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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Marcelo Mattos se apega ao passado para começar 2013 com pé direito



Volante abre abre o coração ao L!NET, lembra de quando jogava bola escondido na infância, fala sobre último encontro com a mãe e espera ganhar títulos pelo Botafogo


Desde pequeno Marcelo Mattos enfrentou muitas batalhas para vencer no futebol. Quando criança, era proibido de jogar bola e aproveitava a ida dos pais à igreja para arrumar um tempinho para brincar. Não teve jeito. A insistência o transformou em um grande volante.

É inspirado nas várias batalhas que venceu na vida que Mattos quer superar a série de dramas que passou em 2012, no pior ano da carreira. Ele foi submetido a duas cirurgias no púbis e ainda sofreu com a morte da mãe, logo no momento em que se recuperava da primeira operação, em julho.

Antes de viajar para os Estados Unidos para curtir as festas de fim de ano, Mattos concedeu entrevista exclusiva ao LANCE!Net. Ele lembra com emoção da dificuldades que enfrentou na infância, fala da saudade da mãe, projeta um 2013 com títulos e acredita que pode jogar melhor do que em 2005, na melhor fase da vida, quando foi campeão brasileiro pelo Corinthians.

As tentativas frustradas de voltar ao time foram os momentos mais difíceis?
Sim. Eu ainda sentia um pouquinho, mas a vontade de jogar era grande. Fiquei muito feliz por entrar contra o Vasco. Depois do jogo contra o Figueirense, eu senti o quadril preso. No outro dia, vi que não dava. Pelo que tinha visto de lesão de púbis, tinha outra opção para mim. Preferi fazer a outra cirurgia e foi a escolha certa. Não estava triste, pois eu tinha uma segunda opção, ficaria se não tivesse.


Mattos faz preparação nas férias (Foto: Bruno de Lima)

As dores eram muito grandes?
Não tinha condição de colocar o short porque sentia dor, de se debater na cama. Era insuportável.

Sua volta ao time contra o Vasco foi precipitada?
Não. Acho que foi algo válido. Os médicos disseram e eu estava de acordo. Procuramos fortalecer para jogar e houve um desequilíbrio na região do quadril. Acho que todo mundo que tem essa lesão tenta a fisioterapia. Mas comigo, infelizmente, não deu certo. Fiz a cirurgia, a primeira não sanou todos os meus problemas e tive que fazer a segunda.

E agora, como você está? Já está pronto para jogar?
Agora eu estou pronto. Nas férias eu estou fazendo um trabalho em dois períodos acompanhado pelo Joaquim Grava. É importante para não perder o que ganhei. Tenho certeza de que 2013 vai ser ótimo.

O que você aprendeu nesse período fora do time?
Foi um ano muito difícil. Quando estava no ápice da dor, houve o falecimento da minha mãe. Tive pouco tempo ao lado dela por causa do futebol. Por outro lado, penso que pude dar muita coisa para ela. Infelizmente não tive muito tempo para ficar com ela. Saí de casa com 14 anos e dá para contar nos dedos em quantos dias eu estive com ela. Isso me faz valorizar mais a família.

Quem mais o apoiou para se tornar jogador de futebol?
Fui eu mesmo. Tenho uma história longa. Meus pais eram evangélicos e não podia jogar futebol. Eu ia para a igreja, começava a rezar e quando eles fechavam os olhos eu saia escondido para a rua para jogar bola (risos). Eu era terrível e apanhava bastante também. Meus pais iam me buscar quando ia jogar futebol e o pessoal me escondia e diziam que eu já tinha ido embora (risos).

E como descobriram você?
Era de Oroeste e joguei um amistoso contra o Mirassol e gostaram de mim. Cheguei em casa um dia com um papel e pedi para a minha mãe assinar. Disse que estava indo embora. Arrumei uma carona em um caminhão que entregava janelas e fui para Mirassol. Quando chegou, o motorista falou: “O campo é aí”. Desci com a mochila e começou a minha vida, isso com 14 anos.

Lembra disso com tristeza?
Claro que não, eu entendo. Até pela criação que tiveram de pais italianos bravos. A criação que tiveram quando eram novos, passaram para mim. Pude jogar em vários lugares e convivi com muitas gente. Hoje passo outras coisas para os meus filhos. Tenho orgulho das cintadas e sei que valeram a pena.

