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sábado, 18 de abril de 2020

Ao L!, Caio 'Talismã' relembra Carioca de 2010 pelo Botafogo: 'O Joel nos levou ao título'


Atualmente nos Emirados Árabes, atacante relembra conquista estadual pelo Alvinegro, que completa uma década neste sábado, e destaca presença do treinador



Caio, o Talismã, com Joel Santana (Foto: Divulgação)


Imagine o cenário: um jogador da base, aos 19 anos, é chamado para integrar o time principal, a realização de um sonho. No profissional, vê a equipe ser derrotada em casa por 6 a 0 para um dos maiores rivais. Com a chegada de um novo treinador, é acolhido e se transforma em uma arma letal para um título importante. Este é o caso de Caio Canedo, ou "Talismã", pelo Botafogo.


O atacante foi uma das peças chaves para a conquista do Campeonato Carioca de 2010, que completa dez anos neste sábado. Ao lado de Joel Santana, construiu uma relação de confiança logo no seu primeiro ano como jogador profissional. Em entrevista exclusiva ao LANCE!, Caio, atualmente nos Emirados Árabes, comenta sobre aquela conquista.


– Para mim foi tudo muito surreal. Estava bem na base e subi já fazendo a pré-temporada com a equipe principal. Não tinha muita ideia da responsabilidade que era jogar um clássico, da grandeza deste tipo de partida. Na época o Campeonato Carioca era mais valorizado do que hoje. Nosso time tinha Herrera, Loco Abreu e outros jogadores experientes. Estava ali para aprender, muito animado - relembrou.

- Lembro que o ponto chave foi quando perdemos para o Vasco por 6 a 0 e chegou o Joel. A partir dali houve uma virada. Ele chegou com aquele jeito dele muito carismático, é um cara que abraçava o grupo. A chegada dele deu novo ânimo, aumentou nossa confiança. Mesmo eu estando no banco na maioria dos jogos, pude ajudar bastante. Para mim foi muito bom como um jogador que estava começando ter essa experiência enfrentar jogadores como Adriano (Flamengo), Fred (Fluminense). Foi um campeonato que me marcou muito. Tenho na minha mente como lembranças mais marcantes a chegada do Joel, com certeza, foi o que nos levou ao título - completou. 


O Botafogo superou a derrota de 6 a 0 para o Vasco e logo engatou uma sequência de vitórias. Parecia até uma outra equipe. A torcida, é claro, sentiu isso. Xodó, Caio caiu nas graças. Um funk que não saia da cabeça dos botafoguenses na época, do MC Bellot, dizia "O Caio é talismã, quando é cruel, tão dizendo por aí que é o filho do Papai Joel". O atacante lembra do episódio com alegria.


– Escuto esse funk até hoje lá em casa. Meu pai coloca sempre para tocar. O apelido de talismã acho que surgiu de uma coletiva de imprensa do Joel, que se referiu a mim dessa forma. Depois disso, pegou, surgiu o funk. Eu gostei do apelido, achei carinhoso. A torcida também adotou e até hoje tem esse carinho comigo. Amigos meus que torcem para outros clubes, também me chamam assim. Foi um apelido que só gerou felicidade - contou.



Contato com Loco Abreu e Herrera

Recém-promovido, Caio não foi titular em boa parte da campanha, mas tinha a importância de um. Mesmo não iniciando as partidas no onze inicial, o Talismã era uma presença certa no segundo tempo das partidas. A intenção de Joel Santana era aproveitar a velocidade do atacante em cima das casadas defesas. Deu resultado: o atacante marcou sete gols no Estadual.


– O Loco Abreu e o Herrera estavam muito bem. Eu ainda não tinha o porte físico ideal, era mais franzino, levava desvantagem no corpo a corpo algumas vezes. Ainda tinha alguma dificuldade de ganhar massa muscular. Sabia respeitar isso e esperar o meu momento. O Joel sabia a hora certa de me colocar e passou a dar certo. O Edno e o Renato Cajá também entravam bem. Foi tudo perfeito. Não havia vaidade dentro do grupo - destacou.


​Ainda jovem, Caio trabalhou com o "Ataque Mercosul", experiência que ele trata como positiva. A chegada de Joel Santana, na visão do atacante, foi importante também pela união da equipe, que passou a se encontrar além dos compromissos dentro de campo.

