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quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Em clima de ressaca, elenco do Bota se reapresenta após rebaixamento


Vagner Mancini comanda um treino leve. Assim como foi recorrente durante o Campeonato Brasileiro, treinador tem muitos problemas para escalar a equipe




Jefferson conversa com Mantuano, vice de futebol (Foto: Fred Huber)
Depois de dois dias de folga, os jogadores do Botafogo se reapresentaram na tarde desta quarta-feira, no Engenhão, após a derrota por 2 a 0 sobre o Santos, domingo, na Vila Belmiro. O resultado sacramentou o rebaixamento do Alvinegro para a Série B em 2015. Os atletas tentaram buscar motivação para mais um dia de trabalho, mas o clima foi de ressaca.

Vagner Mancini teve uma rápida conversa com o elenco, e depois comandou um treino técnico sem distinção de titulares ou reservas. Até os goleiros Jefferson e Andrey participaram da atividade na linha. Marcelo Mattos e Bolatti ficaram na sala de musculação e não têm escalação garantida na última rodada do Brasileiro, domingo, contra o Atlético-MG, em Brasília. Junior Cesar está suspenso e também desfalca a equipe.

Após o fim do treinamento, o capitão Jefferson teve uma conversa de cerca de cinco minutos com o novo vice de futebol, Antonio Carlos Mantuano. O goleiro tem contrato com o clube até o fim do ano que vem e é visto como um grande pilar para a reconstrução do time, mas não tem futuro definido.


Por Fred Huber e Sofia Miranda*Rio de Janeiro* Estagiária, sob supervisão de Fred Huber/GE

Emoção: Gabriel lembra dificuldades e diz que jogaria Série B com orgulho


Com lágrimas nos olhos, volante lamenta queda do Bota. Um dos poucos que se salvaram no rebaixamento, atleta espera contato da nova diretoria para saber se fica



O apito final do árbitro na derrota do Botafogo para o Santos, domingo, na Vila Belmiro, foi como um golpe fatal para o volante Gabriel. O Glorioso estava rebaixado. Ele foi um dos que mais ficou abalado e, no caminho até o vestiário, com a camisa alvinegra cobrindo o rosto, chorou. O sentimento de fracasso tomou conta. Todo sacrifício não tinha surtido o efeito necessário.

Ainda muito triste com a ida do Bota para a Série B, Gabriel passou a segunda e terça-feira ao lado da família. É em casa que ele busca o conforto e a força para voltar ao trabalho. Domingo tem a última rodada, contra o Atlético-MG, mas a verdadeira missão será em 2015. Será necessário reerguer o clube, voltar para a elite.

Emocionado e com a voz embargada, o volante relembrou sua trajetória desde que chegou ao clube, ainda nos juniores, em 2011, e lamentou que o time não tenha conseguido manter o Botafogo na Primeira Divisão.

- Família, amigos... Nesse momento são os que estão do meu lado e sempre vão estar. Nos momentos bons e ruins. Já saíram lágrimas nas alegrias, consegui levar o Botafogo para a Libertadores. Sou muito grato a esse clube e estou muito feliz de vestir essa camisa. Fico emocionado. Sou um jogador que morei em Marechal Hermes na concentração e agora posso morar aqui junto da minha família. Foi o clube que me proporcionou isso - afirmou o jogador em sua casa, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Gabriel no condomínio onde mora, na zona oeste do Rio de Janeiro (Foto: Fred Huber)

Confira a entrevista completa com Gabriel:

GLOBOESPORTE.COM: Apesar do rebaixamento, você conseguiu manter um bom nível de atuações e segue como o maior ladrão de bolas do Brasileiro - 99 contra 87 do colorado Willians. Com lida com estes dois sentimentos opostos?

GABRIEL: Difícil até de falar (emocionado). Estou triste por tudo o que aconteceu. Sou o maior ladrão de bolas, mas isso não vale de nada. Hoje, o Botafogo está rebaixado. Isso dói muito. Estou muito triste com essa situação. Até chorei um pouco quando o jogo acabou. Cheguei em 2011, com o clube na Série A, e agora passar por esse rebaixamento... Muito difícil. Tem que ser forte.

Hoje, o Botafogo está rebaixado. Isso dói muito. Estou muito triste com essa situação. Até chorei um pouco quando o jogo acabou. Cheguei em 2011, com o clube na Série A, e agora passar por esse rebaixamento... Muito difícil. Tem que ser forte.
Gabriel, volante do Botafogo

Qual imagina que será seu futuro? No Botafogo ou em outro clube?

