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sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Botafogo x São Paulo: com Victor Rangel, veja provável escalação de Eduardo Barroca


Por questão contratual, Diego Souza não poderá enfrentar o Tricolor; no meio, Bochecha continua na vaga de Alex Santana, com torção no pé esquerdo



Victor Rangel deve ser a novidade do Botafogo para o jogo contra o São Paulo, neste sábado, às 11h, no Nilton Santos. O centroavante entra no lugar de Diego Souza, fora por questões contratuais. No meio de campo, Bochecha se mantém na vaga de Alex Santana, recuperando-se de torção no pé esquerdo.


+ Barroca fala em Botafogo "jogar no limite para ser competitivo e ganhar" do São Paulo em casa


Victor Rangel limpou e marcou... Pouco depois, dominou uma no peito e fez um golaço de bicicleta 



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Outro desfalque será Carli, que também não jogou na rodada passada. Marcelo Benevenuto e Gabriel formam a dupla de zaga. Fora também contra o Ceará, Gilson está de volta à lateral-esquerda.


Provável escalação do Botafogo para enfrentar o São Paulo: Gatito; Fernando, Marcelo, Gabriel, Gilson; Cícero, Bochecha, João Paulo; Marcinho, Luiz Fernando e Victor Rangel.



Victor Rangel no treinamento do Botafogo — Foto: Fred Gomes


Durante a semana, Barroca também testou o time com Pachu e Vinicius Tanque. Ainda estudou a possibilidade de mandar a campo uma formação com quatro meias e dois atacantes de velocidade. Mas Victor Rangel deverá ser a opção para iniciar a partida.


Fonte: GE/Por Emanuelle Ribeiro — Rio de Janeiro

Montenegro questiona investimento no esporte olímpico e critica frase de vice do Botafogo: "UTI não é uma palavra agradável"


Presidente entre 1994 a 1996 diz que afirmação do vice executivo foi inadequada e resume necessidade de frear injeção de dinheiro em outros esportes: "Acabou o milho, acabou a pipoca"




Fred Gomes


Em entrevista ao GloboEsporte.com, Carlos Augusto Montenegro projetou o futuro alvinegro com otimismo. Tem grande confiança de que a "Botafogo S/A" seja uma realidade a partir de janeiro. Na segunda parte do papo, o grande benemérito e presidente campeão brasileiro, porém, não poupou críticas ao atual momento do clube.


LEIA MAIS: Montenegro detalha projeto empresa do Botafogo: ''Os clubes têm de parar de viver só de história''


Fez questão de frisar sua total oposição a uma declaração dada por Luís Fernando Santos, vice-presidente executivo, no início do mês. À Rádio Globo, Luís afirmou que "o Botafogo é um paciente em estado grave internado numa UTI".

Montenegro não ignorou a realidade, mas tratou a afirmação como inadequada para um momento de captação de investidores e parceiros. Disse que não imagina o ano de 2020 sem a transformação do futebol alvinegro em empresa, mas garantiu: se não der certo, o Botafogo, por sua "pujança e força", nunca acabará.

- Não consigo nem imaginar o contrário. Acabar nunca acaba. Você tem anjos da guarda. Botafogo já deveu impostos, vendeu a sede e a recuperou, passou 21 anos sem títulos. Aí apareceram algumas pessoas, principalmente na época do Emil Pinheiro e conseguiram dar um título ao Botafogo. Depois ganhou um Brasileiro. Tem sempre gente ajudando.

- UTI não é uma palavra agradável para quem está fazendo um modelo novo, procurando investidores e uma volta por cima. Pode ser a verdade, a realidade. Mas não gosto da palavra. Acho o Botafogo muito pujante, é muito forte.



Luis Fernando Santos, vice-presidente executivo do Botafogo, desagradou Montenegro com sua declaração — Foto: Marcelo Baltar


- Se eu sentisse que ele estava na UTI, eu não iria me aproximar. Deixaria ele morrer em paz. Mas não está na UTI. Ele passa um mau momento, pelo qual o futebol brasileiro todo está passando. A seleção brasileira vem de várias derrotas por causa disso.

Montenegro, presidente alvinegro de 1994 a 1996, ainda fez duras críticas ao investimento no esporte olímpico em detrimento da base. Citou ter se surpreendido com a diferença física de São Paulo e Botafogo em goleada tricolor por 4 a 1 no Rio, pelo Brasileiro Sub-20.

Expôs suas diferenças com o grupo político "Mais Botafogo", que conduziu Carlos Eduardo Pereira e Nelson Mufarrej à presidência nas duas últimas eleições, e tratou da pressão familiar para deixar de tirar do próprio bolso e apagar diversos incêndios no Glorioso. Leia tudo abaixo.


Confira todos os tópicos:

Você falou que se comprometeu a ajudar pessoas sérias que comandem o Botafogo. Foi uma tônica esse ano, aliás. O investimento no esporte olímpico em detrimento da base te desanima a ajudar mais? A presença do Luís Fernando Santos também influencia, principalmente pela declaração da UTI?

Não me desanima. Ajuda ao Botafogo não significa só dinheiro. Significa tempo, explicar às vezes que o caminho está errado, participar de reuniões sobre o clube-empresa, significa até tentar ajudar politicamente uma renovação de concessão do estádio e por vezes pagar a conta de luz ou água. Não tenho, às vezes a chance, de ajudar mais como gostaria. Mas às vezes ajudo como avalista. O Good (Claudio, ex-dirigente e benemérito alvinegro) tem ajudado muito o Botafogo, o Rotenberg (Ricardo, vice comercial e de marketing) também trazendo vários patrocinadores importantes. Depois que tiver as coisas divididas, se me pedirem posso até tentar ajudar verba incentivada. Mas não pode é ter caixa única, contaminar tudo.

"A questão do basquete é que não gosto mesmo. Eu adoro o esporte olímpico. O vôlei, O remo, que é o único estatutário. Mas acho o seguinte: acabou o milho, acabou a pipoca. Você não pode fazer determinado esportes, pagar atletas, comissão técnica, se não tem dinheiro. Já tive reunião lá e expliquei isso".

"Outro dia dei um exemplo: o Botafogo começou o ano com mil funcionários. Está na maior crise do mundo, chegando a outubro e o clube segue com mil funcionários. Como? As empresas se movimentam. Ou contratam quando precisam, ou demitem quando necessário".