– Os dois (Loco Abreu e Herrera) foram fundamentais com um espírito aguerrido dos argentinos e uruguaios. Fabio Ferreira e Antônio Carlos também foram muito importantes. Eles foram a melhor dupla de zaga do Brasil naquele ano. O grupo era muito unido, fazíamos churrasco, almoçávamos juntos. Depois que o Joel chegou criamos uma família. Um defendia o outro nas entrevistas. Se alguém estava mal, outro puxava. Nos treinos todos davam a vida em busca de espaço - afirmou.


A caminhada até a decisão foi longa e com muitos percalços, mas Caio considera que o Botafogo chegou confiante para a partida contra o Flamengo, no dia 18 de abril de 2010. As mudanças internas, de acordo com ele, foram fundamentais para a conquista do título.


- Tudo era novo para mim. Não tinha muita noção do que era tudo aquilo. Só queria treinar, aprender com os mais experientes e me divertir jogando futebol. Quando fomos avançando e vimos que o Flamengo foi quem cruzou com a gente, a pressão de não poder perder aumentou. Chegamos para aquela final muito mais animados, com muito mais força. Foi uma reviravolta muito grande gerada pela derrota por 6 a 0 para o Vasco e a chegada do Joel. Engatamos uma sequência de vitórias que nos deu confiança. A cobrança e a pressão existiam, mas sinto que chegamos mais fortes pelas mudanças internas - finalizou.



Caio em 2010 (Foto: Satiro Sodré/AGIF)



MAIS DECLARAÇÕES DE CAIO TALISMÃ


A preleção da final

– Foi tranquilo. Estávamos confiantes porque havíamos sido campeões da Taça Guanabara. A concentração estava com um clima descontraído, de muitas brincadeiras. Às vezes os torcedores pensam que ficamos tensos, mas nem sempre isso acontece. Foi justamente o oposto, graças ao Joel, que nos injetou confiança e gerou esse ambiente. Nos sentíamos preparados e prontos para sermos campeões.


Momento da cavadinha

– Já estava em campo. Me posicionei atrás do gol. Na hora que vi a bola batendo na trave pensei que ia sair, mas ela entrou. Meu coração explodiu naquele momento. O Loco Abreu faz jus ao apelido. Ele estava acostumado a fazer aquilo, treinava muito e cobrou assim até na Copa do Mundo daquele ano. Fazer isso em uma decisão, quando estava 1 a 1, com o Maracanã lotado, realmente é pra se respeitar o Loco Abreu. É um excelente atleta.


Defesa do Jefferson no pênalti de Adriano

– O Jefferson tinha muito a nossa confiança. Nos treinamentos víamos o quanto ele se dedicava. Era surreal. Nossa expectativa era sempre acreditar nele. Ele fez aquela defesa difícil, no chão. Foi um momento muito marcante. Meu coração explodiu de novo ali. Depois daquilo me veio a sensação de que não perderíamos mais aquele jogo.


Comemorações

– Foi uma loucura. Ainda estávamos tomando banho e já havia muita gente no vestiário, algumas celebridades. Eu com 18 anos estava vivendo um verdadeiro sonho. Fizemos muita festa, depois fomos para uma churrascaria. Depois teve uma comemoração na frente de General Severiano. Cantei o meu funk e todo mundo cantou junto comigo. Nunca vou esquecer aquela cena. Vou sempre lembrar com muito carinho desse título. Foi muito marcante na minha vida. Até hoje, lembro de todos os detalhes.


Relação com o Botafogo

– O carinho continua imenso. Sempre que estou de férias no Rio ou em Volta Redonda, os botafoguenses me param, pedem para tirar foto. Nas redes sociais também acontece o mesmo. Pela diferença do fuso horário, fica difícil ver os jogos, mas a minha torcida é sempre para que o Botafogo possa melhorar e fazer Campeonatos Brasileiros melhores.


Pensa em voltar?

– Nunca fecho as portas em nenhum lugar, mas ainda tenho mais quatro anos de contrato aqui (Al-Ain, dos Emirados Árabes). Estou com 29 anos e pretendo cumprir o meu contrato. Hoje minha ideia não é sair dos Emirados, mas vou vivendo passo a passo. O carinho com o Botafogo vai sempre existir. Hoje o lado financeiro ainda pesa mais para mim, porque tenho muitas responsabilidades com a minha família. Muita gente depende de mim.


