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quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Entrevistão: CEP passa o bastão a Mufarrej; os planos da chapa para o futuro Botafogo


Mais cargos na diretoria, CT, patrocínios, sócio-torcedor, orçamento, contratações, Montillo... Novo candidato da situação se apresenta aos alvinegros e projeta a manutenção dos "pés no chão"



A notícia que Carlos Eduardo Pereira não tentaria a reeleição surpreendeu muita gente, mas não quem acompanha o dia a dia do Botafogo. O desgaste pessoal e o fato de ser contra dois mandatos seguidos vão tirar o presidente da linha de frente em 2018. Mas isso não quer dizer que ele abandonará o barco. CEP – como ficou conhecido ao longo dos últimos três anos – anunciou que virá como vice na chapa de Nelson Mufarrej na eleição do dia 25 de novembro.


Mas quem é Mufarrej? Advogado, 68 anos, formado em Economia, ele é pouco conhecido do torcedor, mas tem papel efetivo na atual gestão. Vice-geral do Botafogo, participou "com orgulho" do resgate alvinegro nos últimos anos. Até por isso, não faz promessas mirabolantes. A palavra-chave é continuidade. Dentro e fora de campo.


– Se a gente conseguir manter como o Botafogo está, só crescendo e trazendo cada vez mais satisfação à sua torcida, é o melhor plano de governo que existe – frisou o dirigente.



Nelson Mufarrej, Carlos Eduardo Pereira e o mural dos presidentes alvinegros (Foto: Thiago Lima)


Afinados, Mufarrej e Carlos Eduardo receberam o GloboEsporte.com para um longo bate-papo, de quase 1h30, no gabinete da presidência. Assuntos não faltaram: CT, base, sócio-torcedor, planos, investimentos, patrocínio, contas e, claro, futebol. Grandes contratações para 2018? Por ora, esse não é o caminho. A prioridade é manter o que está dando certo, sempre com os pés no chão.


Confira a entrevista completa:

GloboEsporte.com: Como começou sua relação com o Botafogo?

Mufarrej: Meu avô era botafoguense, tinha um cachorro preto e branco. Aí veio meu pai, que teve grande influência, foi vice-presidente em 1964. Nunca fui jogador ou craque, sempre fui goleiro ou dono da bola (risos). Fui remador do Botafogo, mas não consegui conciliar com os estudos. Mas sempre gostei de ver futebol. Nasci em 1948, tive sorte. O Botafogo "nasceu" em 1957 e 1958. Fui muito ao estádio, pude ver os grandes craques. A paixão pelo Botafogo vem de família, aí comecei a participar do movimento político do clube.



Cargos no clube


Mufarrej: Em 2008 fui presidente do Conselho Fiscal. Depois me afastei na segunda gestão do Maurício Assumpção por não achar a administração boa. Em 2014, fizemos a união com o "Mais Botafogo", foi quando me aproximei ainda mais do Carlos Eduardo. Nos conhecíamos, mas não éramos próximos. Concorremos juntos. No dia da eleição, quando soubemos o resultado, olhamos um para a cara do outro e indagamos: "E agora?". Fomos em frente com um resultado muito bom e uma equipe muito boa. E um colegiado de vice-presidentes ajudando. Isso é muito importante.



De família botafoguense: Mufarrej com a sobrinha e esposa no Nilton Santos (Foto: Arquivo Pessoal)


Como surgiu a ideia da troca?


Mufarrej: O mais bonito foi Carlos Eduardo, apesar do cansaço e dos problemas, continuar. Foi uma atitude maravilhosa. Ele sugeriu a troca. Tento certeza que vai dar certo. Vamos ter a continuidade do trabalho, seguir o planejamento, que não terminou nesses três anos. Vamos aprimorar. É um orgulho e uma honra ser candidato a presidente do Botafogo. A ideia partiu brilhantemente do Carlos Eduardo.