Pedido a Luís Fernando para não "inventar novas despesas" e divergências sobre valor dos ingressos
Não pode ficar é parado com a dívida aumentando. O Luiz Fernando é uma pessoa do bem, o vice-presidente executivo, mas não pode fazer nada. A única coisa que eu pedi é não inventar novas despesas. Tem discussão de preço de ingresso. Eu sou favorável ao menor possível. A gente vai ter condição de ganhar mais receita em uma colocação melhor. Quero nosso estádio com 15, 18, 20 mil pessoas.

Se possível com ingresso a R$ 20, mulher não paga. Criança ganha brinquedo, sorteia carro. Vinte mil pessoas ajudam o time, dão mais força. Aliás o time, tenho que reconhecer, está perfeito. Elenco forte ou fraco? Não interessa, é o nosso elenco. Esse pessoal está se matando em campo. A torcida no estádio ajuda esse pessoal.

"Tive uma divergência com o Luís Fernando sobre os preços. Ele disse: "Ah, eu acho melhor botar R$ 70 e irem sete mil pessoas. Eu falei "Não, prefiro R$ 20 ou R$ 30 e que tenhamos 15 mil no estádio". Com 15 mil ou 7 mil, o prejuízo com o estádio vai ser o mesmo. O único jogo que a gente não teve prejuízo foi o com o Palmeiras, em Brasília".

Se tudo está dando prejuízo, então vamos colocar mais gente no estádio. São detalhes. Se a gente pegar um sexto lugar em vez de um oitavo, a gente ganha mais dinheiro. Nesses 30 anos de Botafogo tenho alguns macetes que talvez ele não tenha. Ele é mais frio, mais matemático, eu acho que sou mais atualizado em relação a coisas boas e ruins do futebol.


O senhor criticou muito o "Mais Botafogo" e chegou a colocar em dúvida que o projeto dos investidores fosse colocado em prática por conta da atuação deles. Quais suas principais ressalvas a eles?
O Mais Botafogo teve seus méritos, é um grupo que surgiu com a má administração do segundo mandato do Maurício Assumpção. Mas o problema já começa a ser da reeleição.

"Quando as pessoas ficam muito tempo no poder, começam a se achar um pouco donas do clube. Ai acho quem entra a questão dos esportes olímpicos que comentei antes. O cara fica tanto tempo no poder e quer uma novidade, como vôlei, basquete. Vôlei e basquete não são tradições do Botafogo".



Carlos Eduardo Pereira e Mufarrej foram eleitos pelo "Mais Botafogo"; Anderson Simões, à direita, deixou o grupo após divergências — Foto: Vitor Silva/SSPress/Botafogo

Esses esportes só geram custo. Você não vende um atleta de vôlei nem um de basquete. Então cada centavo que investe na base, você tem condição de fortalecer o time e fazer receita. Várias pessoas que saíram do Mais Botafogo perceberam isso, o desgaste da reeleição.

"Hoje se não fosse a ajuda geral do Rotenberg, Good, Paulo Mendes, Renha e eu estamos dando, não sei nem se estariam lá ainda. Iriam definhar até o fim do ano. Ninguém quer o lugar deles, se começaram tem que terminar. Estamos ajudando eles a terminarem com dignidade".


Montenegro diz que Mais Botafogo precisa dar exemplo


Em uma conversa recente eu falei: ''Conseguiram patrocínio para o basquete, ótimo. Mas vôlei ainda não tem''. Tem que dar exemplo ao clube: "Olha, estamos sem dinheiro". Fala que não vai fazer vôlei porque não temos o dinheiro. É um exemplo de que o clube passa por problemas.

Se começar a fazer tudo, parece que está tudo bem. Não é bom para os funcionários e jogadores, que estão com salários atrasados. É questão de postura, de exemplo. Acho que é uma coisa errada de quem comanda o clube, independentemente de ser o Mais Botafogo ou não.

"É um mau exemplo fazer algo sem dinheiro. Se não tem dinheiro, não faça. É simples. Com essa nossa ajuda, tomara que a gente acabe salvando o Mais Botafogo, ou o que restar dele, para eles saírem com alguma dignidade".

O propósito deles era correto, mas estão extrapolando. Estou falando isso sem política. Agora eu torço é por um clube novo, moderno, sem essas ingerências. Não tem grupo de Montenegro, de Mais Botafogo. Para sobreviver, temos que ter algo digno para o futuro.

Tudo o que estou falando aqui eu já falei com eles em uma reunião recente. Já falei para eles que não se fala em UTI, Botafogo é muito mais forte que UTI. Falei com eles da ajuda que as pessoas dão, do vôlei e do basquete e dos preços dos ingressos.

"Graças a Deus o Nelson e o Carlos Eduardo concordam com essa tese. Não tem essa de grupo político, só serve pra ganhar eleição. Foram bem no primeiro mandato, mas estão inventando no segundo. Até parece que o Botafogo tem oxigênio para bancar esses outros esportes".



Carlos Augusto Montenegro conversa ao lado de um tevêmetro, aparelho que mede a audiência da TV pelo Ibope — Foto: Fred Gomes


O senhor disse que não conseguiria nem imaginar se a SPE não saísse do papel em 2020. Qual seria o cenário?

Você quer eu eu imagine... Não sei, acho que vai ser horrível. Tem o estadual, e você já entra o ano devendo muito. Vai entrar o ano devendo uns R$ 50 milhões. Aí têm salários não pagos depois de um certo período, tem o problema de você deixar de pagar impostos e perder o Profut. Não sei, é uma loucura.

Agora, acaba (o Botafogo)? Não acaba. Joga só com o sub-20, tenta renegociar dívida. Não sei. Se você não conseguir sobreviver e cair num Campeonato Brasileiro, por exemplo, já não tem receita. Da mesma forma que quando você projeta uma vida nova é uma bola de neve positiva com novos investidores e etc, se você não conseguir fazer isso, é uma bola de neve negativa.


