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quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Assumpção vê Bota longe do caos e encara críticas: "A rejeição é grande"


Presidente afirma que vai se despedir da política do clube ao término de sua gestão e enaltece seus feitos sem arrependimentos no comando do Alvinegro



Nas últimas semanas, Maurício Assumpção precisou recorrer a um médico. Desde o início da vida adulta, quando morava em Goiânia, ele não sofria com crises de asma. Na consulta, ouviu do doutor que uma das causas era o estresse. "Sério? Que surpresa!", ironizou ele. A exatos 118 dias do fim de seu ciclo como presidente do Botafogo, ele está próximo de voltar a ser um professor universitário e um profissional da odontologia. Mas até lá, precisa lidar com uma enxurrada de críticas, vindas de dentro e fora do clube, enquanto se esforça para amenizar a grave crise financeira do Alvinegro.

Maurício Assumpção minimiza tamanho do caos em que o Botafogo se encontra (Foto: Satiro Sodré)

Após seis anos no comando de um dos maiores clubes do Brasil, Maurício Assumpção começa a fazer suas reflexões sobre a experiência vivida. E apesar de ser ausência no Engenhão, no dia a dia do futebol – após divergências com os jogadores –, e circular pouco nos corredores de General Severiano – fica quase o tempo inteiro em sua sala na sede alvinegra –, o presidente garante que trabalho não falta. Mostrando-se capaz de suportar as críticas, ele espera deixar a imagem de alguém que conseguiu fazer a Estrela Solitária brilhar enquanto houve energia – ou dinheiro – para isso.

– No momento imediato, sei que o nível de rejeição é grande. Mas quando começou a gestão, em 2009, fizemos um trabalho para conquistar torcedores mais jovens, e ninguém falava. Cinco anos depois, o resultado apareceu – argumenta ele, citando a pesquisa divulgada pelo Ibope, que aponta o Botafogo como a segunda torcida no Rio de Janeiro na faixa etária de 10 a 15 anos (15,6%).

Em entrevista ao GloboEsporte.com, o mandatário admite a frustração pelo fato de deixar o Botafogo sem ver concluída a construção do CT da base, em Marechal Hermes, sua grande obsessão, mas destaca as melhoras nas demais sedes. Reconhece o incômodo por ver torcedores pagando salários de jogadores, mas agradece a ajuda. Exalta os feitos dos seus amigos do futebol de praia na gestão de alguns setores do clube e afirma que deixar a presidência será também se despedir da política alvinegra. E resume a experiência no cargo, sob elogios e críticas.

– Eu vivi. E aí não dá para me arrepender.

Qual o Botafogo o senhor pretende entregar ao próximo presidente?

O que mais tenho ouvido é que o Botafogo está um caos. Mas não é nada muito diferente do que encontrei quando cheguei. Poucas semanas antes da minha primeira eleição, recebi email de uma pessoa sempre cotada como possível candidata, mas que nunca efetivamente se candidatava. Ela pedia que eu não fizesse aquilo, que era uma loucura, que o Botafogo era ingovernável e que eu poderia ser preso. Passados quase seis anos, não fui preso, e o é governável. As dificuldades existem para qualquer presidente e vão continuar existindo, mas o panorama não é de caos. A situação hoje é muito ruim por causa das penhoras, com possibilidade de melhora desse quadro. Conseguimos entrar no Refis e pagar a primeira parcela. 

Agora o esforço é para pagar as outras quatro, de mais de R$ 2 milhões, o que não é fácil. Há o Ato Trabalhista, e podemos ter uma situação melhor a partir desta semana em relação a esse assunto. Quando cheguei também já tinha adiantamento de receitas. Havia um estádio que era deficitário, que devia R$ 1,2 milhão de contas públicas e de terceirizados. Hoje o caos que dizem existir se reflete muito no que acontece no futebol por conta dos salários atrasados e do ambiente que ficou por conta disso.

Em relação ao patrimônio do clube, qual sua avaliação?

A diretoria deixa o Botafogo com um patrimônio muito melhor do que recebeu. Hoje, depois de uma reformulação, o Mourisco recebe provas internacionais, tem recebido delegações estrangeiras por causa das Olimpíadas de 2016. Quando chegamos, o que mais se via era projeto para o Mourisco, e essa diretoria reformulou todo o patrimônio. Foram R$ 14 milhões de obras, e o Botafogo não botou um tostão. Poderíamos receber mais de R$ 170 mil por mês de aluguel não fossem as penhoras. General Severiano sofreu modificações enormes. Não à toa saímos de 900 sócios para 2.600 adimplentes. Agora está sendo feita a modificação da grama natural para sintética, que vai dar um empurrão na frequência do clube. Sacopã teve reforma da garagem dos barcos, um tanque novo, sala de musculação com equipamentos novos. Já nos tentaram tirar a concessão do Caio Martins duas vezes porque existe interesse grande, pois fica em local nobre de Niterói. Grupos pesados estão de olho naquela área. Tirar a concessão todo mundo quer, e o clube entendeu que é importante manter até Marechal Hermes ficar pronto.

