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sexta-feira, 7 de junho de 2013

Botafogo prepara novo fundo de investimento para o fim do ano


Em parceria com a agência de jogadores MFD, clube espera captar o dobro de recursos da primeira empreitada para adquirir atletas: R$ 10 milhões




Sustentado pelo sucesso da primeira Companhia de Participações Esportivas (CPE), o Botafogo prepara para o fim do ano o lançamento da segunda empresa que funcionará como um fundo de investimentos para aquisição de direitos sobre jovens jogadores. A meta é obter R$ 10 milhões até o fim do ano para que o clube já utilize a verba para a temporada de 2014. Uma sociedade anônima com prazo de validade, que começa com a captação de recursos de investidores e termina com a divisão dos lucros, com a cota de investimento pré-determinada. O modelo de negócios, que já começa a ser adotado por outras grandes equipes do país, como o Santos, tem como norte o meio-termo entre a busca por lucro e o benefício esportivo.

A nova empresa também está sendo estruturada pela agência de atletas MFD, que tem como diretores o advogado Vantuil Gonçalves e Gerson Sá, com formação no mercado financeiro. Para não haver dúvidas sobre conflito de interesses dos investidores e do clube com a agência, o modelo do fundo determina que só o Botafogo tem o direito de indicar contratações que, então, serão analisadas por um conselho de administração da CPE. Vantuil e Gérson consideram fundamentais para o sucesso do fundo o respeito às regras de transparência determinadas em uma espécie de código de conduta que vale não apenas para a MFD, mas também para clube e investidores.
Após sucesso no Botafogo, Elkeson, negociado pela CPE, agora atua na China (Foto: Arquivo Pessoal)
A primeira CPE foi lançada em junho de 2009 e, quatro anos depois, todos os participantes do fundo recuperaram seus investimentos devidamente corrigidos e com sobras. As "sobras", neste caso, são sete jogadores que integram a carteira do fundo e ainda podem dar retorno - os mais conhecidos são Cidinho e Lucas Zen. Para essa primeira companhia, foi estabelecido o teto de R$ 5 milhões de investimento, dividido em dez cotas de R$ 250 mil. A segunda CPE oferecerá cotas que somarão R$ 10 milhões. Segundo Vantuil, é um modelo que permite ajudar o Botafogo de uma forma mais profissional, sem apelar para doações.

- Quase todos os investidores são alvinegros, mas há um tricolor que viu a nossa apresentação a um dos botafoguenses e resolveu entrar por acreditar no negócio. Foi o primeiro fundo no país voltado para um clube específico, com uma cláusula que diz explicitamente que qualquer valor investido pela companhia é para ser aplicado em jogadores para o Botafogo.

Vantuil explicou que problemas no passado fizeram com que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) deixasse de homologar fundos de investimento dessa natureza. Dessa forma, a CPE se estrutura como uma sociedade anônima, e o investimento acontece a partir da venda de cotas de ações que, contudo, não são oferecidas abertamente no mercado.

- Buscamos pessoas conhecidas, com poder de investimento e vontade de ajudar o clube. O grande negócio dessa parceria foi esse instrumento para regular a relação entre clube, investidores e a MFD. Todos seguiram à risca, não houve quebra de contrato, foi tudo muito transparente - explica Gerson Sá.

Vantuil Gonçalves e Gérson Sá, sócios
 da MFD
(Foto: Vicente Seda)
O Botafogo sempre tem a opção inicial de fazer negócio com seus próprios recursos. Se o clube não tiver o dinheiro para a transação, a prioridade é da CPE, que avalia se o negócio está dentro dos seus parâmetros. Caso a CPE recuse o investimento, o clube pode buscar outros parceiros no mercado. O conselho de administração da CPE e a MFD não podem efetuar contratações por conta própria com os recursos desse fundo. Cabe ao Botafogo, além de indicar os atletas, apontar o valor e o percentual a ser comprado. A MFD providencia um parecer técnico para cada negociação. Há ainda uma regra que determina que nenhum jogador adquirido para o clube pode ser negociado antes de um período pré-determinado, de aproximadamente um ano. A não ser, é claro, que o clube dê o aval para a saída precoce.

Entre os jogadores já negociados pela primeira CPE, dois em especial foram os grandes responsáveis pelo sucesso da empresa: Elkeson, hoje na China, e Jadson, a caminho da Udinese. O primeiro foi negociado por 4,5 milhões de euros, enquanto o volante custou 2,5 milhões de euros aos italianos. Além deles, outros atletas conhecidos da torcida e negociados pela primeira CPE foram Wellington Júnior (repassado a um grupo de investidores suíços) e Caio (hoje no Internacional).

O economista e diretor executivo do Botafogo, Sérgio Landau, se mostrou empolgado com a iniciativa e disse que o sucesso do primeiro fundo fez com que três investidores procurassem o clube para novos negócios. Ele confirmou que a filosofia será mantida, com o Botafogo permanecendo como único autorizado a indicar contratações, e acrescentou que a limitação de idade deverá ser extinta, já que o próprio conselho de administração do fundo tem de dar o aval para as negociações.

- O fundo já retornou o investimento e ainda temos uma carteira de jogadores. Então foi um sucesso. A partir disso, alguns investidores nos procuraram para fazer um novo fundo. Todo mundo saiu feliz, mostramos a seriedade do Botafogo. A estrutura jurídica é rigorosamente igual, mas tornamos um pouco mais livre. O fundo anterior se limitava a jogadores de 18 a 24 anos, podendo haver exceção com autorização do conselho da empresa, e no fundo atual a gente achou besteira essa limitação, porque na essência é sempre o conselho que vai decidir. Era uma cláusula inócua. O resto está muito em cima do fundo anterior, justamente pelo sucesso.

De acordo com Vantuil, a previsão é a de que a primeira CPE seja extinta em 2014, já com a segunda empresa em plena atividade - o que já deve acontecer na janela para transferências internacionais no início do ano.

- Como a primeira empresa deu certo, fica mais fácil captar recursos. Antes só tínhamos transações da MFD para mostrar aos investidores. Antes, entraram mais para ajudar o clube de uma forma mais profissional. Agora, é um negócio que dá certo. Alguns investidores inclusive se aproximaram do Botafogo e acabaram também colaborando de outras formas - contou Vantuil.

Por Thales Soares e Vicente Seda Rio de Janeiro

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