Problemas financeiros dos clubes em geral no Brasil

Obviamente temos uma mistura de amadorismo, paixão e gestão. Os clubes têm sua culpa. A TV foi benéfica durante um tempo e hoje não é mais. O fim do Clube dos 13 foi muito ruim. Hoje existe uma disparidade entre o Flamengo/Corinthians com o último que é insuportável. Veja a distribuição de verba da Premier League, o mais equilibrado e badalado campeonato, o campeão recebe 150 milhões de libras, e o 20º, que subiu, recebe 100.

Dá para fazer algo equilibrado, ninguém disputa sozinho. O que a TV fez nos últimos seis, sete anos, foi muito prejudicial. Muita gente debate o momento do Flamengo, essa lei de empresa. Flamengo fez o dever de casa, mas foi muito beneficiado. Recebe muito mais verba que Botafogo e Fluminense. Não há equilíbrio. Se continuar assim, se não houver mudança, daqui a pouco o Flamengo vai jogar sozinho. Não é interessante acabar com a competitividade, rivalidade.


Críticas à CBF

Todos têm sua parcela de culpa. Hoje a televisão tem sua parcela, a legislação atual é negativa para o clubes, a CBF hoje em dia também não é boa com os clubes.

"Acho que a CBF tinha que cuidar da Seleção. Masculina, feminina, de base. Esse é o dever da CBF. Não tem que organizar o Brasileiro, escalando juízes, cobrando comissão da TV, tentando vender propaganda. Isso tudo é dos clubes, eles que façam a Seleção".

A CBF tira jogadores dos clubes para representar o Brasil, então que deixe os clubes em paz. A CBF tem o maior patrimônio que qualquer confederação do mundo gostaria de ter, que é a Seleção. Toca isso, a publicidade, os jogos. Tem muita coisa que precisa ser feita para a gente não matar a coisa mais importante nas nossas vidas, que é essa paixão pelo futebol.


Se o projeto dos investidores não for aprovado, o Botafogo se torna inviável?

Acho que Botafogo, Fluminense, Vasco... Cruzeiro, Atlético... A situação do Santos também é muito difícil. Acho que são vários clubes inviáveis, eles sobrevivem pela grandeza deles, pela paixão de alguns botafoguenses...

"Sei lá, por Deus, pela torcida, que cobra, mas que continua acreditando. Sobrevive, só não consegue competir. Detesto esses exemplos de "Vai virar o América". Não é virar America, Bangu ou o que aconteceu com a Portuguesa de Desportos em São Paulo".

Acho que o Botafogo, inclusive, é o que tem a política menos complicada. Essas besteirinhas de "Mais Botafogo" existem, mas o pessoal é a mais unido, mais pé no chão em relação à dívida.

O problema do Fluminense é seríssimo, o problema do Vasco, com todas as eleições na Justiça. O problema do Corinthians, com o estádio. O do Cruzeiro com polícia.

"O nosso problema já está diagnosticado, a gente está tentando fazer o dever de casa para arrumá-lo. Converso, e todas as pessoas querem a mesma coisa. É aquilo "você tem alguma ideia melhor?". Claro que a gente, como botafoguense, vai tentar preservar todos os valores do Botafogo. Isso é um projeto de 30 anos por enquanto, depois volta. Tomara que não volte".

Suponhamos que volte um dia, espero que não volte, mas tem que voltar com símbolos, estrutura, bandeira, escudo e as cores como entregamos.

O senhor falou das divergências com Luís Fernando. E como é a relação com o Gustavo Noronha, que vem sofrendo resistência interna por não estar muito presente no futebol? O senhor também o desaprova em relação à atuação dele.

A gente está tão concentrado no projeto novo que ninguém mais perde tempo com qualquer ponto que não esteja em linha. Não adianta mais falar em pessoas em nível de diretoria.O que existe é todo mundo focado na empresa nova.

Gustavo é uma pessoa seríssima, muito correta, mas que não teve tempo. A vida dele entrou numa confusão tremenda porque ele talvez tenha dado um passo maior que a perna. Muita complicação, mas não teve tempo para atender tudo. Sempre que podemos, tentamos ajudá-lo porque tem de trabalhar muito, é um belíssimo advogado, tem família, tem que viajar...

Se as pessoas são do bem, a gente ajuda. E o Gustavo é uma pessoa que, se eu puder, vou ajudar a vida toda. Não sei como vai ser o futuro, mas acho que várias pessoas que estão aí hoje não vão estar no futuro.

Sobre o investimento no esportes olímpicos em detrimento de não haver injeção na base, o Manoel Renha deu uma entrevista à Rádio Brasil falando que a sala de musculação é de 2004 e que ele mesmo construiu e pagou. E que não tem dinheiro para suplementos, e o jogador chega no profissional muito abaixo fisicamente. O que acha disso?

"A gente tem um jogador, o Rhuan, que todo mundo tá apostando nele. Mas se você olhar o físico dele, é bem diferente de todos. Outro dia teve um jogo do sub-20 entre Botafogo e São Paulo dava impressão que os jogadores do São Paulo eram tios ou pais dos nossos jogadores".



São Paulo goleou o Botafogo no Rio de Janeiro no último dia 28, pelo Brasileiro Sub-20 — Foto: Reprodução


Há uma porção de coisas que fortalece o jogador, não adianta só ser bom. Isso tudo que é base. Não é só aparecer um garotinho que joga pra caramba.

Essas greves de funcionários e alguns deles recorrendo ao trabalho informal não atrapalham na captação de investidores pelo arranhão na imagem do clube?

Tem gente que acha que ajuda por verem a situação triste do clube, tem que acha que prejudica, mas a verdade é que não se pode fazer nada. É isso e ponto. Já tive oportunidade de conversar com os jogadores que, se estivesse com eles no elenco, talvez tivesse fazendo a mesma coisa que eles.

Num período não falaram com a imprensa, noutro não quiserem mostrar o patrocinador. Acho até que o patrocinador tem menos culpa, é um pessoal que está nos ajudando muito. O legal é que todos continuam confiantes e querem continuar.

Eles têm que protestar de alguma forma ou punir alguém. Pode querer punir a direção, a presidência, mas tem uma coisa que acho legal. Eles estão respeitando muito a nossa estrela, tão dando o máximo em campo, se matando.

Estão treinando com uma vontade tremenda, não deixaram a desejar em nenhum dia. Essa vontade e esse respeito deles têm que ser reconhecidos.

Mas as pessoas não estão dormindo. O presidente não está dormindo. Ele não está pagando porque não quer. Ele não tem condição.

