por Gottardo. Irritadíssimo, o dirigente deu entrevista para a Fox Sports dizendo que o capitão da equipe tinha falha de caráter. Jefferson devolveu em coletiva, dizendo que Gottardo tinha sido covarde. O dirigente e ex-zagueiro rebateu: "Não jogar talvez tenha sido um ato de covardia." No dia seguinte, Maurício Assumpção foi ao Engenhão e se reuniu a portas fechadas com os dois.

Enquanto a reunião ocorria, cerca de 20 membros de uma torcida organizada invadiram o estádio e chegaram até o departamento médico, onde dois jogadores faziam tratamento.

– Cadê o Gotttardo? Cadê o Maurício? Viemos pegar eles.



Por sorte, a reunião do presidente com o goleiro e o diretor era numa sala distante. Os torcedores foram conduzidos até a sala de imprensa, onde conversaram com jogadores e membros da comissão técnica. A conversa ficou tensa (assista ao episódio no vídeo acima) e quase houve briga envolvendo um torcedor e Carlos Alberto (confira no vídeo abaixo), mas a situação foi contornada.




9 – Laterais

No fim de 2013, o Botafogo tinha três bons laterais-direitos: Edílson, Lucas e Gilberto. O clube resolveu emprestar Gilberto ao Internacional, fixando o passe em 3 milhões de euros (o Alvinegro tem direito a um percentual disso). Lucas saiu em agosto, amparado pela Justiça. Edílson foi demitido. E o titular da lateral direita virou Régis - que veio no meio do campeonato da Portuguesa e tem contrato até setembro de 2015. O clube até tentou trazer Gilberto de volta, sem sucesso. Na lateral esquerda, Junior Cesar virou titular sem reserva. Mancini teve que escalar o ex-junior Guilherme na Copa do Brasil, contra o Santos. Deu muito errado e improvisou Sidnei contra o Fluminense. No fim do ano acabou jogando com outro ex-junior, Fabiano, também improvisado.

10 – Números

Após as demissões, o Botafogo fez 12 jogos no Brasileirão. Duas vitórias, um empate e nove derrotas. Marcou seis gols e tomou 17. Nos 25 jogos anteriores, o clube havia feito 25 gols e sofrido 31. Ou seja, a média a favor caiu de 1 para 0,5 por partida. E a média de gols sofridos aumentou de 1,2 para 1,4 por jogo. Pela Copa do Brasil, o time fez uma partida após as dispensas: foi goleado pelo Santos por 5 a 0.

– Nosso time e nosso elenco não eram para cair. Caímos fora de campo. Nunca vi no futebol tanta desorganização e tanta falta de comando. E tanta negatividade. Foi o rebaixamento mais justo que já vi - disse um funcionário antigo do clube.

11 – Mancini x Gottardo

O técnico Vagner Mancini esteve perto da demissão durante a reta final da campanha do time. O vice André Silva e Wilson Gottardo julgavam necessário tentar dar um gás novo ao clube. A degola iria acontecer após o jogo contra o Corinthians, em Manaus, mas Mancini foi salvo pela vitória. Só que ficou sabendo e decidiu confrontar Gottardo.

– Eu sei que você pediu a minha saída.

Gottardo desconversou.

– Não foi isso.

Mancini insistiu.

– Pediu e falou no Paulo Autuori para me substituir.

O gerente de futebol explicou que havia sido um mal-entendido.

– Não foi bem isso. Eu só cogitei o Paulo como uma possibilidade caso você saísse.

O clima entre os dois azedou de vez.

12 – Comissão não

Maurício e Landau tentaram obter recursos para pagar salários de toda forma. Uma das últimas cartadas foi tentar renovar com a Viton 44 para 2015. A primeira tacada era propor renovação por três anos a R$ 25 milhões por temporada. Mas uma pendência judicial entre Viton e o Banco Modal, responsável por inúmeras antecipações ao clube, complicou a negociação. Tentando resolver as pendências, Maurício e Landau foram até o Modal. Um dos sócios do banco não perdoou.

– Eu vou antecipar para pagar comissão à sua família?

Em visita a Viton para tentar sanar o problema, diretores ainda ouviram uma descompostura de Neville Proa, dono da empresa:

– Com vocês não quero falar... vocês acabaram com o Botafogo.

Nos bastidores, Neville soltava cobras e lagartos sobre a diretoria. Após o fim do mandato de Assumpção, o dono da Viton disse em entrevista ao jornal O Globo que "infelizmente ocorre de encontrar esses sem-vergonha, esses safados, como tem um monte no Brasil". Assumpção respondeu dizendo ao Extra que Neville tinha tido um lapso de memória e estava recorrendo a calúnias.