Maurício Assumpção com o prefeito Eduardo Paes: acordo para o CT do Botafogo (Foto: Divulgação / Botafogo Oficial)

É verdade que há jovens da base dormindo nos camarotes do Caio Martins, como disse o ex-presidente Carlos Augusto Montenegro em entrevista ao jornal "O Globo"?

Reputo essa declaração à informação que chegou para ele. Tenho certeza de que o Montenegro não vai ao Caio Martins há muitos anos, talvez desde a Série B (em 2003). Os jogadores realmente dormem onde eram os camarotes, mas que foram reformados para virarem alojamentos de no máximo quatro garotos por quarto. O Ministério Público já foi lá e deu ok para as atividades da base. Elas são divididas com o CEFAT, que nós alugamos. Em relação a Vargem Grande, o clube recebeu o terreno, assim como os outros clubes, para fazer o CT. Mas nem o Botafogo e nem ninguém recebeu o dinheiro que seria dado por uma empresa privada. Precisávamos do dinheiro para acertar o terreno. Para isso ser feito, são necessários aproximadamente 100 mil caminhões de entulho, e isso tem um custo grande. Conseguimos com o Governo a doação do entulho. Mas precisamos pagar R$ 3 milhões para assentar o entulho e nivelar para receber a construção, e isso nós não temos.

Marechal Hermes é uma situação especial. Foi demolido porque tinha a perspectiva de começar a obra. O Botafogo demorou a conseguir a licença com a Prefeitura para fazê-la. Existia o interesse de investidores financiarem a construção do CT, mas isso não se concretizou porque havia a instabilidade do processo sucessório, para saber se o trabalho da base continuaria ou seria interrompido. Então decidiram não fazer o investimento. Fomos para o plano B, que é a aprovação da construção por projetos incentivados. Conseguimos isso junto à Secretaria de Esportes do Estado. Hoje temos todos os certificados, e agora está na fase de captação junto às empresas. Dizer que o patrimônio do Botafogo é um dos piores... Quem fala isso não anda pelas sedes do Botafogo.

Como acredita que estará Marechal Hermes ao fim de sua gestão?

No fim do mandato a perspectiva é de estar no começo das obras, já com uma parte desse dinheiro para a sequência. Até o fim de novembro acredito que possa ter começado as obras. Minha maior tristeza é de não ver Marechal Hermes concluído. Vou ver começado, mas não vou ver concluído. Quando o Botafogo tiver o centro de treinamento, a perspectiva vai ser ainda melhor.

A Lei de Responsabilidade Fiscal (antigo Proforte), Refis e Ato Trabalhista são a saída do Botafogo em termos financeiros?

Não esperamos o Proforte sair. Entramos no Refis da crise, como Fluminense e Atlético-MG. O Refis não é melhor do que a Lei de Responsabilidade, mas você pode aderir se ela for aprovada. Neste momento, para sobreviver, entendemos que entrar para o Refis seria importante. Feito isso, com a Lei de Responsabilidade e o Ato, o clube passa a não ter penhoras. Então pode
planejar com o que tem a receber: contrato de televisão até 2018, receita de patrocínios na camisa, no estádio e sócio-torcedor.

O senhor pretende fazer adiantamento de receitas antes do fim deste ano?

Vou ter que fazer adiantamento, da mesma forma que fiz quando entrei e que outros presidentes fizeram. É verdade. Para fechar o ano todo eu teria que fazer. Mas não vou adiantar R$ 65 milhões do ano que vem, como falaram. Vamos estabelecer as prioridades de pagamento para fechar o ano. Os funcionários estão em dia, mas o futebol não está. Direito de imagem,
comissão técnica... Essas são situações emergenciais. Para isso também estamos buscando outros recursos. Estamos passando jogos para outras praças. Não é a melhor situação, sabemos que é melhor jogar em casa. Mas para eu ter torcida, teria que botar ingressos mais baratos. Os jogadores entenderam que deveria ser feito.

Maurício Assumpção no treino do Botafogo. Sem confiança, uma cena cada vez mais rara (Foto: Gustavo Rotstein)

Por falar em jogadores, por que o senhor não tem mais comparecido aos treinos da equipe, como aconteceu quando a crise financeira ficou mais grave?