Voltando à questão da ajuda financeira, não com expertise ou experiência em clubes, o senhor se decidiu em não ajudar o Botafogo com dinheiro devido ao investimento que julga inadequado no esporte olímpico e por não concordar com as ideias do Luís Fernando? E como o Botafogo vai se sustentar até o final do ano se ele não tem gerado receita?

Esse negócio com basquete e vôlei está resolvido. O presidente já determinou que não tem mais nenhum centavo se não tiver a verba. Tem o patrocínio da Tim no Basquete. No resto, só vai acontecer se houver dinheiro. Isso está resolvido.

Com Luís Fernando, não tem nada. Eu não sou do clube. Com relação à ajuda, a gente ajuda ou dando alguma coisa, ou avalizando alguma coisa ou trazendo algo para o clube.



Carlos Augusto Montenegro citou Ricardo Rotenberg diversas vezes durante a entrevista — Foto: Marcelo Baltar


Isso quem está fazendo muito é o Claudio Good e o Ricardo Rotenberg também, trazendo algumas alternativas. Tenho entrado mais como avalista do que dinheiro mesmo. Isso sempre casado com alguma receita que possa vir.

"A gente pode ajudar, mas tem um limite. A nível de pessoa física é complicado. Têm pequenas coisas que eu gosto de ajudar, que é pagar uma conta de luz ou de água. Poxa, eu nem quero de volta, é doação. Não me sinto bem de cobrar juros".

Não tem aquela pressão familiar do tipo "Pai, para de ajudar um pouco"?

"Claro que a família, principalmente os filhos, não gostam muito disso. Amam o Botafogo, mas não se sentem confortáveis com isso. Eu procuro equilibrar, sei até onde posso ir. Tudo que fiz de maior, o Botafogo devolveu".

"Aonde estou podendo ajudar, eu vou. Mas vai até o final do ano. Ou no final do ano esse projeto dá certo, ou então tchau. Não vou ficar numa coisa que não dê futuro".


Fonte: GE/Por Edgard Maciel de Sá, Edson Viana e Fred Gomes — Rio de Janeiro

Montenegro detalha projeto empresa do Botafogo: ''Os clubes têm de parar de viver só de história''


Na primeira parte da entrevista ao GloboEsporte.com, ex-presidente fala sobre estágio da mudança. Segunda parte do papo, com foco na crise financeira, vai ao ar ainda nesta sexta


Fred Gomes


O Glorioso faz papel digno no Campeonato Brasileiro, mas desde que o projeto da criação da "Botafogo S/A", plano proposto após apresentação de estudo encomendado pelos irmãos Moreira Salles, ganhou corpo e força, a ansiedade do botafoguense não é mais pelo próximo jogo. Conta, sim, as horas para chegar 2020 e ver a concretização da SPE (Sociedade de Propósito Específico).


+ Investidores buscam aproximação do Botafogo, e intermediário vai ao Nilton Santos no sábado


Um dos 10 integrantes do grupo de trabalho que vêm projetando a empresa responsável por gerir o futebol alvinegro e "cardeal" dos que mais ajuda o Botafogo, Carlos Augusto Montenegro, presidente do título brasileiro de 1995, recebeu a reportagem do GloboEsporte.com em sua casa, na Zona Sul do Rio de Janeiro.


Esta é a primeira parte da entrevista de Carlos Augusto Montenegro ao GloboEsporte.com. Não perca ainda nesta sexta-feira a segunda parte da conversa, na qual o ex-presidente fala mais sobre a delicada situação financeira do Botafogo em 2019. O restante do papo será publicado às 18h.


Depois de contar como virou botafoguense mesmo sendo filho de um tricolor, no fim dos anos 50, e bater um papo sobre o Ibope, empresa que presidiu por quatro décadas, esmiuçou a "Botafogo S/A" em entrevista com duração superior a de uma partida de futebol.



Carlos Augusto Montenegro conversa ao lado de um tevêmetro, aparelho que mede a audiência da TV pelo Ibope — Foto: Fred Gomes


Explicou por que os Moreira Salles se afastaram do noticiário, apontou quem vai definir se serão pessoas físicas ou jurídicas os futuros investidores do Botafogo. Foi assertivo ao dizer que o projeto estará pronto para sair do papel até o final de outubro, respondeu se o Alvinegro já investirá alto em 2020 e fez um alerta aos mais tradicionais que possam ter ressalvas à criação da uma empresa que vai gerir o futebol e se separar do Botafogo de Futebol e Regatas:


- Está na hora de os clubes pararem de viver só de história. Se ficar pensando na tradição, vamos continuar sucumbindo, vivendo de passado e cada vez mais fracos. Ou você resolve, e é uma decisão séria para sobreviver e tentar disputar com dignidade, ou fica como está.


- Mas tem outra alternativa? Não tem, já ficou provado. Se alguém não estiver satisfeito com a ideia, que dê outra solução. Agora ficar falando sem trazer proposta nenhuma, não tem nada a ver.


Confira os demais tópicos abaixo:

No início do ano, o Botafogo começou a discutir a criação de uma empresa para dirigir o futebol alvinegro. Nesta semana, a questão tornou-se mais ampla e se estendeu a outros clubes. O melhor caminho é a substituição das associações sem fins lucrativos, modelo adotado por quase todos no país hoje, por sociedades anônimas ou limitadas?


Já estava na hora de parar de dizer que futebol não tem fins lucrativos. É mentirinha. Hoje estão dizendo que essa nova lei do clube-empresa, que aliás já estava na hora, é feita para ajudar o Botafogo. Talvez por causa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Não é, mas na minha opinião deveria ser. O Botafogo foi o clube que mais jogadores cedeu para a Seleção, talvez aquele que mais ajudou o Brasil a ter esse nome no mundo todo.


Em segundo lugar, na década de 70, o Botafogo talvez tenha sido o único clube do Brasil que vendeu sua sede histórica de General Severiano para pagar impostos. O que chamavam naquela época de INPS. E depois não teve fôlego para honrar um contrato de retrovenda com a Vale do Rio Doce e perdeu a sede.


