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sábado, 14 de dezembro de 2019

Com referências a 1989, Espinosa não esconde emoção no retorno ao Botafogo: "Deixa eu respirar"


Novo gerente técnico de futebol afirma que, diferentemente de quando treinou o clube em outras três passagens, sua função primordial será cobrar, mas com educação



Ídolo alvinegro, Valdir Espinosa está de volta ao Botafogo e iniciou neste sábado sua quarta passagem pelo clube, a primeira como gerente técnico de futebol - as outras três se deram como treinador do clube. E suas palavras foram repletas de emoção, com várias referências a 1989, quando, na função de técnico, conduziu o time ao título estadual que encerrou jejum de 21 anos.


Espinosa, assim como a torcida do Botafogo repete em um de seus cantos mais tradicionais, afirmou que quer ver o clube campeão de novo. Mas expressou o desejo aludindo a uma frase dita por ele há 30 anos.


- Deixa eu respirar um pouquinho, é pura emoção (pausa). Voltar para casa me traz recordações maravilhosas e desafios maravilhosos. Quero agradecer ao Renha e à direção pela minha volta. Volto ao avião quando lá de Porto Alegre saí (em 1989, desci no Rio de Janeiro. Quase peguei o avião e voltei de volta. Diziam: "O que você está fazendo aqui, tá louco?" Não vou citar nomes ou ex-treinadores famosos diziam: "Espinosa, você tá louco? Não tinha um time melhor time para você vir". Aquilo começou a me dar força. Cada um que me desafiava, até torcedores do Botafogo me desafiavam. Muitos diziam que não ia dar certo. Chegamos hoje no Botafogo num momento difícil, mas isso faz com que tenhamos uma força maior para que junto com todos façamos o Botafogo melhor.



Mufarrej cumprimenta Valdir Espinosa em momento de emoção para o gerente no Botafogo — Foto: Vitor Silva/Botafogo


- Tenho certeza que é um anseio do torcedor Botafogo ver o time firme novamente. Ele faz parte das grandes conquistas. Nós esperamos passar a jogadores e comissão o comprometimento. O sucesso pode e deve ser dividido por todos. Em nós, o coração vai bater muito forte.


- Em 1989, eu disse quero ver a luz acesa do placar eletrônico do Maracanã e estar escrito "Botafogo Campeão". Foi acrescentado ao meu sonho "campeão invicto". Quando vieram me entrevistar, pedi para esperarem um pouquinho. Disse: "Agora está escrito, pode falar". Quero ver de novo o Botafogo campeão. Sei que todos estamos comprometidos para a luz do Botafogo brilhar de novo. Que ela nos ilumine. Botafogo, eu agradeço por tudo e nós te amamos.



Confira outros tópicos da entrevista:

Como encara uma nova função no Botafogo, já que as três primeiras foram como treinador?

- Trazer tudo aquilo que aprendi e que continuo aprendendo. Temos que aprender, confesso que ao dormir, faço agradecimentos. E faço retrospecto do dia para ver se aprendi alguma coisa no dia de hoje. Outra coisa que aprendo é que viajo muito. De manhã, estou na Arábia, depois na Alemanha, depois em Paris. Pego o controle remoto e estou no Campeonato Inglês, Alemão, Árabe. Ali estou aprendendo.


- Volto a dizer: não é impor, é trocar ideias. Cobrar é muito importante. Gosto de ser cobrado. Sendo cobrado, eu vou crescer. Essa palavra cobrança é de uma forma educada para a pessoa que é cobrada entenda que isso faz parte de uma correção para o crescimento.


- Esse é o trabalho que vamos fazer no Botafogo. Não existindo cobrança, não existe correção ou sucesso. Eles têm que entender qual é a história do Botafogo, quem é a torcida do Botafogo. Você tem que saber por quem você vai lutar. É por ti, pela família, mas a torcida está junto. Às vezes dizem que o jogador não se entrega, mas eu pergunto: alguém o cobrou, alguém o ensinou? Minha função é cobrar.



Valdir Espinosa está de volta ao Botafogo — Foto: Vitor Silva/Botafogo


Hora de encarar as dificuldades

- Quando existem dificuldades, você não pode sentar e lamentar. Você tem que saber que existe e enfrentá-las. Vejo dirigentes com essa vontade, ninguém está satisfeito com o momento do Botafogo. O momento faz com que lutemos mais. Essa diretoria vai lutar para resolver todos os problemas. Eu estou chegando hoje, não posso sentar e dizer que não vai dar certo. Tenho que reconhecer a dificuldade e lutar mais. E passar isso à comissão e aos jogadores.