O que mudou no Caio Talismã

– Estou mais maduro e mais profissional. Naquela época era ainda um garoto, recém-promovido aos profissionais. Além disso, também mudei a minha posição dentro de campo. Hoje jogo mais como centroavante, na função de camisa 9, Tem dado certo, tenho feito muitos gols aqui nos Emirados. Fisicamente, fiquei mais forte, fiz um trabalho especial de condicionamento. Tudo isso foi fundamental no meu crescimento como jogador.


Fonte: LANCE! Fernanda Teixeira e Sergio Santana/Rio de Janeiro (RJ)

Jefferson lembra defesa em pênalti de Adriano em 2010: 'Segundo momento mais marcante da carreira'


Ao L!, ex-goleiro afirmou que título de dez anos atrás foi o primeiro passo para se tornar ídolo do Botafogo e que lance envolvendo Imperador fica atrás apenas de defesa de Messi



Jefferson foi um dos heróis do título carioca em 2010 (Foto: Fabio Castro/AGIF)



Jefferson é o terceiro jogador com mais partidas disputadas na história do Botafogo. Com certeza possui seu nome estampado em General Severiano e no Estádio Nilton Santos. O primeiro passo rumo a este reconhecimento foi a final do Campeonato Carioca de 2010, que completa dez anos neste sábado. O goleiro, em entrevista exclusiva ao LANCE!, relembrou o título.


- Aquele título foi muito importante para a minha carreira. Eu vinha quatro anos da Turquia e cheguei em 2009 no Botafogo. A gente sabe que tem certa desconfiança e eu precisava conquistar um título e fazer grandes jogos para receber o carinho dos torcedores. Foi muito mais do que eu esperava. Nos livramos do rebaixamento (em 2009) e fomos campeões em 2010, montamos uma grande equipe - afirmou.


O camisa 1 havia retornado para a segunda passagem no Botafogo na metade de 2009, vindo do Konyaspor-TUR. Jefferson havia ajudado o Alvinegro a superar a luta contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro, mas sabia que precisava de um título para entrar, de vez, nas graças da torcida. Dito e feito.


- Quando eu voltei para o Botafogo, sabia da situação do clube e que estavam na zona de rebaixamento. Precisava mostrar o meu valor, tanto que o contrato que tinha assinado era só até dezembro, era só. Nos primeiros jogos já fui bem, escapamos do rebaixamento, mas eu precisava conquistar o carinho dos torcedores. Aquele jogo de 2010 foi muito mais do que eu esperava. Fazer uma campanha daquela e chegar na final pegar um pênalti do Adriano, a cavadinha do Loco Abreu... Foi mais do que eu esperava. E logo depois surgiu a convocação para a Seleção Brasileira. Foi tudo muito rápido - relembrou.


O Botafogo passou por altos e baixos naquele Carioca. Na terceira rodada da Taça Guanabara, o primeiro turno, o Alvinegro foi derrotado pelo Vasco por 6 a 0, em casa. Após o resultado negativo, Joel Santana virou o treinador e a equipe engrenou, vencendo os dois turnos e, consequentemente, levantando o troféu.


- Foi um título em cima do maior rival, podendo pegar um pênalti do Adriano, na época um os melhores jogadores do mundo. Lembro que foi uma competição muito difícil. A gente perdeu um jogo muito triste para o Vasco, o 6 a 0, e na reunião que tivemos depois do jogo o Alessandro, lateral, sacudiu todo mundo. Estavam todos de cabeça baixa e ele disse "Olha, a gente pode ter perdido hoje, mas eu sei que vamos ser campeões com essa equipe". Todo mundo inflamou ali, acreditamos demais nas palavras do Alessandro. Depois daquele jogo a gente se fechou muito. Para mim, particularmente, foi muito importante. Ainda mais para o Botafogo, que havia perdido nos últimos três anos para o Flamengo. Foi um jogo que ficou na história e depois eu realmente tive o carinho dos torcedores - contou o ex-goleiro.



Jefferson defende cobrança de Adriano (Foto: Ricardo Ramos/AGIF)


O pênalti contra Adriano
Se Loco Abreu e Herrera resolveram na final da Taça Rio contra o Flamengo, Jefferson teve responsabilidade no lado oposto do gramado. Aos 33 minutos do segundo tempo, quando o Botafogo vencia por 2 a 1, Adriano teve a chance de empatar a partida, de pênalti, mas parou nas luvas do camisa 1.