13 – Os intermediários mutantes

A busca desesperada por recursos gerou um empréstimo de R$ 3 milhões colhido junto a um trio de empresários paulistas – que o GloboEsporte.com descobriu e provocou uma crise dentro do clube. O clube pagou R$ 300 mil de comissão pelo empréstimo alegando oficialmente que isso foi um pedido do empresário Thiago Ferro. Ferro e seus sócios negaram – e mostraram os contratos que diziam textualmente que a comissão era uma ordem do Botafogo.

Assim que o primeiro intermediário, o advogado César Reis, foi contactado pela reportagem, ele devolveu a comissão, que foi repassada para outro. Isso depois de dizer à reportagem que tinha recebido o dinheiro a pedido de Sidnei Loureiro. Loureiro disse que o intermediário tinha "se confundido". O Botafogo, em resposta ao GloboEsporte.com, disse oficialmente que desconhecia o advogado: "O Botafogo desconhece o Sr. César Reis, cujo nome não consta na versão final do contrato, assinada pelo clube e por todos os envolvidos"

O segundo contrato só ficou pronto nas últimas semanas da gestão Assumpção. Nele está de novo expresso que o pagamento de comissão ao intermediário (agora a advogada Michele Gusman) foi um pedido do Botafogo. O caso está sendo investigado pelo Conselho Fiscal do clube. Para tentar entender o assunto, veja a cronologia no fim desta reportagem.

Contrato aponta pagamento de comissão para advogado de ex-gerente de futebol do Botafogo (Foto: Infoesporte)

Os prestadores de serviços do futebol, com vencimentos atrasados há cinco meses souberam que, além dos R$ 300 mil de comissão, Assumpção tinha pago a Romar R$ 300 mil com os R$ 2,7 milhões que entraram no clube. Gottardo pediu ao presidente que não pagasse rescisões, pois os prestadores de serviço estavam atrasados e, ainda assim, trabalhando.

– Os PJs ficaram indignados porque os R$ 600 mil pagariam, naquele momento, dois meses deles – explicou um dirigente.

Assumpção ignorou e preferiu pagar não apenas a Romar, mas também a rescisão de Sidnei Loureiro e de três outros profissionais. Com a quantia teria sido possível quitar FGTS s salários de Gabriel e Daniel até dezembro, por exemplo. O volante e o meia-atacante entraram na Justiça em dezembro pedindo rescisão unilateral de contrato, amparados pelo atraso de mais de três meses de seus vencimentos e depósitos de FGTS.

14 – "Faltava tudo"

Em campo, as más notícias não paravam. Para destruir de vez o ataque do clube, Mancini perdeu Rogério e Wallyson por lesão na mesma semana, antes do jogo contra o Atlético-PR em casa. Com Zeballos e Ramirez em baixa, Mancini resolveu apostar em Carlos Alberto, Jobson, no jovem Murilo e em Bruno Corrêa. Não funcionou. Nova derrota. O time, depois da perda dos atacantes, só fez um gol – e contra – marcado pelo zagueiro Léo, do Cruzeiro, no Mineirão.

Os jogadores se sentiam abandonados. A falta de recursos era tamanha que, a cada rodada fora de casa, a agência de viagens ameaçava não deixar o clube ir de avião. No vestiário, a reclamação era constante em relação à falta de alguns materiais, como gelo e remédios.

– Isso aqui está pior do que clube pequeno – reclamou um funcionário.

– Ninguém tem noção do que passamos no Botafogo. Eu nunca tinha visto nada parecido. O time até tem uma boa estrutura física, mas parecia que faltava tudo – disse Vagner Mancini.

15 – O rebaixamento

Carlos Alberto e Jobson só chamaram a atenção ao perder oportunidades claras quando os diante de Fluminense, no Maracanã, e Figueirense, em São Januário, ainda estavam empatados – o Botafogo acabou perdendo os dois por 1 a 0. Os resultados deixaram o time em situação crítica. O desespero era tamanho que até o atacante Maikon, contratado por Gottardo, foi chamado para ficar no banco contra a Chapecoense.

Com um ataque formado por Bruno Correa, Jobson e Murilo, o time não se encontrou e foi derrotado após levar um gol novamente pelo setor direito. O elenco esfacelado não tinha mais opções. A moral era nenhuma. As chances matemáticas terminaram em nova derrota, desta vez para o Santos, na Vila Belmiro. Na reta final, o time acumulou seis derrotas seguidas e caiu para a Segundona uma rodada antes do fim do campeonato.

Poucos dias antes, no dia 25 de novembro, Carlos Eduardo Pereira foi eleito presidente. Durante a eleição um adesivo foi distribuído chamando Assumpção de "pior presidente da história".