Sou grato ao clube, tenho contrato até o fim de 2015. Não sei qual é o planejamento da nova diretoria, qual time que eles querem montar. Certamente terão mudanças. Estamos esperando. Se eu tiver que ficar, fico com orgulho. O Botafogo me deve salários, luvas... mas isso eu prefiro deixar de lado.

Seu contrato termina no fim de 2015. Já houve alguma conversa sobre a possibilidade de renovação?

Ainda não tivemos uma conversa individual. Ele (presidente) conversou com o grupo logo após as eleições e disse que está otimista para 2015. Vai montar um time competitivo para ganhar o Carioca e voltar para Série A. Me parece um cara do bem, assim como era o Maurício (Assumpção). Não tenho contra, me ajudou bastante no Botafogo. O Carlos Eduardo assumiu agora e o clube precisa começar do zero. Temos que respeitar essa coisa e ter um bom 2015. O que tínhamos que sofrer, já sofremos em 2014. Demos um passo para trás para darmos dois para frente.

Qual era o espírito da equipe na partida contra o Santos diante da necessidade de vencer e ainda torcer por outros resultados?

No sábado, os resultados nos ajudaram. Estávamos com uma última esperança, mas não conseguimos. Futebol tem disso. Temos que ser homens para assimilar isso. Tentamos com todas as nossas forças e limitações. Não foi suficiente, fica de aprendizado.

Como foi o vestiário pós-rebaixamento? Houve conversa entre os jogadores, algum dirigente falou?

Foi um clima de silêncio, tristeza, com cada um fazendo uma reflexão do que foi feito. Bem complicado. Esperamos o Jefferson, que tinha ido para o exame antidoping, para fazermos a nossa roda de oração. Pedimos que Deus nos desse conforto para termos forças. A viagem também foi o mesmo clima. Todos quietos. Era inevitável.

Como foi a decisão de retornar ao Rio de ônibus para evitar um possível contato com a torcida?


Os jogadores, comissão técnica e diretoria acharam que era a melhor forma. Mas foi uma viagem dolorosa, triste. Mas temos que ser fortes para sair dessa. A torcida nos apoiou bastante, até na reta final. Quando achamos que poderia ter alguma coisa diferente, continuaram a apoiar. Estavam do nosso lado, e isso é uma coisa que podemos levar para o ano que vem. Foi uma coisa positiva.
Gabriel não sabe se permanece no Botafogo (Foto: Fred Huber)
O ano começou com otimismo por causa da disputa da Libertadores, mas depois da eliminação ainda na primeira fase tudo parece ter saído do rumo...

Foi um ano muito difícil. Começamos com o objetivo de ir bem na Libertadores, Brasileiro, já que em 2013 estávamos muito bem, mas o que acabou acontecendo não estava nos nossos planos. Foi um baque muito grande, o Botafogo não merecia isso pela grandeza que tem. Mas temos que ser homens e maduros o suficiente para fazer com que o clube volte para a Série A.

Os jogadores enfrentaram muitos problemas durante o Brasileiro, que acabaram abalando o emocional, como o atraso de salário, demissão de atletas e pressão da torcida. Qual momento que ficou claro que seria complicada a luta contra o rebaixamento?

Nós tivemos muitos problemas. Perdemos jogadores importantes. Mas os problemas tratamos sempre de forma clara, para que torcida ficasse sabendo o que estava acontecendo. Quando estávamos na zona de rebaixamento e tínhamos a chance de sair, não conseguíamos. A bola não entrava, batia na trave. Momento não foi favorável. Quando faltavam acho que 11 jogos para o fim, falamos entre nós que precisávamos vencer seis, pelo menos. Cenário já era difícil. Aí vencemos o Corinthians e nos animamos, mas depois começamos a tropeçar muito novamente e não conseguimos escapar. Agora a nova diretoria vai planejar tudo direitinho para o clube voltar forte para Série A.

Qual impacto que a demissão de Emerson, Bolívar, Edilson e Julio Cesar teve na equipe?