Quando o time foi eliminado da Libertadores, tive uma conversa com todos os jogadores e disse que a situação ia continuar muito difícil, que quem não quisesse passar por isso ainda tinha tempo de rescindir e procurar outro clube. Mas eu não ia mais aceitar a situação de greve, porque foi um fator preponderante para tirar o Botafogo da Libertadores. O jogo (contra o Unión Española, no Maracanã) não foi o foco naquela semana. Mas ninguém se disse insatisfeito. Parei de ir aos treinos depois que os jogadores não quiseram ir à Paraíba fazer o amistoso contra o Botafogo-PB durante a Copa do Mundo. Aí disse que se essa era uma relação de confiança, e a confiança dos jogadores com o presidente não existia mais, então não tinha que estar lá.

O que tenho que fazer é vir ao clube todos os dias, como tenho feito. Dizem que eu larguei o clube, mas não larguei, não. Continuo vindo todos os dias. Avisei ao Gottardo que não acompanharia como vinha fazendo, mas dei carta branca. Tenho reuniões com a diretoria, falo com eles frequentemente, mas não compareço mais. E quando os jogadores entram em campo com a faixa dizendo que estão ali pelo profissionalismo e pelos torcedores, eu fico mais tranquilo, porque não preciso cobrar nada do grupo. Primeiro porque estou em situação delicada para cobrar, e esse grupo já se comprometeu com a torcida. Se vier cobrança, é da torcida. Eles fizeram um pacto entre eles e a cobrança que vem das arquibancadas, e esse compromisso vem das arquibancadas.

Avalia que a folha salarial do Botafogo tornou-se inchada e que o orçamento do futebol ficou muito alto em relação às receitas?

O que havia em determinado momento era jogadores com contratos muitos longos. Hoje a maioria tem contratos de no máximo um ano, a maioria vence no fim do ano. Talvez esse seja um problema. Porque os que têm a garantia de um contrato de dois anos se sentem mais confortáveis, numa situação mais segura. O que tem contrato de um ano pode sair do clube e não ter mercado, por exemplo. Os jogadores de contratos mais longos são os que vieram da base, até por questão de segurança. Em relação à comissão, recentemente diminuímos os valores. Em um determinado momento, o orçamento do futebol foi crescendo e em 2014 diminuiu. A folha não é assustadora em termos de Brasil.

Em compensação, os resultados eram melhores do que muitos que tinham orçamentos maiores. Em 2012/2013 eu precisava fazer um investimento, que se chamou Seedorf. Quando se traz um cara desse, tem que colocar o custo e os benefícios que ele pode trazer. Aí você vê que de 2010 a 2014 a torcida na faixa de 10 a 15 anos cresceu de forma significativa, isso num período em que o Fluminense comemorou dois títulos brasileiros. É óbvio que algo foi feito. O orçamento vinha do contexto do crescimento do clube como um todo. Em 2009 o Botafogo tinha R$ 6 milhões de receita para a camisa, depois pulou para mais de R$ 26 milhões por ano. Isso não é obra do acaso, mas de gente competente.

Seedorf e Mauricio Assumpção na chegada do holandês para jogar no Botafogo (Foto: Fernando Soutello / AGIF)

O que acha do movimento de torcedores que decidiram se juntar para pagar salários de jogadores até o fim do ano?

Claro que me incomoda, porque gostaria de estar honrando esses compromissos. Quando soube que isso ocorreria, liguei para um integrante do grupo e perguntei se queriam alguma contrapartida. Mas disseram que não era empréstimo, era doação. Se eu tivesse condições talvez doasse, mas como presidente, me incomoda. Não gosto. Como torcedor, tenho que ficar feliz nesse momento por ver que torcedores se reuniram para tentar amenizar a situação complicada. Se continuarem unidos, somando Ato Trabalhista, Refis ou Lei de Responsabilidade aprovada, em cinco ou seis anos essa situação do Botafogo estará resolvida.

Como vê as críticas de opositores sobre o emprego de amigos seus de futebol de praia no Botafogo?

Não foi a primeira vez que falaram sobre esse assunto. As pessoas acham que tenho vergonha de falar dos amigos da praia. Algumas pessoas fazem amigos da rua, na faculdade, na escola. As minhas grandes amizades no meio esportivo foram com pessoas que conheci no futebol de praia. Não conheço presidente que tenha colocado inimigo para colaborar. Se eles vão ser
competentes, é outra historia. Tenho alguns amigos na base e alguns no marketing, no comercial. Veja o que aconteceu nessas áreas? Veja o que aconteceu com produto o Botafogo. A torcida cresceu nesse período. Na base, qual foi o trabalho? Aliás, essa é a pergunta que cabe aos que serão candidatos a presidente: quem vai ser o seu cara da base? Porque já vi muitos da política do Botafogo que não fizeram nada pela base, mas agora são os doutores da base. 

Vejo candidatos que andam com pessoas que já foram da base do Botafogo. E qual foi o trabalho dessas pessoas?