"O Botafogo foi mutilado, perdeu patrimônio tentando pagar impostos impagáveis. Os outros clubes não fizeram isso, continuaram devendo. O Botafogo foi exemplo na tentativa de honrar seus compromissos e cortou na própria carne. Nada mais do que justo de chamar essa lei de Botafogo, é um case. Através dela que as pessoas estão trabalhando".



Carlos Augusto Montenegro é o presidente do título brasileiro de 1995 — Foto: Fred Gomes


Dizem que o Botafogo talvez tenha a maior dívida. Não é, mas trata-se de um dos maiores devedores, em torno de R$ 700 milhões. Mas vários outros times estão rodando por ali. Talvez de 30% a 35% da dívida seja de curto a médio prazo. E o resto é mais a longo prazo, justamente de impostos. O Botafogo chegou a isso por vários fatores, discrepância nas cotas de televisão, problemas de gestão... A televisão já foi benéfica aos clubes, hoje não é. Por que a Premier League, que melhor paga aos clubes, paga 250 milhões de libras em cotas de TV ao Liverpool e 200 milhões de libras ao 20º colocado, que acabou de subir? Deveria haver algo mais justo, ou acabaremos com um direcionamento para um campeonato de um ou dois clubes.


Por que o Botafogo chegou ao atual quadro de asfixia financeira?

Talvez o Botafogo não tenha feito o dever de casa importante em relação à base quando deveria ter feito. Talvez o Fluminense, Vasco e Flamengo tenham tido mais êxito nessa área que o Botafogo. Talvez tenhamos ficado um pouco no passado em relação a isso, querendo que o jogador atue no clube desde os 10 anos de idade. É muito difícil isso.


Enfim... Realmente é um clube diferente, com muita gente importante que torce querendo ajudar. Já tivemos pessoas de sucesso no Brasil falando em profissionalização. Bebeto entrou, pessoa muito séria, apaixonada pelo Botafogo e não conseguiu (com a criação da Companhia Botafogo).



Montenegro tem um quadro que relembra a ida dele ao lado de amigos e filhos à semifinal da Liga dos Campeões de 2019 — Foto: Fred Gomes


Eu já fui presidente, saí em 1996 devendo quatro ou cinco meses de salários. Falamos de 25 anos atrás e o cenário é o mesmo. Não tinha nem cota de televisão. Acho que Deus me ajudou naquele mandato, meu pai faleceu na mesma época, mas consegui algo muito mais importante do que a volta à sede ou o título de 1995: o carinho de todos os botafoguenses até hoje me chamando de presidente eterno.


Não quis voltar para não perder esse título, porque certamente perderia. Mas fiz uma promessa de ajudar a todas as pessoas sérias que estivessem à frente do Botafogo porque senti na pele o que é ser presidente com dívidas e penhoras. Você pode até planejar tudo, mas ai surge uma dívida antiga e bagunça tudo. Além da carência de títulos, bons times, ídolos, faz com que a torcida não seja renovada.


Gratidão aos Moreira Salles e pedido para que finalizem o CT o quanto antes.

Alguns falam que vão entrar, contratar ídolo, ser campeão... Então faz, qual a mágica? Reparamos agora que tinha que começar do zero. Houve uma ajuda dos irmãos Moreira Salles, sou muito grato a eles. Todo botafoguense deveria ser. Eles ajudaram de todas as formas. Se eles terminarem o CT já seria o maior presente do mundo. Eles viraram alvo de uma ansiedade/esperança da torcida, achando que eles fariam milagre, transformar tudo em ouro.


Foi uma iniciativa do João e do Walter que se propuseram a ajudar e já ajudaram muito. Entregaram o estudo, com o qual vamos tentar separar o futebol do resto do clube criando uma empresa específica para isso, que pagaria royalties ao Botafogo para ir quitando a dívida ao longo do tempo. E basta isso. Se eles puderem entrar no futuro, ou não, não tem importância. Já fizeram muito. O importante agora é procurarmos possíveis investidores, o mercado está propício.



João Moreira Salles, Botafogo — Foto: Reprodução


Athlético-PR como exemplo e opinião de que esportes olímpicos não podem ser prioridade agora

"É a hora de começar a fazer um clube novo, um time de futebol novo, até como é o Athlético-PR. É um exemplo. Tem CT onde profissional e base convivem. Não tem clube, não tem sede, sauna, piscina, cloro, basquete... É futebol. Não é um fundo, mas estão de parabéns. Não à toa estão ganhando títulos. Não tem mistério. Não tem a história do Botafogo? Não. Mas está na hora dos clubes pararem de viver de história. Tem que viver de realidade".


Esse estudo é isso. A grande vantagem é que vai tentar afastar a paixão do dia a dia. A paixão leva a contratações erradas, a ter pessoas erradas. Todos acham que podem fazer a melhor gestão do mundo. Se não tiver dinheiro, afastar as penhoras, estancar hemorragia e começar do zero, ninguém consegue. Não dá com as receitas de hoje para sobreviver e montar time bom. O dinheiro já é pouco e ainda diminui com as dívidas do passado. É preciso montar um formato diferente.


Em que pé está o projeto?

Faço parte de um grupo de trabalho com 10 pessoas. Temos que formatar um fundo e registrar na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), angariar pessoas que estejam interessadas em investir. Ao mesmo tempo criar uma empresa, Botafogo S/A, específica para tocar isso. Esse fundo - Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) - será dono dessa empresa.


Obviamente vai ter um acordo para manter série de coisas, como cores, camisa, escudo, hino, etc, para preservar a tradição. Teremos que fazer um estudo para o sócio proprietário verificar de que forma ele gostará de participar do clube no futuro. Vamos continuar tendo o Botafogo social com sede, piscina, basquete, vôlei... E vai ter o Botafogo do futebol. Ele vai ser sócio de quê? A ideia é passar tudo que diz respeito ao futebol, zerado, sem hemorragia, para a nova empresa. O estádio, sócio torcedor, receita de TV, patrocínios, dívidas, orçamentos.



Carlos Augusto Montenegro conversa no escritório que tem em sua casa, na Zona Sul do Rio — Foto: Fred Gomes


Esse grupo de trabalho do qual o senhor faz parte é formado pelos investidores ou por pessoas que planejam a Botafogo S/A? O FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios) será formado só por pessoas físicas ou apenas por jurídicas? Ou pode-se ter as duas categorias?


