De palavrões a declarações polêmicas, Lage transforma coletivas em escudo para o time do Botafogo

Treinador se prepara e enxerga entrevistas como parte do jogo; comandante se coloca à frente do elenco para receber críticas



Bruno Lage tem feito das últimas entrevistas coletivas no Botafogo um evento. Com a série de três derrotas consecutivas, o português vê na sala de imprensa um espaço para tirar o foco de possíveis críticas do elenco e colocar os holofotes (mesmo os negativos) para si mesmo.

Após derrota do Botafogo, Bruno Lage bate na mesa, diz palavrão e pede: "Acreditem como nós" (https://ge.globo.com/video/apos-derrota-do-botafogo-bruno-lage-bate-na-mesa-diz-palavrao-e-pede-acreditem-como-nos-11970478.ghtml)

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"Se tiverem que apontar o dedo, apontem para mim, sem problema nenhum. É no Bruno, é no Bruno, é no Bruno. Deem carinho máximo para eles (jogadores), não exponham mais pressão ou mais ansiedade, deem liberdade total para eles jogarem o jogo", afirmou após a derrota para o Corinthians.


O português vê a entrevista coletiva como parte do jogo. É uma prática que adota desde o começo da carreira: internamente, Lage acha que o discurso falado publicamente reflete nos jogadores.


Ele se "prepara" para as entrevistas coletivas. Após uma partida terminar, Lage vai ao vestiário, conversa com o elenco em uma roda e faz um discurso - algo tradicional em qualquer clube. Depois, anota itens que considera pertinentes no celular e precisam serem falados publicamente.


No meio-tempo, também aborda aspectos táticos de maneira complexa. As explicações de Lage sobre as escolhas que faz dentro de campo são longas


Por vezes, Lage toca em assuntos durante uma entrevista antes mesmo de os jornalistas lhe perguntarem. Aconteceu na sexta-feira, contra o Corinthians, quando o português pediu a palavra para falar sobre a expulsão de Marçal.


As últimas três entrevistas coletivas de Bruno Lage tiveram momentos fora da curva.


Contra o Flamengo: colocou o cargo à disposição. Posteriormente, em entrevista ao ge, explicou que a declaração foi, na verdade, para tirar o foco das atenções dos atletas após a derrota;
Contra o Atlético-MG: por reclamações pelo gol anulado de Diego Costa, afirmou que o Botafogo estava sendo prejudicado pela arbitragem e que havia a sensação de que se queria um "campeonato animado até o fim";
Contra o Corinthians: após a terceira derrota seguida, bateu na mesa, falou palavrões e pediu para a torcida continuar junta e acreditar no elenco.



Seja como for, nas três oportunidades Lage teve a intenção de se colocar como um escudo às críticas na frente do elenco.


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Bruno Lage em Corinthians e Botafogo — Foto: Marcos Ribolli


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Histórico em Portugal

Bruno Lage assumiu o time principal Benfica em um momento de pressão. Na temporada 2018-19, os Encarnados resolveram apostar no comandante, à época no time B, após a demissão de Rui Vitória no meio do Campeonato Português. O Porto estava à frente na ocasião, mas a equipe vermelha fez uma reta final impecável e saiu com o título. Fora de campo, a postura era irretocável.


- Ele chega em um período que o clube estava bem atrás do Porto e faz uma série de muitas vitórias seguidas, tem um registro incrível. Sempre manteve uma postura bastante serena. Era bem tranquilo, utilizando até alguma pedagogia, mostrava que gostava de falar de futebol - explicou Valter Marques, jornalista que cobre o Benfica para o "Record", ao ge.


A situação foi invertida na temporada seguinte: o Benfica começou a temporada abrindo boa vantagem na ponta, mas perdeu fôlego e viu o Porto correr atrás de cinco pontos e ser campeão. A postura de Lage nas entrevistas coletivas mudou.


- A partir de janeiro e fevereiro de 2020 começaram os resultados negativos. Passado algum tempo, sem capacidade de inverter a série negativa, da qual não acho que tenha sido responsável, houve uma ligeira mudança de postura. Ele desceu do céu ao inferno muito rapidamente. Muito criticado, contestado, acho que não soube lidar muito bem com essa pressão e o desgaste e acabou sendo despedido - completou.


Um episódio polêmico envolvendo Bruno Lage nos tempos de Benfica aconteceu justamente na temporada 2019-20. Após perder por 4 a 3 para o Santa Clara no Estádio da Luz em jogo válido pela 28ª rodada e ver o Porto tomar a liderança, o treinador, ao ser questionado sobre a fase ruim da equipe por um jornalista, insinuou que os profissionais estavam recebendo por vezes "almoços e jantares".

No Benfica, Bruno Lage reclamou com jornalistas ao ser questionado após derrotas (https://ge.globo.com/video/no-benfica-bruno-lage-tambem-reclamava-com-jornalistas-ao-ser-questionado-apos-derrotas-11979081.ghtml)


- Olha... Vou te fazer uma pergunta, vou responder de uma forma muito clara. Desde a terceira rodada, contra o Porto, que vocês (jornalistas) estão preocupados com o meu lugar. Aliás, salvo erro, desde os jogos contra Rio Ave e Santa Clara. Sempre houve uma preocupação com o meu lugar, chegaram a perguntar qual era o meu salário. Às vezes fico pensando quem vocês estão tentando promover para tentar entrar no meu lugar, ou até as vezes quem andam lhe pagando alguns almoços, alguns jantares ou até algumas viagens para entrar aqui no meu lugar. O lugar não é meu, o lugar é do Benfica - afirmou à época.


A declaração teve repercussão negativa entre a imprensa e Bruno Lage veio se desculpar publicamente dias depois.

Os gols de Benfica 3 x 4 Santa Clara pelo Campeonato Português (https://ge.globo.com/video/os-gols-de-benfica-3-x-4-santa-clara-pelo-campeonato-portugues-8646688.ghtml)


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Fonte: ge/Por Sergio Santana — Rio de Janeiro