Para falar da base do Botafogo, o cara tem que já ter feito algo igual ou melhor em outro clube do Brasil ou ter se enfurnado vendo o que se faz lá. Acompanhar futsal, com eu acompanho, sub-15, sub-17, tem que ir pra Austin, Nova Iguaçu, Macaé, ver treino, participar de reunião pós-jogo, como já participei. Veja os resultados e veja o que a base conquistou. Hoje, o Botafogo fica com 70%, 80% dos direitos econômicos dos jogadores que chegam. Somos o clube mais difícil de negociar com empresários. Temos um sistema de captação. Assim chegaram Daniel, Vitinho, Gabriel, Caio... Mesmo com todas as dificuldades que temos.

O senhor pretende apoiar algum candidato nas próximas eleições do Botafogo?


Não vou ter candidato. Tive uma reunião com vices e perguntei quem gostaria de ser candidato. Só o Alberto Macedo (vice jurídico) disse que sim. Tive uma conversa franca com ele naquela época e disse que tinha duas pessoas que gostaria que fossem meus candidatos. Paulo Mendes (vice geral) e Chico Fonseca (vice de futebol). Infelizmente, nenhum dos dois pôde assumir a responsabilidade, por motivos profissionais. Assim, deixei os vices livres para apoiar as candidaturas que achassem melhor. Existe liberdade de escolha. A situação não terá candidato oficial. Se eu, Maurício, vou apoiar alguém, é outra história. Mas primeiro vou esperar a confirmação dos candidatos. A única registrada por enquanto é a do Vinicius Assumpção. Mas candidato da situação não tem.

O que pretende fazer depois de encerrar seu ciclo na presidência?


Sou professor universitário, tenho uma clínica odontológica. Não estou atuando, hoje sou mais um empresário. Agora existe um vertente da odontologia que é do esporte, que me agrada. Também tenho recebido convites para dar aula em cursos de marketing esportivo, posso ampliar minha atuação como executivo da odontologia. No futebol do Botafogo, não. Volto para a arquibancada. Não vou ficar ligado à vida política do clube, não quero fazer parte de chapa. Acho que seis anos foram suficientes para participar da vida política, não tenho esse fervor de liderar, ter um grupo político. Não tenho esse tipo de paixão. Algumas pessoas nascem com isso, gostam. Vou voltar a ser o que eu era. Torcedor de arquibancada, continuar pagando meu sócio-torcedor. Para trabalhar no futebol teria que ser algo muito atraente, muito interessante em termos de perspectiva de trabalho. Mas tenho recebido algumas sondagens de empresas de consultoria de marketing esportivo, só não sei se é isso que eu quero.

Maurício Assumpção acompanha partida de futebol de praia, um de seus redutos (Foto: Globoesporte.com)

Fala-se que você gostaria de trabalhar nos Estados Unidos, onde o Botafogo acabou de registrar sua marca.


O mercado americano vem crescendo, e o Botafogo visualizou isso muito antes da Copa do Mundo. O Botafogo registrou a marca nos Estados Unidos, e isso foi motivo de questionamento do Conselho Fiscal. Até achei legal a preocupação, mas não registrei a marca no meu nome. Aliás, só o clube pode registrar sua marca. O mercado dos EUA está crescendo muito, e entendo que o Botafogo tem que estar lá. Estamos tentando desenvolver uma parceria com um clube, mas é parceria técnica. Se o Botafogo entender lá na frente que deve ter um clube lá, como Botafogo USA, aí é uma questão para a próxima diretoria. Mas até agora não há nada de oficial em termos de proposta de trabalho lá. Estamos desenvolvendo parcerias para ter o Botafogo no campeonato americano da segunda liga, a USL, isso é verdade, mas não é de hoje. Há três anos estamos fazendo sondagens de mercado. Quando um clube faz muitos jogadores na base, chega a hora em que precisa de um mercado secundário para colocá-los, e esse pode ser mercado interessante.

Qual a avaliação que faz da comissão da crise, instituída pelo Conselho Deliberativo?

Assim que a comissão foi constituída, mandei uma carta para o presidente em exercício do Conselho dizendo que me colocava à disposição para todos os pedidos necessários, disse que gostaria que fizessem esses pedidos por meio da presidência, para eu passar para os meus diretores. O presidente da comissão, Gustavo Noronha, já fez a primeira reunião com o financeiro, pediu documentos que foram disponibilizados e que são de posse do clube. Em breve haverá uma reunião com o futebol. Vejo de forma tranquila. Quando o grupo Mais Botafogo rompeu comigo, em 2009, criou várias comissões e não andou. Essa parece que vai andar. Nós estamos fazendo planilhas com a origem das dívidas e com as dívidas que foram feitas em cada mandato, inclusive as minhas. Para que a comissão tenha ideia da dívida, dos valores das dívidas e que assim possa tomar conhecimento. Mesmo que não me peça, eu vou entregar. Acho importante que tenha essa consciência.