- Sendo sincero, nunca fui muito de ficar estudando pênalti. Vou mais no feeling no momento da batida. Mas a gente assiste televisão, acaba conhecendo os jogadores, principalmente o Adriano, qualquer um conhece. Sabia que o canto forte dele era o meu esquerdo. Ele era canhoto, bateria cruzado, mas eu sabia que se eu desse uma passada antes ele mudaria a direção. A hora que ele colocou a bola eu decidi que iria esperar. Penso que, em uma final no Maracanã lotado, o jogador vai bater no canto forte dele. Meu pensamento foi esse, esperei ele definir e pulei para a bola - disse.


Jefferson relembra a história com orgulho. Com mais de 350 jogos pelo Botafogo, o ex-goleiro afirma que a defesa na cobrança do Imperador foi o segundo momento mais marcante da carreira.


- Ficaria em segundo. O primeiro é o pênalti do Messi. Esse lance do Adriano foi muito importante na minha carreira e no Botafogo por tudo que gerou, mas o chute do Messi abrange muito mais a questão do Jefferson em si representando o Botafogo na Seleção Brasileira. Defendi o pênalti do melhor jogador do mundo em um Brasil contra Argentina. São duas defesas que para mim ficam em primeiro e segundo - enumerou.


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MAIS DECLARAÇÕES DE JEFFERSON


Pressão para vencer o Flamengo

- A pressão interna, vou ser sincero, sempre que é um jogo contra o Flamengo, tem um clima diferente. Os diretores, os treinadores... todos agem diferente. Quando a gente foi fazer a final com certeza mudou uma chave. Veio gente de fora dar palestra, você via o semblante dos diretores, aquela apreensão, os torcedores também. Eu ouvi na rua naquela época "Jefferson, pelo amor de Deus, a gente não pode perder esse ano. Eu sei que você não tava aqui (nos outros três anos), mas agora você faz parte disso". Também cheguei a ouvir que era melhor para o Botafogo ter saído antes para não enfrentar o Flamengo. Automaticamente havia uma pressão. Era um jogo diferente. A gente não queria ficar gravado na história por ter perdido de novo. Entramos totalmente ligados.


Loco Abreu e Herrera

- Eu não estava nos outros três anos, mas quando você chega você acaba fazendo parte e a pressão existia. Como eles eram jogadores que não eram brasileiros chegaram aqui com outra energia e outra visão. Na realidade é como se eles dessem uma injeção de realidade em todos nós pela experiência que eles tinham no futebol. O Loco chega com o propósito de fazer história no Botafogo. O diferencial dele era que ele não se lamentava pelas derrotas. Ele fazia o que tinha que fazer e virava a página muito rápido, essa é a característica de um vencedor. Aquilo contagiava os jogadores. Você estrear perdendo de 6 a 0 para um rival e conseguir se reerguer, aí entram os jogadores experientes para segurar a peteca.


Outros jogadores importantes

- O próprio Leandro Guerreiro, nosso capitão, o Lúcio Flávio, jogadores que se completavam. A nossa zaga, o Fábio Ferreira e o Antônio Carlos, fazia a diferença. A gente se completava.


Ficou nervoso na hora da cavadinha?

- Com certeza, até porque eu que fico do outro lado... A hora que ele dá a cavadinha, a bola ainda bate na trave. Na hora o coração ele sai e volta de novo. Eu convivi bastante com o Loco é importante dizer que tudo que ele fez nunca foi para humilhar ninguém. É um jogador diferenciado, ele fazia essas coisas porque queria ser diferente e ter confiança. Para bater um pênalti daquele jeito em uma final com o Maracanã lotado tem que ter muita personalidade. Foi de muita coragem.


Um dia antes da final

- A preparação antes do jogo foi muito mais emocional do que focada na parte física ou técnica. Me lembro que a gente se reuniu e, como a semana foi tensa, todos os jogadores foram para o seu quarto depois da janta. Parecia que a gente nem se falava. Geralmente a gente brincava de carta, ficava conversando. Naquele dia não teve nada. O dia seguinte fomos tomar café e era um silêncio. Foi algo mais psicológico mesmo.


Depois do apito final


- A comemoração.... Eu não dizer um alívio, mas é como se você lavasse a alma. Parece que a gente esbravejou aqueles três anos que perdemos para o Flamengo, colocamos tudo para fora. Realmente lavamos a alma. Foi uma festa impressionante.



Fonte: LANCE! Sergio Santana/Rio de Janeiro (RJ)