Gabriel (sem camisa) chora após a derrota que selou a queda à Série B (Foto: Michel Filho / Agência o Globo)

16 – Melancólico adeus

Entre julho e agosto, o diretor executivo do clube, Sérgio Landau, e o diretor comercial, Airton Mandarino, se tornaram demissionários. Alegaram que, como não recebiam vencimentos por falta de recursos, se afastaram voluntariamente. Mas continuaram indo ao clube e operando em busca de contratos. Landau trabalhava para assinar o contrato de cogestão proposto pela Odebrecht para o Engenhão e também um contrato do cartão de consumo do estádio.

Adesivo distribuído nas eleições do Botafogo apontam Assumpção como o pior presidente da história (Foto: Fred Gomes)

Em setembro e outubro, os departamentos financeiro e jurídico conseguiram com gestões junto a Globo Esportes e aos irmãos Moreira Salles pagar três parcelas do REFIS: mais de R$ 10 milhões. Os Moreira Salles avisaram que não iriam pagar a quarta e a quinta parcelas, que venceriam em novembro e dezembro. A participação de Assumpção e Landau nessas negociações foi muito pequena.

O presidente terminou seu mandato de forma quase clandestina. Nos últimos meses se dedicou muito às divisões de base, sempre em contato com o gerente Ney Souto. Tanto que não compareceu a nenhum jogo do profissional na reta final do rebaixamento. Mas, no sábado, véspera do jogo decisivo contra o Santos, foi ver a final da Taça Otavio Pinto Guimarães de juniores em Nova Iguaçu (o Botafogo perdeu para o Flamengo por 3 a 1). E, para terminar, não compareceu no clube no dia da eleição, nem mesmo passou o cargo para seu sucessor, Carlos Eduardo Pereira. Depois de se despedir de jogadores e funcionários, Maurício Assumpção foi embora com poucas palavras.

Assumpção deixa o Engenhão após se despedir de jogadores e funcionários (Foto: GloboEsporte.com)

17 - O tamanho do buraco

Em seis anos de mandato, Maurício Assumpção pagou cerca de R$ 134 milhões em dívidas de presidentes anteriores. Foi o presidente alvinegro que mais pagou dívidas em termos absolutos. Apesar disso, segundo uma estimativa do departamento financeiro, deixou o clube produzindo ainda mais débitos. Essa estimativa prevê que a dívida produzida entre 2009 e 2014 possa alcaçar até R$ 200 milhões, sendo que mais de metade disso será débito fiscal. Ou seja, de impostos e encargos não recolhidos.

O departamento financeiro fez um estudo que mostra que Maurício produziu mais dívida fiscal do que os antecessores. Segundo esse estudo, o buraco do Botafogo com a Receita hoje é de R$ 434 milhões, dividido assim por presidentes (de forma aproximada):

1. Maurício Assumpção (2009-2014) – R$ 117 milhões
2. Bebeto de Freitas (2003-2008) – R$ 66 milhões
3. Mauro Ney Palmeiro (2000-2002) – R$ 61 milhões
4. José Luís Rolim (1998-2000) – R$ 92 milhões
5. Carlos Augusto Montenegro (1993-1998) – R$ 66 milhões
6. Gestões anteriores – R$ 32 milhões

Mas a dívida fiscal é só parte do problema. Ainda não é possível precisar o tamanho dos buracos trabalhista e financeiro. A estimativa do financeiro é que seja grande, aproximando-se dos R$ 100 milhões por conta de empréstimos e rescisões.

– Tem um monte de empréstimo vencendo este ano e no ano que vem. Algo em torno de R$ 100 milhões. Como esse empréstimo inacreditável do fim de mandato que vence em fevereiro e dá o patrocínio de camisa e os recebíveis do Dória como garantia. Sendo que o clube já vendeu tudo o que tinha do Dória e ainda tem que pagar a comissão dos intermediários - que são os mesmos caras que emprestaram essa grana. No lado trabalhista, são seis meses de salário em atraso. Vários profissionais mandados embora que não receberam rescisão. Só naqueles três jogadores demitidos o clube vai perder alto. O Bolívar tinha renovado por R$ 360 mil até dezembro de 2015 e vai buscar isso tudo na Justiça – diz um analista que teve acesso aos números do clube.

Há empréstimos com a Odebrecht, comissões a pagar, o caso da dívida do caso Elkeson e muito mais. Um membro da nova diretoria resumiu a ópera.

– Ainda não sabemos onde está o fundo do poço.

18 – Um ano em perspectiva

Em 11 de fevereiro de 2014, o Botafogo derrotou o San Lorenzo por 2 a 0, estreando bem na fase de grupos da Libertadores diante de 32 mil alvinegros no Maracanã. Neste sábado, dia 20, o time argentino vai disputar a final do Mundial de Clubes contra o Real Madrid no Marrocos.

O Botafogo está rebaixado para a Série B, e os únicos jogadores que atuaram diante do mosaico "O Gigante voltou" e ainda permanecem no clube são o goleiro Jefferson e o volante Marcelo Mattos.