Recentemente houve uma invasão de torcedores na sede do clube na tentativa de encontrá-lo. Teme por sua segurança?

Estou há seis anos no Botafogo e nunca andei com segurança fora de estádio. Nunca temi, até porque acho que nunca fiz nada que desse motivo para isso. Não tenho que temer algum tipo de agressão. Se fosse me pautar pelos comentários, não saía na rua. Estamos com processo na delegacia. Não vou retirar a queixa. As pessoas que provem que não invadiram, que não me
ameaçaram e que não fizeram nada de errado. Sei que tem maluco para tudo, mas não vou cercear minha vida, e não é isso que pesa para que eu decida me afastar da política do clube.

Teme que a imagem deixada em seu último ano seja a imagem que ficará de toda a gestão?

Não é que eu tema. É uma possibilidade. No momento imediato, é óbvio que o nível de rejeição é grande. Mas quando começou a gestão, em 2009, fizemos um trabalho para conquistar torcedores mais jovens, e ninguém falava. Cinco anos depois, o resultado apareceu.

Como define a experiência de ter sido presidente do Botafogo?


Pensei nisso quando aceitei me candidatar. Imaginava que estaria na minha casa de campo, com 90 anos, embalando na rede, olhando o horizonte e pensando que tive a oportunidade mas não tive coragem. Agora, com 90 anos, vou dizer que tive a oportunidade e tive a coragem. Fiz coisas boas e coisas ruins. Certas e não tão certas. Conquistei vitórias e tive derrotas. Eu vivi. E aí não dá para me arrepender.

Por Gustavo Rotstein Rio de Janeiro/GE

Gottardo avisa Jobson: "Desconstruiu uma carreira, agora só depende dele"


Gerente técnico do Botafogo, falando sobre a classificação heroica em Fortaleza, aprovou os acréscimos dados pelo árbitro




Jobson treina desde a última terça-feira
(Foto: Fred Gomes)
Jobson voltou a treinar pelo Botafogo na terça-feira. A tendência é que não seja aproveitado, mas o gerente técnico do Glorioso, Wilson Gottardo, colocou nas mãos do jogador. Disse que o futuro depende do atacante de 26 anos, mas, concomitantemente a elogios ao futebol apresentado no passado, enumerou erros que levaram o paraense ao ostracismo. Gottardo ainda afirmou que o Botafogo quer explicações sobre a saída do atleta da Arábia Saudita e por que só voltou a treinar pelo clube após um mês depois de retornar ao Brasil.

- O Jobson teve chances a todo instante. Está tendo chance para trabalhar, só depende dele. Não depende do Gottardo ou do Botafogo. Desconstruiu uma carreira em que começou bem num ano em que o Botafogo conseguiu belíssimos resultados contra Palmeiras e São Paulo. Era um jogador muito agressivo, a Seleção não tinha um jogador agressivo como ele naquela ocasião, tinha o Neymar crescendo, mas o Jobson nunca foi cogitado na Seleção. Depois disso acabou, fugiu e tirou os dois pés do chão. Mas não quero fazer julgamento do passado, faço do presente. O caminho é longo, daqui a duas semanas está pronto? Não está pronto não, vai ter que ganhar confiança, mostrar que é o Jobson. Nem sabemos ao certo por que saiu do Mundo Árabe, por que está no Brasil há um mês e meio e só se apresentou agora. Tem o advogado dele, que precisa defendê-lo, mas o Botafogo está acima desse profissional. O Botafogo vai lutar por seus interesses - afirmou, à Rádio Brasil.

Elogios aos acréscimos no Castelão

Gottardo ainda considerou justo o tempo de acréscimo observado pelo árbitro Emerson de Almeida na heróica vitória por 4 a 3 do Botafogo sobre o Ceará, conquistada aos 50 minutos de jogo. Para ele, o comportamento dos atletas do Vovô motivou isso.

- O Botafogo estava dominando, sofreu o terceiro gol, e aí todo mundo tem um lado do "agora vai escapar". Todo mundo já perdido com os minutos. Teve antijogo do Ceará, apagão, substituições, e ninguém mais sabia dos acréscimos. O ponto forte foi o árbitro ter dado aquele acréscimo, que foi justo, pelo antijogo do Ceará. Eles procuraram esfriar o jogo, os gandulas atrasavam, e a arbitragem teve falhas técnicas que na maioria prejudicaram o Botafogo, mas nada premeditado. Quando houve o empate do Ramírez, não sabíamos se teria mais 30 segundos, um ou dois minutos. Aí o árbitro disse a um jogador que tinha mais um minuto, o que foi suficiente para fazer o gol.