Hierarquia


Mufarrej: As pessoas dizem que ele vai continuar sendo presidente. Sempre será presidente, ele exerceu esse cargo. Mas aqui no Botafogo, nós sempre sentamos na maior democracia e no maior diálogo. É lógico que a caneta é dele, depois vai ser minha. Mas fazemos umas votações interessantes, dialogamos... Essa democracia vai continuar. Todos querendo o engrandecimento do nosso Botafogo. Os princípios são os mesmos. Será um novo olhar, com os mesmos princípios.


Nesses três anos você sempre foi mais discreto, falou pouco publicamente. Está preparado para assumir a linha de frente?

CEP: Olha o meu sorriso. Agora vocês (jornalistas) vão ligar para o Nelson (risos).

Mufarrej: (Risos) Evidentemente que vai mudar um pouco. Nós estamos criando uma forma diferente de gestão, algo inédito no Botafogo. Sabemos que o ano de 2018 será difícil, mas o mais difícil foi quando assumimos. Não tinha o Ato Trabalhista, tínhamos que pagar a Timemania ou o Botafogo estaria hoje fechado. Conseguimos e fomos superando os obstáculos. É claro que ainda há dificuldades, principalmente em relação ao futebol, que é nosso carro-chefe. Mas vamos chegar lá, estamos fazendo bons campeonatos, com austeridade, controle, planejamento e união.


CEP: Tenho certeza que ele não vai repetir um erro que cometi, que foi abrir uma conta no Twitter (risos). A minha durou exatos 58 dias.


A inversão está relacionada ao fato de não apoiarem a reeleição?


Mufarrej: Desde o momento em que o Carlos Eduardo assumiu, nós traçamos metas. Uma dessas metas era que ele não admitia a reeleição. É claro que tem o cansaço e os problemas pessoais. Ele tem uma personalidade marcante e cumpriu, apesar de nós sempre pedirmos para ele seguir. Dizíamos que era importante a continuidade, então ele sugeriu essa troca.



Em "silêncio", Mufarrej esteve sempre ao lado de CEP no triênio (Foto: Vitor Silva/SSPress/Botafogo)


A história recente mostra que o segundo mandato não repete o sucesso do primeiro. Essa troca é uma forma de tentar mudar isso?


CEP: A verdade é que já estamos preparando o clube para o novo Estatuto, nele não permite reeleição (vale a partir de 2020). Então, é uma questão de começar a preparar e despersonalizar a gestão. Com isso, criamos novos dirigentes potenciais. A gente vê que em três anos perdemos só dois vice-presidentes por renúncia, o Mantuano (futebol) e o Bernardo Santoro (financeiro). Tenho certeza que não teremos grandes mudanças. O quadro vai crescer por conta do novo estatuto.


Novos cargos

Mufarrej: Teremos um vice-social e mais duas vice-presidências por conta do Marketing. Será Comunicação, Comercial e Marketing. Isso é bom para diversificar e vai aliviar um pouco o Marcio Padilha. Ele coordenar isso tudo é muito desgastante.


Já tem os nomes desses novos vice-presidentes?


Mufarrej: Estamos vendo, ainda é cedo. O Padilha continua na Comunicação, e segue todo mundo. Por enquanto, ninguém deu a entender que quer sair. Acredito que todos continuarão.


CEP: Tem muitos projetos em andamento, então os responsáveis vão ficar. É uma sequência, não vai haver mudanças. O método é o mesmo, isso é algo que aprendi na ONG (de cachorros): lidar com o voluntariado. É muito importante envolver as pessoas em todos os processos. Se você não consegue que a pessoa se sinta parte do todo, é fácil ela se deslocar do grupo.



Gestão colegiada


CEP: É claro que o futebol é o carro-chefe, quando entra em pauta nas nossas reuniões o debate vai longe (risos). Todos se colocam no mesmo patamar. Digo sem medo de errar: estão todos preparados para em uma eventualidade trocar de posição. Todos sabem mais ou menos tudo o que acontece no clube. Toda segunda-feira às 18h30 nos reunimos nessa sala e ficamos até 22h ou 23h. Há uma unidade muito grande.