Exatamente isso que vai ser uma pergunta que o Conselho vai fazer, e a gente não sabe responder. Estamos contratando auditoria, formatação, já estamos traduzindo tudo para o inglês a fim de apresentar para os investidores.


Tem uma pessoa liderando o processo, isso vai ser submetido à CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Esses passos todos estão programados e vão ser dados.


A pergunta que mais ouço é: "Presidente, eu queria investir, seja com R$ 100, R$ 1.000 ou R$ 100.000". Eu acho isso lindo, é uma coisa de botafoguense, de gente querendo ajudar e participar.


Qual é o valor mínimo (cota por investidor)? Não sei. Se a CVM amanhã decidir que o valor mínimo de uma cota será de R$ 5 milhões, essas pessoas que querem investir R$ 100 ou R$ 1.000 não vão ter como, coitadas. Vai ser uma decisão da CVM.


A não ser que junte uma porção de pessoas e consiga entrar com uma cota. Mas eu sinceramente não entendo de mercado financeiro, de CVM, de Cedic e do que se pode fazer. Você tem obrigações. Se você não cumprir, é punido.


É justamente essa pergunta que você fez e que acho que vão fazer no Conselho que a gente não tem a menor ideia de como responder. Hoje.


O que faz a pessoa que está liderando esse processo?


Tem um do nosso grupo que está mais dedicado a viajar para conversar com alguns fundos, o próprio Ricardo Rotenberg está viajando para falar com outros. Mas tem uma pessoa que está formatando essas coisas para preparar para a CVM.



Como ficaria o resto do clube, o Botafogo de Futebol de Regatas?

Até conversei com o Nelson (Muffarej, presidente). Era hora do pessoal do clube fazer dever de casa, montar orçamento do clube sem o futebol a partir do ano que vem.


"Não dá pra ter escolinha de natação? Não tem escolinha. Não dá pra ter vôlei, então não terá vôlei. Não dá pra ter três porteiros, então deixa só um. Como toda a empresa... Tem que ter receita e despesa. Não pode o negócio futebol ficar financiando o cloro da piscina, não existe isso".


"Como se faz isso? Não sei. Mas o Athlético-PR fez. Então dá pra fazer. Se ficar pensando na tradição, vamos continuar sucumbindo, vivendo de passado e cada vez mais fraco. Ou você resolve, é uma decisão séria, para sobreviver e tentar disputar com dignidade, ou fica como está".


Mas tem outra alternativa? Não tem, já ficou provado. Sem alguém não estiver satisfeito com a ideia, que dê outra solução. Agora ficar falando sem trazer proposta nenhuma, não tem nada a ver.


Qual o prazo para o projeto se tornar realidade?

Montamos um grupo de 10 pessoas, têm advogados, gente preparada de tudo quanto é lado. O presidente Nelson Mufarrej, o vice Carlos Eduardo Pereira, o Novis (vice de finanças), estão participando desse grupo. Mas procuramos separar um pouco para deixar os outros vices tocando o dia a dia do clube, e essas pessoas focarem apenas no projeto.


Tenho que fazer um elogio grande ao Claudio Good (grande benemérito), ao Paulo Mendes (VP de Relações Institucionais), ao Manoel Renha (Diretor de Futebol da Base) e principalmente ao Ricardo Rotenberg (VP comercial de marketing), que junto comigo estão noite e dia focados só nisso.


"Temos que sobreviver até dezembro"

Ricardo está igual um doido visitando vários fundos e deixando tudo preparado para apresentarmos o formato, o orçamento da empresa, a parte jurídica. Rotemberg tem sido um leão nisso, ao mesmo tempo em que busca patrocínios para o clube sobreviver até o fim do ano. Nosso foco é chegar até dezembro. Estamos sem recursos. Temos que sobreviver até lá.


Necessidade de buscar a Libertadores em 2019 para facilitar a entrada da Botafogo S/A

Mas sem medo de rebaixamento, estamos buscando a Libertadores. E a cada posição que você termina na frente da tabela, mais dinheiro a TV paga. Pode facilitar a implantação da nova empresa ano que vem. Muita gente fala que quer ajudar, que investir. Masa ainda não é a hora. Estamos formatando, ainda vai passar pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), pegar autorização, criar o fundo, FIDC (Fundo de investimento em direitos creditórios), tem regras, aportes mínimos.



No escritório de Montenegro, não faltam imagens e itens alusivos ao Botafogo — Foto: Fred Gomes


"Até o final de outubro vamos estar preparados"


"Até o final de outubro vamos estar preparados. A ideia não é só pagar a dívida, mas que também seja algo lucrativo. Ai falam que alguém vai botar sei lá quantos milhões e pagar a dívida... Não é assim".


Muitos torcedores acham que os irmãos Moreira Salles vão assumir, ligar para o Messi, e montar um timaço logo de cara...


Nem eu quero isso como doação, porque não vai resolver nosso problema. Eles podem até entrar depois no fundo se quiserem como cotistas. Mas o que eles já fizeram pelo Botafogo, o que emprestaram de dinheiro, o que doaram, e principalmente com o CT, já está bom demais. João e Walter foram fantásticos. Se eles entenderem que é interessante para eles mais adiante, claro que serão bem-vindos. Mas não podemos fazer nada baseado em pessoas.


"Eu pretendo investir. É mistura de amor, de ter a honra de participar e quem sabe no futuro meus filhos ou netos tenham algum retorno desse investimento. É tudo delicado. Estão discutindo a questão tributária, querem virar empresa mas continuar pagando pouco imposto".


O clube tem um papel social que o governo não faz, que é de tirar gente da rua. Talvez tenha que ter incentivos por isso, mas todo mundo com finalidade de lucro. Está na hora de falar sério nisso. O Governo pode ajudar reconhecendo o papel do clube. Quanto menos interferência melhor.


Quais são os próximos passos para a criação da Botafogo S/A? Há uma reunião no Conselho Deliberativo na próxima terça-feira para exposição do projeto, certo?

Vai ter uma reunião terça-feira, e não vai ser apresentado nada (risos). Uma reunião que foi mal convocada. É o nervosismo e a ansiedade. O presidente do Conselho Deliberativo (Edson Alves Junior), que adora basquete, adora vôlei e vive num mundo à parte, muito pressionado pelos conselheiros, convocou uma reunião.