Por GloboEsporte.com Fortaleza

Bielsa reclama de contratação de Dória pelo Olympique de Marselha


Técnico argentino afirma que não foi consultado sobre o zagueiro, diz que clube não tem condições de avaliar jogadores fora da França e critica presidente



A empolgação do Olympique de Marselha ao anunciar a contratação do zagueiro Dória não foi compartilhada pelo técnico da equipe, Marcelo Bielsa. Em entrevista coletiva nesta quinta-feira, o argentino afirmou que não foi consultado sobre o negócio e criticou a maneira como a diretoria se comportou no mercado de transferências.

- Eu soube da contratação de Dória quando ele foi aprovado nos exames médicos. Eu fui contrário à chegada dele. O Olympique não tem estrutura suficiente para avaliar a qualidade de um jogador que não atua na França. Quando eu dou minha opinião num jogador, eu levo em conta muitos fatores, e um deles é saber o seu valor e o quanto tempo podem durar. Eu não pude analisar a chegada de Dória. Não pude dar minha opinião – reclamou Bielsa. 

Dória posa com a camisa do Olympique junto com presidente do clube (à esquerda) (Foto: Divulgação )

Dória foi contratado pelo Olympique ao Botafogo por cerca de R$ 30 milhões e assinou contrato de cinco temporadas com o clube francês. Em sua apresentação, o clube o descreveu como “futuro do Brasil” e exaltou suas qualidades técnicas.

Entretanto, o problema de Bielsa não foi só com a chegada de Dória. O argentino afirmou que não foi consultado em nenhuma das decisões do mercado, tanto em contratações quanto em saídas, algo diferente do prometido a ele pelo presidente do Olympique, Vincent Labrune.

- O resultado deste mercado de transferências é negativo. Nenhum jogador vendido foi minha decisão. Eu acredito que o presidente me fez promessas que ele sabia que não poderia cumprir. Se tudo isso tivesse sido dito para mim sinceramente, eu teria aceitado. Eu soube da venda de Lucas Mendes no dia em que ele foi embora. Eu entreguei 12 opções de jogadores ao presidente, e nenhum deles veio. O modo como o clube opera me desaponta.

Bielsa foi contratado pelo Olympique no início da temporada e, a princípio, chegou com liberdade para reformular todo o departamento de futebol do clube. Ele chegou a fazer mudanças na estrutura de treinos, mas logo entrou em conflito com a imprensa e a diretoria. 

Bielsa não está satisfeito com a diretoria do Olympique (Foto: AFP)


Por GloboEsporte.com Marselha, França

Na Seleção, Jefferson vibra com heroico Botafogo na Copa do Brasil


Mesmo em Miami, onde o quadro brasileiro fará amistoso com a Colômbia, goleiro exalta classificação e destaca bravura dos "guerreiros" alvinegros contra o Ceará



A emocionante e já inesperada classificação para as quartas de final da Copa do Brasil fez a alegria da torcida do Botafogo em todo o Brasil e ecoou até fora do país. Defendendo a seleção brasileira, que fará sexta-feira, às 22 horas (de Brasília), um amistoso contra a Colômbia em Miami, Jefferson entrou na corrente alvinegra e vibrou com a conquista dos companheiros de clube.

Em sua conta no Instagram, o camisa 1 do Glorioso fez questão de ressaltar a sensacional vitória da equipe de General Severiano, que anotou dois gols nos acréscimos, virou o marcador sobre o Ceará para 4 a 3 e festejou a vaga obtida em pleno Castelão.

Jefferson posta mensagem frisando a classificação do quadro botafoguense (Foto: Reprodução / Instagram)

- Parabéns Fogão pela classificação. Grandes batalhas só são dadas a grandes guerreiros. Fé “tamo junto”, exaltou o dono da meta botafoguense e, ao menos nos primeiros passos da nova era Dunga, da seleção brasileira.

Após ser derrotado em casa no duelo de ida por 2 a 1, o Botafogo precisava de uma vitória por mais de um gol ou até mesmo pela diferença mínima, porém desde que com placar maior que o ocorrido no Maracanã. E o prejuízo alvinegro poderia até ter sido maior, caso Jefferson não defendesse um pênalti aos 38 da etapa final, quando o marcador já havia sido construído pelo competente time visitante.

Na noite de quarta-feira, o time carioca perdia por 3 a 2 até os 49 minutos do segundo tempo, quando Cachito Ramírez igualou. Dada a nova saída, a equipe local atacou em busca da vitória e até perdeu boa chance. Após a reposição, Ferreyra escorou de cabeça para Ramírez, que se livrou de dois contrários e rolou para André Bahia. Como um autêntico atacante, o zagueiro dominou e, da entrada da área, executou o tiro fatal que deu a classificação heroica ao Glorioso.