Mufarrej: Você tem que trazer a participação de todos. Nas nossas reuniões, todo mundo fala, discute, ninguém faz nada sozinho. A porta aqui está sempre aberta. É uma maneira de administrar, o sucesso está aí.



Tranca no lado interno da porta da sala da presidência do Botafogo: virou exemplo (Foto: Thiago Lima)


CEP: A ideia quando começamos com essa gestão colegiada era esvaziar um pouco o poder do presidente. O símbolo disso está naquela tranca (aponta para a porta da sala da presidência), deixamos lá para nunca esquecermos. Essa porta não deve estar fechada. Um presidente não pode receber um candidato comercial sozinho, enfraquece a instituição. Aquilo ali, nunca mais.


Como mencionaram, o futebol é o carro-chefe para dirigentes e torcida. Quais são os planos para o futebol em 2018?

Mufarrej: Será um ano difícil. Todo mundo gostaria de ter Neymar, Messi, Suárez. Já estávamos fazendo um esforço para manter esse time e também vamos trazer muita gente da base. Investimento, no momento, não é possível fazer em mais jogadores. Muita gente fala que emprestaria dinheiro para comprar jogadores. Mas depois o pagamento é o grande problema. E foi isso o que aconteceu no passado. Hoje estamos pagando esse passado. E quem paga é o futebol, hoje o time poderia ser melhor. O Botafogo tem que viver dentro de seu orçamento.


Contratações

Mufarrej: Às vezes ouvimos muita pressão: "Poxa, contrata esse, contrata aquele" (risos). Mas com que dinheiro? Contratar é fácil, é só ter uma caneta. Mas e depois? E graças a Deus não fizemos isso. É lógico que queremos títulos e vamos conseguir. Mas será dessa maneira. Se Deus quiser o Botafogo vai ultrapassar essa fase muito ruim de pagamentos de dívidas passadas.


E quando vai melhorar?

Mufarrej: De 2015 para cá ficou menos pior. 2018 ainda não vai ser muito bom, já sabemos como vamos gerir. Estamos procurando novos contratos de publicidade, pode ter venda de jogadores... Mas vai melhorar a partir de 2019, com o novo contrato de televisão. Aí realmente a tendência é melhorar. Por outro lado, deve diminuir bastante as penhoras. Nosso vice jurídico (Domingos Fleury) acha que até 2018 ainda terão muitos processos cível e trabalhista. Temos que superar isso.


CEP: Temos vivido o ciclo de vulnerabilidade. Quando assumimos no fim de 2014, vivíamos uma imobilização decorrente dos bloqueios do clube. Nós destravamos com o Ato Trabalhista, depois a parte fiscal. E com o bom desempenho da equipe, chegamos a 2016 mais tranquilos. Mas sempre sabendo que tínhamos uma exposição muito grande, que era o elenco de 2014. Esse elenco praticamente não foi pago e não tinha ajuizado ainda as ações trabalhistas quando assinamos o Ato. São negociações que ocorrem à parte, sabemos que ainda vão surgir novas coisas.



Mufarrej foi quem presenteou Jair no aniversário de um ano como técnico (Foto: Vitor Silva/SSPress/Botafogo)

Então a palavra no futebol será manutenção?

Mufarrej: Esperamos permanecer com essa comissão técnica, que é muito boa. Queremos manter esses jogadores, que são muito bons, jogam com raça e dedicação. Não vai ter alteração. Vamos seguir nossa política dos últimos anos. O Botafogo hoje não pode mais cometer loucuras. O clube ainda está no CTI. Esse é o cuidado que temos.