A gente não tem nada para falar porque não está pronto. Se tivesse alguma coisa para falar, eu falaria para vocês, porque vocês nos ajudariam a angariar investidores e etc. Ainda não está pronto.


Vamos falar exatamente o que estou falando para vocês. Vamos fazer um fundo, o FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios), depois vamos fazer a empresa. Agora a gente tá começando a trabalhar junto com essa lei (de transformar os clubes em empresa) que querem votar em outubro.


Estamos adaptando, já temos vários fundos contactados, mas tudo com N.D.A (Acordo de Não Divulgação) assinado, tudo com termo de confidencialidade. Não se pode falar ainda. "Não, mas vamos fazer uma reunião no Conselho". Faz. A gente vai ficar brincando de falar coisas. Vai falar o quê?

Quando vocês tiverem tudo definido sobre a SPE (Sociedade de Propósito Específico), aí sim farão uma nova reunião com mais respostas, certo?

Vamos ter que fazer com o Conselho. E mais do que isso com a Assembleia Geral. Convocar todos os sócios, que são os que votam, e apresentar. Pode acontecer de o Conselho não aceitar, o que não acredito, e a Assembleia aceitar. Como se fosse uma eleição de presidente.


Como convencer pessoas que não são botafoguenses a investir nisso? É possível que se tenha lucro mesmo com o Botafogo na atual situação?

O Brasil, ao contrário da Europa, com esse negócio de não poder ter gente de fora. Ter limite de coisas... Clube de futebol depende de Conselho Deliberativo, de regras, e todos os investidores estrangeiros sempre fugiram disso. Não quero saber disso, é muito confuso.


"O time perde, e eles mandam embora o técnico. O técnico fazia um bom trabalho, aqui na Europa ele ia ficar mais um ano. Então esse pessoal é maluco, não sabe administrar". Isso é o que o estrangeiro.


Na Europa, você chega num clube e pergunta: "Quanto custa o clube?. São 250 milhões de euros? Bum, tá aqui, tchau. Vai embora todo mundo". Você é o dono do clube.


Aí você bota o seu CEO, o seu financeiro, o seu comercial, o seu diretor de futebol, competições e etc. Acabou. O cara é dono de tudo. Comprou. A gente está tentando fazer um formato desse tipo aqui no futebol. Pode ser um cara só que chegue com 250 milhões de euros, por exemplo.


Muita gente me pergunta. E se aparecer muita gente e chegamos aos 400 milhões de euros? O projeto que você fez para 30 anos vai ser feito em dois anos e meio. Já vai começar a distribuir, quitar tudo e reembolsar os investidores.


"Esse pessoal tem que ter a segurança e a garantia que ele manda ao estar entrando. Se forem botafoguenses, ótimo. Senão, vai ser profissionais. O mais importante nesse projeto é dar segurança aos investidores de que eles realmente vão mandar".


"Todo mundo fala: 'Eu quero profissionalismo, não quero mais amador'. Será que só existem profissionais botafoguenses no mundo? Os caras vão botar os profissionais em que eles confiam. Se não estiverem indo bem, manda embora. São cobrados, têm metas".


Os irmãos Moreira Salles não estão na liderança desse projeto. Apenas formataram a ideia, certo?
Se vocês repararem bem, eles saíram da mídia, nunca mais ninguém falou neles. Por quê? Porque eles não querem aparecer, porque eles acham que já cumpriram o papel deles, e eu também acho.


Montenegro insiste no pedido para que os Moreira Salles finalizem o CT
Eles estão torcendo pelo projeto que eles pagaram. Se através de vocês eu puder pedir alguma coisa aos irmãos Moreira Salles, peço de uma forma sincera e até emocionada que eles, pelo amor de Deus, terminem o mais breve possível o centro de treinamento do Botafogo.


A gente precisa muito disso aí para que todos estejam lá no ano que vem. Até para que possamos devolver o Caio Martins. Isso até denigre a imagem, porque usamos o Caio Martins como um gatilho. As pessoas falam que o vestiário está ruim ou que o teto está sem pintura.A gente não tem interesse naquilo, nos serve de forma transitória. A gente precisa começar logo num negócio novo.


"O Botafogo tem que ter os profissionais todos no Engenhão, inclusive a parte administrativa, a parte financeira e a comercial. Toda no Engenhão, que é enorme. E o futebol amador lá no Espaço Lonier, e às vezes com o futebol profissional indo lá, e o amador vindo cá".



CT do Botafogo, no Espaço Lonier, ainda está longe da conclusão — Foto: Divulgação / Botafogo



O futebol do Botafogo só precisa dessas duas coisas. Do Nilton Santos e as pessoas da base no CT. Mais nada. Não precisa de Marechal Hermes nem Caio Martins. De nada.


Em que pé está a conclusão do CT? A impressão que temos é de que o dinheiro dos irmãos Moreira Salles serviu para comprar o espaço, mas que ainda falta verba para colocá-lo de pé.


O formato inicial era o seguinte: João e Walter (Moreira Salles) comprariam o espaço. Compraram. Demorou um tempo, porque eles queriam tudo legalizado. Depois fariam uma obra onde entrariam com uma parte do dinheiro, e o Botafogo entraria com outra.


Existiu aquela tragédia no Ninho do Urubu, eles ficaram preocupados com isso e ao mesmo tempo desconfortáveis com essa pressão toda em cima deles pelo projeto do clube-empresa. Então eles recuaram.


Nesse novo formato, eles já sentiram que o Botafogo não tem um centavo para fazer nada. Então estão se predispondo a entrar e fazer tudo. Até por decisão do João, foi o que me falaram, fazer uma coisa mais moderna e eficaz para não ter nenhum problema. Eles cuidariam da administração, e o Botafogo, da parte esportiva.


Ficaria tudo no nome deles, e eles passariam tudo ao Botafogo no dia em que achassem interessante. Como viajei, não me atualizei disso. Mas depois saberei qual será o ritmo e o que pretendem fazer para terminar isso. Sei que vai ter que mudar um pouco o que foi vendido no Conselho.


Tem muito botafoguense pensando que o Botafogo vai virar o Real Madrid em janeiro. O fundo quitará as dívidas trabalhistas e tornar o Botafogo sustentável. Já pensam na montagem de um time que possa pensar em Copa do Brasil e brigar por G-4?