Nós não esperávamos o que aconteceu. Jamais. Eram jogadores, em tese, titulares do time. Foi uma grande surpresa. Tentamos encarar como um problema da diretoria individualmente com estes jogadores. Senão, teria que mandar todo mundo embora. Em campo, tentamos fazer nossa parte depois disso, mas não conseguimos emplacar duas, três vitórias seguidas. Tentamos de todos os jeitos, mas não conseguimos evitar.

E o que afetou no time a invasão dos torcedores ao treino no Engenhão?

Os torcedores invadiram o Engenhão em um dia de treino, de trabalho. Conversamos com eles reunidos na sala de imprensa. Eles falaram o que pensavam, e nós também. Não acho que atrapalhou. Lógico que estavam exaltados, até pelo momento da equipe no Brasileiro, são movidos a paixão. Foi uma conversa boa. Disseram que iam apoiar até o fim para tentarmos fugir do rebaixamento. Viam que o pior poderia acontecer. Nós demos a palavra de que faríamos de tudo para tentar fugir. Foi um susto a invasão, mas acabou que no fim ficou um sentimento bom de que iriam nos apoiar.

O atraso dos salários influenciou diretamente o desempenho dos jogadores em campo?

Desde que cheguei no clube, na base, nunca tinha tido problema com isso. Quando subi, em 2012, foram poucos atrasos. Em 2013 teve um pouco mais, passou de dois meses. A perda do Engenhão atrapalhou bastante, o clube ficou sem uma receita importante. Em 2014 é que foi o ápice dos salários atrasados, sempre beirando três meses na carteira e mais sete de direitos de imagem. A gente sabe que um dia vai receber e procuramos entender. Nunca fizemos corpo mole, nunca tiramos pé de dividida. A equipe de 2013 era superior, por isso que conseguimos os resultados positivos.

Quais devem ser as prioridades do Botafogo em 2015?

O primeiro objetivo é ser campeão carioca, assim como aconteceu em 2013, quando vencemos os dois turnos. Aquilo nos fortaleceu e conseguimos a vaga na Libertadores no Brasileiro. Depois, temos que voltar para Série A. Vamos ter um Botafogo renovado para, junto com a torcida, reerguermos o time. Será um ano de conquistas.

Você e o Jefferson são os mais admirados pela torcida. Acredita que pode ao lado dele se tornar um líder e referência da equipe nesta reestruturação?

Fico feliz com a identificação que a torcida tem comigo e com o Jefferson. Tenho 22 anos e sou bastante respeitado, isso é o reconhecimento do trabalho. Ainda não sei qual é o planejamento da diretoria para o ano que vem, se estou nos planos ou não. Se ficar, será com a maior honra, e se tiver que assumir um papel de liderança estarei preparado.

Por Fred HuberRio de Janeiro

Botafogo pode manter técnico e diretor após queda. Mas tem uma exigência




Presidente Carlos Eduardo Pereira concede entrevista em General Severiano Luciano Belford/SSPress

A nova diretoria do Botafogo se reuniu na última semana com o técnico Vagner Mancini e o diretor de futebol Wilson Gottardo. Se após a vitória de Carlos Eduardo Pereira, o pensamento era de fazer uma verdadeira limpeza no futebol, hoje a situação é diferente. Após o encontro, o treinador e o dirigente convenceram a cúpula alvinegra de que a dupla não tinha culpa no rebaixamento da equipe. Isso, inclusive, fez com que a não renovação do contrato, algo que já estava decidido, sofresse uma reviravolta.

O Botafogo ainda não se decidiu de manterá Vagner Mancini a frente do time. Mas uma exigência é certa caso o profissional seja mantido como treinador do Alvinegro: a redução salarial. Com vencimentos na casa dos R$ 150 mil, o técnico terá que aceitar receber aproximadamente R$ 100 mil, valor considerado justo pela nova diretoria e que será utilizado na manutenção ou contratação de um novo comandante – em um primeiro contato, Mancini se mostrou disposto a conversar sobre um corte na verba mensal.

Pesa contra a permanência de Mancini o fato de a relação do treinador ter se desgastado com alguns atletas nesta reta final de Campeonato Brasileiro. Um grupo de jogadores diz que o técnico sempre transfere a culpa para o grupo e não assume suas responsabilidades. Mesmo que haja uma renovação completa no plantel, a situação deixou a diretoria com pé atrás, com medo que isso possa se repetir com um novo elenco em 2015.