CEP: A gente vem fazendo um trabalho de monitoramento desde 2015, quando montamos, com grande participação do Antônio Lopes, o time para a Série B. Tentamos em 2016, por exemplo, trazer o João Paulo. Trouxemos em 2017. Foi o único jogador em que investimos em direitos federativos (R$ 3 milhões). E está pago, tudo direitinho. Estamos monitorando alguns jogadores, mas não queremos jogar fora a credibilidade que adquirimos no mercado. Fazemos os acordos e cumprimos. Faz parte do resgate da credibilidade da instituição.


Críticas

Mufarrej: A gente sabe que a oposição vai bater: "Não vai contratar ninguém?" Mas cada um tem seu caminho. Agora, evidentemente, se tivermos alguma brecha, estamos monitorando o mercado. Hoje, no momento, não temos essa perspectiva de contratar. Mas de repente alguém sai na janela e vamos ter que buscar. O importante é que já temos isso mapeado. Eu não faço muito isso, mas o Carlos Eduardo faz. Ele assiste tudo de Série A e Série B. Vou começar a fazer isso (risos).


CEP: Sábado à noite só saio para jantar com a Rose (esposa) depois da Série B (risos). Ela é muito amiga.


O panorama para 2018 então é manter o elenco e fazer contratações pontuais. Mas o Botafogo teria um caixa para fazer um investimento como fez no João Paulo?

Mufarrej: Vai depender muito do que vai acontecer. Hoje diria que não. Se aparecer um jogador pontual para a gente investir... Agora não.


CEP: Vai depender da composição do elenco também. Hoje o elenco não está fechado. Então, dependendo daquilo que você vai comprometer com a manutenção do elenco, vamos ter ou não folgas (na folha) para fazer. Por exemplo, o Valencia veio porque o Montillo rescindiu conosco. A gente a partir de agora está tendo a redução dos salários do Sassá, Canales e de algumas outras operações que nos permitiram manter. Vieram o Brenner, o Marcos Vinícius... Algumas coisas ficaram elas por elas, outras não, e o clube teve efetivamente uma redução.


Há possibilidade de investimento em um nome de peso como foi o Montillo?

Mufarrej: Temos que esquecer o coração em casa. Porque se vamos contratar com o coração, traremos uma lista e não temos dinheiro para isso. Então temos que respeitar o nosso orçamento, mesmo em situações de maus resultados. Hoje temos um elenco limitado, mas com muita garra. É um elenco maravilhoso. Você vê que o time dá o sangue, é isso que a gente gosta de ver. Não podemos ter ânsia para contratar. Às vezes você contrata e não melhora. Temos vários casos de times que não param de contratar e não acontece nada.



Mufarrej deixa as portas do clube abertas se Montillo voltar a jogar (Foto: Vitor Silva/SSPress/Botafogo)


Falando em Montillo, ele tem mostrado seus treinos e dado a entender que voltará a jogar futebol. Alguma chance de voltar ao Botafogo?

Mufarrej: Primeiro vamos ver se ele volta, né? Se voltar, lógico, temos que analisar. Se essa publicação procede. Mas deixa ele voltar (risos). Ele foi muito leal com a gente, e nós com ele. A recíproca foi verdadeira. Então as portas estão abertas, ele tenha certeza disso.


CEP: Ele foi muito correto conosco. As portas estão abertas efetivamente.


Orçamento para 2018


CEP: Tivemos algumas receitas que estavam previstas e não se realizaram. Mas ao invés de como se fazia antes, de pedir ao vice-presidente para elaborar o orçamento a partir do zero, mandamos o orçamento do ano em curso. Com o que realizamos, o que estava previsto, onde houve distorções, o que precisa corrigir e, principalmente, determinando objetivos. Esse processo de continuidade é importante porque estamos em meados de 2017, mas já com 2018 definido claramente como vai ser. Você tem um montante para gastar, como fará isso? E não é um montante lá muito expressivo.


Quais receitas previstas não se realizaram?