Não. Eu acho o seguinte: esse pessoal que vai comprar é quem vai decidir. A ideia é zerar algumas dívidas a curto prazo, quitar alguns adiantamentos que foram dados e colocar uns R$ 20, R$ 30 milhões de capital de giro para não ter problema de pagamento.


Essa é a ideia. A minha participação, se Deus quiser, acaba em novembro e dezembro. Aí eu vou para a arquibancada. Talvez acabe eu pagando a conta da Cedae de novembro, mas tem que acabar. Ninguém aguenta mais a forma doida, atabalhoada, angustiante e amadora de hoje.


Você está começando a fortalecer um time a partir do momento em que você só se dedique ao futebol. Todos estão trabalhando muito por patrocínio. O pessoal da Arena do Palmeiras, a W Torre, tá interessada em entrar. Faz parte do projeto? Não. Mas vão entrar. Os caras querem fazer shows, isso e aquilo, e tornar rentável o Nilton Santos.


Toda a ideia de receita do futebol, como sócio-torcedor, venda de jogadores da base, contratações de atletas, shows, naming rights e patrocínio master, é da empresa do futebol. E as despesas também.


E a ideia é essa empresa nova pagar royalties que seriam para o "Botafogo que fica" (De Futebol e Regatas, sem fins lucrativos) pagar as dívidas. Por isso que o "Botafogo que fica" tem que fazer o dever de casa para saber com o que ele fica. Esse dinheiro, ele não vai poder usar, é para pagar dívida. É para pagar Ato Trabalhista, rescisão, impostos, despesas na área cível, fornecedores para os quais você esteja devendo.


Dos fornecedores novos, por exemplo, você vai ter o cara que cuida do gramado. O cara que cuida do gramado pode ser o mesmo, mas a partir do dia X ele vai receber em dia da empresa nova e vai negociar pelo Botafogo a dívida dele com a empresa nova que vai pagar através do Botafogo.


Se o "Botafogo que fica" começar a ter despesas sem ter receita, ele vai ter problema e não vai haver ninguém para ajudar. O compromisso é com o que aconteceu até 30 de dezembro, por exemplo.


Se o "Botafogo que fica" for administrado de uma maneira que não se torne viável, é possível que o Botafogo de Futebol e Regatas não exista mais e fique só o Botafogo empresa?

Teoricamente sim, poderia. Você está com uma empresa nova, vai ter que continuar pagando a dívida. A legislação nova faz coisas de modo que você nem precise separar, mas a gente acredita que sem separação não vem ninguém de fora.


O que já discutem de 2020 sobre aproveitamento de pessoas que lá já estão? Casos do Anderson Barros e do Barroca, que têm segurado um rojão, por exemplo?


"Nunca tinha convivido com Anderson Barros, estou convivendo com ele há um ano e meio. Há muito tempo não vejo um profissional tão competente, tão correto e transparente. Os jogadores o adoram, é uma pessoa muito pragmática, muito trabalhadora".


Acho que uma das razões de o Botafogo estar de pé é ele. Óbvio que na torcida tem parte que gosta e que não gosta. Óbvio que a torcida reclama de contratações, isso vai ter sempre. Mas o Anderson Barros tem feito um belo trabalho.


"E o nosso Barroca também. É elenco, mas vocês têm que analisar o custo. O Botafogo tem o pé no chão. Ele sabe até onde pode ir dentro das dificuldades dele".



Montenegro é favorável às permanências de Anderson Barros (ao fundo) e Eduardo Barroca — Foto: Marcos Ribolli/GloboEsporte.com


Se perde dois jogos, você fala em contratar o Dorival, o Mano Menezes? Para fazer testes não adianta. Se perguntarem para mim, você ficaria com eles ou não? Eu ficaria, porque são profissionais sérios.


Têm muitos jogadores em final de contrato. Se você me perguntar se precisa de reformulação, temos que pensar de acordo com a nossa perna. Vai ter mais verba? Vamos ter isso no orçamento? Então vamos pensar em fortalecer o time.


"A gente até estava com time arrumadinho e só perdeu gente. Erik tava muito bem e foi embora. Biro Biro estava arrebentando nos treinos e teve problema no coração. A gente não tá dando sorte também. E não está repondo. A gente precisaria de reforços para o ataque, precisaria, mas não tem condição. Vamos esperar o ano que vem".


Para esboçarmos como será essa manutenção ou contratação de pessoal para o ano que vem, vamos fazer um beabá. Serão criados fundos de investimento e uma empresa...


Não, já há fundos que existem, mas você terá um fundo master, o que a gente chama de FIDC.


Mas quem vai definir quem é o dono e qual será a equipe que vai comandar o futebol?

O que tiver mais ações. Você pode ter um fundo que entra com 20 milhões de euros, outro com 30 milhões, mas entra um com 80 milhões de euros. Esse cara que vai mandar.


Se mais adiante, João e Walter quiserem entrar com alguma coisa na frente, vão entrar. Eles têm pessoas de confiança na vida deles e que gostam do modo de trabalhar. Gostam do Manoel Renha, do Paulo Mendes, têm várias pessoas da área financeira em quem eles confiam.


Podem indicar pessoas ou não. Se a CVM permitir, junto a esses fundos, você pode ter pessoas físicas.


O que pode acontecer para esse projeto tão promissor não se concretizar? Há alguma resistência?


"Zero, até hoje não soube de ninguém contra. O que pode acontecer é de não encontrar os investidores".


Há avanços significativos nesse sentido de captar investidores?
Pelo feedback que a gente tem recebido, sim.


E o novo CNPJ seria obtido até dezembro?

"CNPJ você faz em 15 minutos, a gente precisa de grana. De gente querendo investir".


A ideia é até final de outubro você montar um sumário de coisas mostrando como é e pegando os OKs da empresas para o fundo. Dia X marca, deposita-se no fundo, e o fundo começa a jogar na SPE. Em outubro, começa a viajar e mostrar às empresas.


Aí você tem que viajar ou esperar que muitos fundos venham aqui. Podemos ter fundos do Brasil também. Até o final de outubro temos que estar com o formato pronto para começar a angariar.


Fonte: GE/Por Edgard Maciel de Sá, Edson Viana e Fred Gomes — Rio de Janeiro