A situação de Wilson Gottardo é muito semelhante. O diretor de futebol conta com a simpatia dos novos integrantes da diretoria, mas consideram os cerca de R$ 70 mil de salário alto para alguém que está iniciando na função. A redução no vencimento do dirigente seria menor que a do treinador e as partes ainda não avançaram nesse sentido. Incialmente, o ex-zagueiro é quem tem mais chance de permanecer em General Severiano em 2015.

Nem mesmo o bate-boca via imprensa com Jefferson pesou contra Gottardo, já que ele e o goleiro seguiram trabalhando normalmente. A relação respeitosa entre as partes fez com que a nova diretoria tivesse maior liberdade para fazer suas escolhas. O camisa 1 e capitão do Botafogo é prioridade da nova diretoria, que descarta liberar o jogador sem o pagamento da multa rescisória.

Bernardo Gentile
Do UOL, no Rio de Janeiro

Contratos de 19 atletas terminam em dezembro; A. Bahia perto de renovar


Zagueiro é um dos poucos que deve permanecer. Lista dos que têm o vínculo encerrado inclui Zeballos, Carlos Alberto, Wallyson, Ferreyra, Bolatti e Junior Cesar




Valorizado, André Bahia deve permanecer no Botafogo
 em 2015 (Foto: Buda Mendes / Getty Images)
Rebaixado para a Série B em 2015, o Botafogo passará por uma grande reformulação a partir de janeiro, quando o elenco se reapresentará para o início da preparação para o Campeonato Carioca. Ao todo, 19 jogadores têm o contrato terminando no fim de dezembro, e poucos devem continuar. Um dos que permanecerão é André Bahia.

A diretoria anterior e os representantes do zagueiro haviam firmado um documento de intenção de renovação, já com as bases contratuais acertadas, mas não assinaram por causa das eleições. Nas reuniões dos novos dirigentes, houve a confirmação do interesse em contar com o jogador, que subiu de produção este ano, chegando a barrar Dória, e mostrou espírito de liderança. A assinatura do novo vínculo deve ser feita em breve.

CONTRATOS NO FIM:

Alex
Anderson
Andreazzi
Bolatti
Bruno Corrêa
Carlos Alberto
Helton Leite
João Gabriel
Junior Cesar
Maikon
Ramírez
Rodrigo Souto
Rogério
Ronny
Tanque Ferreyra
Wallyson
Yguinho
Zeballos

Demitidos pelo então presidente Maurício Assumpção, Emerson Sheik, Bolívar, Edilson e Julio Cesar teriam o contrato encerrado em dezembro. Os outros são: Wallyson, Zeballos, Carlos Alberto, Junior Cesar, Bolatti, Ramírez, Tanque Ferreyra, Bruno Corrêa, Rogério, Maikon, Rodrigo Souto, Ronny, Helton Leite, Andreazzi, João Gabriel, Yguinho e os gêmeos Alex e Anderson.

O clube enfrenta uma grave crise financeira e não há perspectiva de uma grande reviravolta a curto prazo. Por isso, o presidente Carlos Eduardo Pereira disse, na segunda-feira, qual será a filosofia para a montagem da equipe.

- O que precisamos é de um elenco que entregue um produto final de boa qualidade. E não necessariamente o caro entrega o melhor. Tem que ter qualidade, experiência e buscar no mercado os nomes certos. A expectativa é de um plantel competitivo e de custo adequado. Já começamos o trabalho de avaliação do plantel - afirmou o mandatário.

A definição do elenco para 2015 passará também pela definição do treinador, já que o contrato de Vagner Mancini também se encerra e ele ainda não tem o futuro decidido. Há ainda alguns jogadores que terão o vínculo encerrado no meio da próxima temporada, como o volante Airton, o lateral-direito Régis e o atacante Jobson. Do atual elenco, quem tem o contrato mais longo é o meia Daniel - até o fim de junho de 2017. Além disso, a nova diretoria garante que vai lutar pela permanência de Jefferson, que tem vínculo até o fim do ano que vem, mas para permanecer depende da negociação de pagamentos devidos.

O Botafogo terá a possibilidade de contar novamente com alguns atletas que estavam emprestados, mas que ainda vão passar pela avaliação da nova diretoria, como Sassá e Mario Risso, que estavam no Náutico, Lima, que atuou pelo Goiás, Gilberto, que foi cedido ao Internacional, e o goleiro Milton Raphael, que defendeu o Macaé na conquista do título da Série C.

Por Fred Huber e Gustavo RotsteinRio de Janeiro