CEP: Por exemplo, o excedente do Pay Per View. Esse ano não teve e ano que vem provavelmente não vai ter também. São coisas relacionadas à própria crise do mercado e acabam impactando nas contas e no dia a dia do clube.


Receitas bloqueadas


CEP: O que aconteceu é que como nós resgatamos a credibilidade no mercado, e os credores se animaram, passaram a vir de forma muito mais intensa. Nem sempre a Justiça é compreensiva no sentido de que a instituição precisa sobreviver para honrar suas dívidas. Não adianta implantar bloqueios que não permitam que paguemos salários, recolhemos encargos... Temos um grande produto que é o futebol. Se não tivermos uma equipe compatível para disputar e ter a nossa receita... Hoje, sem dúvida, o Botafogo realiza um trabalho muito bom pelo gasto que tem.


Trabalham com a ideia de algum jogador que possa fazer receita no ano que vem?


Mufarrej: A gente sabe o jogador com quem podemos fazer receita. Mas tem que ver propostas. Não adianta você fazer receita com um jogador "X" dependendo do valor. Temos hoje contratos que determinam os valores, e que tenhamos margem de negociação. No momento não, mas se vier uma proposta que todos nós achemos boa para o Botafogo... Agora, não posso dizer que é o Manoel, senão você diz: "Opa, o Manoel vai ser negociado". E aí coitado do Luizinho. Mas pode ser que o Luizinho venha a ser vendido, não o Manoel. Seria uma especulação tremenda.


CEP: A gente prepara o orçamento sem dois fatores. Um é negociação de jogadores, e segundo, premiação de competições. Não entram na elaboração, já não entraram em 2017 e não entrarão em 2018. Claro que o que vier normalmente é até compartilhado com os jogadores.



Mufarrej participou das negociações de patrocínio com a Caixa (Foto: Vítor Silva/SSPress/Botafogo)


O contrato com a Caixa Econômica prevê um aumento em caso de bom desempenho.


CEP: Mais R$ 5 milhões se a gente derrotar o Cristiano Ronaldo (risos). Só em caso de título.


A Caixa continua para o ano que vem?

Mufarrej: Bom, esperamos que sim. A Caixa é hoje um patrocínio bem importante, mas a própria Caixa ainda não nos procurou. Eu acho que não procurou nenhum clube ainda, isso daí eles esperam o exercício. Até porque a última parte será paga só em março do ano que vem, eles dividiram o pagamento em três fases. Aí é quando acho que começarão a ver a renovação do patrocínio. Esperamos que seja um patrocínio melhor do que este ano.


CEP: E por tudo que temos recebido das pesquisas, o retorno que a gente está dando à Caixa é infinitamente superior ao investimento feito. Todos os processos de integração financeira do Botafogo estão caminhando bem com a Caixa, cada vez mais próximos. Recentemente, agora em setembro, já temos boletos dos sócios do clube sendo cobrados através da Caixa, enfim. Cada vez mais há essa integração, espero que continue com um substancial aumento por parte da Caixa.


E os outros esportes? O Botafogo resgatou o basquete e o vôlei na atual gestão...

Mufarrej: O basquete ganhou e foi para a NBB, estamos já seguindo o orçamento. Lógico que com isso precisou contratar jogadores mais experientes. Não vai ter o Carioca de basquete e já estamos montando a equipe. Infelizmente o vôlei não passou para a Superliga, vai continuar onde está e vamos torcer para ano que vem. No remo somos praticamente penta, os entendidos dizem que a gente não perde esse ano de jeito nenhum. Esse é o Botafogo que cresce cada vez mais.


Como fica a relação com o Flamengo na sua gestão? Pretende se aproximar mais ou continuará cordial?