Por GloboEsporte.com Miami, EUA

Mancini vibra com a vitória épica e sonha com "fase sensacional" do Bota


Treinador valoriza entrega do time, que não desistiu da vaga mesmo atrás do placar




Uma virada épica, que culminou em uma classificação heróica para as quartas de final da Copa do Brasil. Vagner Mancini não poupou elogios ao Botafogo após o 4 a 3 sobre o Ceará, nesta quarta-feira, na Arena Castelão, e ganhou motivos de sobra para acreditar em uma nova fase para o time na temporada. O treinador exaltou o feito e a entrega dos jogadores, que acreditaram na vitória até o fim.


- Saiu força de onde um ser humano tira nos momentos mais difíceis. Nossa equipe foi até o último minuto de jogo lutando, brigando e não merecia de maneira nenhuma perder a partida. Nos últimos dois minutos conseguimos empatar e virar. Vitória que nos fortalece muito e nos dá alegria. Espero que seja o começo de uma fase sensacional. São coisas que só o futebol pode proporcionar - disse Mancini, em sua primeira resposta na coletiva de imprensa.

Agora, o Glorioso encara, a princípio, o Santos pelas quartas de final da Copa do Brasil. O Grêmio, eliminado no STJD nesta quarta-feira por ato racista da torcida na primeira partida contra o Peixe, ainda vai recorrer e pode atrasar as rodadas seguintes.

Confira a entrevista completa de Vagner Mancini:

Herói André Bahia

Ele é um atleta que merece tudo o que foi vivido, não só pelo homem que é, mas pelo profissional. É extremamente correto. Existe a brincadeira no grupo de que ele, mesmo nas atividades de dois toques e rachão, dificilmente ele faz gol. Acabou fazendo um gol espetacular neste jogo. Enxergo isso como se fosse um prêmio, nada na vida acontece por acaso.

Edílson gol Botafogo x Ceará (Foto: LC Moreira / Ag. Estado)

Festa no vestiário

O vestiário foi com muita alegria, uma festa. O que foi visto dentro de campo no fim do jogo nós levamos lá para dentro. Foi um entusiasmo normal. Foram 90 minutos de angústia e no final deu tudo certo.

Arbitragem polêmica

Acho que prejudicou as duas equipes. Teve um pênalti a nosso favor que ele não deu, qualquer pessoa no estádio viu. Sabemos que é um ser humano e pode errar. Reclamação existe de ambos os lados. Óbvio que por ser uma decisão de vaga nos exaltamos mais, mas ninguém do Botafogo passou dos limites.

Substituições durante o jogo

Acabamos perdendo cedo demais o Daniel, que era nosso desafogo. Tive que colocar o Yuri (Mamute), que acabou fazendo o gol e foi intenso o jogo todo. Assim como o Julio Cesar e o Ferreyra. A equipe melhorou demais. O atleta que entra tem que dar a resposta, e eles deram.

Misto de emoções

Nesse jogo específico, até por ter acontecido tantas coisas, olhei pouco para o relógio. Quando fui ver já estava nos acréscimos e fizemos o gol. Aí voltei a olhar e faltava um minuto. O Ceará ainda teve uma chance com o Magno Alves e no ataque seguinte chegamos ao quarto gol. Futebol cheio de emoções e reviravoltas. Felizmente a noite foi nossa.

Problemas médicos

Está complicado, ainda não sei dizer o que vai acontecer. O Emerson jogou já no sacrifício, ainda teve febre à noite e jogou a base de injeções. Saiu o Daniel no início do jogo... Daqui a pouco não vou ter mais atletas. Já temos uma dificuldade enorme ao olhar para o banco, porque por muitas vezes não tenho o atleta que desejaria porque ou está suspenso ou no departamento médico. Mas o grupo deu uma prova de que as coisas estão virando no Botafogo em cima de muito trabalho.

Jogos como mandante fora do Rio

A postura tem que ser a mesma demonstrada nesta partida contra o Ceará. O Botafogo entrou decidido a fazer um grande jogo, a fazer história. O Ceará é uma boa equipe, nós conseguimos passar por uma série de obstáculos, que certamente vamos encontrar também nas próximas partidas contra São Paulo, Corinthians e Flamengo. Muitas vezes o cenário é desfavorável e nós nos superamos, isso faz parte.

Por Fred HuberFortaleza/GE

Gols, apagão, polêmicas e virada heroica: Bota bate Vovô e se classifica



Time vence por 4 a 3 com dois gols no fim e pega Santos nas quartas de final com bom público no Castelão em jogo com queixas de arbitragem



Tempo Real (Fred Huber)

Teve de tudo no Castelão na noite desta quarta-feira, em Fortaleza. Teve bom público - 37.794 pagantes (38.949 presentes), com renda: R$: 828.148,00. Teve polêmica na arbitragem, com um pênalti em Emerson Sheik não marcado e um gol mal anulado do Ceará. Teve apagão no Castelão, que ficou iluminado pelos celulares por 22 minutos. Teve pixotada do goleiro Andrey, que parecia ter sido decisiva. E teve emoção e virada dos dois lados, numa partida que terminou com vitória heroica, histórica, do Botafogo por 4 a 3, com gols aos 49 e 50 minutos do segundo tempo, que lhe deram a classificação no duelo com o Ceará - no primeiro jogo pela Copa do Brasil, no Maracanã, o time cearense vencera por 2 a 1.