Qual a melhor lembrança que tem da sua pai?
Eu nunca contei isso. Eu ganhava muitas medalhas nos campeonatos que jogava. Aí eu colocava os pregos na parede para prendê-las. Um dia eu cheguei em casa, olhei para as medalhas e não estavam lá. Eu sabia que tinha sido meu pai. Peguei cinco ternos dele de ir à igreja em cima do pé de laranja (risos). Aí falei que só ia aparecer os ternos quando as medalhas aparecessem. Ele foi em uma cidade vizinha e comprou exatamente as medalhas que eu tinha. Eu coloquei na parede, mas não eram as minhas medalhas. Não tinha o mesmo significado. Aí não tenho mais elas porque ele jogou fora, mas devolvi os ternos dele (risos).

Qual a melhor lembrança que tem da sua mãe?
Minha mãe adorava fazer bolinha de carne para mim. Na última vez em que eu a vi no hospital, ela já não falava mais, só escutava. A primeira coisa que eu disse no ouvido dela foi: “Mãe, é o Marcelo. Você vai fazer bolinha de carne para mim? Mexe a perna.” Ela começou a se mexer toda. Foram as ultimas palavras que eu falei. Tive de voltar e quatro dias depois ela faleceu.

Você foi para o Japão muito novo. Valeu a pena?
Ganhava R$ 50 no Mirassol e apareceu essa proposta de 5 mil dólares. Como eu não ia? (risos). Juntei um dinheirinho, fiz uma casinha para os meus pais e ainda sobrou um dinheiro. Levo isso até hoje para superar as dificuldades. Lá foi muito complicado, era bem novo.

Você acha que pode render mais do que em 2005?
Foi um ano em que dava tudo certo. Nunca vi um time fazer gol daquele jeito (risos). Todo jogador passa por essa fase e é muito bom. Mas acredito que dá para ser melhor do que essa época no Corinthians. Só que preciso estar bem.


Volante quer voltar a jogar logo (Foto: Bruno de Lima) 

A concorrência no time aumentou. Como você vê essa disputa?
É bom demais ver o Botafogo revelando jogadores, independentemente da posição. Faz bem para o clube. Uma venda de um jogador desses significa dinheiro em caixa sem que você precise investir em um outro. Disputa por posição sempre tive na carreira. É o que sempre digo, só quero a saúde e agora eu a tenho. Trabalhar sem dor é a melhor coisa e a disputa é normal dentro de um clube, seja com garotos ou com quem for. Espero poder jogar e que todos estejam bem para ajudar o time.

Essa garotada mais novas te vê como referência, né?
Você vê um espelho seu de um tempo atrás, da época em que estava subindo. Até brinco com eles. Fiquei bastante tempo com o Matheus, ele teve problema de joelho e ficamos fazendo tratamento juntos. Ele até me dizia: "Vou voltar primeiro que você" e eu falava: "De jeito nenhum". E na verdade ele acabou voltando (risos). E sempre procuro dar conselhos a todo mundo, principalmente ao Gabriel, que é um garoto humilde e me via no Corinthians. São garotos que merecem vencer sim e, se precisarem de ajuda, estou pronto para ajudar no que for preciso.

Você pretende encerrar a carreira no Botafogo?
Quero primeiro ganhar títulos. Para ficar, é preciso ganhar coisas. E o ano de 2013 será bom para me dizer se vai ser possível ficar aqui. Tenho vontade. Sempre fiz contratos longos pensando nessas coisas.

O que falta para o Botafogo conquistar títulos?
Está tudo organizado. Mas chega no final, uma bola bate na trave e não vamos à Libertadores. O goleiro defende e não somos campeões. Mas a torcida pode ter certeza de que isso vai mudar em 2013. Desejo um feliz ano novo aos alvinegros.

Deu para matar o desejo de jogar ao lado de Seedorf?
Deu sim, mas só uns 15 minutinhos. Aí eu chego no vestiário e ele me fala que eu tenho que pagar um almoço para ele porque o time ganhou (risos). Se jogar dois ou três jogos, ferrou.



Marcelo Mattos recebeu a reportagem do LANCE!Net antes de viajar para os EUA (Foto: Bruno de Lima)

Alexandre Braz e Raphael Bózeo Rio de Janeiro (RJ) LANCENET! 




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