Mufarrej: É melhor continuar cordial. A gente tem que se aproximar de nós mesmos. O presidente colocou muito bem: se há interesse, vamos ver para se chegar a um denominador comum. Agora, essa aproximação é na minha opinião cordial. Estamos abertos, é aquele negócio: "Precisamos usar o seu estádio". Ok, comercialmente a gente vai ver se a nossa proposta vai atendê-los, e eles também uma contraproposta. Lógico que com isso a gente não fica querendo briga, nada disso. Queremos o Botafogo atingindo seus objetivos. Seja com o Flamengo ou qualquer outro time.


O Botafogo conseguiu muitas coisas nesses três anos: estádio, CT, subiu para a Primeira Divisão, Libertadores... Quais seriam os planos para os próximos três anos?

Mufarrej: Planos vão acontecendo. Primeiro tem que administrar o que aconteceu. Administrar bem o CT, levar os profissionais e a base para lá se ocorrer a compra. Está no finalzinho, mas só acredito quando assinado. Se a gente conseguir manter como o Botafogo está, só crescendo e trazendo cada vez mais satisfação à sua torcida, é o melhor plano de governo que existe. O torcedor andando na rua com orgulho de vestir a camisa do clube. Ele pode discutir futebol e não ficar como estava, reprimido, com vergonha. Lamentavelmente se chegou a esse ponto.


Falando em torcida, vocês tinham como meta no início da gestão atingir de 30 a 35 mil sócios-torcedores. Essa meta já foi batida (mais de 36.400), qual será a próxima?


Mufarrej: Tem que bater 100 mil (risos). Para bater, tem que manter esse amor ao Botafogo. De a pessoa vibrar, discutir futebol, sair à rua e dizer que é sócio-torcedor, que contribui. Se conseguirmos o CT, que seja bem utilizado. Você vê o trabalho da base com o nosso diretor (Manoel) Renha, é uma coisa maravilhosa, conquistamos ano passado o Brasileiro Sub-20. Tudo isso é importante, vai criando cada vez mais essa identidade, principalmente dos garotos. Porque nós estamos ficando mais velhos, então tem o poder desses garotos para uma nova geração.


CEP: E o sócio-torcedor você vai marcando por patamares. A partir do momento que tem a lotação do estádio ocupada, troca de patamar e tem que criar atrativos. A gente quer fazer principalmente uma grande mobilização para os sócios fora do Rio. O Botafogo é um clube de expressão mundial, então queremos trabalhar muito bem isso, começando agora, no sentido de desenvolver um programa de pontuação que possa refletir positivamente no botafoguense que mora fora.



Mufarrej foi vice-presidente geral durante toda gestão de CEP (Foto: Vitor Silva/SSPress/Botafogo


Quais seriam os benefícios?

CEP: Estão sendo estudados. Se mantiver esse perfil de lugares a serem vendidos no estádio o programa vai seguir esse molde até o final do ano. Os pacotes estão bem definidos. E isso é uma das características modernas do futebol que não permitem que as pessoas saudosas do velho Maracanã digam assim: "Ah, vamos fazer um jogo meio a meio". Isso é um problema gigantesco porque você vendeu lugares em seu estádio. Em um estádio de 45 mil lugares, a gente já tem hoje mais de 36 mil negociados. Se forem todos, como vou fazer um jogo meio a meio?


O direito a voto a partir de 2021 é sem dúvida um atrativo para novos sócios. Mas já definiram como será o modelo, se terá uma nova categoria de sócio para votar?


CEP: Está tudo previsto no Estatuto. Importante que a pessoa tenha adesão ao plano e sigam os preceitos como tempo de permanência, pagamento, categoria... Você tem aquele valor mínimo e aí vai agregando os pacotes até montar um elemento. Claro que se você quiser o direito a voto não vai ser com R$ 13,90. Vai ter alguma coisa proporcional ao direito.


Mas já tem um preço para este item?

CEP: Ainda não porque o próprio perfil para 2018 não está pronto. Hoje trabalhamos com o programa de 2017 dentro do que está colocado. Vamos deixar para lançar o de 2018 a partir do Carioca.