Os gols foram de Bill (2) e um de Magno Alves para o time da casa e Edílson, Yúri Mamute, Ramírez e André Bahia para o Alvinegro carioca, que enfrentará o Santos, classificado após a exclusão do Grêmio, punido pela Justiça após as injúrias racistas de sua torcida ao goleiro Aranha. No fim de semana o Ceará voltará a campo sábado pela Série B do Brasileirão, contra o Oeste, fora de casa. O Botafogo também sai, para enfrentar o Atlético-MG, no Independência, em Belo Horizonte, pela Série A do Brasileirão.

Virada e reação

Um primeiro tempo já com emoção e muitos gols fez jus ao bom público que compareceu ao Castelão. E o Botafogo tentou mostrar disposição logo de cara. A vontade era tanta que, com quatro minutos de jogo, Emerson Sheik reclamou com veemencia de falta de Alex Lima e já levou cartão amarelo. O time procurava costurar as jogadas de ataque mas encontrava um Ceará bem fechadinho e, pela vantagem com a vitória no jogo do Rio, estratégico. Partia, como num jogo de xadrez, com perigo nos contra-ataques. E que perigo.

Emerson Sheik botafogo x ceará (Foto: Agência Estado)

Foram duas investidas que deram susto ao jovem goleiro Andrey. Na primeira, ele dividiu com Nikão e evitou o pior. Na segunda, rezou, e o belo chute de Eduardo foi para fora. Bom para o Alvinegro carioca, que sempre tem no lateral Edílson uma arma decisiva na bola parada. Já tinha assustado o time da casa com um tirambaço de longe que foi para fora até acertar a pontaria aos 14, dessa vez trocando a bomba por um chute bem colocado da meia esquerda, sem defesa

A vantagem não demorou a ir por água abaixo. Daniel, esperança da equipe, saiu contundido e deu vez a Yúri Mamute. O time sentiu, e o Vovô já tinha dado a senha de que buscaria o gol pelo lado esquerdo, com o bom apoio do lateral Vicente. E foi por ali que Magno Alves se criou e centrou para Bill - com Andrey já batido - apenas empurrar para as redes e empatar. O Botafogo perdeu o controle e, quatro minutos depois, Yúri Mamute voltou para acompanhar a arrancada de Vicente e derrubou o lateral na área. Pênalti que Magno Alves não desperdiçou aos 26, com direito a paradinha. Em menos de meia hora, o placar do Maracanã se repetia no Castelão.

Mas o Vovô deu uma relaxada com a vantagem. O erro foi fatal. A equipe carioca começou a esboçar reação no fim do primeiro tempo, num lance em que Emerson Sheik reclamou, justamente, de ter sofrido pênalti de Vicente, não marcado pelo árbitro. O jogo seguiu e, aos 46, Edílson voltou a ser decisivo ao centrar na medida para Yúri Mamute se redimir. De peixinho, mandou cabeçada certeira, empatando a partida e pondo o Botafogo novamente no páreo, mesmo sem ser brilhante.

Botafogo heroico
Bastava um gol para dar a classificação ao Botafogo, que começou no campo de ataque, mas deu espaço ao contragolpe. Magno Alves recebeu livre aos 7 minutos e mandou para as redes, mas o auxiliar marcou impedimento inexistente, em novo erro de arbitragem. Pouco depois, apagão no estádio. Sem luz - só os celulares dos torcedores iluminavam o estádio -, a partida ficou parada por 22 minutos. E voltou com mais polêmica. O Vovô reclamou de dois pênaltis não marcados: um que seria mão na bola de André Bahia - que foi interpretado como bola na mão - e outro numa dividida.

Sérgio Soares mexeu no Vovô, trocando Ricardinho por Michel e Nikão por Souza. Vágner Mancini, que há havia colocado Ramírez no lugar de Gabriel, trocou Bollatti por Ferreyra. Daí em diante, só emoção. Uma pixotada do goleiro Andrey parecia ter selado os destinos. A bola sobrou para Bill, que não perdoou aos 30: 3 a 2, e a festa se desenhava para o Vovô no Castelão. Mais uma vez, o time relaxou. E o Botafogo acreditou. Ramírez empatou em sobra de chute de Wallyson aos 49. No apagar das luzes, a bomba de André Bahia, aos 50, devolveu a vaga ao Alvinegro carioca. Uma vibração que vai se manter por toda a semana.

Por GLOBOESPORTE.COM Fortaleza