- Sempre digo: "a taça de campeão está lá longe, seja de estadual, regional, nacional, Libertadores ou Mundial". Ela não vem a nós. Temos que caminhar até ela e dizer: "Essa taça é minha". Vai chegar lá e pegar a taça quem souber passar por essa taça.


- Por isso digo que todos são importantes. Sempre que eu estiver falando, tenho que lembrar 89. Todos sabíamos a importância que tinha aquele título. Ao conquistá-lo, ninguém falou: "Eu sou, todos falamos nós somos".


Só uma promessa é permitida agora: lutar

- Importante é o seguinte: não tente se enganar ou enganar o torcedor. Lógico que a dificuldade vai existir, não faça promessa. Prometa o que você pode fazer. A promessa que podemos fazer agora é lutar. Pela luta, vamos alcançar nossos objetivos. Vamos lutar, vamos honrar a camisa do Botafogo. Mas também ter a humildade de chamar o torcedor para nos ajudar. Juntos, sempre lotamos os estádios. Você, torcedor, estará nesse luta e nessa vitória.


O que pesou para o retorno ao Botafogo?

- Pesou voltar para casa. Se me chamaram para vir, é porque eles têm confiança. Disse que tenho vontade de botar um tênis e um calção. Eu quero começar. Dormi mais tarde ontem e acordei mais cedo hoje. Estou me readaptando às entrevistas coletivas. É ruim isso (risos), bom é a entrevista sozinho. O bom é o particular.


- Na primeira conversa que tive com Montenegro, Renha e Ricardo, falamos de jogadores. Trocamos ideias. Falamos de dia a dia, final de contrato. O segundo momento foi com Alberto Valentim. Conversamos sobre nomes de jogadores, ele me passou alguns nomes. Conhecia alguns e outros não, comecei a pesquisar. Já tenho algumas pesquisas, só não abro para vocês. Sempre que nos encontrarmos, vamos buscar o melhor para o Botafogo. É falando de jogador, de comissão técnica e torcida.


- O primeiro encontro foi com a diretoria e depois com Valentim.



Nelson Mufarrej, Valdir Espinosa e Manoel Renha em apresentação no Botafogo — Foto: Vitor Silva/Botafogo


Fala de novo da emoção de voltar


- Foi uma emoção muito grande. Tive passagens pelo Botafogo. Todas foram marcantes, três vezes. Eu converso com o torcedor, cara, tem uma identificação. Tenho preocupação com o torcedor, os vídeos que faço é para estar perto dele. Recebo mensagens de botafoguenses e de gremistas desejando certo. Tenho que continuar respondendo essas pessoas, porque sei que elas têm carinho e receberão sempre de mim muito carinho.


Conversas com diretoria e Valentim


- A primeira conversa que tivemos com a direção. Fiz uma ligação para o Valentim lá na Granja, conversamos bastante. Falei com o Ricardo também. No outro dia, Valentim me ligou. Já temos uma reunião marcada entre nós. Não tive nenhum contato com o Valentim. Me deu um entusiasmo. Não conheço o cara, ele não me conhece, e já estamos nos identificando. Poxa, isso é muito bom. Imagina no dia a dia, onde essa amizade vai ser cada vez maior. O que a gente vai trazer de carinho e esforço ao trabalho.


Transição do Botafogo para o modelo de clube-empresa


- Ainda entendo pouco dessa matéria, não tenho vergonha de confessa. Quando vejo que as pessoas dizem que isso é importante para a volta do Botafogo, mesmo entendendo pouco, torço para que isso possa acontecer. Espero que isso faça o Botafogo ter sua estrela brilhando cada vez mais.


Ligação com Grêmio e Botafogo


- Resolvi matar aula, fui de bonde para o Estádio Olímpico. O primeiro jogo que assisti no Olímpico foi Grêmio x Botafogo. Como poderia imaginar que seriam os dois clubes da minha vida? Sabe quem eu fui ver? Garrincha. Nunca imaginava que muitos anos se passariam, e eu jogaria pelo Grêmio e faria história pelo Grêmio e pelo Botafogo. Eu tinha uns 15 ou 14 anos. Como que é pode que o meu primeiro jogo pode ter sido Grêmio e Botafogo?



Valdir Espinosa está de volta ao Botafogo — Foto: Vitor Silva/Botafogo


Fonte: GE/Por Fred Gomes — Rio de Janeiro