Jogos no Maracanã com torcidas divididas

CEP: Como vou dizer para a pessoa, que contribui para o Botafogo o ano inteiro, que na hora de mandar um jogo não vou poder oferecer mais o lugar? Que ela vai ter que entrar na fila e comprar o ingresso. É um tiro no pé. Pelo contrário, ela quer chegar lá e encontrar a casa customizada, estar perto do amigo que também comprou o lugar, procurar a cadeira que ela colocou o nome, ver o bandeirão e o escudo subindo... Tudo isso é o resgaste da autoestima, ela quer se sentir em casa, não em um estádio neutro. O velho Maracanã não existe mais, acabou, acabou.


Mufarrej: E a mentalidade era outra, totalmente diferente. Naquela época não se pensava em sócio-torcedor. Tinha sim espaços para as torcidas: aqui é o Botafogo, ali é o fulano, o outro...


CEP: E tinha a figura da rodada dupla. Hoje exigem lugares isolados, com entradas isoladas... Uma das grandes rodadas duplas que fiquei foi quando o São Cristóvão virou sobre o Flamengo nos anos 70, com gols do Fio (Maravilha). Eles fizeram 2 a 0 no primeiro tempo, e o São Cristóvão virou para 3 a 2. Foi um negócio sensacional, saímos do Maracanã em festa. E o Botafogo tinha vencido na preliminar, do Madureira ou Portuguesa. Aí nós ficávamos, e aqueles persistentes, porque 2 a 0 contra... (risos) "Vamos esperar até os 15 do segundo tempo". Aí o Fio começou. Que beleza (risos).



Dono de expressões sérias, Mufarrej também sorri (Foto: Vitor Silva/SSPress/Botafogo)


Acabando essa primeira gestão e olhando para trás, qual o sentimento que fica?

Mufarrej: É só orgulho, orgulho de ter tido a honra de ter sido eleito, de trabalhar com o presidente Carlos Eduardo, os vice-presidentes, com todos os funcionários, os torcedores, sócios... Isso é muito gratificante, impagável.


CEP: O melhor sentimento é não ter decepcionado as pessoas. No primeiro jogo-treino em 2015, em Várzea das Moças, a gente perdeu do Gonçalense. Eu afundei na cadeira e falei: "Caramba, será que é esse o caminho?" Liguei para a minha mulher: "Amorzinho, Gonçalense 1 a 0, gol do Sabão". E ela sempre muito otimista: "Fica tranquilo, o Tomas Bastos ainda não estreou". Depois, na estreia do Carioca contra o Boavista, com muita chuva, o Roger Carvalho fez aquele gol no final. Foi um peso que saiu das nossas costas, no sentido de que começamos com o pé direito.

Naming rights no Nilton Santos

Mufarrej: A gente está procurando quem queira fazer. Proposta não tem, mas a ideia é evidente: aproveitar o estádio ao máximo. Nesse sentido, o Anderson (Simões), vice-presidente de estádios, está fazendo um trabalho muito bacana. A situação do Brasil é meio difícil de conseguir esse tipo de publicidade, mas vejo que o Anderson tem vários projetos.


Quais projetos seriam esses?
Mufarrej: Tivemos um grande problema com o Rock in Rio esse ano, não puderam ser feitos lá shows, que são uma forma de receita também. O vagão de trem ali vai ser ocupado com atividades... "Ah, mas é difícil chegar". Você tem trem, metrô, pode ir de carro. Lógico, tem um pouquinho de trânsito, mas chega com mais antecedência. Temos que criar meios de que as pessoas cheguem mais cedo, almocem com suas famílias... Criar ambientes nesse sentido como é feito lá fora. Teremos muitas coisas boas para o estádio ano que vem.