Por GloboEsporte.com Rio de Janeiro

Bota realiza pré-temporada no Cefat, em Várzea das Moças, Niterói


Jogadores vão iniciar o trabalho no local no dia 8 de janeiro. Centro de treinamento já é utilizado pelas divisões da base do clube


O Botafogo fechou nesta quinta-feira a programação de sua pré-temporada, que será realizada a partir do dia 8 de janeiro no Cefat (Centro de Formação de Atletas TROPS), na localidade de Várzea das Moças, Niterói. O local tem sido utilizado pelas divisões de base, inclusive para jogos, e é visto como um possível CT para a garotada no futuro. Será a primeira vez, no entanto, que os profissionais vão utilizar as instalações.

O Cefat é uma opção mais viável financeiramente diante da grave crise financeira que o Bota enfrenta. O dono é empresário e ex-vice de patrimônio do Botafogo, Marcos Antônio Tristão, e é administrado por sua filha, Vanessa Tristão. Durante sua apresentação, na quarta-feira, o técnico René Simões havia falado sobre o local, mas sem citar o nome.

- Estamos visitando um local, parece excepcional. Vamos dar uma olhada, tem tudo para ser o escolhido. Já temos data, está muito bem encaminhado. Apesar der ainda estarmos discutindo algumas coisas - afirmou René.

O centro de treinamento conta com dois campos oficiais (105m x 68m), arquibancada para até 1.000 pessoas, bar, campo auxiliar para aquecimento e treinamentos (50m x 25m), caixa de areia, quatro vestiários para atletas, dois vestiários para árbitros, uma sala de palestras, piscina, alojamento para até 68 pessoas e estacionamento para 100 veículos.

Cefat é utilizado regularmente pelos atletas das divisões de base do Bota (Foto: Flickr do Botafogo)

Por GloboEsporte.com Rio de Janeiro

René já tem lista de reforços e quer jogadores no Botafogo "com fome"


Treinador lembra que no período sem trabalhar aproveitou para estudar e se diz pronto para ajudar a recolocar o clube alvinegro na Série A



Apresentado nesta terça-feira oficialmente como técnico do Botafogo, René Simões já planeja a temporada de 2015, quando o clube disputará a Série B e lutará para voltar à elite do futebol brasileiro. Ciente das dificuldades financeiras que o Alvinegro atravessa, o treinador já preparou uma lista de reforços e traçou o perfil de jogadores que gostaria de contar no elenco. Em entrevista ao "SporTV News", René elogiou o trabalho feito nas categorias de base e afirmou que espera contar com atletas que queiram aparecer e que estejam "com fome" para recolocar o time carioca na Série A.

- Eu estou preparado, tenho uma lista dos jogadores que eu acho os ideais para a gente montar um time para a segunda divisão. Jogadores com fome de aparecer, fome de voltar à primeira divisão. Temos uma outra lista, que depende da parte financeira, se não der. Mas é óbvio que vamos olhar para a base. O Botafogo faz um trabalho de base muito bem feito, eu conheço esse trabalho há muito tempo.

O último trabalho de René como treinador antes de assinar com o Botafogo aconteceu no ano passado no Atlético-GO. Antes de assumir o time goiano, ele foi diretor executivo de futebol do Vasco. O período fora da beira do campo serviu para se aprimorar profissionalmente. René Simões disse ter feito cinco cursos nos últimos dois anos e se diz pronto para comandar o Alvinegro em 2015.

- Eu acho que sou hoje sou um treinador mais bem preparado para encarar esse desafio do Botafogo (...). Isso tudo ensina como trabalhar dentro de campo. O importante é saber tirar o melhor do jogador dentro de campo.

René Simões está confiante no seu trabalho para a temporada de 2015 (Foto: Reprodução SporTV)

O treinador se mostrou ansioso para dar início ao trabalho de 2015, que começará em 8 de janeiro. De acordo com o novo comandante alvinegro, o ex-jogador Carlos Alberto Torres está auxiliando na escolha do local onde será realizada a pré-temporada.

- Eu gostaria de começar antes, mas por lei não pode começar antes do dia 8, já que o Brasileirão terminou no dia 7 de dezembro. Nós vamos visitar um local, o Capita (Carlos Alberto Torres) está ajudando nisso. Nós vamos dar uma olhada, parece que será lá e vocês serão informados posteriormente.

René Simões tem 62 anos e já trabalhou em clubes como Fluminense, Coritiba, Bahia e Vitória, além de ter comandado a Jamaica na Copa de 98, a Costa Rica nas Eliminatórias para o Mundial de 2010 e a seleção brasileira feminina nos Jogos Olímpicos de Atenas, quando conquistou a medalha de prata.

Por SporTV.comRio de Janeiro