Planos para o CT


Mufarrej: O nosso pensamento, se tudo correr bem, é que em janeiro já tenha toda a base e o profissional lá. Então tem que ajeitar o necessário para concentrar lá. E teremos ainda a parte de eventos, que não vai poder se comunicar com outras áreas. Por exemplo, um casamento lá, é uma forma de receita importante que teremos. O custo lá é bastante alto, tem que contrabalançar através de eventos que já são feitos. Na Olimpíada, parte da delegação dos Estados Unidos ficou lá. Agora no Rock in Rio tem uma parte de pessoas que estão lá. Então já tem uma referência.


CEP: Teremos um "master plan" para o CT. Uma empresa de arquitetura vai analisar todas as instalações e torná-las o mais funcional possível. Um local para vocês (jornalistas) trabalharem, fazerem as coletivas... Uma movimentação lógica. "Ah, o Jair quer fazer um treino fechado". Então tem que ter um local adequado. Quantos banheiros? Quantas salas para o Kineo, que precisa de uma determinada temperatura? Tudo isso tem que ter um princípio lógico, por isso vamos contratar uma empresa para fazer isso e adaptar o CT ao que tiver de mais moderno.


Esse valor para contratar essa empresa já está incluído nos R$ 5 milhões que terão para a reforma do espaço?

CEP: Sim.



Parceria, parte 2? Mufarrej e CEP invertem papíes para nova eleição (Foto: Vitor Silva/SSPress/Botafogo)



Há algum acréscimo em cima do valor total de R$ 25 milhões por causa da área do terreno que estava sob posse e vai ser comprada à parte?


Mufarrej: Qualquer acréscimo já está incluído ali, não passa de R$ 25 milhões.


Marechal Hermes


Mufarrej: Estamos recuperando e fazendo um trabalho de master lá, com pessoas ajudando. O Ministério Público indagou da gente que prometemos fazer lá um centro de treinamento, com pedra fundamental, e não teve mais nada. O jurídico explicou que houve problemas. Hoje tiramos o cavalinho que estava lá, já estamos gramando, (consertando) muro arrebentado, a invasão seria muito grande. Então Marechal Hermes vai ser para isso, e talvez até o futebol feminino, que vamos ser obrigados (exigência para jogar as próximas Libertadores).


CEP: A gestão passada demoliu tudo. Eles conseguiram não deixar pedra sobre pedra. A única que ficou lá no meio do mato foi o marco (pedra fundamental). Nunca construíram nada lá, então fica difícil quando se tem que partir do zero.


Cefat (Várzea das Moças) e Caio Martins

Mufarrej: Cefat não (será usado). E no Caio Martins vamos fazer os jogos do sub-20 lá. Por enquanto é essa a programação.


Aproveitando o "Promessômetro" que fizemos com o Carlos Eduardo Pereira, já há alguma promessa da chapa para o próximo triênio?

Mufarrej: Dar seguimento ao que está sendo feito. Agora, ainda não temos as propostas. Foi lançada (a candidatura) quinta-feira passada, vamos ter reuniões com o comitê, amadurecer para ver as propostas novas que teremos. Sendo sincero, não vou dizer aqui que tenho vontade disso ou daquilo. O colegiado, seja de campanha ou direção do clube, tem que ter participação. Senão fica: "O Nelson decidiu isso, o Carlos Eduardo decidiu aquilo..." Fica muito ruim.


Por fim, o que diria para o torcedor que ainda não o conhece?


Mufarrej: Tenha plena confiança na continuidade deste trabalho. O torcedor que analisar poderá imaginar o que será apresentado futuramente. Se ele achar que até agora nada valeu, tudo bem, pedimos desculpas pois tivemos as melhores intenções. Mas prometemos fazer ainda mais porque fincamos o pé do novo Botafogo. Ao ponto que estamos com estádios cheios, todos falando bem da nossa administração... Espero que possa transmitir essa confiança no seguimento desse planejamento, mostrando aos botafoguenses o que queremos, desejamos e vamos conseguir.


Fonte: GE/Por Davi Barros, Marcelo Baltar e Thiago Lima, Rio de Janeiro